segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

“Se a montanha não vai a Maomé, vai Maomé à montanha»

Centelha por Viriato Caetano Dias (viriatocaetanodias@gmail.com)
“Se você não puder fazer tudo, faça tudo o que puder.” Extraída, a frase, do prefácio de Boaventura José Aleixo.
Já foi dito, e bem, que o presidente Filipe Nyusi está a fazer História. Não pelas exonerações e nomeações de “novos” figurinos que incorporam a sua equipe governamental (esta é uma matéria que será analisada nas próximas centelhas), maspor “vergar-se”em nome deuma tão nobre causa: a paz.
O compromisso pela paz não se fazpelo conjunto de discursos, mas de vivências. A vontade permanente em dialogar e as deslocaçõesarriscadas ao “esconderijo” do líder da Renamo, Afonso Dhlakama, são acções concretas que revelam o comprometimento do presidente Nyusi em busca de uma paz definitiva para o nosso país.
Narcisista nato, e por vezes masoquista, Dhlakama nunca escondeu o desejo de ver o presidente da República a ajoelhar diante dele, em seu “esconderijo”, como condição sine quo non para o alcance da paz. Se por um lado, o presidente Nyusi “rende-se” aos “caprichos” de Dhlakama, por outro, salva a vida de milhões de moçambicanos. É caso para dizer que, “Se a montanha não vai a Maomé, vai Maomé à montanha.”
Diz-se que, para salvar vidas, é preciso destruir outras. Nyusi mostra exactamente o contrário que a humildade e o diálogo são factores determinantes para uma paz eterna. Este tem sido a grande lição de inteligência do presidente Nyusi: Ninguém deve morrer devido à incompatibilidade de ideias. Todos nós somos irmãos. É o dever de todosamar o próximo. Todos nóslutamos por um Moçambique melhor. Penso que esta visão do presidente Nyusi deve se reflectir em todos os ciclos de ensino do país, inclusive nas comunidades locais.Já dizia Oliveira Martins, historiador português, que contra as ideias, os tiros não servem.
É preciso ouvir Dhlakama. Sentar com Dhlakama. Comer e dançar com Dhlakama. Cometeu erros, alguns dos quais indeléveis, mas ele não deixou de ser o que é. É um líder histórico que arrasta multidões. Eu costumo dizer que cada um de nós, dentro das suas frustrações, carrega consigo um pequeno Dhlakama. Dhlakama é a voz dessas frustrações.
A corrupção generalizada, a miséria (num país bafejado pelos recursos naturais), a prostituição académica, enfim, o tribalismo exacerbado que ofusca a competência técnico-profissional, asfixiam o progresso de Moçambique. Estes pontos devem merecer uma profunda reflexão no diálogo entre o presidente da República e o líder da Renamo. A revisão constitucional “cirúrgica”, para acomodar o ponto sobre a eleição de governadores provinciais, é precipitada.
A descentralização não deve ser imitada em função do que a diáspora vive. Corremos o risco de “importar” modelos político-administrativos que poderão conduzir o país ao abismo. Os processos democráticos são lentos, como gotas de soro que entram nas veias,por isso exigem estudos exaustivos. Algumas mudanças devem ser aplicadas naturalmente, não à “cesariana.”Como é que querem o federalismo (as ideias da Renamo conduzem nesse sentido) sem antes criar condições para a sua implementação? Receio que isso possa causar, a curto prazo, conflitos étnicos. Temos que educar e formar a sociedade, para que ela compreenda a necessidade de mudança constitucional. A nossa diversidade étnica ainda não é um factor de instabilidade, mas poderá acontecer pelos seguintes factores: (i) ascensãoao poder, numa determinada província, de um tribalista radical, (ii) escassez de recursos naturais, (iii) conflitos eleitorais, etc., que são propensos no país.
A municipalização, por exemplo, não resolveu o problema das cidades, pois temos assistido que alguns municípios tornaram-se locais de acomodação política, gatunagem, prostituição, pilhagem, “tocovismos”, etc. Creio que o líder da Renamo está a precipitar-se em assuntos de pequena índole, ao invés de capitalizar os aspectos meramente sociais. A questão da inclusão (social), do emprego, da segurança social, etc., é importante porque mexe com a vida dos cidadãos. Os moçambicanos não comem leis. Como dizia o meu amigo Nkulo, a lei não é matabichável, almoçável nem jantável. Precisamos de acçõesconcretas que criem mais postos de trabalho e que promovam mudanças significativas na vida do povo, para que alguns doadores não digam que “os moçambicanos são preguiçosos, egoístas e pouco dado a sacrifícios.”
NOTA: Disse-me um amigo de “infância”, Dr. Leovigildo Faite, que “a dívida de gratidão não tem preço, você paga mas a dívida nunca está paga.”Quero, com estas palavras, agradecer ao Instituto do Coração (ICOR) pelo bom tratamento de que foi alvo o meu filho (Sayden). Estávamos preparados para o pior, valeu a pronta intervenção de toda a equipe médica do ICOR, especialmente do Dr. Hector (pediatra) e da DraSheilaMagaia(cardiologista) a quem devo a restituição da saúde do meu filho.
O meu zicomo a todos.
WAMPHULA FAX – 18.12.2017

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