Noutros tempos o Egidio Vaz estaria a estas alturas a rebentar pelas costuras, comentando aqui e acola sobre os últimos episódios. Tenho ultimamente evitado este tipo de comportamento esporádico. Preocupa-me mais agora estudar a minha própria audiência enquanto também tento perceber a racionalidade dos actos que são tomados aqui e acolá. Isso, obviamente, leva tempo e consome muitas energias. Ontem e hoje aconteceram episódios de vulto, dignos de comentários. Mas a avaliar pelo que se escreveu, a percepção geral é de que a nomeação de José Pacheco era de longe, a menos esperada. Mas “gato é gato” como sói dizer-se; por mais que lhe atire do primeiro, segundo ou sétimo andar, o gato cairá sempre com os pés assentes no chão. Mas não é de gato que vamos falar hoje.
Ultimamente tenho escrito extensivamente sobre o que de forma genérica denomino por EFEITOS DA MÍDIA; ou seja, os efeitos psicológicos e ou cognitivos que a exposição à mídia provoca sobre o conhecimento, atitude ou prática das pessoas. Sugeri há dias que os moçambicanos estavam a gravitar inexoravelmente de uma sociedade de baixa informação para uma sociedade mal informada. E isso não é de todo novo. Na América também são isso mesmo. Mas a sorte deles é que há competição de ideias e só é analista quem está credenciado.
Voltemos à vaca fria: porque é que o Ministro José Pacheco é a figura aparentemente mais contestada das nomeações do dia de hoje? A resposta à esta pergunta é tripla.
Primeiro: por causa do preconceito de ancoragem e ajustamento. O preconceito influencia a forma como as pessoas avaliam intuitivamente as probabilidades. O vicio faz com que as pessoas comecem por um ponto de referência implicitamente sugerido (a "âncora") e fazem ajustes para alcançar sua estimativa. Nessa ordem de ideias, Pacheco não fez nada na Agricultura; chamou as pessoas de vândalos ou eventualmente é duro demais para a diplomacia moçambicana (avaliability bias ou seja, viés de disponibilidade).
Segundo: Má informação e esquemas avaliativos: partindo das expectativas e experiências recentes nomeadamente, o facto de Pacheco ter disputado a candidatura com o Presidente Nyusi; o facto de ele estar aparentemente ligado ao anterior Presidente da República e dentro do contexto social, político e económico marcado por dívidas, fracasso do processo negocial de cem rondas negociais com a Renamo sem sucesso (enquanto o Presidente Nyusi precisou do celular Samsung para negociar a Paz), esses todos episódios negativos estão agora pesando na avaliação da a fúria momentânea das pessoas. Mas isso tudo não passa de um equivoco avaliativo. As pessoas não devem determinar a probabilidade de um passado para facilmente concluir que ele acontecerá de novo no presente ou futuro.
Terceiro: em terceiro lugar estão os dez elementos que Gaston Bachelard filósofo e poeta francês (27 de junho de 1884 — Paris, 16 de outubro de 1962) apontou como sendo obstáculos ao espirito cientifico. Aqui, a ideia não é transformar todos moçambicanos em cientistas mas apenas partilhar alguns aspectos que acautelados, podem ajudar a refrear a onda alarmista. Para começar, importa frisar que quem dirige a política externa é o Presidente da República pelo que há muito pouca margem para um Pacheco inventar lá. De seguida, importa ter tantos outros elementos ponderadores antes que a situação actual nos vede a lucidez.
Então, vamos aos dez elementos obstrutores do nosso espirito inquisitivo
1) Superar a primeira experiência: essa dificuldade leva a pessoa a ficar imersa neste mar de ignorância tomando estes conhecimentos primários como verdadeiros e rejeitando as novidades que vão contra eles. O espírito científico deve ser reformado constantemente.
2) O obstáculo generalista: consiste em tomar as características ou particularidades de conhecimento da substância como realidade e verdade, que não tem discussão (se em mais de 100 rondas negociais com a Renamo não chegou a nenhum resultado, que diplomata é esse que vai conseguir gerir os múltiplos interesses do país com seus parceiros?). Esta errado. Não é estático. As pessoas mudam.
3) O obstáculo verbal: localizado em hábitos orais que as pessoas usam diariamente, tornando este obstáculo num dos mais difíceis e com maior poder explicativo.
4) Obstáculo unitário e pragmático: O conceito de unidade para simplificar o estudo de qualquer realidade, para explicar tudo de forma satisfatória. As partes são explicadas e sua unificação explica toda a realidade. O conceito de unidade em conjunto com o utilitário se torna perigoso porque dá imediatamente explicação para o que é de algum modo útil.
5) Obstáculo substancialista: Esta coligação é feita da substância e as suas qualidades. Bachelard distingue uma realidade oculta do substancialismo que é algo fechado, coberto pelo material, que deve abrir para expor seu conteúdo. E há substancialismo da íntima qualidade, profundo, que é fechado não superficialmente. Devemos cavar fundo para encontrá-lo.
6) Obstáculo Realista: A mente está deslumbrada com a presença do real. Ela ainda considerou que não deve ser estudado ou ensinado. O argumento realista tem mais peso contra o que não é.
7) Obstáculo animista: Os seres humanos prestam mais atenção e maior valorização do conceito do que pode levar para a vida.
8) OBSTÁCULO E O MITO DA DIGESTÃO: QUALQUER EVENTO OU FENÔMENO QUE TEM A VER COM O ESTÔMAGO PASSA A TER MAIOR VALOR EXPLICATIVO.
9) Obstáculo da libido: é interpretado a partir da perspectiva do poder e a vontade de dominar os outros seres humanos. Outra referência deste obstáculo é a referência constante a pensamentos sexuais que estão presentes em todos os espíritos científicos na formação integral para enfrentar novos factos ou fenômenos.
10) O último obstáculo epistemológico: o conhecimento quantitativo é aquele que se considera livre de erro, saltando do quantitativo ao objetivo, através de todo este conhecimento tem maior validade.
EM RESUMO
Todos comentários são validos (para mim), porem, maioritariamente inúteis para a compreensão do que esta a acontecer. Deveria ser responsabilidade de cada um conhecer melhor a mecânica da actual governação, suas limitantes e mais importante ainda, a visão politica da governação.
Subiu? Caiu? Está muito tempo no poder? Tem grande curandeiro? Deve deixar para outros também comerem? Não fez nada? Ou o que fez para ser exonerado? Etc., etc…isso tudo explica pouco sobre o as reais intenções das mexidas governamentais.
Mas também convenhamos. Existem mudanças e mudanças. Nomeações e nomeações. Quando se corrigem os erros de nomeação, aí batemos palmas.
Se me perguntarem se as nomeações fazem sentido ou não ou se trarão resultados: a minha resposta é sim, elas fazem sentido considerando o que, na visão do Presidente e deste governo é útil (alguém as conhece?). Ora, se não resultarem, deverá ele ser encorajado a procurar outras soluções. É o trabalho do PR: procurar soluções aos problemas do país e isso inclui também seleccionar a sua equipa de trabalho. As nossas expectativas, para serem consequentes, devem estar concentradas sobre o que deve ser feito para se alcançar tal desiderato e não necessariamente sobre as pessoas senão no próprio PR.
Por enquanto, fiquemos por aqui.
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1 comentário:
Caro Egídio, reflita neste texto que segue abaixo, extraído do livro Mein Kampf
…” Conheço indivíduos que lêem muitíssimo, livro por livro letra por letra, e que, no entanto, não podem ser apontados como "lidos". Eles possuem uma multidão de "conhecimentos", mas o seu cérebro não consegue executar uma distribuição e um registro do material adquirido. Falta-lhes a arte de separar, no livro, o que lhes é de valor e o que é inútil, conservar para sempre de memória o que lhes interessa e, se possível, passar por cima, desprezar o que não lhes traz vantagens, em qualquer hipótese não conservar consigo esse peso sem finalidade. A leitura não deve ser vista como finalidade, mas sim como meio para alcançar uma finalidade. Em primeiro lugar, a leitura deve auxiliar a formação do espírito, a despertar as disposições intelectuais e inclinações de cada um. Em seguida, deve fornecer o instrumento, o material de que cada um tem necessidade na sua profissão, tanto para o simples ganha-pão como para a satisfação de mais elevados desígnios. Em segundo lugar, deve proporcionar uma idéia de conjunto do mundo. Em ambos os casos, é, porem, necessário que o conteúdo de qualquer leitura não seja confiado à guarda da memória na ordem de sucessão dos livros, mas como pequenos mosaicos que, no quadro de conjunto, tomem o seu lugar na posição que lhes é destinada, assim auxiliando a formar este quadro no cérebro do leitor. De outra maneira, resulta um bric-á-brac de matérias aprendidas de cor, inteiramente inúteis, que transformam o seu infeliz possuidor em um presunçoso, seriamente convencido de ser um homem instruído, de entender alguma coisa da vida, de possuir cultura, ao passo que a verdade é que, a cada acréscimo dessa sorte de conhecimentos, mais se afasta do mundo, até que acaba em um sanatório ou, como "político", em um parlamento.
Nunca um cérebro assim formado conseguirá, da confusão de sua "ciência", retirar o que é apropriado às exigências de determinado momento, pois seu lastro espiritual está arranjado não na ordem natural da vida mas na ordem de sucessão dos livros, como os leu e pela maneira por que amontoou os assuntos no cérebro. Quando as exigências da vida diária dele reclamam o justo emprego do que outrora aprendeu então precisará mencionar os livros e o número das páginas e, pobre infeliz, nunca encontrará exatamente o que procura.
Nas horas críticas, esses "sábios", quando se vêem na dolorosa contingência de
Pesquisar casos análogos para aplicar às circunstâncias, só descobrem receitas falsas.”
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