Na Venezuela não há farinha nem para as hóstias da Semana Santa
O Estado tem o monopólio da importação de cereais, mas não tem chegado o suficiente sequer para fazer pão.
A falta de farinha de Venezuela é tão grande que está em risco o fabrico de hóstias para a Semana Santa, noticia o jornal El Universal. “Se não há farinha, não há hóstias, e sem hóstias não há eucaristia”, disse a freira Concépcion Gómez, superiora das Servas de Jesus, na paróquia de Altagracia, um dos principais centros de produção de hóstias na capital.
É a primeira vez em 40 anos que se dá uma crise como esta, sublinhou a superiora da comunidade, que em situação normal produziria 80 mil hóstias diariamente. Falta farinha na Venezuela, e falta pão, e por causa disso o Estado tomou a decisão de expropriar padarias, a grande maioria das quais é propriedade de emigrantes portugueses e mandar perto de 4000 fiscais para as ruas, para verificar se os padeiros não desviam farinha para fazer bolos e croissants, bens de consumo mais caros.
Mas como o problema é a falta de matéria-prima, é improvável que a solução para haver pão – ou hóstias – esteja na intervenção estatal. A Federação da Indústria de Panificação diz que para garantir o fabrico contínuo de pão no país seria necessário que chegassem mensalmente à Venezuela 120 mil toneladas de trigo. Isso quer dizer que até Março deveriam ter entrado 360 mi toneladas, explica o jornal El Nacional. Mas só chegaram 90 mil toneladas, ou seja 25% do necessário. Não há nada para os extras da Páscoa, e a importação de cereais é um monopólio estatal.
As freiras vêem-se obrigadas a recorrer ao mercado negro para encontrar farinha. As hóstias são finas, com pouca farinha, desintegram-se facilmente, e em algumas paróquias têm de ser racionadas, divididas em quatro pelos párocos. Quando tudo o resto falha, resta o apelo à solidariedade: é o caso da campanha “doe farinha por amor a Deus”, para tentar arranjar matéria-prima para a hóstias da Páscoa.
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