Saturday, December 3, 2016

Donald Trump: telefonemas para líderes estrangeiros abrem incidentes diplomáticos

Casa Branca 2016

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Donald Trump tem tido conversas ao telefone com líderes de todo o mundo. Nalguns casos, levantou sobrolhos e pôs a diplomacia em alerta. Foi o caso do Taiwan, Paquistão, Cazaquistão e Filipinas.
Depois de Barack Obama evitar visitar o Paquistão, Donald Trump disse que queria passar por lá, e disse ao primeiro-ministro que ele era um "tipo espetacular"
Brian Blanco/Getty Images
Donald Trump terá de esperar até dia 20 de janeiro para ser oficialmente o Presidente dos EUA e assim merecer o título de comandante-em-chefe dos norte-americanos. Ainda assim, a julgar pelas suas ações nos últimos dias, enquanto prepara a transição para o poder, Donald Trump já é pelo menos merecedor do título de telefonista-em-chefe de facto.
É essa a ideia que fica dos últimos dias, em que Donald Trump tratou de falar com vários líderes mundiais ao telefone. Se algumas dessas trocas de ideias foram aparentemente rotineiras, houve outras que levantaram alguns sobrolhos e fizeram soar campainhas no seio da diplomacia norte-americana.
O mais relevante foi o caso da chamada entre o Presidente eleito dos EUA e a Presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, esta sexta-feira. O conteúdo da conversa é desconhecido, mas é o simples facto de ela ter acontecido que pode causar um incidente diplomático grave com a China, o país que mantém uma relação conturbada com Taiwan, que se tornou independente de Pequim sem o seu consentimento.
Em 1979, os EUA tinham cortado relações diplomáticas com Taipé, após decisão do então Presidente dos EUA, Jimmy Carter, que declarou o apoio norte-americano à política “One China”.

Pequim: “Terá de ser dito que só há uma China”

O gesto de Donald Trump levou o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Geng Shuang, a pedir satisfações a Washington. “Terá de ser dito que só há uma China e que Taiwan é uma parte inalienável do território da China e o Governo da República Popular da China é o único Governo legítimo que representa a China”, disse Geng Shuang este sábado. “Todos estes factos são reconhecidos pela comunidade internacional.”
E Washington reagiu: “Não há qualquer mudança na política de longa data sobre as questões ao longo do estreito”, disse à AFP a porta-voz do Conselho de Segurança Nacional Emily Horne. “Continuamos firmemente comprometidos com a política “Uma China” (…). O nosso interesse fundamental é a paz e estabilidade nas relações através do estreito”, afirmou.
O gabinete de Trump não esclareceu quem iniciou o contacto, se a chamada foi feita pelo multimilionário ou pela presidente taiwanesa, que chegou ao poder em maio. A equipa de transição informou apenas, em comunicado, que o presidente eleito tinha falado por telefone com a mandatária taiwanesa, que felicitou o magnata pela vitória e ambos “abordaram os estreitos vínculos económicos, políticos e de segurança existentes entre Taiwan e os Estados Unidos”.
O ex-presidente democrata Jimmy Carter declarou formalmente Pequim como único governo da China em 1979, o que pôs fim às relações diplomáticas formais dos EUA com Taiwan, onde Washington fechou a sua embaixada no ano seguinte.
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Donald Trump ligou à Presidente de Taiwan, um país com o qual os EUA não falavam desde 1979. A China já exigiu satisfações a Washington D.C.

Alô, Filipinas?

Logo no dia seguinte, o controverso Presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, disse numa conferência de imprensa que tinha falado ao telefone com Donald Trump, garantindo que o norte-americano o tinha apoiado na sua guerra declarada ao tráfico de droga, que já resultou na morte de milhares de pessoas às mãos das autoridades e de outros grupos de civis armados. “Ele desejou-me sucesso na minha campanha contra o problema da droga”, disse o líder filipino sobre a conversa com Donald Trump.
“Ele entende a maneira como estamos a lidar com isto”, garantiu. “Acho que o que ele queria dizer era que eles seriam as últimas pessoas a interferir nos assuntos do nosso próprio país”, explicou Duterte, para depois acrescentar: “Nós estamos a fazer isto enquanto nação soberana, como deve ser. E ele quer o nosso bem. E eu disse que, bom, os laços com a América estão seguros”.
No início de setembro, Rodrigo Duterte aproveitou uma conferência de imprensa para chamar “filho da p…” ao Presidente dos EUA, deixando-lhe uma promessa: “Vou maldizer-te”. Os dois tinham uma reunião marcada, mas Barack Obama acabou por cancelá-la.
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Rodrigo Duterte, o Presidente das Filipinas, garante que Donald Trump lhe disse ao telefone que apoiava a sua sangrenta e polémica guerra contra os traficantes de droga

O primeiro-ministro do Paquistão é “um tipo espetacular”

Ainda no capítulo dos líderes asiáticos, Donald Trump fez mais uma chamada para um país cujas relações com os Estados Unidos, em tempos países aliados, têm sido particularmente difíceis nos últimos anos. Barack Obama nunca visitou o Paquistão ao longo dos seus oito anos de poder. Segundo o assessor de imprensa da Casa Branca Josh Earnest, isso deveu-se à “relação complicada” entre os dois países “durante algumas partes dos últimos oito anos”.
Donald Trump falou com o primeiro-ministro do Paquistão e da conversa entre Nawaz Sharif e o presidente eleito dos EUA saiu um comunicado da parte dos paquistaneses, no qual a conversa era resumida. De acordo com Islamabad, o Presidente eleito dos EUA disse que o líder paquistanês era “um tipo espetacular” (“terrific guy”, em inglês) e que a conversa decorreu de tal forma que o republicano sentiu que “estava a falar com uma pessoa que conhecia há muito tempo”. Além disso, acrescentou que “adoraria visitar esse país fantástico, um lugar fantástico com pessoas fantásticas”.
Esta atitude causou algumas preocupações na Índia, país com o qual o Paquistão tem antigas disputas territoriais e um longo historial de tensão e que nos últimos anos tem feito parte dos aliados mais próximos dos EUA.
Noutra chamada, desta vez com Nursultan Nazarbayev, o ditador que governa o Cazaquistão desde 1989, o Governo de Astana lançou um comunicado no qual dava conta da conversa entre os dois políticos. “Donald Trump reforçou que, sob a liderança de Nursultan Nazarbayev o nosso país tem, ao longo dos anos da independência, atingido um sucesso fantástico que pode ser chamado de ‘milagroso'”, lia-se num comunicado do Governo de Nursultan Nazarbayev, que após quase três décadas de poder soma um longo do historial de violações dos Direitos Humanos

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