Organizações moçambicanas exigem
explicações sobre Ematum e investigação criminal
As
organizações moçambicanas integradas no Fórum de Monitoria do Orçamento (FMO)
manifestaram hoje indignação em relação aos impactos do caso Ematum na dívida
de Moçambique e exigiram explicações do Governo e uma investigação criminal.
"Como
cidadãos e contribuintes deste país, exigimos que o Governo faça uma auditoria
exaustiva da dívida pública, de modo a que se saiba o montante real, os
credores e o período de pagamento de cada uma das dívidas", declara o FMO,
num comunicado enviado à Lusa, esperando que o executivo partilhe a informação
com a população e não apenas no estrangeiro.
O
fórum reúne várias instituições da sociedade civil como a Fundação para o
Desenvolvimento da Comunidade (FDC), liderada por Graça Machel, o Centro de
Aprendizagem e Capacitação da Sociedade Civil, o Grupo Moçambicano da Dívida e
o Centro de Integridade Pública.
No
comunicado, a plataforma exige igualmente que o Governo apresente a sua
estratégia para pagamento das dívidas, responsabilize os autores da atual crise
e reformule a estrutura fiscal, "acabando com a situação de grandes
empresas que não pagam impostos ou os pagam apenas em parte".
Para
o FMO, o Governo tem também de estabelecer "uma matriz de prioridades para
o endividamento futuro, de forma a que nenhum governo ou dirigente possa
contrair dívidas para projetos de viabilidade e prioridade discutíveis e
duvidosos".
O
Wall Street Journal noticiou no final de março um empréstimo de 622 milhões de
dólares, garantido pelo Estado, à empresa estatal Proindicus, contraído em 2013
através dos bancos Credit Suisse e do russo VTB Bank, que terão convidado os
investidores a aumentarem o valor para 900 milhões, um ano depois.
Na
terça-feira, o Financial Times revelou que o Governo de Moçambique autorizou um
outro empréstimo de mais de 500 milhões de dólares a uma empresa pública.
No
mesmo dia, o primeiro-ministro reuniu-se com a diretora-geral do FMI, Christine
Lagarde, e, segundo um comunicado da instituição financeira, reconheceu a
existência de um valor superior a mil milhões de dólares da dívida externa de
Moçambique que não tinha sido comunicado.
Em
reação, o FMO exige que o parlamento crie uma comissão de inquérito para este
caso, que imponha ao Governo que nunca ultrapasse os limites máximos das
garantias que presta sem autorização prévia dos deputados e a aprovação de uma
lei de responsabilidade fiscal, "que penalize a violação do limite máximo
de avales estabelecidos na lei orçamental e que garanta que os gestores
públicos que lesam o Estado sejam exemplarmente punidos".
Paralelamente,
exige à Procuradoria-Geral da República a investigação e responsabilização
administrativa e criminal de "todos os dirigentes envolvidos na
contratação de dívidas de forma não transparente e violando a lei orçamental
particularmente nos últimos cinco anos" e a atuação no mesmo sentido do
Gabinete Central de Combate à Corrupção.
O
documento expressa em várias passagens "indignação" com as últimas
revelações e cita os números hoje divulgados pela Lusa sobre a disparidade
entre os valores da dívida pública apresentados nas contas oficiais do Governo
e aqueles que foram transmitidos aos investidores na operação de recompra de
títulos da Empresa Moçambicana de Atum (Ematum).
De
acordo com um prospeto confidencial preparado pelo Ministério das Finanças de
Moçambique, o volume de dívida pública de Moçambique aumentou de 42% do PIB em
2012 para 73,4% em 2015.
"A
dívida pública total [incluindo a dívida interna, externa e a garantida pelo
Estado] equivaleu a 56,6% do PIB em 2014 e deverá chegar aos 73,4% em
2015", lê-se no documento confidencial que os investidores em obrigações
da Ematum analisaram antes de decidir trocar esses títulos por novos títulos de
dívida soberana do país, no mês passado.
HB
(FOS/MBA) // JMR
Lusa – 22.04.2016
Atuação do Governo moçambicano em
dívidas escondidas indicia infrações criminais -- Ordem dos Advogados
A
Comissão dos Direitos Humanos da Ordem dos Advogados de Moçambique condenou
hoje a "falta de transparência" do Governo na ocultação de dívidas
garantidas pelo Estado e disse que a sua atuação neste caso indicia infrações
criminais.
O
órgão da Ordem dos Advogados (OA) considera, num comunicado a que a Lusa teve
acesso, que o executivo agiu em "flagrante desrespeito à Assembleia da
República" e em violação da lei orçamental ao ocultar informação sobre
elevadas dívidas públicas, "práticas que, juridicamente, indiciam
infrações criminais de abuso de cargo ou funções".
A
Comissão dos Direitos Humanos da OA apela à Assembleia da República e à
Procuradoria-Geral da República para que promovam ações "com vista à
reposição da legalidade violada e responsabilização dos agentes
envolvidos".
Segundo
o texto do comunicado, o Governo, ao reconhecer esta semana perante o Fundo
Monetário Internacional (FMI) a existência de uma dívida pública superior a mil
milhões de dólares, em resultado de empréstimos com garantias do Estado, criou
uma situação "que põe em causa a imagem, confiança e credibilidade do país
perante os cidadãos, doadores e parceiros de desenvolvimento".
A
comissão condena a "falta de transparência" do Governo, considerando
que extrapolou as suas competências constitucionais ao não inscrever os
projetos financiados na lista oficial de investimentos públicos prioritários
nem submeter as garantias à aprovação do parlamento, como exige a Lei do
Orçamento.
Por
outro lado, refere que o processo de contratação relativo à Empresa Moçambicana
de Atum (Ematum) foi realizado sem concurso público, "através de um ajuste
direto de uma única fonte [Privinvest/Abu Dhabi Mar] e, em relação aos outros
empréstimos, não se conhece a sua finalidade nem como o referido valor foi
aplicado, o que levanta sérias preocupações quanto à transparência e
integridade da governação".
O
órgão da OA critica ainda que a bancada do partido maioritário no parlamento
tenha recusado um debate sobre este assunto, numa "flagrante denegação do
direito de acesso à informação", e insta o Governo a prestar
esclarecimentos ao povo moçambicano e a recuperar a imagem e credibilidade do
país.
O
Wall Street Journal noticiou no final de março um empréstimo de 622 milhões de
dólares garantido pelo Estado à empresa Proindicus, contraído em 2013 através
dos bancos Credit Suisse e do russo VTB Bank, que terão, aliás, convidado os
investidores a aumentarem o valor para 900 milhões, um ano depois.
Na
terça-feira, o Financial Times revelou que o Governo de Moçambique autorizou um
outro empréstimo de mais de 500 milhões de dólares a uma empresa pública.
No
mesmo dia, o primeiro-ministro reuniu-se com a diretora-geral do FMI, Christine
Lagarde, e, segundo um comunicado da instituição financeira, reconheceu a
existência de um valor superior a mil milhões de dólares da dívida externa de
Moçambique que não tinha sido comunicado.
De
acordo com um prospeto confidencial preparado pelo Ministério das Finanças de
Moçambique e entregue no mês passado aos investidores em obrigações da Ematum,
e a que a Lusa teve acesso na quinta-feira, o volume de dívida pública de
Moçambique aumentou de 42% do PIB em 2012 para 73,4% em 2015.
HB
(FOS/MBA) // EL
Lusa
– 22.04.2016
Os que endividaram o país para
encher os bolsos terão de ser responsabilizados* - Por Carlos Mairoce
Onde
se meteu o meu país? Moçambique já não é e nunca mais voltará a ser o mesmo. O
país se tornou num centro de atenções pela negativa nos últimos tempos. A cada
dia se acrescenta mais uma notícia má do que sabemos. Os ataques já nem são
destaque de notícia, tornou se normal haver ataques. E o pior é que há pessoas
que aplaudem pela morte dos outros. A vida tornou se banal na pérola do índico.
Sequestros são o pão de cada dia e acontecem um pouco por todo o país. As
execuções sumárias e assassinatos selectivos também já deixam de ser destaque
das notícias devido à sua frequência. Os fantasmas da dívida da EMATUM que já
iam desvanecendo ressuscitaram os moçambicanos com um pesadelo da dívida da
Proindicus que não tira sono ao banco de Moçambique e ao Ministério das
Finanças.
Perante
esta gama de informações, o cidadão fica confuso e com a impressão de que as
coisas estão mal e de facto estão. O poder de compra dos moçambicanos diminuiu.
Não me refiro só ao poder de compra de viaturas usadas que baixou e continua a
baixar consideravelmente, mas ao poder de compra de produtos básicos. E para
piorar esta situação, produtos alimentares básicos aumentaram de preço.
Moçambicanos empreendedores e sem emprego formal não podem mais viajar para
certos lugares onde iam com frequência comprar produtos para posterior revenda
porque as vias já não são seguras. A paz prometida pelo Presidente Nyusi não
passa de palavras que o vento levou e nunca tiveram impacto. O único
moçambicano que não sabe que o país está em guerra talvez seja ele e seus
protegidos.
A
nova dívida revelada por um jornal estrangeiro só veio agravar a situação do
país. É neste cenário que o país se encontra. Nos cafés, transportes públicos,
convívios, todos são unânimes em dizer que o país esta sem direcção e estamos a
regredir em quase tudo. Ninguém quer ver o país retardado, mas a questão que
poucos fazem é: o que eu como indivíduo posso fazer para tirar o país deste
buraco? O que é que as instituições públicas e privadas têm de fazer para
amainar a situação?
Como
pessoas e como instituições precisamos de reformas. Quem conhece a realidade
moçambicana sabe que as nossas instituições não funcionam ao nível que
deveriam. A corrupção infestou todas instituições públicas, e repito, todas,
desde o notariado, a justiça, os transportes, as finanças até às alfândegas,
etc.
Um
país que não funciona como o nosso, é como um televisor sem remote controlo,
temos que nos levantar e tomar uma atitude ou então temos que nos conformar e
ver o que não nos agrada. O desafio de cada moçambicano hoje e agora deveria
ser lutar para impor ordem no país. Há muitas lamentações em praças públicas
mas acções não existem. Há gente intelectual que está sempre certa e a apregoar
suas ideias, mas nunca vão a acção. A responsabilidade de mudar o rumo do nosso
país é nossa e de mais ninguém. Os outros podem dar um apoio técnico, ou
estratégico, mas nós é que temos que trilhar o caminho para fazer o país que
queremos
Porque
é que cerca de 25 milhões de pessoas estão a assistir o país a ser sepultado
por amantes das armas? É preciso agir e é já pois estamos a ficar sem tempo, o
estado está capturado por gangters e nós como cidadãos temos de tomar uma
atitude, não se trata de interesses individuais, mas sim os nossos interesses
comuns estão ameaçados. Não se pode tolerar uma corrupção de baixo nível como a
que se tem assistido. Não se pode tolerar a inactividade da Procuradoria-Geral
da República. Não existe intelectualismo nenhum que possa defender tanta
impunidade junta e se há algum intelectual por aí que defende estes actos deve
estar fora de si. Neste preciso momento, mais do que ninguém o país precisa dos
seus verdadeiros filhos, dispostos a esticar a corda de modo a repor a ordem.
Intelectuais de estômago e presos a doutrinas partidárias são as piores
criaturas neste preciso momento pois põem interesses individuas antes dos
interesses da maioria.
Precisamos
de pessoas que não têm medo de serem caladas amanhã por um tiro ou por um jato
de água. O país está a se desmoronar ao olhar cobarde de pessoas que poderiam
ter dado o melhor de si. Estão todos a assistir porque têm medo de perder o
pão, tem medo de perder o único e pouco salário que tem, tem medo de ficar sem
combustível para a sua viatura, tem medo que o chefe saiba que pensa diferente,
tem medo de ser diferente, tem medo de ser igual a si mesmo. É o círculo do
medo que está por detrás desta desgraça.
Já
agora, onde estão as OSCs e ONGs? Por que é que os organizadores das grandes
marchas não se reúnem para tomar uma atitude perante a EMATUM, a Proindicus, a
Guerra e Sequestros? Será que estão a implementar projectos de emponderamento
das comunidades? Como emponderar a uma sociedade em que está a sofrer de medo?
Não seria viável abandonar os pequenos assuntos e tratar dos assuntos relevantes
que estão a preocupar o país? Será que não há dinheiro para financiar
conferências nacionais para debater a solução da crise em que o país se
encontra?
Onde
estão as igrejas? Não falo daquelas que andam a marchar ao reboque dos
partidos, falo daquelas Igrejas destemidas da qual uma vez fiz parte? Onde
estão as congregações religiosas que se dedicam a promoção da Justiça? De que
estão a espera? Onde estão as Universidades que graduam milhares de mentes
silenciosas ao ano? Onde estão aquelas instituições que andam a fazer barrulho
por aí a dizer que estão a formar líderes do futuro? Onde estão os homens e
mulheres de bom senso e de senso comum? Enfim, somos todos coniventes deste
sistema, sempre fomos e somos nós que fizemos tudo para que ele chegasse aonde está
hoje. Infelizmente, de lá onde o pusemos o país não saíra se não tomarmos uma
atitude como cidadãos comprometidos. Temos um governo que nos merece….
O
conformismo, a fraca análise crítica e o medo do activismo estão a destruir
este país. A nossa decepção é o preço do nosso conformismo e do facto de
esperar que alguém faça algo por nós. Não podemos ser expectadores da nossa
própria vida; assistir coisas a acontecer; Nós podemos fazer muita coisa, mas o
que nos falta é a coragem de sentarmos juntos e debatermos os nossos problemas
e nossas dificuldades comuns. Não somos organizados e sem organização nunca
haverá desenvolvimento. Há entre nós Moçambicanos pessoas que são portadoras de
muito ódio, que dificilmente perdoam aos outros. A guerra dos 16 anos fez nos
inimigos e nunca fomos capazes de sentar juntos e falar dos problemas do país
como irmãos que desejam uma vida melhor para o seu país. Somos partidários
fanáticos, individualistas, divisionistas e nunca lutamos para desenvolver o
país, mas sim para enriquecer pessoas. Como país erramos porque sempre pusemos
os interesses de um partido acima dos interesses do estado.
O
desenvolvimento de que todos nós falamos começa com a nossa intervenção, com a
nossa participação. Se deixarmos de lado as nossas diferenças partidárias,
religiosas, desportivas e culturas, podemos alcançar muita coisa enquanto país.
Uma luta armada não terá vencedores porque sempre fará inimigos. Pode o governo
ganhar uma batalha em Gorongosa e a Renamo ganhar outra em Muxúnguè, mas isso não
será garantia de eliminar os inimigos por completo. Mais cedo ou mais tarde os
beligerantes terão de encontrar um meio-termo. Mais cedo ou mais tarde, os que
endividaram o país para encher os bolsos terão de ser responsabilizados.
Acredito que algum dia cada um terá de responder pelo que fez e pelo que deixou
de fazer.
Por Carlos Mairoce
*
Título da responsabilidade do @Verdade
@VERDADE
– 19.04.2016
Organizações moçambicanas exigem
explicações sobre Ematum e investigação criminal
As
organizações moçambicanas integradas no Fórum de Monitoria do Orçamento (FMO)
manifestaram hoje indignação em relação aos impactos do caso Ematum na dívida
de Moçambique e exigiram explicações do Governo e uma investigação criminal.
"Como
cidadãos e contribuintes deste país, exigimos que o Governo faça uma auditoria
exaustiva da dívida pública, de modo a que se saiba o montante real, os
credores e o período de pagamento de cada uma das dívidas", declara o FMO,
num comunicado enviado à Lusa, esperando que o executivo partilhe a informação
com a população e não apenas no estrangeiro.
O
fórum reúne várias instituições da sociedade civil como a Fundação para o
Desenvolvimento da Comunidade (FDC), liderada por Graça Machel, o Centro de
Aprendizagem e Capacitação da Sociedade Civil, o Grupo Moçambicano da Dívida e
o Centro de Integridade Pública.
No
comunicado, a plataforma exige igualmente que o Governo apresente a sua
estratégia para pagamento das dívidas, responsabilize os autores da atual crise
e reformule a estrutura fiscal, "acabando com a situação de grandes
empresas que não pagam impostos ou os pagam apenas em parte".
Para
o FMO, o Governo tem também de estabelecer "uma matriz de prioridades para
o endividamento futuro, de forma a que nenhum governo ou dirigente possa
contrair dívidas para projetos de viabilidade e prioridade discutíveis e
duvidosos".
O
Wall Street Journal noticiou no final de março um empréstimo de 622 milhões de
dólares, garantido pelo Estado, à empresa estatal Proindicus, contraído em 2013
através dos bancos Credit Suisse e do russo VTB Bank, que terão convidado os
investidores a aumentarem o valor para 900 milhões, um ano depois.
Na
terça-feira, o Financial Times revelou que o Governo de Moçambique autorizou um
outro empréstimo de mais de 500 milhões de dólares a uma empresa pública.
No
mesmo dia, o primeiro-ministro reuniu-se com a diretora-geral do FMI, Christine
Lagarde, e, segundo um comunicado da instituição financeira, reconheceu a
existência de um valor superior a mil milhões de dólares da dívida externa de
Moçambique que não tinha sido comunicado.
Em
reação, o FMO exige que o parlamento crie uma comissão de inquérito para este
caso, que imponha ao Governo que nunca ultrapasse os limites máximos das
garantias que presta sem autorização prévia dos deputados e a aprovação de uma
lei de responsabilidade fiscal, "que penalize a violação do limite máximo
de avales estabelecidos na lei orçamental e que garanta que os gestores
públicos que lesam o Estado sejam exemplarmente punidos".
Paralelamente,
exige à Procuradoria-Geral da República a investigação e responsabilização
administrativa e criminal de "todos os dirigentes envolvidos na
contratação de dívidas de forma não transparente e violando a lei orçamental
particularmente nos últimos cinco anos" e a atuação no mesmo sentido do
Gabinete Central de Combate à Corrupção.
O
documento expressa em várias passagens "indignação" com as últimas
revelações e cita os números hoje divulgados pela Lusa sobre a disparidade
entre os valores da dívida pública apresentados nas contas oficiais do Governo
e aqueles que foram transmitidos aos investidores na operação de recompra de
títulos da Empresa Moçambicana de Atum (Ematum).
De
acordo com um prospeto confidencial preparado pelo Ministério das Finanças de
Moçambique, o volume de dívida pública de Moçambique aumentou de 42% do PIB em
2012 para 73,4% em 2015.
"A
dívida pública total [incluindo a dívida interna, externa e a garantida pelo
Estado] equivaleu a 56,6% do PIB em 2014 e deverá chegar aos 73,4% em
2015", lê-se no documento confidencial que os investidores em obrigações
da Ematum analisaram antes de decidir trocar esses títulos por novos títulos de
dívida soberana do país, no mês passado.
HB
(FOS/MBA) // JMR
Lusa – 22.04.2016
Atuação do Governo moçambicano em
dívidas escondidas indicia infrações criminais -- Ordem dos Advogados
A
Comissão dos Direitos Humanos da Ordem dos Advogados de Moçambique condenou
hoje a "falta de transparência" do Governo na ocultação de dívidas
garantidas pelo Estado e disse que a sua atuação neste caso indicia infrações
criminais.
O
órgão da Ordem dos Advogados (OA) considera, num comunicado a que a Lusa teve
acesso, que o executivo agiu em "flagrante desrespeito à Assembleia da
República" e em violação da lei orçamental ao ocultar informação sobre
elevadas dívidas públicas, "práticas que, juridicamente, indiciam
infrações criminais de abuso de cargo ou funções".
A
Comissão dos Direitos Humanos da OA apela à Assembleia da República e à
Procuradoria-Geral da República para que promovam ações "com vista à
reposição da legalidade violada e responsabilização dos agentes
envolvidos".
Segundo
o texto do comunicado, o Governo, ao reconhecer esta semana perante o Fundo
Monetário Internacional (FMI) a existência de uma dívida pública superior a mil
milhões de dólares, em resultado de empréstimos com garantias do Estado, criou
uma situação "que põe em causa a imagem, confiança e credibilidade do país
perante os cidadãos, doadores e parceiros de desenvolvimento".
A
comissão condena a "falta de transparência" do Governo, considerando
que extrapolou as suas competências constitucionais ao não inscrever os
projetos financiados na lista oficial de investimentos públicos prioritários
nem submeter as garantias à aprovação do parlamento, como exige a Lei do
Orçamento.
Por
outro lado, refere que o processo de contratação relativo à Empresa Moçambicana
de Atum (Ematum) foi realizado sem concurso público, "através de um ajuste
direto de uma única fonte [Privinvest/Abu Dhabi Mar] e, em relação aos outros
empréstimos, não se conhece a sua finalidade nem como o referido valor foi
aplicado, o que levanta sérias preocupações quanto à transparência e
integridade da governação".
O
órgão da OA critica ainda que a bancada do partido maioritário no parlamento
tenha recusado um debate sobre este assunto, numa "flagrante denegação do
direito de acesso à informação", e insta o Governo a prestar
esclarecimentos ao povo moçambicano e a recuperar a imagem e credibilidade do
país.
O
Wall Street Journal noticiou no final de março um empréstimo de 622 milhões de
dólares garantido pelo Estado à empresa Proindicus, contraído em 2013 através
dos bancos Credit Suisse e do russo VTB Bank, que terão, aliás, convidado os
investidores a aumentarem o valor para 900 milhões, um ano depois.
Na
terça-feira, o Financial Times revelou que o Governo de Moçambique autorizou um
outro empréstimo de mais de 500 milhões de dólares a uma empresa pública.
No
mesmo dia, o primeiro-ministro reuniu-se com a diretora-geral do FMI, Christine
Lagarde, e, segundo um comunicado da instituição financeira, reconheceu a
existência de um valor superior a mil milhões de dólares da dívida externa de
Moçambique que não tinha sido comunicado.
De
acordo com um prospeto confidencial preparado pelo Ministério das Finanças de
Moçambique e entregue no mês passado aos investidores em obrigações da Ematum,
e a que a Lusa teve acesso na quinta-feira, o volume de dívida pública de
Moçambique aumentou de 42% do PIB em 2012 para 73,4% em 2015.
HB
(FOS/MBA) // EL
Lusa
– 22.04.2016
Os que endividaram o país para
encher os bolsos terão de ser responsabilizados* - Por Carlos Mairoce
Onde
se meteu o meu país? Moçambique já não é e nunca mais voltará a ser o mesmo. O
país se tornou num centro de atenções pela negativa nos últimos tempos. A cada
dia se acrescenta mais uma notícia má do que sabemos. Os ataques já nem são
destaque de notícia, tornou se normal haver ataques. E o pior é que há pessoas
que aplaudem pela morte dos outros. A vida tornou se banal na pérola do índico.
Sequestros são o pão de cada dia e acontecem um pouco por todo o país. As
execuções sumárias e assassinatos selectivos também já deixam de ser destaque
das notícias devido à sua frequência. Os fantasmas da dívida da EMATUM que já
iam desvanecendo ressuscitaram os moçambicanos com um pesadelo da dívida da
Proindicus que não tira sono ao banco de Moçambique e ao Ministério das
Finanças.
Perante
esta gama de informações, o cidadão fica confuso e com a impressão de que as
coisas estão mal e de facto estão. O poder de compra dos moçambicanos diminuiu.
Não me refiro só ao poder de compra de viaturas usadas que baixou e continua a
baixar consideravelmente, mas ao poder de compra de produtos básicos. E para
piorar esta situação, produtos alimentares básicos aumentaram de preço.
Moçambicanos empreendedores e sem emprego formal não podem mais viajar para
certos lugares onde iam com frequência comprar produtos para posterior revenda
porque as vias já não são seguras. A paz prometida pelo Presidente Nyusi não
passa de palavras que o vento levou e nunca tiveram impacto. O único
moçambicano que não sabe que o país está em guerra talvez seja ele e seus
protegidos.
A
nova dívida revelada por um jornal estrangeiro só veio agravar a situação do
país. É neste cenário que o país se encontra. Nos cafés, transportes públicos,
convívios, todos são unânimes em dizer que o país esta sem direcção e estamos a
regredir em quase tudo. Ninguém quer ver o país retardado, mas a questão que
poucos fazem é: o que eu como indivíduo posso fazer para tirar o país deste
buraco? O que é que as instituições públicas e privadas têm de fazer para
amainar a situação?
Como
pessoas e como instituições precisamos de reformas. Quem conhece a realidade
moçambicana sabe que as nossas instituições não funcionam ao nível que
deveriam. A corrupção infestou todas instituições públicas, e repito, todas,
desde o notariado, a justiça, os transportes, as finanças até às alfândegas,
etc.
Um
país que não funciona como o nosso, é como um televisor sem remote controlo,
temos que nos levantar e tomar uma atitude ou então temos que nos conformar e
ver o que não nos agrada. O desafio de cada moçambicano hoje e agora deveria
ser lutar para impor ordem no país. Há muitas lamentações em praças públicas
mas acções não existem. Há gente intelectual que está sempre certa e a apregoar
suas ideias, mas nunca vão a acção. A responsabilidade de mudar o rumo do nosso
país é nossa e de mais ninguém. Os outros podem dar um apoio técnico, ou
estratégico, mas nós é que temos que trilhar o caminho para fazer o país que
queremos
Porque
é que cerca de 25 milhões de pessoas estão a assistir o país a ser sepultado
por amantes das armas? É preciso agir e é já pois estamos a ficar sem tempo, o
estado está capturado por gangters e nós como cidadãos temos de tomar uma
atitude, não se trata de interesses individuais, mas sim os nossos interesses
comuns estão ameaçados. Não se pode tolerar uma corrupção de baixo nível como a
que se tem assistido. Não se pode tolerar a inactividade da Procuradoria-Geral
da República. Não existe intelectualismo nenhum que possa defender tanta
impunidade junta e se há algum intelectual por aí que defende estes actos deve
estar fora de si. Neste preciso momento, mais do que ninguém o país precisa dos
seus verdadeiros filhos, dispostos a esticar a corda de modo a repor a ordem.
Intelectuais de estômago e presos a doutrinas partidárias são as piores
criaturas neste preciso momento pois põem interesses individuas antes dos
interesses da maioria.
Precisamos
de pessoas que não têm medo de serem caladas amanhã por um tiro ou por um jato
de água. O país está a se desmoronar ao olhar cobarde de pessoas que poderiam
ter dado o melhor de si. Estão todos a assistir porque têm medo de perder o
pão, tem medo de perder o único e pouco salário que tem, tem medo de ficar sem
combustível para a sua viatura, tem medo que o chefe saiba que pensa diferente,
tem medo de ser diferente, tem medo de ser igual a si mesmo. É o círculo do
medo que está por detrás desta desgraça.
Já
agora, onde estão as OSCs e ONGs? Por que é que os organizadores das grandes
marchas não se reúnem para tomar uma atitude perante a EMATUM, a Proindicus, a
Guerra e Sequestros? Será que estão a implementar projectos de emponderamento
das comunidades? Como emponderar a uma sociedade em que está a sofrer de medo?
Não seria viável abandonar os pequenos assuntos e tratar dos assuntos relevantes
que estão a preocupar o país? Será que não há dinheiro para financiar
conferências nacionais para debater a solução da crise em que o país se
encontra?
Onde
estão as igrejas? Não falo daquelas que andam a marchar ao reboque dos
partidos, falo daquelas Igrejas destemidas da qual uma vez fiz parte? Onde
estão as congregações religiosas que se dedicam a promoção da Justiça? De que
estão a espera? Onde estão as Universidades que graduam milhares de mentes
silenciosas ao ano? Onde estão aquelas instituições que andam a fazer barrulho
por aí a dizer que estão a formar líderes do futuro? Onde estão os homens e
mulheres de bom senso e de senso comum? Enfim, somos todos coniventes deste
sistema, sempre fomos e somos nós que fizemos tudo para que ele chegasse aonde está
hoje. Infelizmente, de lá onde o pusemos o país não saíra se não tomarmos uma
atitude como cidadãos comprometidos. Temos um governo que nos merece….
O
conformismo, a fraca análise crítica e o medo do activismo estão a destruir
este país. A nossa decepção é o preço do nosso conformismo e do facto de
esperar que alguém faça algo por nós. Não podemos ser expectadores da nossa
própria vida; assistir coisas a acontecer; Nós podemos fazer muita coisa, mas o
que nos falta é a coragem de sentarmos juntos e debatermos os nossos problemas
e nossas dificuldades comuns. Não somos organizados e sem organização nunca
haverá desenvolvimento. Há entre nós Moçambicanos pessoas que são portadoras de
muito ódio, que dificilmente perdoam aos outros. A guerra dos 16 anos fez nos
inimigos e nunca fomos capazes de sentar juntos e falar dos problemas do país
como irmãos que desejam uma vida melhor para o seu país. Somos partidários
fanáticos, individualistas, divisionistas e nunca lutamos para desenvolver o
país, mas sim para enriquecer pessoas. Como país erramos porque sempre pusemos
os interesses de um partido acima dos interesses do estado.
O
desenvolvimento de que todos nós falamos começa com a nossa intervenção, com a
nossa participação. Se deixarmos de lado as nossas diferenças partidárias,
religiosas, desportivas e culturas, podemos alcançar muita coisa enquanto país.
Uma luta armada não terá vencedores porque sempre fará inimigos. Pode o governo
ganhar uma batalha em Gorongosa e a Renamo ganhar outra em Muxúnguè, mas isso não
será garantia de eliminar os inimigos por completo. Mais cedo ou mais tarde os
beligerantes terão de encontrar um meio-termo. Mais cedo ou mais tarde, os que
endividaram o país para encher os bolsos terão de ser responsabilizados.
Acredito que algum dia cada um terá de responder pelo que fez e pelo que deixou
de fazer.
Por Carlos Mairoce
*
Título da responsabilidade do @Verdade
@VERDADE
– 19.04.2016
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