O governo de Moçambique conta com os projetos de gás natural para trazer níveis de investimento recorde ao país. Quando estiverem operacionais, o crescimento económico deverá ser o maior de África, segundo o FMI. Mas, crescem dúvidas sobre a capacidade de os mesmos avançarem nas datas previstas, com as atuais condições de mercado - ou que tragam os esperados benefícios económicos. O cancelamento de um mega-projeto na Austrália, por inviabilidade, veio avolumar as questões.
A quebra do preço do petróleo e gás nos mercados internacionais foi a causa apontada para o cancelamento do mega-projeto de 40 mil milhões de dólares na Austrália. Juntava a Woodside Petroleum Ltd. A algumas das grandes petrolíferas internacionais, Royal Dutch Shell Plc e BP Plc As condições atuais do mercado são "extremamente desafiantes", referiram. Eram precisas maiores reduções de custo, e não foram asseguradas vendas firmes de produção.
Desde meados de 2014, o total de projetos energéticos abandonados ascende a 400 mil milhões de dólares, segundo dados da consultora Wood Mackenzie Ltd.
Neil Beveridge, analista da Sanford C. Bernstein & Co, considera que o cancelamento do projeto de gás natural na Austrália levanta questões sobre a viabilidade de outros projetos semelhantes que estão em desenvolvimento, nomeadamente em Moçambique. Temos um excesso de gás natural no momento e um grande número de projetos potenciais", afirmou o analista.
Na sua última avaliação sobre Moçambique, a agência de notação Moody s considerou que atrasos nos grandes projetos de investimento, incluindo de gás natural "são prováveis". "A capacidade das empresas do setor (do gás) para financiar projetos de tão grande escala foi afetada" pela quebra de preços de venda.
A própria Anadarko, a par da ENI o grande investidor no LNG moçambicano, viu o seu rating ser baixado a 18.fev, para Ba1-, com previsão "negativa", refletindo "pressões financeiras que provavelmente afetarão os seus planos de desenvolvimento em Moçambique, pelo menos no curto prazo", afirma a Moody s.
A petrolifera norte-americana anunciou recentemente o despedimento de 1.000 trabalhadores, 17% do total, devido à crise no mercado. Paralelamente, habitantes das zonas de desenvolvimento do projecto da Anadarko ameaçam com um boicote, exigindo maior compensação pelo seu deslocamento, noticiou recentemente em Maputo o jornal Correio da manhã.
Em artigo, no final de 2015, para o Centro de Integridade Pública (CIP), o analista Adriano Nuvunga, dava conta de um endurecimento das negociações entre o governo e a Anadarko. A petrolífera estava inicialmente disponível para alocar 400 milhões de pés cúbicos por dia para uso doméstico. Mas baixou a fasquia para metade, alegando eventuais perdas "com a queda dos preços internacionais de petróleo". E diz já não poder disponibilizá-lo a um custo tão baixo.
"É verdade que outras vozes dentro da indústria afirmam que não há capacidade de absorção do gás no mercado Moçambicano", afirma. Segundo Nuvunga, "aparentemente, a Anadarko está a ter tudo o que quer na mesa de negociações com o Governo" e "o receio é o de que se passe o mesmo em relação ao preço do gás". "As multinacionais vão fazer pressão ao Governo para decidir rápido sobre termos muito problemáticos".
O governo aprovou em fevereiro o plano de desenvolvimento da plataforma flutuante do campo Coral Sul, a explorar pela petrolífera italiana ENI, na bacia do Rovuma. A aprovação diz respeito à fase inicial do projecto de exploração de 5 biliões de pés cúbicos de gás natural naquele campo situado na Área 4.0 plano contempla seis furos e a construção e instalação de uma plataforma flutuante para o processamento de gás natural, que terá uma capacidade de 3,4 milhões de toneladas por ano.
A própria Emi está a negociar a entrada de um parceiro para o investimento. Na semana passada, o presidente da empresa italiana, Cláudio Descalzi afirmou que há "muitas partes interessadas" e que a conclusão do negócio "não está longe".
AFRICA MONITOR – 23.03.2016
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