terça-feira, 21 de abril de 2015

Só que muito preocupado com o que está a acontecer na África do Sul e em Moçambique

Marco do correio, de Machado da Graça
Olá Luís, velho amigo!
Como vai a tua vida e a da tua família? Do meu LADO do tudo bem, felizmente.
Só que muito preocupado com o que está a acontecer na África do Sul e em Moçambique e, também, com o que não está a acontecer dos dois lados da fronteira.
O que está a acontecer na África do Sul já tu o sabes, já todo o mundo o sabe, não preciso de te explicar. É o horror!
Já o que está a acontecer no nosso país, não sendo o horror sul-africano, me parece bastante preocupante. Refiro-me aos actos de retaliação. Ao que aconteceu em Tete, na Vale, em Inhambane, na SASOL e, principalmente, na fronteira de Ressano Garcia, onde as coisas assumiram foros de violência totalmente condenáveis.
Nestas questões as retaliações só servem para deitar mais gasolina para a fogueira. Ao atacar, em território moçambicano, camiões e carros de matrícula sul-africana estamos a meter no barulho gente que, muito provavelmente, nada tem a ver com a xenofobia e a criar, nessas pessoas, vontade de também retaliarem, alargando a área dos confrontos. A África do Sul é um país com muitos milhões de habitantes e não se pode retaliar contra eles todos por causa dos actos de umas centenas, ou poucos milhares, de desordeiros. Isso é fazer pagar os justos pelos pecadores, como se costuma dizer.
Mas será que eu estou a propor que fiquemos de braços cruzados perante tudo isto? De maneira nenhuma e, infelizmente, é praticamente isso o que está a acontecer. As nossas autoridades mantêm-se em contacto com as sul-africanas e estão a organizar o regresso dos moçambicanos que queiram retornar a Moçambique.
E, é claro, Filipe Nyusi está angustiado com a situação. Só que o patrão de Filipe Nyusi não lhe está a pagar um salário para ele ficar angustiado com coisas destas. Está-lhe a pagar para que ele tome medidas concretas que contribuam para o fim dos ataques xenófobos e para que coisas dessas nunca mais se repitam. E, a esse respeito, ainda não vimos nada.
Do lado de lá, Jacob Zuma também se mostra preocupado. Só que essa preocupação ainda não o levou a colocar nas ruas as forças policiais, e mesmo o exército, que comanda, de forma a serem efectivas no travar da situação. Não o levou sequer a fazer o que parece óbvio: mandar deter o régulo dos zulos e o cidadão Edward Zuma e levá-los a tribunal sob a acusação de incitamento à violência e a crimes contra a humanidade.
Mas se ele não o faz devem fazê-lo as nossas autoridades. Segundo um eminente jurista nosso, o que há a fazer é meter queixas-crime em tribunais sul-africanos, nos tribunais dos países vítimas, em tribunais continentais e internacionais. Devia-se, desde já, redigir a queixa-crime e juntar as provas que existem, nomeadamente fotos e vídeos. E se as nossas autoridades se ficarem pelos paninhos quentes, a nossa sociedade civil deverá tomar a iniciativa.
Uma última palavra para te dizer que acho isto um mau começo para o novo mandato do ministro Oldemiro Baloi. Para (não) fazer o que (não) está a fazer talvez não valesse a pena ter sido reconduzido.
Um abraço para ti do
Machado da Graça,
Correio da manhã , 21/04/15

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