domingo, 5 de abril de 2015

SEGUNDA CARTA-CRÓNICA-ABERTA PARA CADEADO: G 40 Nº 013

Numa manhã de Setembro de 1933, a atmosfera é pesada no salão nobre do Palácio das Nações em Genebra. As delegações acabam de transpor a grande porta de bronze – obra do escultor Auricoste – dádiva da França. Os representantes dos Estados tomam assento na grande sala rectangular de mobiliário modern style de freixo claro e couro verde, sob os frescos de José Maria Sert, dádiva de Espanha. As pinturas representam “a esperança, o fim da peste e o fim da guerra”. No fundo, cinco homens dão as mãos: representam a solidariedade dos povos. As discussões que se vão seguir prefiguram, contudo, o desespero, a peste negra e a guerra. A solidariedade que se expressa é a dos Estados, não a dos povos. A sessão que se abre é histórica. Os protagonistas não o sabem. Ela vai pesar sobre o futuro do mundo e sobre a sorte do indivíduo durante decénios. Está presente René Cassin. Jurista francês, vice-presidente do Conselho de Estado, um dos principais redactores da Declaração Universal dos Direitos Humanos, Prémio Nobel da Paz em 1968, para quem “não haverá paz sobre a terra enquanto os direitos humanos forem violados em alguma parte do mundo”. Este dia permanecerá para ele como o ponto de partida de um processo funesto, conduzindo directamente à segunda guerra mundial. Ela está no centro da discussão sobre o direito de ingerência. Comparece um homem. É judeu da Alta Silésia. E chama-se Berheim. Apresentou queixa “contra as práticas odiosas bárbaras dos hitlerianos em relação aos próprios compatriotas refractários ao regime”. Explica perante a Assembleia de que forma os nazis incendeiam as lojas e as habitações, violam mulheres, massacram os homens e maltratam as crianças, saqueiam as sinagogas, queimam os cilindros sagrados, profanam as sepulturas, atiram famílias inteiras para as ruas à coronhada, desprezando a convenção germano-polaca de 1922, que estabelece a protecção das minorias. O presidente dá a palavra ao representante da Alemanha. Ele chama-se Joseph Goebbels. É o ministro da Propaganda e da Informação do governo de Adolph Hitler. Testemunha da cena, René Cassin diz qual foi a resposta de Goebbels. É uma peça de antologia sobre os princípios de não ingerência. Nestes termos: “Meus senhores, Charbonnier é senhor um sua casa. Nós somos um estado soberano. Tudo o que este indivíduo disse não vos diz respeito. Nós fazemos o que queremos dos nossos socialistas, dos nossos pacifistas e dos nossos judeus e nós não temos de nos submeter ao controlo, nem da Humanidade nem da Socidade das Nações”. Nem mesmo denegação, nem mesmo protestos de inocência. Hoje as piores ditaduras preferem mentir, dissimular as suas infâmias e afirmar que as acusações que lhe são feitas são falsas ou maldosas. Em 1933, uma precaução deste tipo é inútil. Os diplomatas são preteridos desse campo. Ficam, pois, chocados por Bernheim e não por Goebbels. Numa resolução muito medida, a Sociedade das Nações abstém-se de qualquer condenação e contenta-se em afirmar, de forma bastante cortês, que conta com todos os Estados membros para não atentar contra os direitos dos homens colocados sob a sua jurisdição. A proeminência da soberania sobre o respeito pelos direitos do homem está, pois, bem estabelecida. A Alemanha acabava de receber da SDN uma assinatura em branco para tratar as minorias à sua vontade. Hitler podia pôr em prática a política definida no seu livro “Mein Kampf”, escrito na prisão e transformado em bíblia do nazismo. Sentia-se confortado na sua convicção de que “o respeito pela pessoa humana que todos têm na ponta da língua, não passa de uma invenção dos fracos para se protegerem dos mais fortes”. Todo o texto que escrevi desde que iniciei esta abordagem até esta parte, meu caro Calton Cadeado, não me pertence. Pertence a Mário Bettati, no seu livro “O Direito de Ingerência, Mutação da Ordem Internacional”, Instituto Piaget, 1900, Lisboa. Encontras isso nas páginas 17 e 18. Hitler sentia-se confortado na sua convicção de que “o respeito pela pessoa humana que todos têm na ponta da língua, não passa de uma invenção dos fracos para se protegerem dos mais fortes”. Escrevi este texto depois do teu último post, em que dizias, em reacção aos recentes confrontos entre as forças governamentais e os homens armados da Renamo, o mesmo que sempre disseste na televisão paga pelos impostos dos cidadãos, mas que nela andam a se instalar analistas do G 40: “Não se pode negociar duas vezes com o mesmo bandido”. Insistes em dizer as mesmas idiotices, as mesmas babuzeiras, senão mesmo energuminisses que ontem as proferiste na nossa televisão pública, ofendendo-nos a todos. A minha pergunta neste momento é a seguinte: quem é o bandido? É Afonso Dhlakama ou és tu, meu ilustre analista político ao serviço do partido, ainda que abandonado em sede do comité central. Quem aluga o seu intelecto ao serviço da intoxicação da opinião pública sob a capa de analista político é que é, de facto, um energúmeno. Esse sim é que é um grande bandido. É um G 40. É um parteiro do gquarentismo. O gquarentismo é todo o tipo de acção com vista a adiar, hipotecar, perverter, escamotear, aniquilar, liquidar, limitar e restringir o exercício da liberdade de imprensa e de expressão, da mesma forma como Joseph Goebbels foi ontem dizer, em plena Assembleia da SDN, que “nós fazemos o que queremos dos nossos socialistas, dos nossos pacifistas e dos nossos judeus e nós não temos de nos submeter ao controlo, nem da Humanidade nem da Socidade das Nações”. Porque será que não te calas de uma vez por todas, oh meu amigo Calton Cadeado? Em boca fechada não entra mosca. Talvez eu esteja a ser muito servero contigo, mas de facto foste muito severo ao chamar os outros de bandidos, com os quais, na tua asserção, não se pode negociar duas vezes. Quem são vocês, afinal de contas, que, tal como os Hitlers, os Goebbels e companhia limitada, acham que não se podem submeter ao controlo da Humanidade, mesmo quando as vossas acções atentam contra a dignidade da pessoa humana. A bíblia ensina a amar o próximo como amas a ti próprio. Um G 40 não consegue aprender isso. Não tem miolo. Hoje abandonado que nem um cachorro, um G 40 nem sequer mesmo em sede de um certo comité central chega a ser homenageado pelas suas façanhas que mais parecem lendárias do que verídicas. O maior crime que se pode cometer contra a nossa dignidade de cidadãos contribuintes é impor listas VIP nas nossas rádios e televisões públicas, aniquilando o contraditório, a fim de que possam chamar os outros de bandidos, com os quais não se pode negociar duas vezes, sem que ninguém vos possa colocar as rédeas. Com o dinheiro dos nossos impostos como se não bastasse. Isso é violência estrutural com dozes de terrorismo psicológico. A República de Moçambique é um Estado de Direito, baseado no pluralismo de expressão, na organização política democrática, no respeito e garantia dos direitos e liberdades fundamentais do Homem. Todos os cidadãos têm direito à liberdade de expressão, à liberdade de imprensa, bem como o direito à informação. O exercício da liberdade de expressão, que compreende a faculdade de divulgar o próprio pensamento por todos os meios legais e o exercício do direito à informação, não podem ser limitados por censura. Nos meios de comunicação social do sector público são assegurados a expressão e o confronto de ideias das diversas correntes de opinião. O Estado garante a isenção dos meios de comunicação social do sector público, bem como a independência dos jornalistas perante o Governo, a Administração e demais poderes políticos. Isso tudo está lá na Constituição. Pelo que, meu ilustre Dr. Calton Cadeado, G 40 Nr.013, nós não cometeremos o mesmo erro cometido pela Sociedade das Nações que se absteve de fazer qualquer condenação a Joseph Goebbels, concedendo à Alemanha uma assinatura em branco para tratar as minorias à sua vontade. Nós não vos concederemos alvará para continuarem a chamar os outros de bandidos com os quais não se pode negociar duas vezes, tal como Hitler chamou os judeus de ratazanas, esse velho golpe fascista de qualificar para discriminar e exterminar, aniquilar, oprimir ou excluir. Não vos concederemos esse alvará. Esta é a segunda vez que lhe escrevo. Talvez seria esta a minha segunda epístola. Não vês que o pato-mor dos teus sonhos já patinou? Ora, bolas pá! Na expectativa de poder, por esta via, ter encerrado este nosso debate patusco, reitero as minhas mais cordiais saudações. Em boca fechada não entra mosca. Cala-te. E a Luta Continua!
Major-General Henry Miller

  • Nkuyengany Produções A Luta Continua!
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  • Muhamad Yassine Desta vez vai ser de vez, esse recado vai lhe chegar kkkkkk
    1 h · Gosto · 1
  • Egidio Vaz Kakakakskakakak
  • El Pensador Bolt Quid juris!
  • Egidio Vaz O cerco está apertando.
  • Juliao Ceu Boa!
  • Calton Cadeado Este texto tem um merito de mostrar honestidade intelectual. Soube citar o que nao eh seu. Este texto tem, igualmente, o merito de ser uma clara expressao de exercicio de liberdade, da qual sou um adepto ferrenho. Lembre-se que "NAO CONCORDO COM O QUE VOCE PENSA, MAS DEFENDEREI ATE A MINHA MORTE O DIREITO DE VOCE DIZER O QUE PENSA" Voltaire. Quanto a pergunta, por que eh que nao me calo, a resposta eh clara. Estou a exercer o meu direito de livrepensamento e de expressao. Parece que voce eh contra! Afinal quem se parece com o Goebbels, aqui?!
  • Calton Cadeado O grande medo do contraditorio, apareceu quando os "analistas independentes" do qual voce se acha, comecaram a sofrer a contra-argumentacao, meu caro. Nao se esqueca de que foi aqui onde comecou o nervosismo. Enquanto os jornais vos deram tapete vermelho, sem o contraditorio, voces brilharam no escuro! Mas, quando sofreram o contraditorio, comecou o sofrimento. kikikiki
    13 min · Não gosto · 1
  • Calton Cadeado Por ultimo, meu caro amigo frustrado pelas minhas opinioes! Prepare-se pare resolver a sua ignorancia sobre negociacao e me procure. Nao tenho falta de instrumentos cientificos para lhe mostrar, o que estou a dizer. Atencao! Nao estou a dizer lhe provar, nem convencer de nada! Entendo a sua frustracao. Mas, nao se preocupe. Procure ajuda. Eu nao sou nhonguero. Vou te ajudar a saber distinguir o que eh bandidismo, o que eh negociacao...
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  • Tony Ndzawana Continua latindo afinal mesmo estando sob risco de ser levado castrado a um canil publico, visto que o alegado dono nao reivindicou a "patente"?!
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  • Calton Cadeado Eu sou responsavel pelo que penso, digo e escrevo. Nao tenho medo do contraditorio. Afinal viver na academia, da academia e para academia eh isso. Por isso, nao me assusto com insultos, pois descobri que as vezes estou a falar com miudos que nao leram um unico livro cientifico sobre a nossa historia politico-militar, muito menos livros sobre estudos de seguranca e estudos estrategicos. A unica fonte fiavel para sustentar as suas ideias sao o Major-General Henry Miller, o Savana, o CanalMoz, o Zambeze, qual eh o outro pasquim credivel?!!!
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