Há pouco tempo fui feito refém
numa pequena aldeia de
Moçambique. Agora estou a
percorrer velozmente o mato
numa carrinha de caixa aberta conduzida
pelo chefe de um gangue criminoso,
com os seus subordinados a vibrar e
a gritar nas traseiras. Eles vão “acabar”
comigo, já me disseram antes, e estou
convencido de que vão parar na próxima
clareira e espancar-me até à morte
como a um cão. Pela primeira vez nos
meus quase 30 anos como correspondente
em África temo pela vida.
Eu tinha chegado a Moçambique com
o fotógrafo sueco Toby Selander uns
dias antes para fazer uma reportagem
sobre a caça furtiva ao rinoceronte e o
comércio ilegal de chifres de rinoceronte.
Esperávamos seguir a cadeia de
fornecimento desde o abate dos rinocerontes
na África do Sul, passando
pelos intermediários em Moçambique
até aos compradores finais de chifres no
Vietname.
A savana sul-africana é o habitat de 21
mil dos 28 500 rinocerontes que restam
no mundo. No ano passado, pelo menos
1215 desses animais foram mortos
a tiro por caçadores furtivos só na
África do Sul e os seus chifres serrados
para serem vendidos. Isso significa que
a cada período de sete horas há menos
um rinoceronte no mundo.
Os animais habitam a Terra há milhões
de anos, mas se a caça furtiva continuar
ao seu ritmo actual, os ambientalistas
temem que eles possam rapidamente
ficar extintos.
“Estamos a lutar pela conservação de
uma espécie”, diz um guarda da vida
selvagem do Parque Nacional Kruger, a
reserva de caça mundialmente famosa
no Nordeste da África do Sul onde vive
a maior população de rinocerontes do
mundo. “Estamos em guerra.”
De África para o Vietname
Nos últimos anos, os guardas florestais
sul-africanos têm vindo a travar uma
batalha defensiva contra os caçadores
de rinocerontes. Têm sido formadas
unidades anti-caçadores furtivos e, ocasionalmente,
estas são ampliadas com a
participação da polícia e de militares.
Elas usam drones para pesquisar o vasto
e complexo terreno do parque, à procura
das quinze equipas de caçadores furtivos
que, de acordo com as estimativas
da direção do parque, lá andam à caça
num dia normal.
Oitenta por cento dos caçadores são
provenientes de Moçambique, a maioria
da região de fronteira subdesenvolvida
ao longo do rio dos Elefantes.
As caçadas ilegais representam a fonte
de receitas mais importante da região
e garantem enorme margem de lucro:
no mercado negro, um quilo de chifre
de rinoceronte vale até $80 000 (75 mil
euros). O material é mais valioso do que
o ouro ou a heroína e os dois chifres
de um rinoceronte de tamanho médio
pesam quase seis quilos.
A crescente procura de chifre de rinoceronte
no Extremo Oriente, particularmente
no Vietname, tem aumentado
os preços. Nos últimos anos, o rápido
crescimento económico do Vietname
produziu uma ampla classe média que,
de repente, pode pagar produtos de
animais exóticos, como marfim, vesícula
biliar de urso e pó de osso de tigre.
Ao adquirir estes produtos, as pessoas
demonstram a sua mobilidade social
ascendente.
A procura do pó de chifre de rinoceronte
está em alta. É visto como uma
droga milagrosa que pode reduzir a
febre, aliviar a dor, parar hemorragias
nasais e curar doenças graves, incluindo
o cancro. Estas crenças não são
mais do que superstições absurdas - os
chifres de rinoceronte, como as unhas
ou o cabelo humanos, são constituídos
principalmente por queratina e não têm
qualquer tipo de qualidades medicinais.
Mas muitos vietnamitas continuam
a acreditar nos mitos sobre os chifres
com mais de 2000 anos - o que ajuda a
explicar porque já não há rinocerontes-
-de-java no país.
A carcaça do último animal remanescente
foi encontrada em 2010 no
Parque Nacional de Cat Tien. Desde
então, os animais africanos foram obrigados
a suprir a procura crescente.
A principal rota de comércio passa directamente
por Moçambique e mais
chifres mudam de mãos na área circundante
a Massingir do que em qualquer
outro lugar. A poeirenta cidade na fronteira
com a África do Sul é a “capital”
dos chamados chefões, os patrões da
caça furtiva. Calcula-se que vinte deles
vivam aqui, e as suas casas são inconfundíveis:
mansões ostentosas erguidas
no meio da mata, entre cabanas e casas
de adobe, com paredes exteriores de
azulejo e janelas com vidros fumados
protegidas com barras de metal.
Uma estátua em gesso de Jesus em tamanho
natural ergue-se na varanda de
uma das mansões.
“Fica-se rico, mas morre-se
novo”
Os habitantes de Massingir e das aldeias
circundantes são agricultores pobres:
eles criam gado, cultivam pequenos
campos e pescam nos rios. As suas
aldeias não têm electricidade, escolas ou
centros de saúde e a maioria dos jovens
está desempregada. Desde há muito
tempo que a maneira mais fácil de fazer
rapidamente um pouco de dinheiro tem
sido a caça furtiva.
“Fica-se rico, mas morre-se novo”, diz
um dos homens. Ele não quer revelar
o nome com medo da máfia dos rinocerontes.
Quando precisa de um novo
emprego, conta o homem, ele vai ao
Carogé, um bar na estrada principal que
atravessa Massingir. Políticos locais,
agentes da polícia, guardas-florestais e
informadores encontram-se ali debaixo
da sombra das marulas. Dizem-nos que
é aqui que os líderes dos gangues de
caça furtiva recrutam os novos “membros”.
Fazemos perguntas sobre Navara,
o mais famoso de todos, mas toda a
gente age como se nunca tivesse ouvido
o nome.
A administração do Parque Nacional
do Limpopo de Moçambique, do outro
lado da fronteira do Kruger, conhece
muito bem Navara, cujo verdadeiro
nome é Simon Ernesto Valoi. Ele vive
na segunda aldeia dentro da reserva,
informa um funcionário do parque -
Mavodze, a apenas 15 km de distância.
O funcionário do parque diz que esteve
com Navara algumas vezes e que não é
difícil encontrá-lo. “Vão até lá.” Assim,
fomos até lá.
O Parque Nacional do Limpopo é um
paraíso para a vida selvagem: uma região
bravia atravessada por pequenos
riachos, colinas verdes aveludadas, mato
cerrado e acácias. Em breve, a reserva
será unida com outros parques em Mo-
çambique, Zimbabwe e África do Sul
para formar o Parque Transfronteiri-
ço do Grande Limpopo. Será a maior
reserva natural do mundo e um lugar
onde a caça grossa se poderá movimentar
livremente através de cerca de
100 000 km2, uma área maior do que
Portugal.
Um erro perigoso
A casa de Navara é fácil de encontrar:
está pintada de cores brilhantes e é
a estrutura mais impressionante em
Mavodze. Estacionamos na estrada de
terra em frente à propriedade cercada
e perguntamos a uma mulher do outro
lado da cerca sobre o paradeiro dele. O
marido, diz, não está em casa no momento
e ela liga-lhe do seu telemóvel.
Navara fica furioso.
Mais tarde percebemos o que tínhamos
feito de errado. Ignorámos uma regra
crucial ao não irmos primeiro ter com
o ancião da aldeia. Tal procedimento
é normal em muitas partes da África,
e aqueles que ignoram as autoridades
locais ofendem a dignidade de toda a
comunidade.
Minutos depois estamos rodeados por
cinquenta ou sessenta pessoas, aparentemente
mobilizadas por Navara. Os
jovens ameaçam-nos com os seus punhos
e gritam: “Espiões! Polícia secreta
da África do Sul!”
“O que querem daqui?”, pergunta um
Raptados em Moçambique: nas garras
dos caçadores furtivos de rinocerontes*
velho aos gritos. “Navara é um de nós.
Ele dá-nos trabalho.” As pessoas em
Mavodze não vêem a caça furtiva como
reprovável e a maioria só está familiarizada
com os rinocerontes porque estes
aparecem na nota de vinte meticais.
Navara, por outro lado, oferece trabalho
lucrativo aos jovens desempregados. Os
aldeões receiam o chefão da caça furtiva,
mas também o veneram.
Pensa-se que ele emprega entre dez a
quinze equipas de caça, cada uma composta
por três homens. Nas noites claras
de luar eles atravessam a fronteira para
a África do Sul, uma pessoa leva uma
espingarda ou a arma tranquilizante e
a segunda um machado para cortar o
chifre do rinoceronte.
A terceira pessoa está encarregada de
transportar provisões. É um trabalho
perigoso. Entre 2008 e 2014, 363 ca-
çadores foram mortos pelas forças de
segurança sul-africanas.
Guardas da Força de Defesa Nacional
Sul-Africana patrulham as zonas
fronteiriças do Parque Nacional Kruger
com Moçambique.
Os Hawks (Falcões), uma unidade especial
da polícia sul-africana, acreditam
que as equipas predatórias são apenas
uma pequena parte de uma rede muito
mais ampla que inclui guardas florestais
corruptos, funcionários do parque,
agentes da polícia, caçadores profissionais
e pilotos. Os guardas de caça são
subornados para monitorizar os movimentos
das manadas de rinocerontes
enquanto os veterinários fornecem
M99, um anestésico. Políticos locais,
organizadores de safaris, comerciantes
de gado e agricultores brancos actuam
como intermediários.
Os líderes dos gangues estão um degrau
mais acima na hierarquia. Eles vendem
os chifres aos círculos de contrabando
que subornam depois companhias de
navegação, inspectores de alfândega,
funcionários do porto e pessoal do aeroporto.
Diplomatas e funcionários do ministé-
rio fazem parte, muitas vezes, da rede
criminosa. Com efeito, trabalhadores
da embaixada vietnamita certificam-se
de que o produto chega aos armazenistas
da sua terra natal. A África do Sul
tem lançado repetidas investigações a
diplomatas suspeitos.
E há, aparentemente, uma outra rota
para fazer chegar os chifres de rinoceronte
ao Vietname: nos últimos anos,
a sociedade vietnamita- moçambicana
Movitel tem estado a instalar antenas
de telemóvel e cabos de fibra ótica no
interior de Moçambique. Alguns dos
seus técnicos são suspeitos de serem
correios no comércio de chifres de rinoceronte.
“Odeio-vos, brancos”
Em Mavodze, um dos líderes dos gangues
chegou: Justice Ngovene, também
conhecido como “Nyimpini”, um homem
musculoso que veste um casaco de
couro preto e usa chapéu. Ele acusa-nos
de entrar na aldeia sem permissão. Os
homens que nos rodeiam estão a preparar-se
para atacar quando um Toyota
Land Cruiser branco acelera. A multidão
aplaude.
A matrícula do carro diz “Katana 2”;
catana é a palavra japonesa para uma
grande faca ou uma espada longa. O
veículo pertence a Navara, que sai do
carro. É um homem de tamanho mé-
dio, comum, dos seus trinta e tal, com
a cabeça rapada e uma corrente de ouro
pendurada ao pescoço.
Está acompanhado de uma meia dúzia
de guarda-costas. Navara tem a reputação
de ser extremamente violento e
diz-nos que vamos ao posto da polícia
onde ele quer apresentar queixa por invasão
de propriedade.
Somos interrogados numa sala pequena
e sem janelas. De onde vêm? Quem vos
mandou? Os dois líderes de gangues -
Navara e Ngovene - fazem as perguntas,
enquanto o polícia da aldeia intervém
apenas ocasionalmente.
Os guarda-costas ameaçam violar-nos,
matar-nos e queimar os nossos corpos.
O polícia da aldeia toma notas, com as
mãos a tremer.
Navara está sentado mesmo ao meu
lado. Ele fica a olhar para mim e sibila:
“Odeio-vos, brancos!” A expressão no
rosto dele é temível, um olhar que nunca
esquecerei.
Marilise Meyer, 37 anos, presumivelmente
também nunca o irá esquecer.
No dia 3 de Fevereiro de 2009, não
muito longe da aldeia sul-africana de
Gravelotte, ela foi forçada a assistir à
forma como Navara roubou o seu carro
de família e assassinou o seu marido a
sangue-frio quando este tentou resistir.
Meyer identificou Navara mais tarde a
partir de fotografias.
Na época, ele especializou-se em roubo
de veículos todo-o-terreno - os
seus favoritos eram os Nissan Navara,
e é daí que vem o seu nome de guerra.
Na África do Sul, ele é procurado pelas
autoridades há anos por um duplo
homicídio. “Por que razão este perigoso
criminoso pode ainda andar por aí livremente?”,
questiona Marilise Meyer.
“Quem manda aqui sou eu!”
Um consultor de segurança, cuja empresa
recolheu informações sobre Navara
na área de Massingir a pedido
de um dos seus clientes, afirma que é
“porque Navara é protegido ao mais
alto nível do governo e pelos chefes da
polícia. Eles impedem a extradição que
é pedida pela África do Sul”.
O interrogatório em Mavodze demora
duas horas e meia antes de ser tomada
a decisão de nos levar para o quartel da
polícia em Massingir. Aí seríamos presos.
Eles querem separar-nos aos dois e,
quando nós protestamos com o polícia
da aldeia, Navara rosna: “Quem manda
aqui sou eu!”
Pensa-se que Navara, além de agentes
da polícia, também “emprega” funcionários
da justiça local, bem como funcionários
políticos do partido do governo,
a Frelimo. Antigos combatentes da
Renamo, um antigo movimento rebelde,
alegadamente também trabalham
com ele. O grupo ainda tem grandes
provisões de armas que sobraram da
guerra civil com a Frelimo e financia-se
com a caça ilegal, entre outras fontes de
receitas.
O homem é aparentemente capaz de
comprar tudo e todos. Uma testemunha
viu uma vez Navara a entrar na agência
local do Banco Comercial carregando
sacos de compras cheios a abarrotar de
notas dos Estados Unidos. Dólares dos
rinocerontes.
Lá fora, em frente ao posto da polícia, a
multidão está a tornar-se cada vez mais
agressiva. A raiva tem outra origem
também. O governo está a planear o
reassentamento de todos os que vivem
dentro Parque Nacional do Limpopo,
um total de cerca de 9000 pessoas. A
aldeia vizinha de Macavene já foi desocupada
e agora é a vez de Mavodze.
Mas os habitantes estão a resistir à mudança,
não querendo desistir das suas
casas, dos campos, cercas de gado e
poços. Querem permanecer perto das
sepulturas dos seus antepassados. Mavodze
tem sido a casa deles desde onde
a sua memória colectiva alcança e agora
estão a ser forçados a abrir caminho
para um projecto natural gigantesco
que, na perspectiva deles, apenas beneficia
os turistas de safaris ricos. Estrangeiros
brancos como nós.
Os jovens irados em frente ao posto da
polícia decidiram linchar-nos. Após o
interrogatório, o líder de gangue, Ngovene,
sai para a varanda do posto para
os acalmar - e, de repente, passa de nosso
algoz a nosso protector. O seu breve
discurso salva as nossas vidas - por
enquanto.
Tolhido pelo medo
Sou obrigado a ir no 4x4 de Ngovene
enquanto o fotógrafo, Toby Selander,
é levado num carro diferente. Estão a
separar-nos, o que não é um bom sinal.
Quando entro no carro, um rapaz faz
o gesto de que me vai cortar o pescoço.
Ele parece ter a idade do meu filho, que
tem 15 anos. Avançamos velozmente
em direcção a Massingir numa coluna
liderada pelo 4x4 de Navara.
Quando Ngovene vira subitamente
para um caminho acidentado no mato
fico tolhido pelo medo. Acontece que
ele está apenas a ir por um atalho - e
está ligeiramente embriagado. Tento
começar uma conversa e ele diz que o
comércio de rinocerontes é um negócio
arriscado e que está a pensar abandoná-
-lo. “A nossa região está em ascensão,
por isso temos aí novas oportunidades”,
diz.
O potencial económico do distrito de
Massingir é, na verdade, enorme. O
solo é fértil e, graças a barragem de
Massingir, há muita água. O governo,
juntamente com um consórcio internacional,
está a planear uma plantação de
37 mil hectares que vai produzir açúcar
e biocombustíveis e criar 7000 empregos.
O novo Parque Transfronteiriço do
Grande Limpopo está projectado para
atrair milhões de visitantes de todo o
mundo e a sua
criação está a ser apoiada por organizações
de desenvolvimento estrangeiras
com o Instituto de Crédito para a Reconstrução
(Kreditanstalt für Wiederaufbau)
como um dos seus principais
financiadores.
“Se as pessoas tivessem uma alternativa,
talvez a caça furtiva diminuísse também”,
diz Ngovene. Ele próprio está a
planear construir uma estalagem para
turistas - dois andares, com 26 quartos
e uma piscina no telhado. A estrutura já
foi construída.
“Você conhece alguns investidores
alemães que estivessem dispostos a
juntar-se ao projecto?”, pergunta. É
uma situação grotesca: aqui estou eu
completamente sob o seu controlo e ele
vê-me como um potencial parceiro de
negócios.
Chegamos finalmente à sede da polícia
de Massingir e o segundo interrogató-
rio começa. Os líderes dos gangues e os
seus capangas estão mais uma vez na
sala. Eles apontam para a inscrição sobre
a porta fechada: “Celas”. Um deles
ameaça que vamos ser atirados para ali,
ao lado de assassinos presos. “E durante
a noite as coisas resolvem-se.” Para
Navara, não seria um problema. Em
Massingir, toda a gente sabe que ele
trabalha com a polícia. Supostamente
até arma as suas equipas de caçadores
com espingardas de assalto confiscadas
“alugadas” à esquadra da polícia local.
O chefe da esquadra, um homem chamado
Cambaco, repreende-nos como
foras-da-lei e está abertamente do lado
de Navara. O comportamento dele só
muda quando o seu telemóvel toca. Do
outro lado está o seu superior de estatuto
mais elevado, o Comandante Geral
da Polícia, que foi alertado para a nossa
situação pela Embaixada da Alemanha
em Maputo.
Noite sem dormir
Depois de oito horas, somos finalmente
libertos. A noite caiu e Navara, Ngovene
e os seus guarda-costas estão a
conferenciar. Temos medo de que eles
possam preparar-nos uma emboscada
a caminho das nossas longínquas acomodações.
Cambaco, o chefe de polícia,
nomeia dois agentes com Kalashnikovs
para nos proteger, por uma taxa especial
de USD250 dólares. Durante a noite
sem dormir no nosso alojamento sentimo-nos
presos, como se estivéssemos
num espaço sem lei, sujeitos aos caprichos
dos gangues criminosos.
Oficialmente, Moçambique é uma
democracia parlamentar desde 1994.
Mas em áreas como Massingir, o Estado
de direito ainda está para chegar.
Aqui, agentes da polícia e magistrados
do ministério público são para ser tão
temidos como os líderes dos gangues. É
um segredo de polichinelo que políticos
poderosos ganham dinheiro com negó-
cios e, em troca, protegem os gangues
da acusação criminal.
Os críticos do regime que revelam a
corrupção oficial são eliminados se necessário.
No início da semana, Gilles
Cistac, um respeitado perito constitucional
que apoia ideias da oposição, foi
assassinado no meio de Maputo à luz
do dia.
Na manhã seguinte somos avisados: a
única estrada de acesso a Massingir é
controlada por Navara e pelos seus homens.
Entretanto, o nosso advogado de
Xai-Xai, a capital da província, chegou
e diz-nos que não temos outra alternativa
senão comparecer perante o tribunal
em Massingir. Aí, um procurador
diz-nos que estamos sob investigação e
que não podemos deixar Moçambique
por mais de cinco dias. Pode até vir a
haver um julgamento. Em Massingir.
O chefe distrital da polícia, no entanto,
aconselha-nos a deixar a cidade tão
rapidamente quanto possível. Uma escolta
é montada rapidamente para nos
acompanhar durante os primeiros 200
km.
Depois de duas horas e meia de condu-
ção, estamos de regresso a território seguro.
Em Macia, um lugar onde já não
podemos ser directamente ameaçados
pelos caçadores furtivos, somos recebidos
por um representante da embaixada
sueca.
Vai levar ainda vários dias até que sejamos
autorizados a deixar o país.
Somente depois de um procurador em
Maputo nos assegurar que a queixa de
invasão de propriedade não teve seguimento
é que nos será permitido apanhar
um voo de regresso à Cidade do
Cabo.
*Exclusivo Der Spiegel/DN
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