Por Ilídio Nhantumbo
Como um dos meus docentes dizia quando
eu solicitava a revisão das minhas opini-
ões escritas, “não se constrói Nação na
poltrona.” Nunca acompanhei a vida privada
de Gilles Cistac para saber se ele se sentava
na poltrona para pensar, interpretar, desenhar
suas ideias, mas o que me interessa é que os pensamentos
de Cistac nunca mais serão ouvidos ou
lidos ainda frescos.
Morreu o constitucionalista que não precisaria de
poltrona para expressar suas opiniões num País que
politicamente se pretende estar em consolidação. No
final é que democracia requer liberdade de opinião,
académica e de expressão; não interessa sua beleza,
nem exactidão, mas seu respeito.
Cistac era constitucionalista e, a meu ver, reflexo da
liberdade académica, de pensamento e opinião. Suas
opiniões não se equiparam a um simples jornalismo
sensacionalista que em momentos de crise propalam
disparates. Suas ideias eram academicamente
expressas e publicamente ouvidas. Porque é que se
requer cobardia para se aparentar ser defensor da
democracia? Porque é que para se ser herói é preciso
ser engrachador de sapato? Porque é que para se ser
herói é preciso olhar-se para a luta de libertação nacional?
Será que essas perguntas todas têm respostas?
Que me amparem os defensores da democracia
liberal nas respostas à estas perguntas.
Foi com melancolia não apenas humana,
mas também académica que recebi nesta manhã de
03 Março de 2015, no meu fuso horário, a notícia do
assassinato do Professor Cistac. Tanta coincidência
para se questionar o assassinato de Cistac poucos
dias depois da interpretação aprovada lá na casa do
Povo. Tal como o académico Eduardo Mondlane, fi-
gura que estabelece o dia dos Heróis Nacionais pela
luta anti-colonial, Cistac não era apenas defensor da
democracia em Moçambique, mas também inspirador
dos seus estudantes. Mondlane não foi engrachador
de sapato do regime colonial. Cistac seguiu
a mesma rota para o bem do Povo Moçambicano;
para a construção da democracia. Se Mondlane foi
o primeiro a merecer a Praça dos Heróis pela Luta
de Libertação Nacional, não será Cistac merecedor
da mesma Praça dos Heróis? Que me respondam os
“consolidadores“ políticos da democracia. Esse poder
é vosso, mesmo estando contra a Constituição
que foi por vós aprovada. Acabo sendo engrachador
académico, não serei?
Herói da liberdade académica, do Estado
de Direito, e construção da democracia, Cistac
merece respeito. O heroísmo não é monopólio nem
da geração de Nachingweia, base de Mbeia, dos que
assinaram os Acordos de Lusaka e muito menos da
academia G40; os académicos, defensores do Estado
de Direito também têm esse direito e honra de
receber título de Herói Nacional. Poltrona não é objectivo
dos que estão longe do meu alcance. Deixem
os defensores sinceros da democracia livres da AKM
que mantêm na bandeira nacional; deixem os acadé-
micos fora desses tiros. Mas quem foi que usou os
seis tiros? Defensor e construtor da democracia? Ou
consolidador da democracia? Eu não tenho resposta!
Da informação disponível Cistac já vinha sendo
ameaçado pela sua interpretação da Constituição
depois das fraudulentas eleições que levaram ao
Acordo Dhlakama-Nyusi.
Será que a responsabilização dos criminosos virá ao
público nos próximos dias? Como tem sido o discurso,
o Presidente Nyusi coloca pessoas certas no
momento certo. Será que esse discurso tornar-se-á
realidade? Quem sabe?! Presidente Nyusi, pressione
seu Ministro do Interior e a responder urgentemente
a esta pergunta. Jaime Monteiro, eu quero
resposta! Obrigue Jorge Khalau a colaborar consigo.
Certamente, que não sou o único a solicitar essa
resposta, mas também outros muitos defensores da
liberdade académica, de opinião e expressão. Queremos
resposta urgente à esta preocupação. Monteiro,
nos prove da sua competência com brevidade. Queremos
resposta hoje!
O assassinato de Cistac não é início da
ameaça à liberdade de opinião, expressão e democracia.
A teoria é que, como os Cranberries dizem
“o creme sempre virá ao topo; gente de boa vontade
morre em primeiro lugar.” Os aparentes defensores
das causas do Povo, são brevemente afastados da
rota. Os consolidadores políticos da democracia sabem
afastar da rota os reais defensores da liberdade.
Os autênticos defensores da justiça são os primeiros
a serem retirados da rota. Onde está Urias Simango?
Onde está Carlos Cardoso? Hoje é o Professor
Gilles Cistac. A verdade é que todos são heróis, declarados
ou não, são todos heróis! Não interessa seu
cemitério, nem a atribuição de seus nomes à avenidas.
Os defensores da justiça são mártires! Mas não
deixemos o medo dominar a coragem.
A poltrona é mérito dos utentes dos impostos dos
cidadãos no Centro de Conferências Joaquim Chissano,
mas a liberdade não afluirá da poltrona. A Na-
ção não virá do silêncio forçado. A coragem irá prevalecer,
não da AKM, mas da liberdade académica,
de pensamento, de expressão. A voz da justiça não
se vai ofuscar! Professor Cistac, estamos de luto e
mergulhados na melancolia. Te afastaram da rota da
liberdade académica e de expressão de que gozavas,
como a Constituição que decifravas e ensinavas estabelece.
A democracia está de luto, mas a liberdade
não será retirada da rota. Professor Cistac, repouse
em Paz!
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