O partido Frelimo continua com a sua cruzada provincial de legalização
da fraude e de ilegalização do protesto contra a fraude.
E, como órgão de comunicação social, assusta-nos o facto de os
moçambicanos assumirem as brigadas da Frelimo de legalização
da fraude como se fossem coisa normal. A propaganda do partido
Frelimo pode até pagar e controlar algumas mentes, mas o crime
eleitoral que cometeu é de uma tal dimensão escandalosa, que
levará anos para ser suficientemente esquecida.
O que nos preocupa aqui é que a propaganda conseguiu parcialmente
moldar o debate público, transformando o violado em
culpado e o violador em inocente ou vítima. A seguir explicamos.
Alguém já parou para pensar que já não se está a debater a fraude
eleitoral, mas está-se a gastar tempo em debater o mérito constitucional
das atenuantes que são apresentadas pela Renamo, para
se sair da crise pós-eleitoral, numa situação em que se assume
(sem editais) a Frelimo e Nyusi como vencedores? E parece-nos
que a Frelimo já conseguiu parcialmente o que pretendia: levar as
pessoas a esquecerem a fraude eleitoral e colocá-las a pensar em
adjectivos para qualificar as propostas da Renamo.
E como, em Moçambique, parte da opinião pública e a dita “comunidade
internacional” conseguem baixar as calças, dependendo
do envelope que lhes é apresentado, conseguiu-se parcialmente
transformar o essencial em periférico e o periférico em nuclear.
Não compreendemos como é que, de repente, o assunto eleitoral
passou a ser a Renamo (violada pela fraude), em vez de ser o
próprio acto da violação, isto é, a fraude eleitoral cometida pela
Frelimo. Não nos cansamos de dizer, aqui, ao povo moçambicano
que não existem editais que provem que Nyusi e a Frelimo
ganharam as eleições. Estes editais não existem. Não nos cansamos
de dizer, aqui, que o sheik Abdul Carimo recusou-se a mostrar
os editais aos seus próprios pares da Comissão Nacional de
Eleições. Não nos cansamos de dizer, neste mesmo espaço, que o
Conselho Constitucional não teve acesso aos editais, mas tomou
a decisão com base num CD áudio que é o da divulgação dos resultados
lidos no Centro de Conferências “Joaquim Chissano” na
tarde de Dezembro pelo Secretariado Técnico da Administração
Eleitoral.
Ou seja, depois de todo este festival de ilegalidades, algumas
“mentes brilhantes” ainda conseguem falar da legalidade das
propostas da Renamo! Com que fundamento e legitimidade? No
nosso modesto entender, qualquer tomada de posição sobre as
eleições que ignore a vergonhosa fraude eleitoral só pode estar
inspirada nas masmorras da propaganda.
Só um país moralmente decadente e que não sabe o que pretende
de si mesmo pode aceitar brigadas de ladrões comprovados
baterem-lhe à porta para darem lições de moral pública. Só um
país que vive do adiamento do seu próprio futuro é que pode
aceitar que ladrões de votos lhes batam à porta para falarem de
convivência democrática.
É preciso que os moçambicanos acordem para que a imoralidade
não se torne vício incurável. Atribuir a Eneas Comiche,
Eduardo Mulémbwè, Conceita Sortane, Eliseu Machava, Filipe
Chimoio Paúnde, Lucília Hama, José Pacheco o título de brigada
central de qualquer coisa que não seja associação criminosa é ser
complacente com o a imoralidade, com a falta de ética. Estes senhores,
antes de abrirem a boca, deviam, como requisito prévio,
informar ao povo como é ganharam as eleições. Deviam perguntar
ao povo o que acharam da forma como a Frelimo “ganhou” as
eleições. E o que o povo acha em ser transformado num agrupamento
de autênticos pacóvios. Deviam procurar saber a opinião
do povo sobre como é que o povo se sente depois de ter ido a uma
eleição onde o vencedor já havia sido previamente apurado antes
da votação ter começado.
Um bando de indivíduos que roubou votos, subverteu a vontade
popular, esquartejou a democracia, não pode continuar a passear
impunemente, a dar lições de legalidade e moral a quem quer que
seja. É um caso que exige terapia psiquiátrica colectiva o facto de
todo um país continuar a assistir ao espectáculo da imoralidade
cavalgando sobre o bom senso.
Continuar a ver o sheik Abdul Carimo, o senhor Felisberto Naife
e o senhor Hermenegildo Gamito a circularem impunemente
nas ruas da capital deste país é a maior prova de que a Justiça
deste país nunca será justa enquanto estiver nas mãos de injustos,
alguns até com um passado de leitura de sentenças para o fuzilamento
de seres humano sem direito a defenderem-se.
Mas, aqui, também se chama à responsabilidade os próprios
partidos da oposição, que precisam, primeiro, de definir o que
realmente pretendem. Responsabilidade mais acrescida vai para
a Renamo, que, com o seu presidente, se gaba de ter meios para
fazer vergar a Frelimo, de metê-la “na linha”, tal como ele pró-
prio disse na semana passada em entrevista a este jornal.
É que se esta novela terminar como o roteiro indica que vai
terminar, com os violadores a gozarem os violados, há quem corre
risco de perder o pouco de credibilidade que lhe restava, e
de se confundir com a Frelimo. E esse alguém chama-se Afonso
Dhlakama, visto que, para o MDM, aparentemente está tudo bem.
Continuamos a não saber em concreto as garantias que o presidente
da Renamo recebeu de Filipe Nyusi, que até aqui está numa
camisa-de-forças imposta por Guebuza. Encontrar e conseguir a
solução menos onerosa para a democracia é o único passaporte
que Afonso Dhlakama tem para poder continuar a merecer credibilidade.
Canal de Moçambique
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