Savana 13-03-2015
A Frelimo, através da sua Comissão Política, manifestou revolta contra artigos publicados em órgãos de comunicação social culpabilizando o partido pela morte do Professor Gilles Cistac, na semana passada. Na verdade, no meio de um crime repugnante como este, que certamente deixou todos aqueles que conviveram com a vítima num ambiente de depressão e o governo gravemente embaraçado, terá sido implausível e de certo modo irreflectido fazer-se um julgamento sumário e encontrar-se o culpado mesmo antes que a polícia tivesse dito algo sobre as suas investigações. Mas precisamos de encontrar as razões porque a Frelimo aparece sempre suspeita, ao ponto de em muitos casos ter que se suspender o princípio constitucional da presunção de inocência. Para os que a suspeitam, a Frelimo é que tem de provar que está limpa. Para aqueles que conheceram a Frelimo desde os primórdios da independência, há a ideia clara de um partido com uma disciplina de ferro, onde os líderes do topo foram sempre tratados com deferência, um partido em nome do qual ninguém ousava falar sem que estivesse mandatado para tal. Contudo, as mudanças dos últimos anos, não totalmente dissociadas das transformações políticas que ocorrem em todo o mundo, propiciaram um ambiente de inversão de valores, numa situação em que a necessidade de consolidação do poder ao nível da cúpula exigia a suspensão de princí- pios sagrados do passado. Antigos dirigentes que ousassem emitir alguma opinião contrária à do poder dominante colocavam-se na mira, no meio de um processo de clivagens que gradualmente ia também reduzindo os canais de comunicação dentro do próprio partido. A cultura de crítica e auto-crítica que foi apanágio do partido passou para a história. Membros influentes que passaram a não ter espaço para articular as suas inquietações dentro do partido encontraram esse espaço muitas vezes na imprensa independente. Foi neste quadro que surgiu o apelo da liderança máxima para que questões do partido fossem debatidas apenas ao nível das suas estruturas. Em paralelo, estabeleceu-se um mecanismo informal de choque, com a função principal de insuflar a liderança através da diabolização dos seus perceptíveis detractores. Às vezes, as respostas aos críticos surgiam empacotadas na forma de artigos de opinião em meios de comunicação social obedientes, em alguns casos devassando supostos actos lesivos por si cometidos enquanto dirigentes. Quando o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, protestou contra os resultados das eleições de Outubro passado e lançou o seu projecto de criação de regiões autónomas, os seus opositores não procuraram contrariá-lo com argumentos fortes que desconstruíssem tal projecto como uma grande falácia. Concentraram as suas baterias na descaracterização de quem ousasse defender que ao nível da actual Constituição da República havia espaço para que tal objectivo fosse materializado. O Professor Gilles Cistac foi quem mais deu o seu rosto a favor do projecto de Dhlakama, trazendo à colação argumentos que acreditava terem fundamento em algumas disposições da Constituição da República. No esforço de desconstruir tal posicionamento foi contra o toulousiense naturalizado moçambicano que foi concentrada a maior campanha de vilipêndio, onde a cor da sua pele e origem estrangeira tornaram-se nos únicos factores de rejeição. O facto de que esta campanha de destrato era conduzida supostamente em nome da Frelimo ou por indivíduos que se apresentavam como membros ou simpatizantes desta formação política não foi, talvez porque assim convinha, motivo de censura por parte da direcção máxima do partido. Eis que após o assassinato brutal de Cistac as conclusões apressadas sobre os possíveis autores morais do crime, assim como o seu móbil, não se fizeram tardar. O facto de a Frelimo ser o partido que suporta o governo atribui-lhe responsabilidades especiais para não permitir que seja quem for, com ou sem razão, se pronuncie de forma desprestigiante mesmo contra os seus opositores, e pior ainda, em seu nome. Por o não ter feito, a Frelimo deve suportar as consequências da sua própria obstinação.
A Frelimo, através da sua Comissão Política, manifestou revolta contra artigos publicados em órgãos de comunicação social culpabilizando o partido pela morte do Professor Gilles Cistac, na semana passada. Na verdade, no meio de um crime repugnante como este, que certamente deixou todos aqueles que conviveram com a vítima num ambiente de depressão e o governo gravemente embaraçado, terá sido implausível e de certo modo irreflectido fazer-se um julgamento sumário e encontrar-se o culpado mesmo antes que a polícia tivesse dito algo sobre as suas investigações. Mas precisamos de encontrar as razões porque a Frelimo aparece sempre suspeita, ao ponto de em muitos casos ter que se suspender o princípio constitucional da presunção de inocência. Para os que a suspeitam, a Frelimo é que tem de provar que está limpa. Para aqueles que conheceram a Frelimo desde os primórdios da independência, há a ideia clara de um partido com uma disciplina de ferro, onde os líderes do topo foram sempre tratados com deferência, um partido em nome do qual ninguém ousava falar sem que estivesse mandatado para tal. Contudo, as mudanças dos últimos anos, não totalmente dissociadas das transformações políticas que ocorrem em todo o mundo, propiciaram um ambiente de inversão de valores, numa situação em que a necessidade de consolidação do poder ao nível da cúpula exigia a suspensão de princí- pios sagrados do passado. Antigos dirigentes que ousassem emitir alguma opinião contrária à do poder dominante colocavam-se na mira, no meio de um processo de clivagens que gradualmente ia também reduzindo os canais de comunicação dentro do próprio partido. A cultura de crítica e auto-crítica que foi apanágio do partido passou para a história. Membros influentes que passaram a não ter espaço para articular as suas inquietações dentro do partido encontraram esse espaço muitas vezes na imprensa independente. Foi neste quadro que surgiu o apelo da liderança máxima para que questões do partido fossem debatidas apenas ao nível das suas estruturas. Em paralelo, estabeleceu-se um mecanismo informal de choque, com a função principal de insuflar a liderança através da diabolização dos seus perceptíveis detractores. Às vezes, as respostas aos críticos surgiam empacotadas na forma de artigos de opinião em meios de comunicação social obedientes, em alguns casos devassando supostos actos lesivos por si cometidos enquanto dirigentes. Quando o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, protestou contra os resultados das eleições de Outubro passado e lançou o seu projecto de criação de regiões autónomas, os seus opositores não procuraram contrariá-lo com argumentos fortes que desconstruíssem tal projecto como uma grande falácia. Concentraram as suas baterias na descaracterização de quem ousasse defender que ao nível da actual Constituição da República havia espaço para que tal objectivo fosse materializado. O Professor Gilles Cistac foi quem mais deu o seu rosto a favor do projecto de Dhlakama, trazendo à colação argumentos que acreditava terem fundamento em algumas disposições da Constituição da República. No esforço de desconstruir tal posicionamento foi contra o toulousiense naturalizado moçambicano que foi concentrada a maior campanha de vilipêndio, onde a cor da sua pele e origem estrangeira tornaram-se nos únicos factores de rejeição. O facto de que esta campanha de destrato era conduzida supostamente em nome da Frelimo ou por indivíduos que se apresentavam como membros ou simpatizantes desta formação política não foi, talvez porque assim convinha, motivo de censura por parte da direcção máxima do partido. Eis que após o assassinato brutal de Cistac as conclusões apressadas sobre os possíveis autores morais do crime, assim como o seu móbil, não se fizeram tardar. O facto de a Frelimo ser o partido que suporta o governo atribui-lhe responsabilidades especiais para não permitir que seja quem for, com ou sem razão, se pronuncie de forma desprestigiante mesmo contra os seus opositores, e pior ainda, em seu nome. Por o não ter feito, a Frelimo deve suportar as consequências da sua própria obstinação.
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