08.02.2015
DOMINGOS DE ANDRADE
O tempo da política não é forçosamente o tempo dos cidadãos. Poderia ter sido esse o rasgo de inteligência que levou as lideranças do PSD e do PS a fazerem estancar a corrida de protocandidatos às presidenciais de 2016. Mas não. A coisa é bem mais prosaica. Vamos aos lances da mesa de póquer. Santana Lopes tem ambições declaradas de ocupar Belém. E estava a fazer tudo bem, no tempo errado. Posicionou-se de forma a não dar mais espaço de manobra a Pedro Passos Coelho. Fechou, em suma, a muralha. Faltava-lhe conquistar a simpatia do Porto, onde esteve na semana passada a dar apoio financeiro ao Coliseu. E terá sido aí que as coisas deixaram de correr de feição, levando-o a adiar para outubro outras intenções.
Do almoço com Rui Moreira, pouco se sabe, como nada se sabe do encontro com o provedor da Santa Casa da Misericórdia do Porto. Mas se o presidente da autarquia não é homem para fechar portas, já António Tavares, discreto mobilizador da candidatura de Rui Rio, outra coisa não terá dito que a verdade dos factos: Santana entrou cedo de mais e corria o risco de ficar colado às políticas da coligação. Mau sinal. Há ainda o passado, que, por muito curta que seja a memória dos povos, não é tão curta assim. Santana Lopes deitou o jogo abaixo. Era bluff. Para já, pelo menos. Mas um bluff que marcou a agenda. Durão Barroso nem a isso chegou.
Rui Rio faz o seu caminho. Tem encontros pelo país, um discreto movimento de apoio, ambição que chegue. Mas o ex-autarca é sobretudo um executivo. E o que gostaria mesmo era de governar. Verdadeiramente, vai esperar quase até ao dia da reflexão para lançar a sua candidatura. À Presidência ou ao PSD. Não importa. Tem mão cheia.
Na mesa, o Partido Socialista é o que tem o jogo mais escondido. Como se tivesse o jogo todo e não tivesse nenhum. De António Guterres a António Vitorino, passando por Maria de Belém. Vale tudo e não vale nada, porque antes disso há as legislativas. Mas não se pode deixar o vizinho sozinho. Tanto pode estar a fazer bluff, como ter uma "royal straight flush".
E Marcelo? Marcelo Rebelo de Sousa é o croupier. Distribui jogo todas as semanas do palco da TVI. Fala de si na terceira pessoa, como se não tivesse nada que ver com nada. Arregimenta o lóbi de Lisboa. Sorri ao povo do Porto. E tem a asa partida por ser aquele que Pedro Passos Coelho nunca apoiará.
Resta saber o que estará Passos Coelho a fazer quando começar a campanha oficial para as presidenciais. É outro que, no próximo outono, tanto poderá ter mais poder do que alguma vez teve, como estar em Massamá, quieto e sozinho, a lamber as feridas.
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