Chanceler considera as medidas de Itália e França insuficientes. Roma devolve acusações e diz que Merkel deve olhar para os problemas da Alemanha.
Itália endureceu o discurso em relação a Berlim, depois de a chanceler alemã criticar abertamente as reformas e as propostas de orçamento de Itália e de França, que considerou insuficientes para os dois países cumprirem as metas definidas com Bruxelas.
O Secretário de Estado adjunto dos Assuntos Europeus no Governo de Matteo Renzi respondeu com estrondo a Angela Merkel, não escondendo a sua ira em relação às considerações da chanceler. “Não cabe aos líderes dos governos interpretar os pontos de vista da Comissão Europeia [relativamente às políticas dos outros países]. O Governo italiano nunca se permitiu fazer avaliações sobre um país membro da União Europeia; e exigimos o mesmo respeito à Alemanha”, afirmou Sandro Gozi, dizendo que não cabe a Berlim “dar lições” a outros governos.
Numa entrevista ao jornal Die Welt, Merkel pronunciou-se sobre os projectos de orçamento dos dois países, afirmando: “A Comissão deixou claro que aquilo que propuseram até ao momento não é suficiente. Estou de acordo com isso”. Merkel sublinhou o facto de Bruxelas ter dado mais tempo aos governos de Matteo Renzi e François Hollande para os dois países cumprirem os seus programas de reforma, lembrando as contrapartidas exigidas pela Comissão Europeia em troca de maior flexibilidade orçamental.
As críticas de Merkel referiam-se não apenas ao orçamento, mas também a reformas estruturais. De Paris ainda não se ouviu uma reacção oficial. Mas a resposta italiana não tardou.
Embora rejeitando receber lições de outros governos, Sandro Gozi não deixou de fazer o diagnóstico ao que considera serem as falhas de política económica da Alemanha. E não poupou Merkel, visando o nome da chanceler directamente. “Talvez a chanceler Merkel se devesse concentrar na procura interna da Alemanha, na falta de investimento ou nos desequilíbrios dabalança de pagamentos”, disse, referindo-se aos excedentes comerciais daeconomia alemã, vistos por alguns parceiros como um factor de desequilíbrio macroeconómico na zona euro e um entrave ao crescimento. Se a atenção deMerkel fosse nesse sentido, a Alemanha estaria a dar um “contributo importante” pela qual a Europa espera há muito tempo, acrescentou Sandro Gozi.
A troca de acusações acontece na véspera de os ministros das Finanças da zona euro discutirem em Bruxelas as propostas de orçamento dos 18 países da moeda única. Em cima da mesa da reunião do Eurogrupo vai estar, da parte da manhã, a análise da avaliação feita pela Comissão Europeia a cada um dos orçamentos, em particular o dos Estados-membros que estão em risco de furar as metas estabelecidas. Há sete países nessa lista: para além de Itália e França, também em relação a Portugal, Espanha, Bélgica, Áustria e Malta a Comissão duvida que consigam colocar os défices dentro dos limites acordados.
No caso de Itália, o Governo de Renzi prevê que o défice público fique em 2,6% do PIB, quando o objectivo definido com os parceiros europeus é de 1,8%.
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