VOLTANDO atrás no tempo, quando o país era monopartidário, todos nós nos lembraremos que havia uma ou duas pás de vozes que eram as que emitiam opiniões, e estavam bem divididos em vozes políticas, culturais, religiosas e académicas cujas afirmações eram puras sentenças e paradigmas nacionais.
Essas vozes estavam inequivocamente ao lado do poder dominante, e não havia muita adivinhação nas rotações governamentais ou de cargos de chefia, porque essas duas pás se revezavam sem esforço, afinal eram os únicos visionários.
Regressando para hoje, onde ilustres desconhecidos, filhos de camponeses, tem a “ousadia” de atingir cargos que outrora estavam reservados a essa elite, eis que essa elite de outrora começa, em voos circulares, nas colunas fixas de jornais e em “entrevistas surpresas”, a deixar a sua bílis derreter, numa clara demonstração de frustração.
Li um artigo de um desses antigos donos de Moçambique, que demonstra em que estado de frustração se encontra. Falo do Coronel Sérgio Vieira, que saído voluntariamente do semanário “Domingo”, foi ancorar-se num jornal diário da praça, e logo no primeiro parágrafo começa como um touro ferido num toureiro.
Entende-se esta frustração para alguém que o seu (antigo) espirro era como um tiro para muita gente, que ele fazia passar desta para melhor por um dá cá aquela palha, e hoje não passa de uma ponta de uma faca desdentada para atacar o bom nome das pessoas.
Indo directo ao assunto, o Coronel Sérgio Vieira lança farpas sobre os motivos da sua saída do jornal “Domingo”, atribuindo isso a “porque o jornal caiu num inadmissível de artigos com alto teor racista”, optando por isso em encerrar a sua página que religiosamente era reservada e lida por muita gente.
Na verdade, o Coronel Sérgio Vieira não saiu do “Domingo” por nada de racismo, mas sim por causa do confronto de ideias que o “Domingo” introduziu nas suas páginas, aparecendo por isso vários articulistas com ideias novas e que confrontavam o Coronel com factos que lhe deixavam nervoso.
Assim, para se safar e não encarar os seus fantasmas, o Coronel encerrou a sua página, dobrou-a, pô-la debaixo do braço e agora estende-a num diário daqui da praça.
Aliás, o confronto de ideias nunca foi o forte do Coronel, desde os tempos de então, e por isso que ele preferia estar por detrás da repressão, onde a força é que imperava, e a morte é que resolvia. Ninguém ignora o “serviço” que o Coronel fez por este Moçambique, desde as deportações até aos desaparecimentos, e isso não foi por acaso, mas era uma forma de o Coronel “discutir” ideias com os seus opositores.
Ele era do grupo que usava o nome de Samora para passar a ideia de que toda a maldade que ele fazia eram ordens directamente recebidas de Machel, e assim o povo atiraria as culpas para o Marechal. E estranhamente isso funcionou durante muito tempo, desde os tempos da luta armada!
Episódios quase que isolados demonstram o caracter violento deste Coronel, desde as suas atitudes racistas, de intriga e maldizer que fizeram que o Governo da Tanzânia o expulsasse do país nos finais dos anos 60, por alegadamente estar a colaborar com a PIDE, entregando a lista dos guerrilheiros, tanto nas frentes assim como na clandestinidade.
O Coronel foi sempre uma pessoa que não quis discutir ideias, e sempre sentia-se forte quando representava o poder, porque aí era só ordenar a liquidação dos seus opositores, porque para a discussão de ideias, ele nunca teve capacidade.
Aliás, por ter vivido tanto com adversários, a lista das pessoas mandadas desta para melhor por ordens directas do mesmo é bem grossa, que o seu nome aparece na lista do livro :"Le Livre Noir duCommunisme: Crimes, Terreur, Répression, numa tradução livre: (O Livro Negro do Comunismo: Crimes, Terror, Repressão), na sua página 819.
Assim, como quem procura algo para segurar-se, através do apelo à emoção, o Coronel Sérgio Vieira faz-se de vítima, esquecendo os milhares de vítimas que transporta na consciência por essa sua falta de capacidade de discutir ideias civilizadamente, optando sempre por eliminar (no passado) ou por amuar (presentemente).
Em suma, o argumento da saída do “Domingo” por este semanário ter abraçado o racismo não procede, se olharmos para o historial do próprio, principalmente no seu modus operandi para “discutir ideias” com os seus opositores.
Os seus caminhos sempre deixam um rastilho de sangue, e por onde passou há uma proeminência de sangue e de morte, por isso, o caro Coronel não saiu do Domingo por racismo, mas porque simplesmente os seus métodos de discutir ideias estão obsoletos, já que actualmente não se “manda para a lenha” alguém com quem não concordamos, mas sim mostra-se a outra face da verdade, coisa que o Coronel simplesmente não sabe, por isso a fuga sem volta do” Domingo”.
Caro Coronel, os tempos são outros, e aceite a diversidade de ideias, porque o país caminha célere para a consolidação da democracia, e os seus métodos são estranhos por aqui. Se optar (ainda) em usar as técnicas obsoletas da contra inteligência, como a calúnia, mentira, auto-vitimização e intriga para atingir seus propósitos, corre sérios riscos de se transformar em fóssil no meio da nova estrutura do debate público em Moçambique.
Luís Orlando Sadina
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