James Chibolya, em Lusaka
•Imprensa zambiana avança que três facções do partido no poder, a Frente Patriótica, estão envolvidas numa guerra sem quartel pela liderança da FP
O funeral do falecido presidente zambiano, Michael Sata, terá lugar amanhã, dia 11 de Novembro. Os restos mortais do falecido presidente chegaram sábado (2 de Novembro) a Lusaka, provenientes de Londres, capital britânica onde perdeu a vida.
Alguma imprensa zambiana avança que três facções do partido no poder, a Frente Patriótica, estão envolvidas numa guerra sem quartel pela liderança da FP, como pré-condição para concorrer à presidência da Zâmbia, na sequência da morte de Michael Sata.
Analistas dizem que as três alas poderão fragilizar a capacidade da Frente Patriótica na próxima eleição, uma vez que poderá ser escolhido um indivíduo sem capital político para enfrentar os seus adversários.
Algumas fontes bem informadas dizem que a disputa pela presidência da Frente Patriótica envolve muito dinheiro com vista a subornar os membros com capacidade eleitoral para votar neste ou naquele candidato.
Provavelmente, poderá ser eleito para a presidência da FP aquele que oferecer muito dinheiro, mesmo que não tenha bagagem suficiente para ganhar o pleito que terá lugar antes de 28 de Janeiro de 2015.
Os zambianos vão às urnas dentro de noventa dias em eleição intercalar para escolha do novo presidente da república na sequência da morte de Michael Sata, vítima de doença.
A Constituição diz que uma nova eleição presidencial deve ser realizada dentro de três meses, mas os analistas avançam que o vice-presidente Guy Scott, de descendência escocesa, não vai concorrer por causa de restrições a sua cidadania.
No entanto Scott vai dirigir o país até a realização das eleições. Ele torna-se no primeiro branco a dirigir um país africano desde 1994 quando Frederick de Klerk deixou o cargo na sequência da queda do regime de apartheid na África do Sul.
Scott nasceu em 1944 na então Rodésia do Norte, agora Zâmbia, depois do pai ter emigrado de Glasgow na Escócia para trabalhar no território como médico nos caminhos-de-ferro.
Economista formado em Cambrigde, Scott entrou para a política em 1990 juntando-se ao Movimento para a Democracia Multipartidária que ano seguinte ganhou as primeiras eleições multipartidárias realizadas na Zâmbia.
Como ministro da agricultura, conseguiu recuperar o sector devastado pela seca entre os anos 1992/93.
Ele juntou-se a Frente Patriótica do falecido Michael Sata em 2001 e foi nomeado vice-presidente depois do partido ganhar as eleições em 2011.
Como os parentes de Guy Scott não foram nascidos na Zâmbia, a Constituição não lhe permite concorrer a eleição presidencial.
Michael Sata, mais conhecido por king Cobra, devido a sua agressividade verbal, morreu em Londres onde se encontrava em tratamento médico.
O ex-presidente da Zâmbia, de 77 anos de idade, estava doente há vários meses.
Este é segundo estadista zambiano a perder a vida durante o cargo, desde a morte de Levy Mwanawasa em 2008.
Ainda doente, Sata designou o ministro da Defesa, Edgar Lungu para presidente interino, mas este já confirmou que o poder será exercido por Guy Scott nos próximos três meses.
Michael Sata foi eleito em 2011 e foi o quinto chefe de estado da Zâmbia desde a independência do país em 1964.
A Zâmbia, um país da SADC, é rico em cobre, uma das principais exportações do país, mas os preços do minério estão em queda no mercado internacional.
Em 2011, Sata conseguiu uma vitória eleitoral folgada derrotando o presidente Rupiah Banda, que tentava a sua reeleição para o segundo mandato.
A vitória de Sata e da sua Frente Patriótica veio pôr termo a duas décadas de liderança do Movimento para a Democracia Multipartidária.
Nascido em 1937 em Mpika, na então colónia britânica da Rodésia do Norte, actual Zâmbia, Sata foi agente da polícia, ferroviário e sindicalista antes de entrar na vida política em 1963, um antes da independência do território.
Após uma longa carreira política, o “Rei Cobra” foi candidato presidencial nas eleições de 2006, onde se apresentou como defensor dos pobres, e concorreu com Levy Mwanawasa, que o venceu naquele pleito, mas que acabaria morrendo em Agosto de 2008 por derrame cerebral, antes de concluir o seu mandato.
O próprio Sata sofreu um ataque cardíaco em Abril daquele ano, o que não o impediu de se candidatar às eleições de Outubro de 2008, que terminaram com a vitória de Rupiah Banda, por dois pontos de diferença.
Após dez anos na oposição, Sata veio conquistar a presidência a vinte e três de Setembro de 2011.
A Frente Patriótica foi fundada por Michael Sata em 2001 depois deste deixar o Movimento para a Democracia Multipartidária, na altura no poder, após o então presidente Frederick Chiluba ter nomeado Levy Mwanawasa como candidato presidencial do partido.
Relacionamento difícil
de Michael Sata com o Malawi
Logo após a sua ascensão ao poder em Setembro de 2011, o falecido presidente da Zâmbia Michael Sata decidiu fazer as pazes com o governo do vizinho Malawi pondo termo a um conflito diplomático em conexão com a sua deportação daquele país em 2007, quando na altura era o líder da oposição zambiana.
Em 2007, na qualidade de líder da oposição zambiana, Sata viu-se impedido de entrar no Malawi, tendo sido deportado logo após a sua chegada e considerado persona no grata pelo governo do falecido presidente Bingu wa Mutharika.
Na altura, Sata deslocou-se ao Malawi em visita privada para se avistar com o ex-presidente Bakili Muluzi.
Mas devido as desavenças com Bakili Muluzi, o falecido presidente Bingu wa Mutharika não gostou da visita de Sata e para manter com a sua aliança com Rupiah Banda, o então líder da oposição zambiana foi pura e simplesmente escorraçado de carro a partir do aeroporto de Blantyre até à fronteira da Zâmbia.
Por isso em Outubro de 2011, depois de ascender a presidência da Zâmbia, Sata recusou-se a participar numa cimeira regional que teve lugar no Malawi, condicionando a sua participação a um pedido formal de desculpas pela sua deportação ocorrida em 2007.
Contudo o governo do Malawi recusou-se a formular um pedido formal de desculpas, afirmando que Sata era livre de visitar o país quando muito bem entendesse.
O falecido presidente Bingu wa Mutharika também ficou famoso pela negativa ao expulsar o Alto-Comissário britânico em Lilongwe, Fergus Cochrane-Dyet em Abril de 2011,numa afronta ao Reino Unido, o que culminou com a retirada do apoio ao Malawi.
Em carta enviada ao departamento dos negócios estrangeiros em Londres, Cochrane-Dyet acusou Bingu wa Mutharika de autocrático e intolerante.
Não obstante os esforços para a normalização das relações entre Malawi e Zâmbia, o processo teria aparentemente encalhado com ascensão ao poder de Peter Mutharika, irmão do falecido Bingu wa Mutharika.
Bingu faleceu em 2012 e foi substituído por Joyce Banda, mas em 2014 a líder feminina viria a perder as eleições, e de novo o reinado Mutharika voltou ao poder.
O dossier até agora não está devidamente fechado, e esta pode ser uma das razões que explica o facto de Peter Mutharika ter chamado o ex-presidente Bakili Muluzi para chefiar a delegação governamental às recentes celebrações dos cinquenta anos da Zâmbia.
Muluzi é tido como amigo de longa data do falecido presidente zambiano Michael Sata e num golpe de mestre, o ex-estadista malawiano teria sido usado para lavar a imagem do executivo de Lilongwe, que durante a administração de Bingu wa Mutharika foi considerado “especialista” em conflitos com os países vizinhos e com o Ocidente.
Embora Bakili Muluzi tenha elogiado Peter Mutharika por demonstrar um espirito de abertura e de colaboração, analistas acham que há algo escondido nesta decisão de Lilongwe.
Recorde-se que Bakili Muluzi e o falecido Bingu wa Mutharika eram inimigos acérrimos, aparentemente numa conspiração movida por este último para queimar a imagem do seu antecessor, que curiosamente foi ele que lhe colocou no poder.
Os próximos tempos serão decisivos para a completa normalização das relações entre o Malawi e a Zâmbia, ambos ex-colónias britânicas.
No comments:
Post a Comment