ESCREVI os três textos que se seguem por ter ficado muito FOX com o texto de um(a)s tal(is) Mirla das Dores publicado no Jornal Notícias de hoje.
Os textos versam o Guebuza que conheço e que me faz concluir que ele não precisa de G40 mas que o G40 é que precisa desesperadamente dele...
Passei a trabalhar para o Gabinete de Imprensa do MTC (GIMTC) em finais de 1987, quando frequentava o 2º ano de Engenharia Electrotécnica na UEM e o Ministro dos Transportes e Comunicações era ARMANDO EMÍLIO Guebuza, actual Presidente da República. Tinha eu vinte e poucos anos e nunca tinha trabalhado como jornalista nem tinha tal intenção nessa altura. A minha paixão era a Engenharia.
Quando cheguei a esta casa, primeiro como biscateiro, já vinha com uma reputação assustadora de Guebuza que era visto como o mentor do 24/20, o “patrão” da OPERAÇÃO PRODUÇÃO e o Racista anti-branco mais feroz da Cúpula Bureau Político da Frelimo e que o seu objectivo primário no MTC era o de desmontar a hierarquia branca do Ministério dos Transportes, que incluía pessoas como Fernando Amado Couto (Direcção Jurídica), Rui Fonseca (Director do Gabinete do Corredor da Beira), Pedro Figueiredo (Director da SATCC), Fernando Ferreira Mendes (Director Nacional dos Portos e Caminhos de Ferro) e outros cujos nomes não me ocorrem agora que faziam parte do “famoso” dream-team de jovens do antecessor de Guebuza, Alcântara Santos (o único Ministro a morrer com Samora em Mbuzini).
Como a minha namorada na altura era branca, este tipo de chefe não era candidato a meu ídolo e tratei de ir trabalhando apenas e continuando a ir as aulas. No Gabinete de Imprensa era responsável pela maquetização/arte-finalização da revista CORREDOR usando o Computador Apple Macintosh que era nessa altura (e até hoje) a grande maravilha em Desktop-Publishing, o que permitia-me fazer aquele “papelão” de génio louco que tinha sempre a cabeça no ar e permitia que ninguém perdesse tempo comigo, o que permitia que apesar e trabalhar em mídia continuar a concentrar-me no meu papel de aspirante a engenheiro. Para isso, ia às aulas de manhã (e algumas tardes laboratórios e oficinas).
O meu papel no GIMTC intrigava muita gente. Por várias razões. O GIMTC era visto como uma espécie de G40 (o G, sempre o G...) do Ministro e as pessoas-chave do mesmo eram jornalistas já bem conhecidos na praça: Filipe J. Mata (Chefe do Gabinete e Editor da Revista Corredor) e Bartolomeu Tomé (Chefe de Redacção). E havia um sector vídeo (com equipamento top de gama da SONY que causava inveja à TVE percursora da TVM) era liderado por Loureço A. Malia que provinha da TVM e encarregava-se da câmera e edição. A área administrativa-comercial estava a cargo de Félix J. Mambule. Mercê de alguns skills que tinha adquirido antes, também colaborava com a área comercial/publicidade. Mas punha claro para toda a gente que eu estava ali de passagem. Via Guebuza algumas vezes nas escadas e nunca trocámos mais do que um bom dia boa tarde ou boa-noite (sim, boa-noite porque, este "workaholic" por vezes saía bem tarde e para mim era rotina para compensar pelas manhãs em que a Faculdade estava em primeiro lugar).
Neste período tive a possibilidade de conhecer algumas pessoas. Como colegas seniores da faculdade já conhecia António Fernando, na altura Director Nacional Adjunto do Transportes Rodoviários, Aníbal Manave, Director da Brigada de Melhoramentos do Sul (dos CFM) e Mário Dimande, Director Ferroviário dos CFM. Alguns amigos que já conhecia, principalmente economistas como Arlindo Zandamela, Maria Helena Paulo e alguns outros. Só dois anos depois, quando “acidentalmente” torno-me Editor-Executivo da revista CORREDOR, pude conhecer os que estava fora do Edifício Central do MTC na Mártires da Machava, como José Viegas e Morgado (Director-Geral e de Operações da LAM), Paulo Muxanga (Director Nacional da Aviação Civil).
Como disse antes sentia que estava de passagem pelo GIMTC, embora as Tecnologias de Informação fossem a minha paixão. Ainda não sentia necessidade de definir o meu futuro. Tinha estado antes na Secretaria de Estado de Carvão e Hidrocarbonetos para onde tinha sido pessoalmente e acidentalmente recrutado pelo Secretário de Estado, Abdul Magid Osman para trabalhar na ENH Empresa Nacional de Hidrocarbonetos como auxiliar de Gestão de Projectos de Pesquisa de petróleo e Gás em 1984 quando abandonei a Educação e fui “banido” da UEM por 3 anos.
Um dia, enquanto montava a rede informática no GIMTC, vestido de Jeans e sapatilhas como era frequente (andava de moto e era assim que ia à faculdade) sou chamado de emergência ao Gabinete do Ministro. Peguei no telefone falei com a Secretária do Ministro e disse-lha que precisaria de meia hora para ir à casa mudar de roupa e sem esperar a resposta dela saí aterrorizado saí disparado do Ministério na moto só conseguindo voltar uma hora depois já "enfatado" mas a transpirar a rodos. O pessoal do Gabinete do Ministro parecia estar a rir-se de mim o que aumentou o meu nervosismo. Pouco depois sou convidado a entrar e o dono do Gabinete levanta-se sorridente para me vir aperta a mão (o Magid nunca fazia isso, dizia: senta-te lá aí e fala...). Acho que também sorri a retribuir mas acho que não importa. Em seguida:
GUEBAS: Soube que fizeste-me esperar uma hora porque não querias ver-me vestido a “joe” (freak), disse ele.
Balbuciei uma explicação qualquer e o tipo parecia bem divertido. Depois de umas formalidades de “dzungulissar” disse-me o que que queria:
GUEBAS: Soube que formaste alguns colegas do GIMTC na operação do Computador Macintosh. Podias dar-me umas aulas?
EU: Não vejo problema. Onde? E Quando?
GUEBAS: Aqui no meu gabinete. Dá?
EU: Dá, sim. E onde é que montaríamos o computador. Naquela mesa?
GUEBAS: Não pode ser na minha secretária (mesa)?
EU: Pode, sim. Quando é que quer começar? A que horas?
GUEBAS: Eu começo a trabalhar as 8 horas pode ser das 7 as 8 horas? Quanto tempo acha que isso vai durar?
Pensando que nunca tinha dado aulas a um guerrilheiro que se calhar nunca tinha usado mais do que uma caneta...
EU: Só depois de começarmos é que poderei estimar. Os meus colegas em menos de um mês já estavam a concorrer comigo...
GUEBAS: OK. Podemos começar amanhã as 7 horas?
EU: Não tenho qualquer problema. Mas tenho que pedir autorização ao meu chefe lá em baixo...
GUEBAS: Tudo bem fala com o teu chefe depois diz-me algo...
Despedimo-nos e saí. Fui directo ao Gabinete do Filipe e...
EU: O Boss pediu-me que lhe desse aulas de operação do Macintosh...
FILIPE: Ah OK. Quando é que tens que começar?
EU: Ele sugeriu que fosse amanhã. Mas eu disse-lhe que teria antes que pedir a tua autorização e que só depois é que dar-lhe-ia a resposta...
FILIPE: O QUÊÊÊ? Disseste a ele que só podias dar-lhe resposta depois de eu autorizar?
EU: Sim Filipe. Tu és o meu Chefe e tu é que sabes se tenho ocupações ou não a essa hora...
FILIPE: Tu estás bom de cabeça? Tu dizes ao meu chefe que tens que pedir-me autorização para trabalhares com ele?
EU: Sim, Filipe. Meu chefe não é ele. Tu é que és o meu chefe. Ele é TEU chefe.
FILIPE: E ele não é teu chefe?
EU: Não. Aprendi em Gestão que um Chefe pode ter vários subordinados, mas um subordinado tem apenas um chefe. Ele manda em ti e tu mandas em ti, Filipe. Se fosse fora das horas de serviço nem te consultoria. Talvez apenas te informasse como amigo...
Bom, não tive que ser eu a dar a resposta. O Filipe encarregou-se de entender-se com o chefe dele e eu fui dar aulas ao Guebas as 7 horas do dia seguinte. E aí começou aminha relação com um dos líderes políticos que mais admiro neste país e a quem acredito dever muito...
http://www.jornalnoticias.co.mz/index.php/analise/22914-g40-uma-escola-sem-igual
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