Uma oportunidade ímpar que Guebuza não pode desperdiçar
Um aspecto a realçar no rescaldo dos acontecimentos de Muxúnguè foi a posição unânime assumida pela comunicação social independente do nosso País em distribuir equitativamente as responsabilidades, apontando firmemente o dedo ao regime no poder. Importante elemento da sociedade civil, a comunicação social é uma voz que o regime não pode ignorar pelo que de nada servirá ao Governo refugiar-se no conforto de discursos radicais e balofos, divorciados da realidade que remontam aos tristemente célebres anos do monopartidarismo e que continuam a desfilar em páginas de órgãos tutelados pelo regime ou através de listas electrónicas manipuladas por comentadores assalariados, nacionais e estrangeiros.
Do Presidente da República espera-se uma postura de Estado. Os cidadãos querem ouvir dele, em termos cristalinamente claros, como pretende solucionar a disputa que se arrasta há vários anos. O tempo de governar por decreto ou com o aval de dúbias maiorias parlamentares pertence ao passado. Pela frente, os cidadãos deste País têm um diferendo que urge solucionar, sem rodeios; de forma clara e objectiva.
O cerne da questão está na forma como o regime no poder tem conduzido todos os processos eleitorais, do recenseamento à contabilização final dos votos, passando pela própria votação e emissão de editais à boca das urnas.
A fraude eleitoral não é uma fantasia. É um facto. Comprovado pelo próprio aparelho judicial, por observadores; e testemunhado –registado e documentado, também – por quem está no terreno, sejam eles concorrentes, fiscais e cidadãos anónimos.
As democracias edificam-se e consolidam-se na base de instituições credíveis, imparciais, que agem com transparência e acima de qualquer suspeita.
É apenas em ambiente democrático – genuinamente democrático – que se pode gerir de forma transparente os recursos naturais, tendo sempre em conta os supremos interesses nacionais quando se firmam acordos, quando se concedem direitos ou quando se outorgam concessões.
Só em democracia genuína é possível distribuir equitativamente a riqueza nacional.
Do «socialismo cientifico», Moçambique passou à fase do «socialismo esquemático», que se reflecte em jogadas, golpadas e cabeçadas que se repetem amiúde de norte a sul do País, em que os intervenientes preocupam-se não com os interesses supremos da Nação, mas com os extractos de contas bancárias que se expandem consoante as negociatas que vão estabelecendo com certo capital estrangeiro de aquém e além-mar.
Os gananciosos têm a particularidade de ficarem ofuscados pela vida opulenta que edificam, pela vida de fausto em que mergulharam. Não conseguem discernir que os deserdados multiplicam-se em seu redor, que o descontentamento alastra entre os que foram escandalosamente prejudicados por quem não respeitou contratos de trabalho realizado na distante Europa na fase do «socialismo científico», ou não cumpriu com deveres em relação aos que deram a sua quota parte em resposta ao chamamento da Pátria. Tais são os casos dos “madgermans”, dos “desmobilizados de guerra”, dos “ex-SNASP” e “ex-SISES”,para só falarmos de alguns que engrossam o sector dos desprezados pelos que a certos níveis do mesmo regime ficaram com a parte de leão e nem as migalhas reservaram aos outros.
A lente opaca com que este regime olha a Nação impede que vejam que estão a transformar Moçambique numa República das Bananas em que aqueles a quem a porta de entrada foi franqueada por quem detém o poder, terão inevitavelmente de salvaguardar os avultados investimentos que já fizeram e que analistas no distante Texas das petrolíferas já alertaram que correm sério risco face ao conflito que se avoluma desde 1994 e está agora a atingir proporções alarmantes de que seguramente ninguém tirará benefícios se nada se fizer. Já!
O País não pode entrar em mais uma guerra!
Os moçambicanos pagaram um elevado preço pela conquista da Independência e Democracia. E pelos resultados de uma política externa que não olhou às consequências ao avançar por caminhos que tudo indicava que levariam o País para guerras em que a mais dolorosa de todas acabou sendo a última de triste memória: a Guerra Civil, recomenda-se que agora não se volte a cometer os mesmos erros de cálculo.
As grandes certezas de então conduziram o País à desgraça e ao caos.
Hoje não se pode permitir que a mesma falta de visão que aos mesmos de hoje faltou no passado, volte a conduzir o País a um novo revés.
Moçambique e o seu Povo têm direito a viver em paz, a prosperar e a sonhar com um amanhã mais risonho. Há, pois, como atrás se disse, de assumir uma postura de Estado. Quem de direito tem hoje de colocar os interesses nacionais acima de esquemas e planos urdidos a coberto dos mais altos órgãos de soberania e instituições estatais subvertidas. A ideia de formação de novas oligarquias poderosamente ricas, mas sem os pés firmemente assentes nesta terra que obrigatoriamente deve ser de todos, tem de ser rapidamente abandonada sob pena de ninguém poder vir a tirar proveito das muitas e boas perspectivas que a Paz nos promete.
Depois de Muxúnguè surge agora uma oportunidade ímpar e aparentemente derradeira para se repor a harmonia alcançada em Roma há duas décadas.
Dentro da legalidade plasmada no AGP, o comboio da Democracia tem de voltar a apitar.
Há os que nada mais têm a perder e que em último recurso quererão bater-se por aquilo que acreditam ser um direito legítimo. E há os que muito têm a perder se não souberam olhar por aquilo que já alcançaram.
Se não se aproveitar esta oportunidade ímpar para que entre moçambicanos se acertem os ponteiros do relógio e para que juntos possamos caminhar a um mesmo ritmo, com os mesmos horários a cumprir, com os mesmos direitos e obrigações, e sem exclusões; Se se desperdiçar este derradeiro momento de reencontrar o caminho que nos conduziu de Roma à fraternidade, a Pátria poderá não conhecer a Paz e a estabilidade que todos anseiam. E aqueles que aqui tanto já investiram irão perder tudo se não forem capazes de entender que teremos todos apenas a perder se a guerra tornar a ser o drama de cada dia.
A população de Muxúnguè, melhor do que ninguém, pode testemunhar como o simples desvario de quem ordenou o ataque armado à sede de um partido com assento na Assembleia da República pôde por termo à Paz e acabar com a esperança.
As perseguições que agora prosseguem com a “FIR” e os“Comandos” das FADM, comprometem ainda mais o futuro. Os ódios crescem!
A população de todos os cantos do País com os olhos postos em Muxúnguè deve exigir que Armando Guebuza e o seu regime se deixem de acusar os outros e passem a respeitar imediatamente as formas mais civilizadas de fazer política e abandonem rapidamente a sua atitude, pois de contrário a única certeza é o fim do bem-estar geral.
A quem ripostou contra o ataque que sofreu em Muxúnguè também apenas pedimos aqui publicamente que reserve um pouco mais de paciência para que as forças vivas tenham tempo de trabalhar para se evitar o pior.
De uma coisa estamos seguros, pelo que pudemos ver no terreno: o Governo continua a posicionar forças policiais e até já a envolver as Forças Armadas – como que a predestinar-nos uma nova Guerra Civil. Por todo o lado até quem antes odiava a Renamo está a reverter os seus juízos e a apontar o dedo a Armando Guebuza.
Para o bem de todos nós, pedimos PAZ.
Ao Senhor Presidente da República, pedimos postura de Estado e que não deite a perder a oportunidade ímpar que está apenas nas suas mãos já que foi de si que seguramente partiu a ordem para quebrar a Paz em Moçambique, a 03 de Abril de
2013, em Muxúnguè.
Canal de Moçambique – 17.04.2013
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