Decidi separar as águas

Edgar Kamikaze Barroso6 minutes ago ·


Bom dia. Andei sumido do Facebook por uns tempos, em retiro. Havia desactivado esta conta e abri uma outra, como Dulai Dos Anjos. A ideia era a de separar um pouco as águas. Esta conta (Edgar Kamikaze Barroso) virou uma marca, em termos de activismo social aqui nas redes sociais, e eu não a conseguia dissociar do outro lado meu de ser e de estar, mais personalizado. Não conseguia distinguir o meu lado activista da minha própria vida pessoal. É que eu, para além de activista, sou muitas outras coisas (funcionário público, catequista, rapper, poeta, namorado, irmão mais velho, filho, vizinho, cidadão, jovem, amigo, etc). Aqui nesta conta eu confundia tudo isso e não conseguia capitalizar o que de mais valia poderia conseguir: ser o Edgar solidário, o Edgar altruísta, o Edgar activista, o Edgar dos desfavorecidos, marginalizados e esquecidos, o Edgar das causas sociais.

Então decidi separar as águas. O Edgar “normal” vocês vão encontrar nas outras minhas contas (Ed Maluco, Dulai Dos Anjos e Olhos da Marcia). De hoje em diante vou usar esta conta exclusivamente para assuntos sociais, políticos e relacionados, que tenham a ver com os nossos direitos e deveres como cidadãos. Com efeito, o nosso país vai acolher, à curto prazo, importantes eventos que serão inquestionavelmente decisivos para o Moçambique que queremos ter, daqui a 5, 10, 15 anos. Vamos ter eleições autárquicas este ano e eleições gerais no próximo. Serão eventos políticos, é verdade, mas que ditarão o rumo de todo o pulsar do nosso país e das nossas próprias vidas. Sei que larga maioria dos que me têm lido aqui são tão jovens quanto eu, alguns um pouco mais novos, alguns da minha geração e alguns um pouco mais velhos. Muitos se têm inspirado pelos meus posts, ideias e comentários. Muitos de vocês partilham do meu posicionamento sobre o país que hoje temos e sobre o país que queremos ter, presentemente e no futuro. Vou tentar maximizar essa empatia e explorar o melhor de mim, pela causa de todos nós: um Moçambique melhor e para todos.

Sei que vai ser difícil. Sei que vou ter de sacrificar o meu lado mais sensível e mundano por uma causa maior. Sei que muitas vezes vai apetecer-me chorar à frente de todos e terei de ocultar as lágrimas para não parecer fraco e falível aos olhos das pessoas que me admiram e têm em mim um exemplo de liderança ou de inspiração. Como uma vez a Dra. Alice Mabota me disse, “o activista não pode olhar para o seu umbigo porque este não desempenha nenhuma função vital no corpo humano”. É por isso que tenho de olhar mais para os outros e menos para mim. E também sei que fazer activismo sem encontrar nenhum obstáculo é um sinal inequívoco de estarmos no caminho errado. Se eu, em tudo o que já fiz nas redes sociais e fora delas até hoje, fui capaz de receber uma chamada de um Ministro a convidar-me para beber cerveja e “conhecer-me melhor”, então é porque estou mesmo no caminho certo. Se já recebi convites expressos dos maiores partidos políticos deste país para deles ser membro é porque estou no caminho certo. Se cidadãos anónimos me interpelam na rua, cumprimentam-me e tecem elogios sinceros à minha postura e frontalidade, aconselhando-me a seguir em frente e com os olhos sempre focados no que achar ser melhor para o meu povo, é mesmo porque eu estou mesmo no caminho certo. Eu quero capitalizar isso. Vou fazer muitos inimigos e alguns dos meus amigos presentes vão se afastar de mim, muito provavelmente. Posso estar a colocar em risco oportunidades actuais ou futuras de empregabilidade. Posso estar a afastar de mim pessoas que se interessem pela minha integridade física e espiritual. É um preço justo, e que estou disposto a pagar, se tal consecutir num estado de coisas que privilegie o meu povo e o bem-estar de todos nós.

Activismo é lutar pela transformação de algo que julgamos estar errado, injusto ou disfuncional. Ser activista é sacrificar-se por uma causa, dando o melhor de ti pelo bem dos outros, intelectual, física e materialmente. É não estar conformado com toda e qualquer forma de opressão, marginalização, exploração, injustiça e irresponsabilização. Eu acho que ninguém pode estar ou viver em paz de espírito enquanto presencia, testemunha ou vivencia o sofrimento, o desespero, a miséria e a exclusão de outros. Sei que, pela minha postura, alguns de vocês poderão eventualmente vir a chamar-me de demagogo ou algo do género. Eu não me importo. Todos sabemos que o Moçambique real não é essa “pérola do Índico” que oficialmente se diz por aí e que nem todos vivem como integrantes do “maravilhoso povo”. Temos de começar a assumir os nossos própris destinos e a colocar na agenda dos que nos dirigem o que nós realmente queremos para as nossas vidas e a de nossos próximos. Não podemos viver aternamente algemados às vontades de uma única geração (a que nos libertou do colonialismo e que, por essa via, acham ter o “direito histórico” de nos governarem como bem lhes apetecer e tendo como fim primário a satisfação das suas próprias necessidades e interesses, bem como os de seus descendentes, acólitos e defensores).

Se a independência que eles nos trouxeram é uma dívida que nós os jovens de hoje e os das outras gerações distintas da deles temos de pagar, então que eles estabeleçam o preço e nos digam o quanto é que deveremos pagar para também nos libertarmos deles. Se não tiver preço, então eu estou disposto a arrancá-la, mesmo que para tal tenha de sacrificar a minha vida ou o meu futuro.