"Os rebeldes queriam prender Vitor António por o considerarem colaborador do regime deposto", disse ao Expresso o cônsul português na República Centro-Africana, Pereira de Sousa. Ambos tiveram as suas casas vandalizadas.
Ange Aboa/Reuters Um rebelde apoiante de Michel Djotodia senta-se por cima de caixas de munições que existiam no palácio do Presidente deposto François Bozizé, em Bangui
O piloto português do Presidente deposto da República Centro-Africana, Vitor António, está em segurança, em poder das tropas francesas, disse hoje ao Expresso, por telefone, o cônsul português na República Centro-Africana, José Maria Pereira de Sousa.
"Os rebeldes tentaram prender o Vitor António porque o consideravam colaborador do regime do ex-Presidente François Bozizé mas ele conseguiu fugir e hoje está a salvo, em poder das tropas francesas que aqui estão para proteger os cidadãos franceses", diz Pereira de Sousa. "Deverá partir amanhã para Paris, num voo de carreira da Air France", precisou.
"A casa de Vitor António em Bangui também foi vandalizada e vários bens roubados", acrescenta Pereira de Sousa, que vive há 30 anos no país, onde é comerciante, exercendo o cargo de cônsul português há 19 anos.
A residência do cônsul português e da sua família em Bangui, capital do país, foi igualmente pilhada: "Levaram várias coisas e os automóveis. Foi um período de grande tensão", diz. "Mas vão-se os anéis e ficam os dedos. O importante é que estamos bem", acrescenta.
Portugueses estão todos bem
Trinta e cinco portugueses vivem na República Centro-Africana. Vários são comerciantes e outros missionárias da comunidade dos combonianos. "Encontram-de todos bem" refere Pereira de Sousa.
O cônsul português diz que Bangui acordou hoje mais calma. "Ouvem-se tiros esporádicos e as populações dos bairros periféricos vieram à cidade para ver in loco a situação. As padarias também já abriram. No entanto, continuamos sem eletricidade", refere.
"Ontem, falou na rádio o líder rebelde Djotodia com um discurso conciliador. Vamos ver como evolui a situação", adianta o cônsul.
Michel Djotodia, chefe militar que realizou o golpe de Estado com o apoio do movimento oposicionista Séléka, autoproclamou-se Presidente da República e garantiu que organizará eleições livres no prazo de três anos.
O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, condenou ontem o golpe de Estado, "considerando que subverte a ordem constitucional".
Entretanto, o ex-Presidente Bozizé fugiu para os Camarões e a sua família rumou à República Democrática do Congo, ambos países vizinhos da República Centro-Africana.