Guebuza muito preocupado com os “outros”

Guebuza muito preocupado com os “outros”

“Não precisamos de patrão estrangeiro”

– afirma presidente do partido Frelimo

Maputo (Canalmoz) – O Chefe do Estado moçambicano revela-se muito preocupado com os “outros”. Passa a vida a interpretar, classificar e responder ao que os “outros” dizem. É a estes outros ou simplesmente “eles” que Guebuza já atribuiu vários cognomes desde “apóstolos da desgraça, tagarelas, marginais, distraídos, incompetentes, fofoqueiros” que ontem veio a chamar: “carentes de patrão”.

Guebuza direccionou o seu discurso de encerramento da II Sessão Ordinária do Comité Central – que vinha decorrendo desde a sexta-feira última na Matola – ao ataque aos “carentes de patrão”. Em cada desabafo rigorosamente contido no seu discurso de ontem, Guebuza fez questão repetir e de viva voz esse mesmo refrão.

Aos tais “carentes de patrão” que diz serem “nossos compatriotas” Guebuza disse: “nós não precisamos de um patrão estrangeiro. Repetimos! Nós não precisamos de um patrão estrangeiro”.

Com o alcance do discurso ainda por decifrar (mas que muito provavelmente está ligado às oportunidades empresariais nos recursos minerais), uma coisa é certa: é mais um “recado” que Guebuza manda a “eles”, esses que ele nunca teve até aqui coragem para os tratar pelos seus próprios nomes.

Os desabafos de Guebuza têm sido algo com que a sociedade moçambicana já se habituou a conviver, o que na prática demonstra alguma precariedade e informalidade do próprio presidente bem como da sua assessoria. Daquele que é por lei o mais Alto Magistrado da Nação espera-se algum discernimento e ponderação nas suas intervenções públicas, mas tem passado o tempo a insultar os “outros”.

Guebuza disse ontem que a Frelimo pretende demonstrar aos compatriotas que “se sentem carentes de patrão, que um patrão não deve ser necessariamente estrangeiro”. Após ter proferido tais palavras Armando Guebuza foi amplamente ovacionado pelos sectores mais populistas, entenda-se os que com Guebuza tiveram ascensão meteórica, quer no partido assim como nas instituições públicas, e que com a saída de Guebuza do poder poderão ver colapsado o seu encosto.

Partido Frelimo tem agenda

Mas esta não foi a única questão sensível do discurso que Guebuza fez ontem no encerramento da segunda sessão ordinária do Comité Central que teve lugar na Matola. Ainda houve mais espaço para recados no discurso de Guebuza. E foi na unidade nacional que apareceu mais um desabafo: “continuaremos a esclarecer os que pensam que a unidade nacional pode ser substituída por uma visão limitada e estereotipada expressa pela reclamação para si, e só para si, dos recursos e das oportunidades existentes”. Na verdade é um contra-ataque minimizador lançado por Guebuza visto que em vários sectores da opinião pública, incluindo dentro do próprio partido Frelimo, fala-se que Guebuza, seus familiares e súbditos, têm-se apropriado de todas as oportunidades de negócio, destruindo tudo e todos à volta, mesmo até os correligionários de mais alto nível.

Ainda ontem Guebuza viria mais adiante a dizer que “há os que não se apercebem que o partido Frelimo tem agenda. Repetimos. A Frelimo tem agenda e quando promete cumpre”, disse. Guebuza admite-se que estivesse a responder aos seus críticos directos e aos críticos do seu programa de Governação. (Matias Guente)