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AGOSTINHO NETO
(1922-1979)
(1922-1979)
"Este médico angolano (Agostinho Neto) formado em
Lisboa, fez parte, com Amílcar Cabral e Mário Andrade, entre outros, da geração
de estudantes africanos que, tendo ganho consciência nacionalista, viria a
desempenhar papel decisivo na independência dos seus países. Preso pela PIDE e
deportado para o Tarrafal, foi-lhe fixada residência em Portugal, de onde fugiu
para o exílio, assumindo a direcção do MPLA, do qual já era o presidente
honorário desde 1962.
O que caracteriza a acção política deste homem culto,
intelectualmente respeitado e poeta de reconhecido mérito, é a dificuldade em
afirmar a autoridade no interior do seu movimento e de se impor externamente. A
sua história e a história do seu MPLA são uma sucessão de rupturas e dissenções
internas: com Viriato da Cruz, com Mário de Andrade, e com os elementos da
Revolta Activa, que impedem a congregação à sua volta do apoio inequívoco dos
nacionalistas internacionais, de modo a transformar o MPLA em pólo unificador da
luta anti colonial, atraindo outros movimentos e formações, como aconteceu, na
Guiné, com o PAIGC de Amílcar Cabral, e com a Frelimo da Samora Machel, em
Moçambique".
Dn 25 de Outubro de 2005. INTERNACIONAL
Morte de Neto travou aproximação aos EUA
Presidente de Angola admitia abandonar o cargo e
remeter-se à liderança do MPLA
• ARMANDO RAFAEL
A morte prematura e, sobretudo, inesperada de Agostinho
Neto, a 10 de Setembro de 1979, deitou por terra todos os esforços diplomáticos
que estavam a ser desenvolvidos e que poderiam ter antecipado a reconciliação
entre Angola e os Estados Unidos.
A revelação é feita por Maria Eugenia Neto, viúva do
primeiro presidente de Angola, numa entrevista ao escritor e poeta Artur
Queirós, que integra o livro Agostinho Neto - Uma Vida Sem
Tréguas, um trabalho editado pelo antigo jornalista do DN Acácio
Barradas e que amanhã será lançado em Lisboa.
"Antes de (Agostinho Neto) morrer, estava tudo
preparado para se estabelecerem relações diplomáticas com os EUA", garante Maria
Eugénia Neto, para quem o marido sempre tentou afirmar a sua independência ao
longo da Guerra Fria que se estabeleceu entre os EUA e a URSS. "Passou o tempo
todo a afirmar o MPLA como organização revolucionária independente dos blocos e
a afirmar-se, ele próprio, como um não alinhado.
Isso custou-lhe muito esforço. Teve sempre que se
consumir em labaredas para levar os seus princípios até ao fim. Viveu sempre em
sobressalto, nunca lhe deram tréguas. Como estávamos no exílio, muitas vezes
aceitou coisas com as quais não concordava, mas quando chegámos a Angola foi
como uma flor que se abrisse. Contra tudo e contra todos, fez a paz com o
Zairede Mobutu.(...) Naqueles quatro anos de independência, mostrou ao mundo o
grande político e estratego que (ele) era."
Revelações surpreendentes, que poderão ajudar a
explicar iniciativas de Neto junto de Lisboa nos meses que antecederam a sua
morte, na sequência de uma intervenção cirúrgica em Moscovo. Uma tragédia que
deixaria tudo em suspenso até Maio de 1993, altura em que Angola e os EUA
estabeleceram relações diplomáticas entre si, rompendo um ciclo iniciado em
1975, quando Luanda ficou na órbita da URSS e de Cuba e Washington se empenhou
ao lado da UNJTA e de Jonas Savimbi, deixando cair a FNLA e Holden Roberto.
Iniciativas que ajudarão a perceber melhor alguns dos
alinhamentos em torno da frustrada tentativa de golpe que, a 27 de Maio de 1977,
colocou à URSS ao lado dos revoltosos, enquanto Cuba protegia o presidente.
"Agostinho Neto mandou Nito Alves representá-lo a
Moscovo e, quando voltou, ele já se sentia igual ao Presidente e com direito a
usurpar-lhe a presidência", recorda Maria Eugénia Neto, subindo o tom de uma
acusação que poderá reacender a polémica em Angola.
"Que fique claro: os fraccionistas (apoiantes de Nito
Alves) são os únicos responsáveis por todos os que morreram no golpe de 27 de Maio de 1977 (...). Os
fraccionistas andam a fazer tudo para passarem à História como agredidos e não
como agressores. Ora, eles desencadearam um golpe de Estado para matarem
Agostinho Neto. O objectivo do Monstro Imortal (Jacob João Caetano) era matar o
Presidente. Quando viram que tal era impossível, começaram a matar os que lhe
eram próximos. (...) Eles não são as vitimas, são os carrascos."
Um desfecho, trágico, que terá levado Neto a adiar a
hipótese de deixar o cargo de presidente, que acumulava com a chefia do Governo,
deixando cair, assim, a ideia de um certo rejuvenescimento das estruturas de
poder.
"Não tenho muitos pormenores, mas acho que ele estava a
pensar entregar a Presidência e o Governo aos jovens quadros. O António apostou
sempre na juventude (...). A ideia dele era ficar apenas no partido (MPLA). Mas
os jovens em que apostou traíram-no e fizeram um golpe de Estado para o matar."
Associação 27 de
Maio.
Bem vindos ao sítio da Associação 27 de Maio. Através
deste moderno e poderoso instrumento de trabalho, a Internet, é vontade dos que
constituem esta associação promover um espaço, onde o propósito seja trazer à
luz do dia experiências que ajudem a clarear de uma forma terminante, quem,
como, onde e porquê desapareceu uma imensidão de Angolanos, antes, durante e
principalmente depois do dia 27 de Maio de 1977. Ainda é tempo de voltar a rever
documentos, estudar processos, reler jornais da época, exercitar a memória e
entender porque fomos nós os escolhidos. É preciso ter perseverança para reler
discursos de todos os protagonistas, dar a conhecer o que se escreveu e que
intencionalmente foi ocultado, desmontar as mentiras veiculadas, conhecer a
verdadeira conclusão da chamada “ Comissão de Inquérito ao Fraccionismo ”,
compreender e situar os incendiários e provocadores editoriais do Jornal de
Angola, descobrir o porquê da participação de alguns intelectuais na chamada “
Comissão das Lágrimas ” , enfim é tempo de não deixar cair no esquecimento a
memória de todos aqueles que já não completam o nosso convívio.
http://www.27maio.org/introducao.php
Mausoléu de Agostinho Neto (foto Net)
Lara homenageado, Neto revisitado
12/11/2004.
"Uma sugestão de Luís de Almeida, embaixador de Angola
em Marrocos, foi quanto bastou para que a cerimónia de homenagem a Lúcio Lara,
um militante histórico do MPLA ficasse parcialmente estragada. Aparentemente
preocupado com o estado do mausoléu de Agostinho Neto, onde falta de tudo um
pouco, Luís de Almeida sugerira que o melhor seria transferir-se o corpo do
antigo presidente para Kaxicane, Catete, Bengo, sua terra natal, e construir-se
aí um monumento. Irene Neto, filha de Agostinho Neto não gostou do que ouviu,
vai daí acusou Luís de Almeida de à semelhança de muitos outros, tentar diminuir
a dimensão histórica da obra do seu pai, o primeiro presidente de Angola. A
troca de palavras deixou meio mundo embaraçado sobretudo o Comité Provincial do
MPLA, responsável pela cerimónia. Este não foi o primeiro incidente à volta do
tratamento a dar ao mausoléu de Agostinho Neto. Na verdade perante o que chama
de indiferença de sectores do MPLA que gostariam de ver Agostinho Neto confinado
a Kaxicane, a família vem forçando uma resolução, tendo conseguido que a
direcção do partido no poder em Angola agendasse um frente-a-frente para a
última terça-feira. A Voz da América desconhece o resultado da reunião, mas
fontes do MPLA sugeriram a mesma iria correr bem até porque o mausoléu é uma
questão que também preocupa o partido no poder. Admitiram também a existência de
lapsos no tratamento da questão, mas garantiram que a obra ainda não chegou ao
seu termo porque Angola caiu numa crise financeira. A reacção de Irene Neto
teria sido, segundo fonte familiar um esforço para evitar que a intervenção de
Luís de Almeida esvaziasse a reunião, coisa que figuras próximas a este
diplomata angolano, dizem que não lhe ocorreu. “Luís de Almeida estava tão
somente a mostrar também o seu desagrado em relação ao estado em que se encontra
o mausoléu”. O equívoco não chegou a ser desfeito, mas a cerimónia prosseguiu
com a intervenção de várias figuras do nacionalismo angolano enaltecendo Lúcio
Lara, pela sua dedicação a Angola."
JONAS SAVIMBI
(1934-2002 )
(1934-2002 )
"Político angolano, fundador da UNITA. Frequentou o
sétimo ano do liceu em Lisboa, de onde saiu em 1961 apoiado por uma organização
protestante americana, que dirigia jovens estudantes para o escritório da UPA em
Paris. Foi funcionário da UPA, tendo sido representante de Holden Roberto na
Europa no início dos acontecimentos desencadeados por aquele movimento no Norte
de Angola, em Março de 1961, e secretário-geral e ministro dos Negócios
Estrangeiros aquando da fundação da FNLA e da constituição do GRAE.
Desde o início da sua actividade política, Savimbi
manteve contactos privilegiados com organizações políticas e religiosas
conotadas com a CIA americana e promoveu repetidamente tendências fraccionantes
de raiz étnica. Em 1964, demitiu-se de ministro do GRAE e de secretário-geral da
FNLA e publicou um documento intitulado Amangola, propondo a luta armada
como solução contra o colonialismo português. Aproximou-se do MPLA enquanto
esteve em Brazzaville, de onde se deslocou para Lusaca, capital da Zâmbia,
estabelecendo relações com as embaixadas da República Popular da China e dos
EUA
Depois de uma visita aos Estados Unidos, em Janeiro de
1966, um pequeno grupo armado atacou a povoação de Teixeira de Sousa, em 6 de
Fevereiro, naquela que é a primeira acção reivindicada pela UNITA, que contava
com quadros militares formados na China e políticos ligados aos EUA, com
Jeremias Chitunda. Desde 1969 são referenciados contactos seus com as
autoridades coloniais portuguesas, nomeadamente com a DGS, os quais vieram a
culminar na Operação Madeira.
Esta acção traduziu-se num protocolo de colaboração de
Savimbi com as forças portuguesas, em que este se comprometeu combater o MPLA no
Leste de Angola, em troca do apoio dos militares à acção da UNITA junto das
populações controladas por este movimento".
"Luanda, Angola. The Government of the Republic of
Angola would like to inform the national and international public of the death
of Jonas Malheiro Savimbi, who was leading the armed groups responsible for the
destruction of national property and the death of countless innocent civilians
throughout the country.
The Government of the Republic of Angola appeals to
those who voluntarily or involuntarily had associated themselves with these
terrorist actions to reconsider their options and reintegrate themselves into
Angolan society so as to contribute to the consolidation of democracy and
national reconciliation.
In due time and according to the signals it receives
from those who are still armed, the Government will issue a communiqué that will
include a detailed program to ensure the final cessation of all hostilities in
Angola.
The Government reiterates its intention to fully
implement the Lusaka Protocol and considers also that all political parties are
necessary for the democratization of Angola.
The Government of the Republic of Angola appeals to the
population to maintain calm, preserve law and order and respect differences of
opinion so that all Angolans may live peacefully.
The Government also praises the Armed Forces, the
National Police, the Civil Defense Forces, and the intelligence community for
their dedication in fulfilling their duty to ensure the security of the nation
and protect public assets and those of its citizens.
Signed
The Government of the Republic of Angola
In Luanda
February 22, 2002
Luanda, Angola. O governo da república de Angola
gostaria de informar o público nacional e internacional da morte de Jonas
Malheiro Savimbi, que conduzia os grupos armados responsáveis para a destruição
da propriedade nacional e a morte de incontáveis civis inocentes através do
país.
O governo da república de Angola apela àqueles que
voluntária ou involuntariamente se tinham associado com estas acções do
terrorista para reconsidera as suas opções e se reintegrarem na sociedade
angolana para contribuir para a consolidação da democracia e da reconciliação
nacional.
No tempo devido e de acordo com os sinais que recebe
daqueles que ainda estão armados, o governo emitirá um comunicado que inclua um
programa detalhado para assegurar a cessação final de todas as hostilidades em
Angola.
O governo reitera a sua intenção para executar
inteiramente o protocolo de Lusaka e considera também que todos os partidos
políticos são necessários para o democratização de Angola.
O governo da república de Angola apela à população para
manter a calma, preservar a lei e a ordem e respeitar as diferenças de opinião
de modo que todos os Angolanos possam viver pacificamente.
O governo elogia também as Forças Armadas, as Polícias
Nacionais, as Forças da Defesa Civil, e a inteligência comunitária pela sua
dedicação em cumprir seu dever para assegurar a segurança da nação e proteger
recursos públicos dos seus cidadãos
Assinado,
O Governo da República de Angola
Em Luanda,
Fevereiro, 22, 2002 ".
http://www.angola.org/referenc/pressrel/prst022202E.html
Savimbi morto.
JONAS SAVIMBI
"O Povo Angolano, Angola, África e todos os que pugnam
pelos ideais de liberdade e democracia no Mundo, estão de luto. Luto por
diversas razões. O Dr. Jonas Malheiro Savimbi, Presidente da UNITA, tombou
heroicamente em combate! Tombou heroicamente em combate o meu
Presidente.
Tão heroicamente que as Forças Armadas de Angola (ou
pelo menos parte delas) tiveram necessidade de O humilhar... mesmo depois de
morto. Trataram o meu Presidente como um cão raivoso, como um troféu de caça.
Até na morte Jonas Savimbi atemorizou os militares de José Eduardo dos Santos.
Estivesse João de Matos no comando e nada disso teria acontecido.
Os adversários, ou até mesmo os inimigos, merecem
respeito. E isso não aconteceu. As FAA não humilharam Jonas Savimbi, humilharam
uma grande parte do Povo Angolano.
A África perdeu um dos seus mais insignes filhos, cuja
vida e obra O situam na senda dos arautos da História Africana como N'Krumahn,
Nasser, Amílcar Cabral, Senghor, Boigny e Hassan II.
O Dr. Jonas Malheiro Savimbi, Presidente da UNITA, o
meu Presidente, tombou em combate ao lado das suas tropas e do Povo mártir,
apanágio só concedido aos Grandes da História. Deixou-nos como maior e
derradeiro legado a sua coragem e o consentimento do sacrifício máximo que pode
conceder um combatente da liberdade, a sua Vida.
Fiel aos princípios sagrados que nortearam a criação da
UNITA, o Dr. Savimbi, rejeitando sempre e categoricamente os vários cenários de
exílios dourados, foi o único dos líderes angolanos que sempre viveu e lutou na
sua Pátria querida. A ela tudo deu e nada tirou, ao contrário de outros com
contas, palácios e mansões no estrangeiro.
Fisicamente o meu Presidente morreu. Fisicamente o meu
Presidente foi humilhado. Mas uma coisa é certa. Não há exército que derrote,
mate ou humilhe uma cultura, um povo, uma forma eterna de ser e de estar. Jonas
Savimbi, o meu Presidente, continuará a ter quem defenda essa cultura, esse
povo, essa forma eterna de ser e de estar.
«Há coisas que não se definem - sentem-se». Foi isto
que há 27 anos me disse, no Huambo, Jonas Malheiro Savimbi.
É isto que José Eduardo dos Santos nunca compreendeu. A
UNITA não se define - sente-se. Jonas Malheiro Savimbi não se define - sente-se.
Angola não se define - sente-se.
E porque se sente, e não há maneira de matar o que se
sente, é que Jonas Malheiro Savimbi, o meu Presidente, continuará vivo. Vivo no
esforço pela paz em Angola, vivo pela dignificação dos angolanos, vivo pela
liberdade, vivo pela coerência... vivo porque os heróis não morrem nem são
humilhados. Obrigado Presidente".
Bunker de Savimbi (foto site net).
BUNKER DE JONAS SAVIMBI SERÁ
REHABILITADO
"Localizado interior do Palácio Municipal do Andulo, o
bunker que serviu de abrigo o ex-lider da UNITA Jonas Savimbi nos intensos
confrontos do fim dos anos 90 e principio de 2000, poderá ser reabilitado.
Segundos fontes do jornal O Independente, uma empresa ter-se-á deslocado até ao
local para avaliar os custos da operação.
O bunker é hoje um lugar vazio. Entra-se por um quintal
do palácio, seguindo-se a um extenso corredor, um quarto de banho, mais adiante
uma sala enorme que funcionou de sala de reuniões do alto comando do exercito
comandado por Savimbi.
Maria Lúcia Chicapa administradora do Andulo, defende a
preservação do local. "Caso queiramos enquadra-lo na evolução da nossa história,
além de atractivos é importante que os nossos netos e bisnetos possam visitar
tal bunker", referiu, adiantando que isso ajudará os jovens a entender as
coisas. "Esse conhecimento determinará a correcção de muitos erros cometidos nas
relações humanas entre os angolanos de modo a não cometerem os mesmos erros",
concluiu".
Angonotícias.
http://www.angonoticias.com/full_headlines.php?id=6169
ACORDOS DO ALVOR: UM FRACASSO
ANUNCIADO
"A 15 de Janeiro de 1975, no Hotel da Penina, sob a
chuva miudinha que caía no Algarve, representantes dos três movimentos de
libertação assinavam no Alvor os acordos para a independência de Angola. Mas, do
que foi assinado no Alvor, aos três só interessava a independência, o que
significava, para cada um, e sozinho, o exercício do Poder. O que ainda hoje se
revela impossível.
Na Guiné e em Moçambique, Portugal tinha sabido
exactamente com quem iria negociar os acertos para a independência: do outro
lado da mesa iriam estar só o PAIGC e a FRELIMO. Mas a existência de três
movimentos de libertação no caso de Angola tornava impossível qualquer tentativa
de uma rápida solução negociada.
Foram necessários meses de cuidadosas negociações. Primeiro, a Organização de Unidade Africana reconheceu a UNITA como parte tão legítima como o MPLA ou a FNLA. Depois, em Mombaça, no Quénia, os líderes dos três movimentos prepararam o terreno para as negociações com os representantes de Portugal. Finalmente, no Alvor, os três concertaram com o Governo português um acordo sobre a fórmula pela qual Angola se tornaria independente.
No Alvor, os três movimentos foram reconhecidos como únicos e legítimos representantes do povo angolano, e Angola como país indivisível, incluindo o enclave de Cabinda. Seria estabelecido um governo de transição, baseado numa fórmula de coligação. Um alto-comissário seria nomeado por Portugal, sob ordens directas do presidente da República, Costa Gomes, e o Governo de transição seria constituído por 12 ministros, três portugueses e os restantes nove distribuídos igualmente pelos movimentos de libertação.
Um conselho presidencial, constituído por um representante de cada movimento, presidiria ao Governo, rotativamente, até à data marcada para a independência, 11 de Novembro. O Governo devia tomar posse até ao fim de Janeiro, marcar eleições no prazo de nove meses, e deveria ser constituído um exército unificado. Na altura da independência, essas forças militares unificadas deveriam ter 48 mil homens - 24 mil efectivos portugueses e oito mil de cada um dos movimentos. Os militares portugueses em excesso seriam evacuados até 30 de Abril, e todas as tropas portuguesas deveriam deixar Angola até Fevereiro de 76.
Os interesses dos portugueses residentes eram assegurados, e os movimentos comprometiam-se a considerar angolanos todos os que tivessem nascido em Angola, ou os que ali vivessem e se declarassem angolanos por opção. Contudo, a concessão de cidadania aos não nascidos em Angola era remetida para o que fosse estabelecido na futura Constituição. Assinaram por baixo, por Portugal, o ministro sem pasta major Melo Antunes, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Mário Soares, o ministro da Coordenação Interterritorial, Almeida Santos, e, por Angola, os líderes do MPLA, da FNLA e da UNITA".
Foram necessários meses de cuidadosas negociações. Primeiro, a Organização de Unidade Africana reconheceu a UNITA como parte tão legítima como o MPLA ou a FNLA. Depois, em Mombaça, no Quénia, os líderes dos três movimentos prepararam o terreno para as negociações com os representantes de Portugal. Finalmente, no Alvor, os três concertaram com o Governo português um acordo sobre a fórmula pela qual Angola se tornaria independente.
No Alvor, os três movimentos foram reconhecidos como únicos e legítimos representantes do povo angolano, e Angola como país indivisível, incluindo o enclave de Cabinda. Seria estabelecido um governo de transição, baseado numa fórmula de coligação. Um alto-comissário seria nomeado por Portugal, sob ordens directas do presidente da República, Costa Gomes, e o Governo de transição seria constituído por 12 ministros, três portugueses e os restantes nove distribuídos igualmente pelos movimentos de libertação.
Um conselho presidencial, constituído por um representante de cada movimento, presidiria ao Governo, rotativamente, até à data marcada para a independência, 11 de Novembro. O Governo devia tomar posse até ao fim de Janeiro, marcar eleições no prazo de nove meses, e deveria ser constituído um exército unificado. Na altura da independência, essas forças militares unificadas deveriam ter 48 mil homens - 24 mil efectivos portugueses e oito mil de cada um dos movimentos. Os militares portugueses em excesso seriam evacuados até 30 de Abril, e todas as tropas portuguesas deveriam deixar Angola até Fevereiro de 76.
Os interesses dos portugueses residentes eram assegurados, e os movimentos comprometiam-se a considerar angolanos todos os que tivessem nascido em Angola, ou os que ali vivessem e se declarassem angolanos por opção. Contudo, a concessão de cidadania aos não nascidos em Angola era remetida para o que fosse estabelecido na futura Constituição. Assinaram por baixo, por Portugal, o ministro sem pasta major Melo Antunes, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Mário Soares, o ministro da Coordenação Interterritorial, Almeida Santos, e, por Angola, os líderes do MPLA, da FNLA e da UNITA".
http://jn2.sapo.pt/secdiv/especial/angola4.htm
DEMOCRACIA ATORMENTADA
"Infelizmente, a maioria dos portugueses parece
desconhecer que a guerra no ultramar foi despoletada, incentivada e patrocinada
por estados estrangeiros que tinham interesses imperiais em Angola e Moçambique.
É hoje público que a União Soviética, os Estados Unidos da América, a China, a
Inglaterra e o Brasil foram os que mais contribuíram para uma degradação da
presença portuguesa em África. Por isso, ao contrário do que se propagandeava em
Portugal nas décadas de 60 e 70, e que ainda hoje muitos tomam como verdade, os
movimentos terroristas não tinham na sua génese a autodeterminação, mas sim uma
concepção imperialista que permitisse à União Soviética e aos Estados Unidos
controlar importantes e ricos territórios africanos que pertenciam ao Império
Português. Por conseguinte, a guerra do ultramar não era uma guerra entre
Portugal e um conjunto de grupos guerrilheiros, mas entre Portugal e os países
acima referidos.
É precisamente neste cenário que se dá o 25 de Abril de
1974. Se muitos acreditaram tratar-se de um movimento endógeno, de pessoas de
boa-vontade, com o anseio de trazer a democracia, a liberdade e a igualdade para
o povo, verificaram mais tarde ter sido completamente enganados. Em verdade, a
revolução de Abril foi somente um acto provocado por interesses imperiais
estrangeiros para conseguirem através da metrópole o que não conseguiram no
teatro de guerra no ultramar: o abandono de Portugal de Angola e
Moçambique.
É por este motivo, que a democracia em Portugal esteve
por várias vezes ameaçada, quer pelo Partido Comunista Português, quer por
grupos radicais de esquerda. Por pouco, Portugal não trocou um regime
autoritário, mas nacionalista, por um outro regime igualmente autoritário, mas
infinitamente mais repressivo e antidemocrático com sede em
Moscovo.
Lamentavelmente, o Ultramar teve menos sorte. A forma
como nós o abandonámos foi simplesmente indigna de um estado civilizado, mas
obedecia a uma lógica soviética executada em Portugal nas pessoas de Cunhal,
Soares e afins. O que muitos em Portugal clamaram como descolonização, ou
descolonização possível, foi em verdade um processo que resultou na morte de
milhões de civis, de guerras prolongadas, fome, miséria e devastação. Estou
seguro que, com o distanciamento temporal adequado, este período da história de
Portugal será meticulosamente estudado, e muitos que hoje são tidos como heróis
deixarão de o ser no futuro".
24.Fev.02
Orlando Press Room.
Orlando Press Room.
http://www.ciari.org/opiniao/democracia_atormentada.htm
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