Em 1972 -1974 Angola era uma Nação próspera praticamente
auto-suficiente em tudo. Tínhamos bons quadros técnicos, serviços de saúde
pública e privada, indústrias, agricultura, pescas, minérios, petróleo e
diamantes enfim tudo o que uma grande nação poderia ambicionar.
Um sorriso inocente
(foto Net)
Podia-se viajar sem problemas porque a tropa que estava
em Angola era mais que suficiente para manter afastados os tais
libertadores a soldo das grandes potências e, a prova disso, são as
fotografias que podereis ver das minhas viagens ao interior de
Angola com a minha família. A viagem que tinha projectado fazer nas próximas
férias antes do 25 de Abril seria: Luanda, N'dalatando, Malange, Saurimo,
Moxico, Kuito, Huambo, Namíbia, Benguela, Lobito e voltar a Luanda. Infelizmente
não passou de um sonho poder voltar a visitar algumas das principais cidades e a
beleza da terra que amava e a quem dei os melhores anos da minha vida.
Já não era tão fácil enviar para o exterior o capital
das empresas porque havia controle, por isso, havia cada vez mais investimento e
a consequente exportação. Havia escolas para todos sem excepção desde o ensino
básico até à universidade. Nas repartições públicas os funcionários angolanos
pretos e mestiços eram em bem maior número que os brancos. Como em todas as
cidades havia os bairros periféricos chamados musseques onde habitavam
inclusivamente brancos da classe mais humilde e algumas construções de vários
andares como no Prenda onde eu tinha comprado um andar num desses prédios que
vedes na fotografia.
Musseque Prenda- Luanda (foto Era Uma vez...Angola, Paulo Salvador)
Alguns comerciantes instalaram-se nesses
musseques para maior facilidade de comercialização dos seus produtos
junto dos moradores. Foram esses os primeiros a sofrer as represálias e até a
morte pelos camaradas assassinos do MPLA. As principais cidades de
Angola como Lobito, Benguela, Huambo, Kuito, Lubango, Uige, etc, tinham
praticamente o mesmo desenvolvimento de Luanda embora esta fosse a capital.
Havia praticamente emprego para todos mesmo para os menos instruídos. No
interior de Angola nas povoações mesmo nas mais afastadas cultivavam-se as
lavras em paz e colhiam o suficiente para o seu sustento e ainda para
trocar ou vender no comerciante mais próximo adquirindo o que necessitavam.
Infelizmente, actualmente não o podem fazer porque existem cerca de 18 milhões
de minas anti-pessoais espalhadas por todo o lado que fazem milhares de
estropeados, segundo estimativas cerca de 30.000.
Existia já uma classe média e média alta de angolanos
de todas origens. Poderia dizer-se que Angola era um país rico e se nessa altura
lhe fosse dada a independência, tal como foi dada à África do Sul, hoje Angola
seria uma das nações mais ricas da costa ocidental de África. Por isso era
cobiçada pelas suas riquezas tanto pelos americanos como pelos russos e outros
mais.
"Confrontado com 13 anos de guerra colonial e com
pressões do Presidente da República, Américo Tomás, Marcello Caetano que
sucedera a Salazar,
encorajou várias abordagens aos movimentos de libertação ou alguns dos seus
dirigente, nos meses que antecederam a revolução. Aparentemente para fazer sair
o país do impasse. Exemplo disso era a visita que planeava fazer a Angola no
final de Abril de 1974. Dois meses depois de uma longa conversa com o governador
geral."
DN, sexta-feira 27/05/2005. Temas do Dia, Bastidores da
Política Ultramarina. Marcelllo Caetano admitiu Angola
Independente.
Entretanto aconteceu o 25 de Abril e as intenções de
Marcello Caetano infelizmente para o povo Angola e para nós, não se chegaram a
concretizar.
Marcello tinha planos para a independência de Angola para 1974 (foto DN 27/05/2005)
AS REFORMAS ESTILHAÇAM-SE PERANTE O PROBLEMA
COLONIAL
"Com o objectivo de consolidar-se no poder e ampliar a
sua base de apoio, Caetano aproveitou as eleições de Outubro de 1969 para
consultar a população acerca do problema crucial que o regime enfrentava: a
questão colonial. Estas eleições foram realizadas com o propósito de
garantir-lhe os apoios necessários: tanto a nível interno, reforçando a sua
imagem perante os seus pares da ditadura e legitimando a sua autoridade diante
da oposição democrática; e, no âmbito internacional, desanuviando o clima de
hostilidade a Portugal, país que cada vez mais sofria críticas em todos os
fóruns internacionais. Marcelo Caetano sabia que não iria perder as eleições. O
seu prestígio pessoal e, sobretudo, a manipulação do escrutínio garantiam a
vitória.
Mas, numa perspectiva história, pode dizer-se que as eleições de 1969 foram um fracasso para Marcelo Caetano. Pois, apesar de muitos dos integrantes das listas da União Nacional serem gente nova, ele teve de integrar nelas declarados inimigos seus que, vinte dias depois de inaugurada a legislatura, provocaram uma votação na Assembleia Nacional a favor da política ultramarina iniciada por Salazar.
Os limites do poder de Marcelo Caetano ficaram claros quando teve de enfrentar a ala mais ortodoxa da ditadura, especialmente por causa das divergências sobre o Ultramar. Para Caetano (assim o disse em Setembro de 1970), a permanência em África justificava-se por causa dos portugueses lá instalados e para fazer face aos compromissos internacionais contraídos pelo Governo. Ainda assim, atreveu-se a assinalar que a independência das colónias não significava a perda da nacionalidade, ideia que os ultras do regime consideravam um sacrilégio, já que, para eles, Portugal, sem as colónias, seria devorado pela Espanha. Nesse contexto, em Dezembro de 1970, o presidente do Governo apresentou na Assembleia Nacional um anteprojecto de Revisão Constitucional, com a intenção de encontrar uma via intermédia entre os deputados liberais e os de extrema-direita e realizar as reformas que considerava necessárias. Deste modo, as modificações que Marcelo Caetano introduziu na Constituição de 1933 diziam respeito à estrutura do Estado. Portugal continuava a ser um país unitário, mas passava a ter regiões autónomas com poderes próprios. O resultado da Revisão Constitucional foi discreto e teve a virtude de não agradar nem à direita nem à esquerda".
http://historiaeciencia.weblog.com.pt/arquivo/041708.html
Mas, numa perspectiva história, pode dizer-se que as eleições de 1969 foram um fracasso para Marcelo Caetano. Pois, apesar de muitos dos integrantes das listas da União Nacional serem gente nova, ele teve de integrar nelas declarados inimigos seus que, vinte dias depois de inaugurada a legislatura, provocaram uma votação na Assembleia Nacional a favor da política ultramarina iniciada por Salazar.
Os limites do poder de Marcelo Caetano ficaram claros quando teve de enfrentar a ala mais ortodoxa da ditadura, especialmente por causa das divergências sobre o Ultramar. Para Caetano (assim o disse em Setembro de 1970), a permanência em África justificava-se por causa dos portugueses lá instalados e para fazer face aos compromissos internacionais contraídos pelo Governo. Ainda assim, atreveu-se a assinalar que a independência das colónias não significava a perda da nacionalidade, ideia que os ultras do regime consideravam um sacrilégio, já que, para eles, Portugal, sem as colónias, seria devorado pela Espanha. Nesse contexto, em Dezembro de 1970, o presidente do Governo apresentou na Assembleia Nacional um anteprojecto de Revisão Constitucional, com a intenção de encontrar uma via intermédia entre os deputados liberais e os de extrema-direita e realizar as reformas que considerava necessárias. Deste modo, as modificações que Marcelo Caetano introduziu na Constituição de 1933 diziam respeito à estrutura do Estado. Portugal continuava a ser um país unitário, mas passava a ter regiões autónomas com poderes próprios. O resultado da Revisão Constitucional foi discreto e teve a virtude de não agradar nem à direita nem à esquerda".
http://historiaeciencia.weblog.com.pt/arquivo/041708.html
25 de Abril de
1974
"Aos 25 minutos do dia
25 de Abril, a canção de Zeca Afonso era o sinal para o início do movimento
revolucionário militar que poria fim à ditadura. A voz do cantor contestatário
significava, para quem sabia, que chegara ao "ponto de não regresso" de uma
revolução montada em todos os pormenores. Da Escola Prática de Cavalaria de
Santarém, saíram pouco depois efectivos militares, com destino a Lisboa: dois
esquadrões, um auto transportado outro de reconhecimento. A coluna sob o comando
do capitão Salgueiro Maia, saiu pelo portão da Parada Chaimite, em frente do
Jardim da República.
Os oficiais que permaneceram na unidade, liderados pelo
major Costa Ferreira, 38 anos, seis comissões de serviço em África, começaram a
tomar as disposições necessárias ao que viria a constituir a retaguarda do
movimento. A revolta na Escola Prática de Cavalaria iniciara-se, de facto às
21.30 quando o 2º Comandante da unidade, tenente-coronel Sousa Sanches, posto ao
corrente de revolução, recusou participar e foi "desactivado"sem grandes
problemas. O coronel Augusto da Fonseca Laje, comandante da E.P.C., ausentara-se
para Lisboa, por motivos pessoais.
O major Costa Ferreira, em entrevista ao "Diário de
Notícias" revelou que o Movimento das Forças Armadas começou a gizar-se em
Setembro. Os contactos entre os oficiais revelaram-se extremamente difíceis,
sendo necessário recorrer a vários estratagemas. O movimento esteve para
concretizar-se a quando da revolta das Caldas da Rainha "e a Escola prática de
Cavalaria de Santarém não colaborou apenas por terem surgido dificuldades de
ocasião". "No entanto não estava posta de parte a possibilidade do movimento do
movimento vir a concretizar-se. Apenas se pretendia encontrar o momento oportuno
para isso" – disse, ao redactor do Diário de Notícias, aquele
oficial.
O primeiro sinal, "segundo o que estava idealizado"
deu-o o locutor dos Emissores Associados de Lisboa, ao anunciar "Faltam 5
minutos para as 23 horas, seguindo-se a canção "E depois do Adeus", interpretada
por Paulo de Carvalho. Quando a Rádio Renascença transmitiu a canção de Zeca
Afonso, tanto a escola Prática de Cavalaria como em 29 outras unidades militares
que apoiavam o Movimento, em toda a Metrópole, se desencadeou a revolução. Os
dados estavam lançados.
Em Santarém, patrulhas militares tomaram conta dos
pontos estratégicos. O Comandante Militar da cidade, coronel Hugo Leitão,
"inteirado do que se passava não opôs quaisquer dificuldades". A população
aderiu, de imediato, ao levantamento".
EM LISBOA E NO PORTO A POPULAÇÃO VITORIOU
AS FORÇAS ARMADAS.
AS FORÇAS ARMADAS.
"Às quatro da madrugada, o movimento das Forças Armadas
dominavam, em Lisboa, os principais órgãos de Poder, enquanto recebia adesões de
Norte a Sul da Metrópole. A primeira notícia de revolução foi dada pelo Rádio
Clube Português, em poder dos sublevados, que se apoderaram também da Emissora
Nacional. Esta transmite contínuos apelos à população para que não saísse à rua
e pedia à GNR e à PSP que se rendessem, para evitar o derramamento de sangue.
Numa operação perfeitamente sincronizada, grupos militares cercaram os edifícios
governamentais, no centro de Lisboa, praticamente dominada quando amanheceu.
Militares distribuíam panfletos em que anunciava a finalidade da revolta e as
razões desta. A Emissora Nacional recomeçou a funcionar, pouco tempo depois das
8 horas transmitindo o mesmo comunicando que, de 15 em 15 minutos, era difundido
pelo Rádio Clube Português, tocando a seguir o Hino Nacional.
25 de Abril de 1974 (foto DN 3/8/2005)
Forças da Escola Prática de Cavalaria, da Escola
Prática de Infantaria (Mafra), do Regimento de Engenharia 1 (Lamego) e do
Batalhão de Caçadores 5 dominavam a baixa Lisboeta, enquanto forças de Vendas
Novas tomam posições do outro lado do Tejo, em Cristo Rei. Unidades da Marinha
de Guerra, que aderiu, desde o princípio, na sua quase totalidade, à revolução,
evolucionaram frente ao Restelo.
O total das forças que ocuparam o Terreiro do Paço, o
Rossio, a Praça do Comércio e outros pontos estratégicos da Baixa cifraram-se em
cerca de 600 homens e 50 autometralhadoras e carros de combate. A população
lisboeta aderiu, de imediato à revolução por vezes complicando os movimentos das
tropas, que seguiam por toda a parte.
Cerca das 11 horas, saíram do Terreiro do Paço três
colunas militares com objectivos específicos. Uma de fuzileiros da Armada
dirigindo-se para as instalações da DGS; outra tomou por objectivo o quartel da
Legião Portuguesa e a terceira o quartel da Guarda Republicana, ao Carmo. Ali se
tinham refugiado o Almirante Américo Thomaz, o Sr. Prof. Marcello Caetano e
vários membros do Governo. Helicópteros da Força Aérea, sobrevoam o
Quartel".
25 de Abril de 1974 (foto Notícia. Angola)
"Às 11.40, o Movimento das Forças Armadas afirma, num
comunicado, que "domina a situação de Norte a Sul e dentro em pouco chegará a
hora da liberdade". O povo de Lisboa, com evidência para a juventude, apesar dos
apelos para que não saia de casa, reúne-se até formar multidão no Rossio e na
Praça do Comércio, vitoriando as Forças Armadas. Oferecem cigarros, sanduíches e
flores aos militares.
Logo no início da rebelião, os aeroportos de Lisboa,
Porto e Faro foram encerrados ao tráfego. Ao amanhecer, os barcos estrangeiros
surtos no Tejo receberam ordens para levantarem ferro. A fronteira com a Espanha
está, também encerrada.
Às 14 horas o movimento militar está praticamente
vitorioso em toda a Metrópole. O General Costa Gomes assume a chefia da 2ª
Região Militar (Porto), sem encontrar, praticamente, oposição. Em Viseu, o
Regimento de Infantaria 14 anuncia a sua adesão à revolta e sai do quartel, para
se juntar a outras unidades militares, também sublevadas, que avançam para Sul.
Em Coimbra não se vislumbra movimento de tropas.
Apenas, quase por toda a parte, se levantam dois pólos
de resistência: a Guarda Nacional Republicana e a DGS., que várias vezes
salvaram de "apertos" os regimes de Salazar e de Marcelo Caetano. Da parte do
Exército houve um sinal de resistência inicial à sublevação quando o comandante
de uma unidade constituída por cinco carros de combate, que tomara posições
perto do Rossio, ordenou fogo contra as tropas sublevadas. Não foi
obedecido.
Até à 16 horas, o Movimento das Forças Armadas
consolida as suas posições. Oficiais da Escola Prática de Cavalaria ocupam o
Ministério da Defesa, dominando todo o edifício sem oposição todo o edifício.
São presos então os Chefes de Gabinete do Ministro do Exército, General Luz
Cunha e do Secretário de Estado da mesma pasta, além de outros oficiais que se
mantinham fieis ao regime de Marcello Caetano. O Ministro da Defesa, do
Exército, das Corporações e do Interior, que dali tentavam fazer face à
revolução, ao verem perdida a esperança de um "volte-face" escaparam por um
buraco aberto numa parede.(...).
Os 180 agentes da DGS presos no dia anterior nas
instalações da Rua António Maria Cardoso seguiram às 0.45 da madrugada para a
prisão de Caxias onde ficaram internados".
In "Notícia", O Jornal de João Charula de Azecedo,
Nr.752-Luanda.
25 de Abril de 1974 (foto DN 4/8/2005)
Diário de Notícias, 4 de Agosto de 2005. 1975 -
Verão Quente. O Estado transformou-se no maior conglomerado da Europa
ocidental, com grandes, média e pequenas empresas espalhadas pelo País. Para os
historiadores, as nacionalizações são a continuidade do peso do Estado na
economia herdada da ditadura. Para outros, tratou-se de corte no dinamismo de
certos grupos empresariais cujas consequências o País, ainda hoje, está a
pagar.
O Estado nacionalizou um terço da
economia.
Luis Miguel Viana.
Em 1975, de um momento para o outro, o Estado português viu-se
proprietário de 1300 empresas empresas. De alguns potentados industriais,
certamente, de empresas de sectores estratégicos para qualquer economia. Mas
também de barbearias na baixa de Lisboa, de restaurantes nas maiores cidades, de
alguns hotéis, de modestas fábricas de transformação de tomate e de um cortejo
muito pitoresco de pequenas e médias empresas espalhadas pelo País vieram ao
arrasto da nacionalização dos grandes grupos. Estes, muito dentro do espírito da
época, tinham tentado diversificar o mais possível a sua actividade, penetrando
em sectores completamente diversos no negócio de origem.
A seguir ao Verão Quente quando terminou o Processo
Revolucionário em curso (Prec), o Estado Português tinha-se transformado no
maior conglomerado da Europa, no maior grupo empresarial fora dos países de
economia planificada. Falou-se num peso de 30% do PIB nacional, cálculos mais
recentes apontam para um VAB das empresas públicas sobre o PIB de 19,8% em 1976,
contra 24,7% da Itália e 12,0% da França - embora nestes países o Estado não
detivesse monopólios de sectores vitais, como a banca. (...) TRADIÇÃO ESTATISTA.
Em 1975, no 11 de Março, quando se derrotou o alegado golpe golpe dos
spinolistas que permitiu ao PCP empurrar o Governo de Vasco Gonçalves e o
Movimento da Forças Armadas (MFA) para a estatização de empresas, Portugal não
era uma economia liberal. Pelo contrário: apesar da sua matriz predominantes
privada, organizara-se num modelo fortemente condicionado pelo Estado, quer como
cliente, quer como regulador, quer, sobretudo, como protector das pressões da
concorrência externa.(...)
Documento redigido pelos oficiais moderados do MFA,
com Melo Antunes à frente, apressou a sua queda (foto DN 7/8/2005)
Diário de Notícias, 7 de Agosto de 2005. 1975 - Verão
Quente. A 7 de Agosto, há exactamente 30 anos, um grupo de oficiais
pertencentes ao Conselho da Revolução entregava ao Presidente da República e
fazia distribuir pelo País um documento que denunciava a extrema-esquerda
política e militar, abrindo ainda mais fracturas no Movimento da Forças Armadas.
Foi um marco decisivo para travar a influência comunista em Portugal. "Segundo
justificou Vasco Lourenço, o Documento dos Nove foi um "grito de revolta"
destinado a separar o Movimento das Forças Armadas da estratégia comunista".
Documento dos Nove. O diagnóstico de Melo Antunes.
ESTADO."Verifica-se a progressiva decomposição das estruturas do Estado. Formas
selvagens e anarquizantes de exercício do poder fora-se instalando um pouco por
um toda a parte (até no interior das Forças Armadas)." MFA. "O Movimento das
Forças Armadas, que inicialmente se havia afirmado como suprapartidário, viu-se
cada vez mais enleado nas manipulações políticas de politiqueiras de partidos e
organizações de massas, acabando por se ver comprometido com determinado
projecto político (do PCP)."
ENONOMIA. "Aproxima-se o momento mais agudo duma crise
económica gravíssima, cujas consequências não deixarão de se fazer sentir ao
nível duma ruptura, já inicialmente, entre o MFA e a maioria do povo português."
DESCOLONIZAÇÃO. " A fase mais aguda da descolonização (Angola) chega sem que se
tenha tomado em consideração que não era possível "descolonizar", garantindo uma
efectiva transição pacífica para uma verdadeira independência, sem uma sólida
coesão do poder político."
COMUNICAÇÃO SOCIAL. "Larga parte dos meios de comunição social
(sofre) de um rígido controlo partidário que sobre eles se exerce -
particularmente nos nacionalizados -, assistindo-se hoje ao degradante
espectáculo da corrida de uma boa parte da população aos noticiários de
emissoras estrangeiras sobre o nosso País." SOCIALISMO. "É necessário denunciar
vigorosamente o espírito fascista subjacente ao projecto que, dizendo-se
socialista, acabará numa ditadura burocrática."
Último governo de Vasco durou menos de um mês. (foto DN 8/8/2005).
"DN 8/8/2005. 1975 Verão
Quente. Logo no momento da posse, o presidente Costa Gomes
anunciou ao País que seria um Governo de "passagem". Esta previsão, que deixou
estupefacto o primeiro-ministo Vasco Gonçalves, confirmou-se por inteiro: antes
do fim do mês, era anunciada a demissão do Executivo. Foi um dos governos mais
breves de que há memória em Portugal. E também um dos mais
polémicos.
Pedro Correia.
Havia dúvidas? Deixou de haver. No próprio
discurso da posse, o presidente da República deixou claro que aquele era um
Governo "de passagem". O primeiro-ministro Vasco Gonçalves, que não fora
informado desta intervenção do general Costa Gomes, ficou perplexo. E o País
testemunhou em directo essa perplexidade através das imagens da RTP. Era a
investidura do V Governo Provisório - o último em que o PCP teve uma influência
determinante. Faz agora 30 anos.
Este controverso Governo foi de imediato
considerado "um nado morto". Por personalidades tão diversas como o lider do PS,
Mário Soares, o major Melo Antunes (que liderava a ala moderada das forças
armadas) e o secretário-geral do MRPP, Arnaldo Matos. Portugal estava sem
executivo desde que os socialistas abandonaram a coligação governamental a 10 de
Julho. Seis dias mais tarde, com a saída do PPD, o IV Governo Provisório chegou
ao fim. Seguiram-se três semanas de imensas negociações para formação de um novo
elenco ministerial. Vasco Gonçalves, que chefiara três Executivos desde Julho de
1974, estava politicamente ferido de morte. Mas recusava sair de
cena.
Otelo com Rosa Coutinho (foto DN, 8/8/2005)
Socialistas e sociais-democratas desciam
diariamente à rua, reclamando um Executivo que reflectisse os resultados
eleitorais (no escrutínio para a Assembleia Constituinte, a 25 de Abril, o PS
fora a força mais votada, com 38%, seguindo-se o PPD, com 26%). Na cimeira de
Helsínquia, em Julho, Costa Gomes escutara severas palavras de líderes europeus
contra um regime socialista decalcado do Bloco de Leste. E na véspera da posse
do V Governo, nove oficiais que integravam o Conselho da Revolução tinham
divulgado um comunicado que denunciava a contínua erosão do poder político e a
quebra do tecido social português. (...)"
SAÍDA DE MARCELLO CAETANO
"Marcelo Caetano foi induzido pelos próprios sistemas
de segurança a dirigir-se para o Quartel do Carmo, que se transformou no ponto
central das operações militares. Ao princípio da tarde, Salgueiro Maia,
comandante dos revoltosos no local, dispôs as forças em posição de cerco e
preparou-se para a queda do último símbolo do regime. O povo de Lisboa,
figurante activo e cada vez mais interveniente, respondia com crescente
entusiasmo ao teor dos comunicados transmitidos e aos objectivos políticos do
MFA. Do posto do comando, instalado no quartel do Regimento de Engenharia 1, na
Pontinha, o MFA procurou conduzir a acção militar e pôr fim à
expectativa.
Entretanto, no próprio Quartel do Carmo, efectuou-se um
contacto entre o general Spínola e Marcelo Caetano, ficando deste encontro a
expressão deste último ao afirmar que preferia entregar o poder a alguém que lhe
desse garantias, em vez de deixar que caísse na rua. De certa forma,
formalizou-se neste cenário a queda do governo, com a prisão de Marcelo Caetano
e de alguns Ministros.
Ao princípio da noite, o MFA divulgou a sua
proclamação, primeiro documento programático preparado antecipadamente e que
continha as intenções fundamentais do movimento militar: entrega do Governo a
uma Junta de Salvação Nacional, próxima difusão de um programa do MFA,
restituição ao povo português das liberdades cívicas e eleição de uma Assembleia
Nacional Constituinte".
http://jn2.sapo.pt/secdiv/especial/angola1.htm
MARCELLO CAETANO ENTREGOU A SUA RESIGNAÇÂO AO CAIR DA
NOITE
"O Movimento da Forças Armadas emitiu às 20 horas o
seguinte comunicado: "O Movimento das Forças Armadas informa que se concretizou
a queda do Governo, tenho sua excelência o Prof. Marcello Caetano apresentado a
sua rendição incondicional a sua excelência o general António
Spínola.
O ex-presidente do Conselho, o ex-ministro dos Negócios
Estrangeiros e o ex-ministro do Interior encontram-se sob custódia do Movimento,
enquanto sua excelência o almirante Américo Thomaz e alguns ex-ministros do
Governo se encontram refugiados em dois aquartelamentos que estão cercados pelas
nossas tropas e cuja rendição se aguarda para breve.
O Movimento das Forças Armadas agradece a toda a
população o civismo e a colaboração demonstrados, de maneira inequívoca, desde o
início dos acontecimentos, prova evidente de que ele era o intérprete do
pensamento e dos anseios nacionais. Continua a recomendar-se a maior calma e a
estreita obediência a todas as indicações que forem transmitidas. Espera-se que
amanhã a vida possa retomar o seu ritmo normal por forma a que todos, em
perfeita união, consigamos constituir um futuro melhor para o País. Viva
Portugal".
General Spínola, proclamação da Junta de Salvação Nacional.
( foto Prov. Angola 26/04/1974)
PROCLAMAÇÃO DA JUNTA DE SALVAÇÃO NACIONAL
"Spínola proclamado Chefe da Nação Portuguesa e
Presidente da Junta de Salvação Nacional. É a seguinte a constituição da Junta
de Salvação Nacional: general António de Spínola, que preside à Junta; general
Costa Gomes; brigadeiro Jaime Silvério Marques; coronel Carlos Galvão de Melo;
general Manuel Diogo Neto, ausente da Metrópole; capitão de mar-e-guerra José
Baptista Pinheiro de Azevedo e capitão-de-fragata António Alva Rosa
Coutinho".
A formação da Junta de Salvação Nacional
Fora inicialmente acordada uma formação em que interviriam seis
elementos, um de cada ramo das Forças Armadas. Contudo surgiu a necessidade de
integrar um sétimo membro, pois a um deles estaria reservado o cargo de
Presidente da JSN acumulando com a função de Presidente da República a título
provisório. Tal desempenho estaria reservado a Costa Gomes, cabendo a Spínola a
chefia do Estado-maior das Forças Armadas.
A princípio só generais integrariam a Junta por questões de
hierarquia. Era fundamental que todos possuíssem estrelas nos ombros para, desde
logo, se situarem em plano de igualdade com Spínola não permitindo que a
ditadura militar vingasse pela mão deste general.
Spínola não aceitava a participação de qualquer general que
tivesse feito parte da Brigada do Reumático. O sétimo elemento escolhido acabou
por ser Jaime Silvério Marques. A par deste compunham a Junta Militar: Spínola e
Costa Gomes do Exército, Pinheiro de Azevedo e Rosa Coutinho por parte da Armada
e Costa Martins e Galvão de Melo em representação da Força Aérea, todos eles
exibindo nos ombros as estrelas de general.
MENSAGENS DIRIGIDAS AO POVO DE ANGOLA PELOS
GENERAIS ANTÓNIO DE SPÍNOLA E COSTA GOMES.
(fotos Notícia - Angola)
Santos e Castro o último Governador de Angola.
(foto Notícia-Angola)
UM GOLPE CAÍDO DO CÉU
"O 25 de Abril surpreendeu tudo e todos em Angola.
Luanda vivia a vida cosmopolita de uma capital colonial, e só uma meia dúzia de
dias depois, em princípios de Maio, no Zaire e na Zâmbia, os movimentos de
libertação reagem ao golpe militar em Portugal, com proclamações de continuação
da luta até à independência total. Ironicamente, o golpe em Portugal haveria de
conceder-lhes um protagonismo que estavam longe de ter conquistado.
José Gomes
As promessas de continuação da guerra com que o MPLA, a
FNLA e a UNITA reagiram ao golpe em Portugal, diga-se em boa verdade, não
tiravam o sono a ninguém.
Em 1974, a luta de libertação atravessava um período
crítico: o Exército português controlava militarmente todo o território - as
operações tinham cessado em 1972 e a livre circulação era um facto.
Após o surgimento, em meados dos anos 60, de actividade
militar no interior - O MPLA abre em 66 a Frente Leste, a UNITA ataca Vila
Teixeira de Sousa, na fronteira catanguesa, em fins de 65 -, os movimentos
encontravam-se minados por profundas crises internas.
Neto mandara fuzilar, dois anos antes, vários
comandantes no Leste, após a revolta dos Bundas, e o movimento está recuado na
Zâmbia, envolvido num debate interno para a revitalização daquela frente.
Chipenda proclamara no ano anterior a cisão, em protesto contra a assinatura,
por Neto e Holden Roberto, do inesperado acordo para a criação do Conselho
Supremo para a Libertação de Angola.
Mais tarde, já em 74, mas ainda antes do 25 de Abril,
virá a surgir uma outra facção, a Revolta Activa, propondo amplo debate para a
redefinição da estratégia da luta de libertação.
Pelo lado da FNLA, as coisas não estavam melhores. Apesar de se saber que o movimento, com apoio de Mobutu, estava a formar no Zaire um exército de 9.000 homens, treinado por instrutores chineses e bem armado, Holden Roberto estava precisado de quadros dirigentes. Mandara fuzilar, após a revolta de Kinkuzo, no Zaire, em princípios de 72, dezenas de oficiais do seu Estado-Maior, e vários outros haviam fugido para Brazzaville.
Pelo lado da FNLA, as coisas não estavam melhores. Apesar de se saber que o movimento, com apoio de Mobutu, estava a formar no Zaire um exército de 9.000 homens, treinado por instrutores chineses e bem armado, Holden Roberto estava precisado de quadros dirigentes. Mandara fuzilar, após a revolta de Kinkuzo, no Zaire, em princípios de 72, dezenas de oficiais do seu Estado-Maior, e vários outros haviam fugido para Brazzaville.
A UNITA encontra-se no interior, abaixo da linha do
caminho-de-ferro de Benguela, sem actividade militar conhecida".
http://jn2.sapo.pt/secdiv/especial/angola1.htm
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