sábado, 15 de dezembro de 2012

AS REFORMAS ESTILHAÇAM-SE

Em 1972 -1974 Angola era uma Nação próspera praticamente auto-suficiente em tudo. Tínhamos bons quadros técnicos, serviços de saúde pública e privada, indústrias, agricultura, pescas, minérios, petróleo e diamantes enfim tudo o que uma grande nação poderia ambicionar.


Um sorriso inocente
(foto Net)

Podia-se viajar sem problemas porque a tropa que estava em Angola era mais que suficiente para manter afastados os tais libertadores a soldo das grandes potências e, a prova disso, são as fotografias que podereis ver das minhas viagens ao interior de Angola com a minha família. A viagem que tinha projectado fazer nas próximas férias antes do 25 de Abril seria: Luanda, N'dalatando, Malange, Saurimo, Moxico, Kuito, Huambo, Namíbia, Benguela, Lobito e voltar a Luanda. Infelizmente não passou de um sonho poder voltar a visitar algumas das principais cidades e a beleza da terra que amava e a quem dei os melhores anos da minha vida.

Já não era tão fácil enviar para o exterior o capital das empresas porque havia controle, por isso, havia cada vez mais investimento e a consequente exportação. Havia escolas para todos sem excepção desde o ensino básico até à universidade. Nas repartições públicas os funcionários angolanos pretos e mestiços eram em bem maior número que os brancos. Como em todas as cidades havia os bairros periféricos chamados musseques onde habitavam inclusivamente brancos da classe mais humilde e algumas construções de vários andares como no Prenda onde eu tinha comprado um andar num desses prédios que vedes na fotografia.


Musseque Prenda- Luanda (foto Era Uma vez...Angola, Paulo Salvador)

Alguns comerciantes instalaram-se nesses musseques para maior facilidade de comercialização dos seus produtos junto dos moradores. Foram esses os primeiros a sofrer as represálias e até a morte pelos camaradas assassinos do MPLA. As principais cidades de Angola como Lobito, Benguela, Huambo, Kuito, Lubango, Uige, etc, tinham praticamente o mesmo desenvolvimento de Luanda embora esta fosse a capital. Havia praticamente emprego para todos mesmo para os menos instruídos. No interior de Angola nas povoações mesmo nas mais afastadas cultivavam-se as lavras em paz e colhiam o suficiente para o seu sustento e ainda para trocar ou vender no comerciante mais próximo adquirindo o que necessitavam. Infelizmente, actualmente não o podem fazer porque existem cerca de 18 milhões de minas anti-pessoais espalhadas por todo o lado que fazem milhares de estropeados, segundo estimativas cerca de 30.000.

Existia já uma classe média e média alta de angolanos de todas origens. Poderia dizer-se que Angola era um país rico e se nessa altura lhe fosse dada a independência, tal como foi dada à África do Sul, hoje Angola seria uma das nações mais ricas da costa ocidental de África. Por isso era cobiçada pelas suas riquezas tanto pelos americanos como pelos russos e outros mais.

"Confrontado com 13 anos de guerra colonial e com pressões do Presidente da República, Américo Tomás, Marcello Caetano que sucedera a Salazar, encorajou várias abordagens aos movimentos de libertação ou alguns dos seus dirigente, nos meses que antecederam a revolução. Aparentemente para fazer sair o país do impasse. Exemplo disso era a visita que planeava fazer a Angola no final de Abril de 1974. Dois meses depois de uma longa conversa com o governador geral."

DN, sexta-feira 27/05/2005. Temas do Dia, Bastidores da Política Ultramarina. Marcelllo Caetano admitiu Angola Independente.

Entretanto aconteceu o 25 de Abril e as intenções de Marcello Caetano infelizmente para o povo Angola e para nós, não se chegaram a concretizar.


Marcello tinha planos para a independência de Angola para 1974 (foto DN 27/05/2005)

AS REFORMAS ESTILHAÇAM-SE PERANTE O PROBLEMA COLONIAL

"Com o objectivo de consolidar-se no poder e ampliar a sua base de apoio, Caetano aproveitou as eleições de Outubro de 1969 para consultar a população acerca do problema crucial que o regime enfrentava: a questão colonial. Estas eleições foram realizadas com o propósito de garantir-lhe os apoios necessários: tanto a nível interno, reforçando a sua imagem perante os seus pares da ditadura e legitimando a sua autoridade diante da oposição democrática; e, no âmbito internacional, desanuviando o clima de hostilidade a Portugal, país que cada vez mais sofria críticas em todos os fóruns internacionais. Marcelo Caetano sabia que não iria perder as eleições. O seu prestígio pessoal e, sobretudo, a manipulação do escrutínio garantiam a vitória.

Mas, numa perspectiva história, pode dizer-se que as eleições de 1969 foram um fracasso para Marcelo Caetano. Pois, apesar de muitos dos integrantes das listas da União Nacional serem gente nova, ele teve de integrar nelas declarados inimigos seus que, vinte dias depois de inaugurada a legislatura, provocaram uma votação na Assembleia Nacional a favor da política ultramarina iniciada por Salazar.

Os limites do poder de Marcelo Caetano ficaram claros quando teve de enfrentar a ala mais ortodoxa da ditadura, especialmente por causa das divergências sobre o Ultramar. Para Caetano (assim o disse em Setembro de 1970), a permanência em África justificava-se por causa dos portugueses lá instalados e para fazer face aos compromissos internacionais contraídos pelo Governo. Ainda assim, atreveu-se a assinalar que a independência das colónias não significava a perda da nacionalidade, ideia que os ultras do regime consideravam um sacrilégio, já que, para eles, Portugal, sem as colónias, seria devorado pela Espanha. Nesse contexto, em Dezembro de 1970, o presidente do Governo apresentou na Assembleia Nacional um anteprojecto de Revisão Constitucional, com a intenção de encontrar uma via intermédia entre os deputados liberais e os de extrema-direita e realizar as reformas que considerava necessárias. Deste modo, as modificações que Marcelo Caetano introduziu na Constituição de 1933 diziam respeito à estrutura do Estado. Portugal continuava a ser um país unitário, mas passava a ter regiões autónomas com poderes próprios. O resultado da Revisão Constitucional foi discreto e teve a virtude de não agradar nem à direita nem à esquerda".

http://historiaeciencia.weblog.com.pt/arquivo/041708.html

25 de Abril de 1974

"Aos 25 minutos do dia 25 de Abril, a canção de Zeca Afonso era o sinal para o início do movimento revolucionário militar que poria fim à ditadura. A voz do cantor contestatário significava, para quem sabia, que chegara ao "ponto de não regresso" de uma revolução montada em todos os pormenores. Da Escola Prática de Cavalaria de Santarém, saíram pouco depois efectivos militares, com destino a Lisboa: dois esquadrões, um auto transportado outro de reconhecimento. A coluna sob o comando do capitão Salgueiro Maia, saiu pelo portão da Parada Chaimite, em frente do Jardim da República.

Os oficiais que permaneceram na unidade, liderados pelo major Costa Ferreira, 38 anos, seis comissões de serviço em África, começaram a tomar as disposições necessárias ao que viria a constituir a retaguarda do movimento. A revolta na Escola Prática de Cavalaria iniciara-se, de facto às 21.30 quando o 2º Comandante da unidade, tenente-coronel Sousa Sanches, posto ao corrente de revolução, recusou participar e foi "desactivado"sem grandes problemas. O coronel Augusto da Fonseca Laje, comandante da E.P.C., ausentara-se para Lisboa, por motivos pessoais.

O major Costa Ferreira, em entrevista ao "Diário de Notícias" revelou que o Movimento das Forças Armadas começou a gizar-se em Setembro. Os contactos entre os oficiais revelaram-se extremamente difíceis, sendo necessário recorrer a vários estratagemas. O movimento esteve para concretizar-se a quando da revolta das Caldas da Rainha "e a Escola prática de Cavalaria de Santarém não colaborou apenas por terem surgido dificuldades de ocasião". "No entanto não estava posta de parte a possibilidade do movimento do movimento vir a concretizar-se. Apenas se pretendia encontrar o momento oportuno para isso" – disse, ao redactor do Diário de Notícias, aquele oficial.

O primeiro sinal, "segundo o que estava idealizado" deu-o o locutor dos Emissores Associados de Lisboa, ao anunciar "Faltam 5 minutos para as 23 horas, seguindo-se a canção "E depois do Adeus", interpretada por Paulo de Carvalho. Quando a Rádio Renascença transmitiu a canção de Zeca Afonso, tanto a escola Prática de Cavalaria como em 29 outras unidades militares que apoiavam o Movimento, em toda a Metrópole, se desencadeou a revolução. Os dados estavam lançados.

Em Santarém, patrulhas militares tomaram conta dos pontos estratégicos. O Comandante Militar da cidade, coronel Hugo Leitão, "inteirado do que se passava não opôs quaisquer dificuldades". A população aderiu, de imediato, ao levantamento".

EM LISBOA E NO PORTO A POPULAÇÃO VITORIOU
AS FORÇAS ARMADAS.


"Às quatro da madrugada, o movimento das Forças Armadas dominavam, em Lisboa, os principais órgãos de Poder, enquanto recebia adesões de Norte a Sul da Metrópole. A primeira notícia de revolução foi dada pelo Rádio Clube Português, em poder dos sublevados, que se apoderaram também da Emissora Nacional. Esta transmite contínuos apelos à população para que não saísse à rua e pedia à GNR e à PSP que se rendessem, para evitar o derramamento de sangue. Numa operação perfeitamente sincronizada, grupos militares cercaram os edifícios governamentais, no centro de Lisboa, praticamente dominada quando amanheceu. Militares distribuíam panfletos em que anunciava a finalidade da revolta e as razões desta. A Emissora Nacional recomeçou a funcionar, pouco tempo depois das 8 horas transmitindo o mesmo comunicando que, de 15 em 15 minutos, era difundido pelo Rádio Clube Português, tocando a seguir o Hino Nacional.


25 de Abril de 1974 (foto DN 3/8/2005)

Forças da Escola Prática de Cavalaria, da Escola Prática de Infantaria (Mafra), do Regimento de Engenharia 1 (Lamego) e do Batalhão de Caçadores 5 dominavam a baixa Lisboeta, enquanto forças de Vendas Novas tomam posições do outro lado do Tejo, em Cristo Rei. Unidades da Marinha de Guerra, que aderiu, desde o princípio, na sua quase totalidade, à revolução, evolucionaram frente ao Restelo.

O total das forças que ocuparam o Terreiro do Paço, o Rossio, a Praça do Comércio e outros pontos estratégicos da Baixa cifraram-se em cerca de 600 homens e 50 autometralhadoras e carros de combate. A população lisboeta aderiu, de imediato à revolução por vezes complicando os movimentos das tropas, que seguiam por toda a parte.

Cerca das 11 horas, saíram do Terreiro do Paço três colunas militares com objectivos específicos. Uma de fuzileiros da Armada dirigindo-se para as instalações da DGS; outra tomou por objectivo o quartel da Legião Portuguesa e a terceira o quartel da Guarda Republicana, ao Carmo. Ali se tinham refugiado o Almirante Américo Thomaz, o Sr. Prof. Marcello Caetano e vários membros do Governo. Helicópteros da Força Aérea, sobrevoam o Quartel".


25 de Abril de 1974 (foto Notícia. Angola)

"Às 11.40, o Movimento das Forças Armadas afirma, num comunicado, que "domina a situação de Norte a Sul e dentro em pouco chegará a hora da liberdade". O povo de Lisboa, com evidência para a juventude, apesar dos apelos para que não saia de casa, reúne-se até formar multidão no Rossio e na Praça do Comércio, vitoriando as Forças Armadas. Oferecem cigarros, sanduíches e flores aos militares.

Logo no início da rebelião, os aeroportos de Lisboa, Porto e Faro foram encerrados ao tráfego. Ao amanhecer, os barcos estrangeiros surtos no Tejo receberam ordens para levantarem ferro. A fronteira com a Espanha está, também encerrada.

Às 14 horas o movimento militar está praticamente vitorioso em toda a Metrópole. O General Costa Gomes assume a chefia da 2ª Região Militar (Porto), sem encontrar, praticamente, oposição. Em Viseu, o Regimento de Infantaria 14 anuncia a sua adesão à revolta e sai do quartel, para se juntar a outras unidades militares, também sublevadas, que avançam para Sul. Em Coimbra não se vislumbra movimento de tropas.


Apenas, quase por toda a parte, se levantam dois pólos de resistência: a Guarda Nacional Republicana e a DGS., que várias vezes salvaram de "apertos" os regimes de Salazar e de Marcelo Caetano. Da parte do Exército houve um sinal de resistência inicial à sublevação quando o comandante de uma unidade constituída por cinco carros de combate, que tomara posições perto do Rossio, ordenou fogo contra as tropas sublevadas. Não foi obedecido.

Até à 16 horas, o Movimento das Forças Armadas consolida as suas posições. Oficiais da Escola Prática de Cavalaria ocupam o Ministério da Defesa, dominando todo o edifício sem oposição todo o edifício. São presos então os Chefes de Gabinete do Ministro do Exército, General Luz Cunha e do Secretário de Estado da mesma pasta, além de outros oficiais que se mantinham fieis ao regime de Marcello Caetano. O Ministro da Defesa, do Exército, das Corporações e do Interior, que dali tentavam fazer face à revolução, ao verem perdida a esperança de um "volte-face" escaparam por um buraco aberto numa parede.(...).

Os 180 agentes da DGS presos no dia anterior nas instalações da Rua António Maria Cardoso seguiram às 0.45 da madrugada para a prisão de Caxias onde ficaram internados".

In "Notícia", O Jornal de João Charula de Azecedo, Nr.752-Luanda.


25 de Abril de 1974 (foto DN 4/8/2005)

Diário de Notícias, 4 de Agosto de 2005. 1975 - Verão Quente. O Estado transformou-se no maior conglomerado da Europa ocidental, com grandes, média e pequenas empresas espalhadas pelo País. Para os historiadores, as nacionalizações são a continuidade do peso do Estado na economia herdada da ditadura. Para outros, tratou-se de corte no dinamismo de certos grupos empresariais cujas consequências o País, ainda hoje, está a pagar.

O Estado nacionalizou um terço da economia.

Luis Miguel Viana.

Em 1975, de um momento para o outro, o Estado português viu-se proprietário de 1300 empresas empresas. De alguns potentados industriais, certamente, de empresas de sectores estratégicos para qualquer economia. Mas também de barbearias na baixa de Lisboa, de restaurantes nas maiores cidades, de alguns hotéis, de modestas fábricas de transformação de tomate e de um cortejo muito pitoresco de pequenas e médias empresas espalhadas pelo País vieram ao arrasto da nacionalização dos grandes grupos. Estes, muito dentro do espírito da época, tinham tentado diversificar o mais possível a sua actividade, penetrando em sectores completamente diversos no negócio de origem.

A seguir ao Verão Quente quando terminou o Processo Revolucionário em curso (Prec), o Estado Português tinha-se transformado no maior conglomerado da Europa, no maior grupo empresarial fora dos países de economia planificada. Falou-se num peso de 30% do PIB nacional, cálculos mais recentes apontam para um VAB das empresas públicas sobre o PIB de 19,8% em 1976, contra 24,7% da Itália e 12,0% da França - embora nestes países o Estado não detivesse monopólios de sectores vitais, como a banca. (...) TRADIÇÃO ESTATISTA. Em 1975, no 11 de Março, quando se derrotou o alegado golpe golpe dos spinolistas que permitiu ao PCP empurrar o Governo de Vasco Gonçalves e o Movimento da Forças Armadas (MFA) para a estatização de empresas, Portugal não era uma economia liberal. Pelo contrário: apesar da sua matriz predominantes privada, organizara-se num modelo fortemente condicionado pelo Estado, quer como cliente, quer como regulador, quer, sobretudo, como protector das pressões da concorrência externa.(...)


Documento redigido pelos oficiais moderados do MFA,
com Melo Antunes à frente, apressou a sua queda (foto DN 7/8/2005)

Diário de Notícias, 7 de Agosto de 2005. 1975 - Verão Quente. A 7 de Agosto, há exactamente 30 anos, um grupo de oficiais pertencentes ao Conselho da Revolução entregava ao Presidente da República e fazia distribuir pelo País um documento que denunciava a extrema-esquerda política e militar, abrindo ainda mais fracturas no Movimento da Forças Armadas. Foi um marco decisivo para travar a influência comunista em Portugal. "Segundo justificou Vasco Lourenço, o Documento dos Nove foi um "grito de revolta" destinado a separar o Movimento das Forças Armadas da estratégia comunista".

Documento dos Nove. O diagnóstico de Melo Antunes. ESTADO."Verifica-se a progressiva decomposição das estruturas do Estado. Formas selvagens e anarquizantes de exercício do poder fora-se instalando um pouco por um toda a parte (até no interior das Forças Armadas)." MFA. "O Movimento das Forças Armadas, que inicialmente se havia afirmado como suprapartidário, viu-se cada vez mais enleado nas manipulações políticas de politiqueiras de partidos e organizações de massas, acabando por se ver comprometido com determinado projecto político (do PCP)."

ENONOMIA. "Aproxima-se o momento mais agudo duma crise económica gravíssima, cujas consequências não deixarão de se fazer sentir ao nível duma ruptura, já inicialmente, entre o MFA e a maioria do povo português." DESCOLONIZAÇÃO. " A fase mais aguda da descolonização (Angola) chega sem que se tenha tomado em consideração que não era possível "descolonizar", garantindo uma efectiva transição pacífica para uma verdadeira independência, sem uma sólida coesão do poder político."

COMUNICAÇÃO SOCIAL. "Larga parte dos meios de comunição social (sofre) de um rígido controlo partidário que sobre eles se exerce - particularmente nos nacionalizados -, assistindo-se hoje ao degradante espectáculo da corrida de uma boa parte da população aos noticiários de emissoras estrangeiras sobre o nosso País." SOCIALISMO. "É necessário denunciar vigorosamente o espírito fascista subjacente ao projecto que, dizendo-se socialista, acabará numa ditadura burocrática."


Último governo de Vasco durou menos de um mês. (foto DN 8/8/2005).


"DN 8/8/2005. 1975 Verão Quente. Logo no momento da posse, o presidente Costa Gomes anunciou ao País que seria um Governo de "passagem". Esta previsão, que deixou estupefacto o primeiro-ministo Vasco Gonçalves, confirmou-se por inteiro: antes do fim do mês, era anunciada a demissão do Executivo. Foi um dos governos mais breves de que há memória em Portugal. E também um dos mais polémicos.


Pedro Correia.

Havia dúvidas? Deixou de haver. No próprio discurso da posse, o presidente da República deixou claro que aquele era um Governo "de passagem". O primeiro-ministro Vasco Gonçalves, que não fora informado desta intervenção do general Costa Gomes, ficou perplexo. E o País testemunhou em directo essa perplexidade através das imagens da RTP. Era a investidura do V Governo Provisório - o último em que o PCP teve uma influência determinante. Faz agora 30 anos.

Este controverso Governo foi de imediato considerado "um nado morto". Por personalidades tão diversas como o lider do PS, Mário Soares, o major Melo Antunes (que liderava a ala moderada das forças armadas) e o secretário-geral do MRPP, Arnaldo Matos. Portugal estava sem executivo desde que os socialistas abandonaram a coligação governamental a 10 de Julho. Seis dias mais tarde, com a saída do PPD, o IV Governo Provisório chegou ao fim. Seguiram-se três semanas de imensas negociações para formação de um novo elenco ministerial. Vasco Gonçalves, que chefiara três Executivos desde Julho de 1974, estava politicamente ferido de morte. Mas recusava sair de cena.


Otelo com Rosa Coutinho (foto DN, 8/8/2005)

Socialistas e sociais-democratas desciam diariamente à rua, reclamando um Executivo que reflectisse os resultados eleitorais (no escrutínio para a Assembleia Constituinte, a 25 de Abril, o PS fora a força mais votada, com 38%, seguindo-se o PPD, com 26%). Na cimeira de Helsínquia, em Julho, Costa Gomes escutara severas palavras de líderes europeus contra um regime socialista decalcado do Bloco de Leste. E na véspera da posse do V Governo, nove oficiais que integravam o Conselho da Revolução tinham divulgado um comunicado que denunciava a contínua erosão do poder político e a quebra do tecido social português. (...)"

SAÍDA DE MARCELLO CAETANO

"Marcelo Caetano foi induzido pelos próprios sistemas de segurança a dirigir-se para o Quartel do Carmo, que se transformou no ponto central das operações militares. Ao princípio da tarde, Salgueiro Maia, comandante dos revoltosos no local, dispôs as forças em posição de cerco e preparou-se para a queda do último símbolo do regime. O povo de Lisboa, figurante activo e cada vez mais interveniente, respondia com crescente entusiasmo ao teor dos comunicados transmitidos e aos objectivos políticos do MFA. Do posto do comando, instalado no quartel do Regimento de Engenharia 1, na Pontinha, o MFA procurou conduzir a acção militar e pôr fim à expectativa.

Entretanto, no próprio Quartel do Carmo, efectuou-se um contacto entre o general Spínola e Marcelo Caetano, ficando deste encontro a expressão deste último ao afirmar que preferia entregar o poder a alguém que lhe desse garantias, em vez de deixar que caísse na rua. De certa forma, formalizou-se neste cenário a queda do governo, com a prisão de Marcelo Caetano e de alguns Ministros.

Ao princípio da noite, o MFA divulgou a sua proclamação, primeiro documento programático preparado antecipadamente e que continha as intenções fundamentais do movimento militar: entrega do Governo a uma Junta de Salvação Nacional, próxima difusão de um programa do MFA, restituição ao povo português das liberdades cívicas e eleição de uma Assembleia Nacional Constituinte".

http://jn2.sapo.pt/secdiv/especial/angola1.htm

MARCELLO CAETANO ENTREGOU A SUA RESIGNAÇÂO AO CAIR DA NOITE


"O Movimento da Forças Armadas emitiu às 20 horas o seguinte comunicado: "O Movimento das Forças Armadas informa que se concretizou a queda do Governo, tenho sua excelência o Prof. Marcello Caetano apresentado a sua rendição incondicional a sua excelência o general António Spínola.

O ex-presidente do Conselho, o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros e o ex-ministro do Interior encontram-se sob custódia do Movimento, enquanto sua excelência o almirante Américo Thomaz e alguns ex-ministros do Governo se encontram refugiados em dois aquartelamentos que estão cercados pelas nossas tropas e cuja rendição se aguarda para breve.

O Movimento das Forças Armadas agradece a toda a população o civismo e a colaboração demonstrados, de maneira inequívoca, desde o início dos acontecimentos, prova evidente de que ele era o intérprete do pensamento e dos anseios nacionais. Continua a recomendar-se a maior calma e a estreita obediência a todas as indicações que forem transmitidas. Espera-se que amanhã a vida possa retomar o seu ritmo normal por forma a que todos, em perfeita união, consigamos constituir um futuro melhor para o País. Viva Portugal".


General Spínola, proclamação da Junta de Salvação Nacional.
( foto Prov. Angola 26/04/1974)



PROCLAMAÇÃO DA JUNTA DE SALVAÇÃO NACIONAL


"Spínola proclamado Chefe da Nação Portuguesa e Presidente da Junta de Salvação Nacional. É a seguinte a constituição da Junta de Salvação Nacional: general António de Spínola, que preside à Junta; general Costa Gomes; brigadeiro Jaime Silvério Marques; coronel Carlos Galvão de Melo; general Manuel Diogo Neto, ausente da Metrópole; capitão de mar-e-guerra José Baptista Pinheiro de Azevedo e capitão-de-fragata António Alva Rosa Coutinho".

A formação da Junta de Salvação Nacional

Fora inicialmente acordada uma formação em que interviriam seis elementos, um de cada ramo das Forças Armadas. Contudo surgiu a necessidade de integrar um sétimo membro, pois a um deles estaria reservado o cargo de Presidente da JSN acumulando com a função de Presidente da República a título provisório. Tal desempenho estaria reservado a Costa Gomes, cabendo a Spínola a chefia do Estado-maior das Forças Armadas.

A princípio só generais integrariam a Junta por questões de hierarquia. Era fundamental que todos possuíssem estrelas nos ombros para, desde logo, se situarem em plano de igualdade com Spínola não permitindo que a ditadura militar vingasse pela mão deste general.

Spínola não aceitava a participação de qualquer general que tivesse feito parte da Brigada do Reumático. O sétimo elemento escolhido acabou por ser Jaime Silvério Marques. A par deste compunham a Junta Militar: Spínola e Costa Gomes do Exército, Pinheiro de Azevedo e Rosa Coutinho por parte da Armada e Costa Martins e Galvão de Melo em representação da Força Aérea, todos eles exibindo nos ombros as estrelas de general.

MENSAGENS DIRIGIDAS AO POVO DE ANGOLA PELOS GENERAIS ANTÓNIO DE SPÍNOLA E COSTA GOMES.


(fotos Notícia - Angola)


Santos e Castro o último Governador de Angola.
(foto Notícia-Angola)


UM GOLPE CAÍDO DO CÉU

"O 25 de Abril surpreendeu tudo e todos em Angola. Luanda vivia a vida cosmopolita de uma capital colonial, e só uma meia dúzia de dias depois, em princípios de Maio, no Zaire e na Zâmbia, os movimentos de libertação reagem ao golpe militar em Portugal, com proclamações de continuação da luta até à independência total. Ironicamente, o golpe em Portugal haveria de conceder-lhes um protagonismo que estavam longe de ter conquistado.

José Gomes

As promessas de continuação da guerra com que o MPLA, a FNLA e a UNITA reagiram ao golpe em Portugal, diga-se em boa verdade, não tiravam o sono a ninguém.

Em 1974, a luta de libertação atravessava um período crítico: o Exército português controlava militarmente todo o território - as operações tinham cessado em 1972 e a livre circulação era um facto.

Após o surgimento, em meados dos anos 60, de actividade militar no interior - O MPLA abre em 66 a Frente Leste, a UNITA ataca Vila Teixeira de Sousa, na fronteira catanguesa, em fins de 65 -, os movimentos encontravam-se minados por profundas crises internas.

Neto mandara fuzilar, dois anos antes, vários comandantes no Leste, após a revolta dos Bundas, e o movimento está recuado na Zâmbia, envolvido num debate interno para a revitalização daquela frente. Chipenda proclamara no ano anterior a cisão, em protesto contra a assinatura, por Neto e Holden Roberto, do inesperado acordo para a criação do Conselho Supremo para a Libertação de Angola.

Mais tarde, já em 74, mas ainda antes do 25 de Abril, virá a surgir uma outra facção, a Revolta Activa, propondo amplo debate para a redefinição da estratégia da luta de libertação.
Pelo lado da FNLA, as coisas não estavam melhores. Apesar de se saber que o movimento, com apoio de Mobutu, estava a formar no Zaire um exército de 9.000 homens, treinado por instrutores chineses e bem armado, Holden Roberto estava precisado de quadros dirigentes. Mandara fuzilar, após a revolta de Kinkuzo, no Zaire, em princípios de 72, dezenas de oficiais do seu Estado-Maior, e vários outros haviam fugido para Brazzaville.

A UNITA encontra-se no interior, abaixo da linha do caminho-de-ferro de Benguela, sem actividade militar conhecida".

http://jn2.sapo.pt/secdiv/especial/angola1.htm

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