Frelimo pós-X Congresso!

 

Reflexão de Adelino Buque
O X Congresso do Partido Frelimo mostrou aos moçambicanos e ao mundo a face da democracia em África.
Este Congresso mostrou, de forma clara e inequívoca, que a Frelimo é democrática e que os delegados têm poderes bastantes para fazer cair ou subir um e outro membro do partido. Deste modo, o X Congresso do Partido Frelimo permite tirar lições claras de como se exerce o poder através do voto, lição a ser levada em conta pela sociedade moçambicana no geral. É importante, aqui e agora, recordar que, em processos eleitorais, os candidatos valem pela sua inserção nas bases ou seja no seio do povo.
As grandes surpresas de Pemba
O X Congresso da Frelimo trouxe muitas surpresas, dependendo do ângulo de análise, agradáveis ou desagradáveis. Pessoalmente, prefiro encará-las, simplesmente, como surpresas. Claro, para mim, uma das surpresas é a posição que ocupou o Dr. Eneas Comiche, mantendo-se não só no Comité Central como renovando o mandato na Comissão Política do Partido, órgão de decisão entre as sessões do Comité Central. Se ontem o Dr. Eneas Comiche não serviu para a cidade de Maputo, ou seja, o Comité da Cidade não o elegeu, a nível nacional
Comiche revela-se uma peça-chave no desenvolvimento das políticas do país. Não sei se o Comité da Cidade terá a coragem de felicitá-lo, mas devia fazê-lo! No sentido oposto ao de Comiche, na minha perspectiva, está, sem dúvida, a saída da Dr.ª Luísa Diogo da Comissão Política.

Para um fã declarado, o melhor é ficar por aqui. Tive pena do sucedido.

Em alguns círculos, o demitido Primeiro-ministro era tido como sucessor por opção de Armando Guebuza.

Aires Aly até teve oportunidades sem paralelo para interagir com os militantes do partido a vários níveis, mas, como referi acima, os delegados não tiveram a mesma percepção e o homem caiu, por isso saiu da Comissão Política. Pode ser que ele não tenha sabido capitalizar as oportunidades que lhe foram servidas de bandeja. Foi, sem dúvida, uma das surpresas de Pemba. Teodoro Waty, que chefia a 1.ªcomissão na Assembleia da República, foi outra surpresa. Nem me atrevo a especular sobre as causas dessa queda. Se terão a ver com alguns dossiês adstritos nesta Comissão da AR ou com dificuldades de interacção com as bases do partido, só os delegados saberão! Em contrapartida, a ascensão de Valentina Guebuzafoi uma das surpresas agradáveis. Sou contra a sua penalização porque ser filha do chefe do partido. Celso Correia “idem”. Em contraposição, a saída de Jorge Rebelo e Jacinto Veloso foi outra surpresa. É verdade que, em processos eleitorais, as pessoas fazem o seu trabalho para merecerem a eleição. Contudo, na minha opinião, e isto expressei faz muito tempo, existem pessoas que, pela sua história, deveriam ter um lugar cativo no Comité Central do Partido. Que se adopte o título de membro honorário ou outro, mas seria uma espécie de galeria dos históricos do partido. Esta reflexão é importante se é que a Frelimo pretende manter a sua história, porque, neste processo, um dia todos os históricos estarão fora! Jorge Rebelo marcou, de forma indelével, a Frelimo na 1.ª República.

Estejamos de acordo ou não com ele, a verdade é que marcou e isso é que é importante. A diferença de opinião em relação a determinados assuntos não devia penalizar as pessoas que muito se dedicaram à causa do Partido e da Nação.

A manutenção do Dr. Eduardo Mulémbwè, uma figura que esteve envolvida na controversa casa protocolar da Assembleia da República, é outra surpresa. Provavelmente, em surdina, Mulémbwè deveria agradecer ao grupo SOICO que, através do jornal “O País”, fez a seu favor uma campanha gratuita. Como qualquer político, não interessa a forma como lá chegou, o importante é que lá está, isso no caso de ignorar que o facto de ter sido capa do jornal distribuído aos delegados deu-lhe um empurrãozinho. Seja como for, o exame de consciência deve ser feito por Mulémbwè, devendo agir em conformidade com a sua consciência. A entrada do Dr. Alberto Vaquina e Carvalho Muária não estava nas minhas conjecturas. Esta entrada para o topo da estrutura da Frelimo é uma grande surpresa para mim. Existem casos de figuras que, na minha opinião, deveriam ter concorrido a vagas no Comité Central. Refiro-me à Dr.ª Maria Helena Taípo, Ministra do Trabalho, e Zucula, dos Transportes e Comunicações. São figuras que, não constando nas listas, significa que nem sequer concorreram, o que é uma pena, porque o desempenho, por exemplo, da Ministra do Trabalho permitiria aumentar os índices de confiança e, sem dúvida, passava como a defensora das causas nobres e do orgulho da moçambicanidade, essa moçambicanidade que, vezes sem conta, é violentada por violações das regras de convivência e paz laborais. Helena Taipo é uma grande surpresa para mim por não ter concorrido ao Comité Central.

Para terminar as surpresas, a supremacia conseguida pelo secretário-geral e secretário para a Mobilização e Propaganda é um indicador suficiente de que agarraram a máquina com as duas mãos, apesar de no decurso da última sessão do Comité Central algumas figuras se terem distanciado de alguns pronunciamentos seus.

Afinal, o homem estava no caminho certo.

O resto, as remodelações governamentais que foram operadas e outras que possam acontecer são consequência do pós-Pemba que, acredito, muitos dados serão mexidos ainda no “tablier”.

Resta desejar a todos os militantes e membros da Frelimo, eleitos e não eleitos, boa sorte na sua vida privada, porque na vida existem muitas formas de participação. Dentro ou fora do partido, o importante é trabalhar para o engrandecimento de Moçambique, elevando a auto-estima dos moçambicanos.

CORREIO DA MANHÃ – 15.10.2012