No
momento em que decorrem eleições em Moçambique, às quais concorre,
corajosamente, um filho do Reverendo Urias Simango, assassinado pela
FRELIMO no dia 25 de Junho de 1977, gostaria de recordar aqui a forma
cobarde como aconteceu mais este atentado à democracia que havia sido
"prometida" a um Povo mártir, que apenas anseia por viver a sua
liberdade em paz.
Depois
dos "julgamentos" acontecidos em Nachingweia no mês de Março de 1975,
em que os réus foram condenados a uma pena que nem sequer constava dos
Códigos Penais em uso no País, como é o caso da pena de REEDUCAÇÃO, os
condenados foram sendo "transferidos" para Moçambique, para o Centro de
"Reeducação" de M'teleia, no distrito de Majune.
Foram
mais de 200 prisioneiros, apelidados pela FRELIMO como "GRUPO dos
REACCIONÁRIOS", entre os quais se contava o Reverendo Urias Simango,
Paulo Gumane, Lázaro Kavandane, a Drª. Joana Simeão, o Dr. Arcanjo
Faustino Kambeu, Júlio Razão Nihia e Adelino Guambe, entre tantos
outros, que para ali foram em Novembro de 1975.
Para
o mesmo Centro de "Reeducação" de M'teleia, instalado no antigo quartel
do Exército Português de Nova Viseu, cujo director era um veterano
guerrilheiro da Luta Armada de Libertação Nacional, que havia sido
"recrutado" na Zâmbia, foram igualmente enviados o Padre Mateus Pinho
Gwenjere e Raúl Casal Ribeiro, que havia sido adjunto do Comandante
Filipe Magaia, até ao momento em que, por causa do assassinato deste,
resolveu abandonar a FRELIMO e radicar-se no Norte da Tanzânia,
juntamente com a família.
Sabe-se que o governo da Tanzânia, acedendo a um pedido de Samora Machel, prendeu Casal Ribeiro e entregou-o à FRELIMO.
O
comandante do campo tinha fama - e o proveito, acrescente-se - de ser
um homem cruel, sendo o homem certo, na convicção dos dirigentes da
FRELIMO, para tomar conta de pessoas de antemão destinadas a morrer
extrajudicialmente, porque estes como muitas dezenas de outros cidadãos
moçambicanos eram "perniciosos" para as ambições dos novos senhores do
País.
Dos
cerca de 1.800 prisioneiros que passaram pelo famigerado Centro de
Reeducação, não chegaram a uma centena aqueles que escaparam com vida.
Os
chamados "reaccionários" foram colocados em celas individuais, onde
apenas duas vezes por semana lhes era permitido vêr a luz do dia, o que
acontecia entre as 8 e as 11 horas, devidamente acompanhados por
sentinelas fortemente armadas. Comiam, dormiam, faziam as necessidades
dentro da cela. Aos Domingos, apenas dois prisioneiros eram autorizados a
receber a visita das esposas. Eram estes o Revº. Urias Timóteo Simango,
que recebia a esposa Celina durante 15 minutos, e Raúl Casal Ribeiro,
que podia estar o mesmo tempo com a esposa Lúcia Tangane. Os outros
prisioneiros apenas podiam contactar a família através de carta... que
era devidamente censurada antes de seguir o destino, pois não podiam
sequer mencionar o local onde se encontravam. Podiam dizer apenas que
estavam num Centro de Reeducação, sendo tolerado, tempos depois, que
nomeassem a Província do Niassa.
Os
homens da SNASP, afectos ao governo provincial do Niassa, tratavam de
abrir toda a correspondência que entrasse ou saísse do Centro. Por
vezes, certamente por descuido, lá ia uma carimbadela a denunciar o
governo da Província do Niassa. Era como se fosse uma franquia aposta no
correio.
- CONTINUA -