As recentes
declarações dos históricos da Frelimo sobre as circunstâncias da morte
do antropólogo Eduardo Mondlane a 3 de Fevereiro de 1969 em
Dar-es-Salam, longe de trazerem novos dados susceptíveis de conduzir a
ajuizamentos dos factos tal e qual se passaram, adensam ainda mais a já
per si confusa história da Frente de Libertação de Moçambique.
Mesmo que
se tenha em conta que a capacidade de sustentar mentiras históricas num
País repousa sempre no poder que os protagonistas dessas mentiras
possuem de deter o “poder supremo” de mentir oficialmente, existe hoje
em Moçambique uma crescente tendência da história ser reescrita dada a
aversão ao rigor histórico das mentiras que nos foram inculcados.
E a
ter que existir um culpado no desmoronar da supremacia da mentira
oficial, esse culpado chamar-se-à sempre Frelimo e não outra coisa,
pois, muito convencida, no seu materialismo dialéctico, a Frelimo achou
que evolução das espécies na perspectiva darwiniana havia parado, a
partir da altura em que ela própria se assumiu como poder em Moçambique.
Existe um facto pouco explorado pelos pesquisadores da história recente
de Moçambique, facto esse que repousa na natureza sociológica do
movimento de libertação moçambicano.
Embora saibamos que um minucioso estudo nessa direcção ajudaria
muitos a perceberem tanto as diversas crises que grassaram na Frente de
Libertação de Moçambique (FRELIMO) como a encontrarem uma luz de pistas
susceptíveis de conduzir aos verdadeiros assassinos de Mondlane, o
propósito do artigo de hoje é outro. Queremos pôr no lavatório público
algumas sujeiras que Sérgio Vieira atira inadvertidamente na praça
pública sempre que lhe dá na gana.
Não nos ocuparemos de pessoas que
aparentam ser um mal menor, como os senhores Jorge Rebelo e outros que,
quando muito, “sujam as fraldas em público” uma vez em dez anos. Durante
longos anos, porque era preciso transformar as mentiras em verdades
absolutas, Sérgio Vieira e seus comparsas venderam aos moçambicanos a
imagem duma FRELIMO com características de um governo dentro de um outro
governo enquanto movimento de libertação no interior do território
tanzaniano.
Esta visão simplista induziu à maioria das pessoas
(inclusivamente até à “grandes historiadores do País) a imaginar uma
FRELIMO muito bem organizada e com muitas semelhanças a um governo de um
Estado, onde ao Presidente da República só chega o que passa por um
crivo de vigilância da sua guarda. Na verdade, os dados ilustram o
contrário, e para descortinar isso, basta recorrer-se ao comportamento e
conduta do próprio presidente Eduardo Mondlane, que o resto
esclarece-se por si próprio.
Tal como a rebeldia de certos jovens contra
a disciplina imposta pelos seus progenitores nos tempos modernos,
Mondlane era um homem pouco dado a vigilantes à sua volta, apesar de
saber que dirigia um movimento de massas contra um regime do tamanho do
de Salazar. Gostava de viver como um pássaro livre, e muitas vezes assim
se comportava em convívios, passeios e viagens pelo mundo.
Tal é assim
que foi ao encontro da morte na casa da Betty King naquela manhã do
fatídico dia 3 de Fevereiro completamente sozinho, conduzindo,
pessoalmente, o seu carro, e sem batedores e nem sirenes a anunciar a
passagem pela estrada de um grande “Presidente da República de
Moçambique”.
Sempre que o podia, Mondlane, ia, ele próprio, buscar os
filhos na escola, aproveitando todo o momento que lhe sobrava para com
eles brincar, tanto na praia como em casa e outros locais de diversão
infantil. Como qualquer pai, Mondlane amava os seus filhos, e não
gostava que a sua vida de politico interferisse na sua vida privada.
Entre 1965-66, por diversas vezes, pessoas como Silvério Nungu e Simão
Serapião (este último está vivo, e entre nós aqui em Moçambique), em
reuniões do Comité Central, debalde, não se cansaram de propôr ao
Presidente que toda a correspondência dirigida a si fosse aberta pelos
responsáveis da administração do Movimento, então encabeçada pelo
próprio Nungu.
A proposta, levantada em plenárias do Comité Central e
testemunhada por muitos, longe de surgir pensando-se na segurança de
Eduardo Mondlane, visava, simplesmente, evitar demoras na tramitação de
algum expediente, pois, uma vez que a maioria de cartas e encomendas
destinadas à Frelimo vinha em nome pessoal do próprio Presidente do
Movimento, era preciso encontrar mecanismos para que a “máquina” não
parasse sempre que este estivesse ausente de Dar-es-Salaam. Em todos os
momentos, apoiado por alguns no interior do Movimento, Eduardo Mondlane
opôs-se energicamente à esta proposta.
E a recusa, longe de
circunscrever-se apenas numa estratégia de má-fé por parte do próprio
Mondlane – segundo se pode perceber – repousava fundamentalmente na
sensibilidade da informação que alguma correspondência continha. A
abertura de tal correspondência e sua leitura, implicava, para quem
fosse incumbido dessa missão, conhecer, “na essência”, as linhas com que
se cosia não só a vida do Movimento em si, mas também do próprio
Presidente e dos seus contactos no exterior.
Dado que desde a fundação
do Movimento desenvolveu-se no seu interior um curioso fenómeno que se
caracterizava por conflitos e fingimento absoluto (com todos a serem
amigos de todos, e todos inimigos de todos), alguns amigos dos amigos de
uns na época, acharam, que aquela atitude de Mondlane era razoavel,
pois, não ia então um Silvério Nungu, ou qualquer “fofoqueiro”, conhecer
dados susceptíveis de “perigar” a chefia do “grande herói”.
Porém, a
verdade, demonstraria que Mondlane havia se esquecido duma coisa
fundamental: a sua “liberdade pessoal” havia deixado de existir a partir
da altura em que aceitou dirigir os destinos de milhares de
moçambicanos, então em rixa contra Salazar e seu regime.
Por ironia do
destino, aquando da sua morte à 3 de Fevereiro, em conversa telefónica
com Serapião então a estudar fora do território tanzaniano, uma
funcionária afecta no escritório da FRELIMO em Dar-es-Salaam, não só
lamentaria a morte do Presidente como acabaria afirmando: “Se o
Presidente tivesse aceite aquela tua proposta e de Nungu, de abrir-se
aqui tudo o que vinha em seu nome, quem morreria era eu.
A bomba passou
pelas minhas mãos!…”. A ilustração de que em todo o momento a
correspondência vinda do exterior para o Movimento era dirigida
directamente ao cuidado dos dirigentes do próprio Movimento pode, nos
dias de hoje, ser vista via Internet no blog Aluka.
Entre cartas que dão
conta de valores monetários colectados por simpatizantes da FRELIMO no
exterior e enviadas ao Instituto Moçambicano, existem arquivados nesse
blog documentos que provam que alguma correspendência continha
informações susceptiveis de atiçar conflitos, se fossem de domínio
público.
Mas há uma questão que não é de somenos importância: se
Mondlane instruisse seus amigos no exterior para usarem um endereço que
não fosse o da Sede da FRELIMO em Dar-es-Salaam, para assuntos que
diziam respeito a vida da Organização na Tanzania, corria um sério risco
de ser desconfiado, de desencaminho dos apoios ao Movimento, pois nada
garantia aos doadores que tudo chegava intacto ao destino. Por outro
lado, jamais, os doadores, podiam imaginar que a FRELIMO fosse um poço
de problemas, e que só Mondlane é que abria pessoalmente a
correspondência dirigida à FRELIMO em seu nome.
Que alguém no interior
da FRELIMO tenha-se aproveitado desta situação para eliminar Mondlane,
até pode. Todavia, até aos nossos dias, essa teoria, não passa de
matéria de especulação, e de dificil comprovação, pois embora Nungu
tenha sido alvo de desconfiança por parte de alguns que se julgavam
“mais amigos” de Mondlane, em nenhum momento a polícia tanzaniana provou
o envolvimento de Nungu no enredo.
Tanto é assim que Nungu continuou
livre na Tanzania até que a FRELIMO lhe alicia a ir para Cabo-Delgado a
fim de ajudar na organização da administração nas “zonas libertadas”,
acabando matando-o selvaticamente. O que fica claro é que a
pré-concepção de ideias de maldade, por parte de Mondlane em relação a
alguns dos seus camaradas, desde o início do Movimento, acabou-lhe
levando à uma morte trágica, pois confundiu as circunstâncias duma
pessoa qualquer e dum líder de um movimento rebelde.
Sérgio Vieira e a
trajectoria de livro-bomba Na sua abitual “carta a muitos amigos”
(DOMINGO n°1412, de 8/2/2009) Vieira traça uma suposta trajectória da
bomba que deu fim a vida de Eduardo Mondlane. Fâ-lo com mestria , desde a
sua origem (Beira, naturalmente, a terra dos reaccionários) até ao
território tanzaniano.
Cita nomes de muita gente, dentre os quais o
sacerdote belga, Padre Pollet, Pombeiro de Sousa, Jorge Jardim, Orlando
Cristina, Samuel Dhlakama, Silverio Nungu e Uria Simango. Todas estas
pessoas estão mortas e, portanto, incapazes de virem em socorro de seus
nomes. Vieira induz os seus leitores a concluirem que entre essas
pessoas havia umas que sabiam do conteúdo da encomenda que vitimou
Mondlane, e outras não. Seus alvos são bem definidos na carta que
escreve aos “seus amigos”: Uria Simango e Silvério Nungu.
Dispensando o
“deslize” dos manuais da história oficial sobre o local da morte do
Presidende – que nem sequer foi despoletado por jornais como muitos
imaginam – o esforço de montar uma trajectória do livro-bomba que
vitimou Mondlane não deixa de ser uma tentativa de procura de
consolidação duma mentira no desespero da causa, na sequência dos ventos
de mudança que o País atravessa; ventos muito fortes – parece-nos –
susceptiveis até de demolir as mentiras oficiais dos então garantes das
amordaças de ontem.
Vieira mente em tudo quanto diz. É um homem
extremamente perigoso, pouco dado a convivência com quem com ele não
comunga ideias. Na verdade, jamais esteve em frente de alguma “Comissão
de Inquérito” no território tanzaniano desde o fatidico dia 3 de
Fevereiro de 1969.
A
ter existido tal comissão por si chefiada, esta terá apenas sido
montada as pressas a partir de 1975 no âmbito do travesti julgamento
ensaiado por ele e Samora Machel em Nachingwea, contra o Rev.Uria
Simango e outras pessoas que tiveram a pouca sorte de cairem nas suas
garras. Se a memória não nos engana, Vieira havia sido expulso do
território tanzaniano nos meados de 1968. Metido num avião em Nachingwea
onde estava em treinos militares, por “suspeita” de colaboração com o
regime colonial português na Frelimo, foi, por ordens das autoridades
tanzanianas, enviado a Dar-Es-salam.
De seguida, chegado àque la capital
tanzaniana, Vieira foi imediatamente expulso do território tanzaniano,
acabando por exilar-se no Cairo. Não sabemos com que carga de problemas
saiu Vieira de Cairo. Todavia, tempos depois, acabaria se juntando à
outros expulsos da Tanzania então acoitados em Argel, e aí permaneceria
até aos inícios da década de 70.
Facto interessante é que se Vieira
manteve-se ao serviço da FRELIMO no forçado exílio no Cairo e Argel por
vontade não só de Eduardo Mondlane, como também de de Uria Simango e de
outros no CC, a sua longa permanencia nesse exilio teria fim apenas
depois da morte do Presidente.
Coronel de balas nunca disparadas, Vieira
regressaria definitivamente à Tanzania (se a memória não nos engana de
novo), exactamente em 1971 e se restabelece no interior da Frelimo
apenas quando a chamada “carga impura” no interior daquele movimento
havia sido expurgada, com Marcelino dos Santos e seus títeres então como
senhores absolutos da situação no terreno.
Tal como muitos, tudo o que
Vieira sabe da morte de Mondlane é por fontes orais e alguns escritos
selecionados a dedo entre o que se enquadrava na visão do materialismo
dialéctico expurgante que caracterizou o seu mestre-mor, Dos Santos, nos
momentos da luta pela sobrevivência após a morte de Eduardo Mondlane.
Cái nos mesmos erros que muitos de nós. Um dia, no nosso inglês
desenrascado, tendo confundido a palavra stamp (carimbo) com postage
stamps (selos), escrevemos, em livro, que o embrulho da encomenda-bomba
que matou Mondlane vinha com selos da União Soviética. Quarenta anos
depois, o bom do Sérgio Vieira, que se supunha inveterado conhecedor do
dossier “assassinato de Mondlane”, tropeça no mesmo erro que nós, e
escreve: “Tratava-se de um volume, com a forma de um livro, embrulhado
sob a forma de um livro, com selos soviéticos e tanzanianos, e
endereçado ao Presidente”.
Afinal, a Comissão de Inquérito chefiada pelo
coronel Vieira teve ou não acesso a própria encomenda, reconstituida?
pois a CID tanzaniana, chefiada por Geoffrey Sawaya, reconstituiu os
destroços, e só foi dessa maneira que percebeu que a encomenda não tinha
selos nenhuns, mas apenas carimbos de Moscovo. No seu regresso do
segundo exílio forçado, Vieira encontrou Samuel Dhlakama em plena função
das suas responsabilidades no movimento de libertação.
Em nenhum
momento Dhlakama foi interrogado por Vieira sobre a morte de Mondlane.
Por inerências da sua função de Secretário para a então Próvincia de
Manica e Sofala, Dhlakama viajava regularmente para o Malawi,
coordenando a evacuação dos refugiados provenientes do Centro do País
que regularmente utilizavam aquele País como porta de saída para se
juntarem à luta naTanzania. Não negamos que Dhlakama possa ter conhecido
o anti-fascista Padre Pollet. De resto, Vieira também o conhecia.
Negamos apenas que Vieira faça dos moçambicanos uns parvos, porque nem
todos temos mentes doentias e maquiavélicas como a sua.
A PIDE não era
amadora para entregar a um inimigo do regime (o Padre Pollet) uma
encomenda-bomba que seguir ia um percurso tão sinuoso e perigoso
(Blantyre-Songea-Dar-es-Salaam), capaz de pôr a cabala à descoberto. A
acontecer isso, Caetano não hesitaria em mandar fuzilar, por manifesta
incompetência, António Vaz, então chefe da Delegação da PIDE em
Moçambique.
Mas, competente que é o então secretário do Departamento de
Segurança da Frelimo, não é estranho que a “Comissão de Inquérito” por
si dirigida tenha concluido que a bomba que matou Mondlane tenha
passeado pelas mãos do Padre Pollet (que ía à Songea), Samuel Dhlakama,
Silverio Nungu e Uria Simango. O que é estranho é Geoffrey Sawaya, então
director da CID, não tenha chegado à mesma conclusão. Na verdade, vindo
de Malawi – onde regularmente se deslocava em missão da FRELIMO – em
nenhum momento Dhlakama entrou ou saiu do territorio tanzaniano por via
Niassa para atingir Songea.
Só o faria se fosse louco, atravessando um
grande lago como o Niassa com dezenas de pessoas sob sua guarda,
susceptiveis de serem capturados antes de atingirem o rio Rovuma. Sempre
que o fazia, era pela fronteira de Tunduma que está na ponta norte do
Malawi, separando este país da Tanzania e Zâmbia. Atingido o território
tanzaniano, Dhlakama, habitualmente, dirigia-se imediatamente a Mbeya
onde permanentemente residia a sua esposa e filhos.
Em Fevereiro de
1969, Samuel Rodrigues Dhlakama atravessou a fronteira de Tunduma, vindo
do Malawi para Tanzania, exactamente no dia 1. Contava seguir para
Dar-es-Salaam no dia 2 de Fevereiro para conferênciar com Eduardo
Mondlane e pôr-lhe a par da situação dos refugiados que vinham por
aquela via juntar-se à luta e do trabalho da clandestinidade então sob
controle de Dique Chipare e outros no Malawi.
Infelizmente, Dhlakama não
o faria simplesmente porque no dia 2, a
sua esposa, Sra. Francisca Dhlakama, teve uma queda que lhe entorceu a
coluna vertebral ao sair da casa das meninas grávidas (vindas do
Instituto Moçambicano e outros locais) então sob sua protecção em Mbeya.
Samuel Dhlakama tomaria conhecimento do assassinato de Mondlane pelo
noticiario da Rádio na noite de 3 de Feveriro e seguiria para
Dar-es-Salaam no dia 4 de Fevereiro, na companhia de Manuel Bernardo
Mumba, outro combatente que o Departamento de Segurança da Frelimo
dirigida por Vieira mandou matar fora das barras dum tribunal. Sérgio
Vieira pode dizer tudo o que lhe passa pela cabeça hoje, porque as
pessoas que visa não podem responder.
Pode até forjar documentos à
posterior, tanto no País como fora, e fazé-los passar por autênticos,
pois tem ainda o privilégio de mentir oficialmente. Porém, compulsados
os arquivos existentes em torno das circunstâncias da morte de Mondlane,
conclui-se que a própria polícia tanzaniana ocultou a verdade ou nadou
em águas turvas por falta de provas bastantes contra seja quem for.
Embora se tenha especulado que a bomba havia sido fabridada no exterior
do território tanzaniano por ostentar baterias não disponiveis no
mercado local, a policia tanzaniana não descartou a possibilidade dos
explosivos e o detonador provirem dos stocks de armamentos sob controle
da própria FRELIMO, e da bomba ter sido montada no próprio território
tanzaniano.
Em relatório ao então Se cretário de Estado norte americano,
datado de Abril de 1969, entre várias coisas que relata sobre os
problemas na FRELIMO e a morte de Mondlane, Thomas L. Hughes afirma:
”Parece bastante certo agora que a livro-bomba que matou Mondlane foi
feito localmente e, provavelmente, introduzido localmente no sistema do
correio tanzaniano”.
Na verdade, embora a hipótese de ter havido
cérebros da PIDE naquele crime nunca tenha sido posta de lado, nunca as
autoridades tanzanianas chegaram a traçar uma trajectória da bomba
semelhante à de Vieira, senão que a encomenda foi postado em
Dar-es-Salaam e chegou ao escritorio da Frelimo no dia 1 de Fevereiro. A
ter interrogado o Padre Polet sobre esta matéria, Vieira fê-lo apenas
em 1971 ou nos anos subsequentes, antes da morte daquele padre, pois,
expulsos os padres brancos de Moçambique (em 1971), Pollet viveu alguns
anos na Tanzania.
Embora Chissano, Raimundo Simango, Panela, Marcelino e
Betty King tenham sido detidos, uns por algumas horas, e outros mais
alguns dias, o que lhes impossibilitou de assistirem às exéquias
fúnebres de Mondlane à 6 de Fevereiro (encabeçados por Simango,
sublinhe-se, e não por Samora Machel ou Marcelino dos Santos), a policia
tanzaniana demorou a perceber que a bomba vinha armadilhada num livro.
Segundo declarações de um funcionário da Embaixada dos Estados Unidos
expedidos por telegrama no fatídico dia 3 a
partir de Dar-es-Salaam, suspeitou-se que a morte de Mondlane fora
causada por uma bomba colocada na casa de Betty King. A despeito da
imprensa local afirmar que a casa havia sofrido danos avultados com a
explosão, a própria dona da casa (Betty King) afirmaria ao embaixador
americano em Dar-es-Salaam que a casa não-se estragou tanto como se
propalava pela imprensa.
“A bomba destruiu o corpo de Mondlane, m as
somente deixou um buraco na cadeira onde se supõe que Mondlane sentou
antes da explosão – disse King. Esta situação deu azo a especulações
diversas, mormente a da bomba ter sido colocado debaixo da cadeira.
Betty King seria preso não só porque o crime ocorreu na sua casa, mas
também porque de início se suspeitou que mais do que ninguém, somente
ela sabia em que lugar da casa e cadeira sentava habitualmente Mondlane.
A descoberta final de que a bomba “vinha armadilhado num livro”
constituiu um alibi bastante para ilibar King, pois tendo Mondlane
trazido a encomenda de fora daquela casa, só um “profeta de Deus”
poderia adivinhar que Mondlane não a abriria antes de chegar ao seu
destino.
E é estupidez aqui confundir namorados e amantes com maridos,
como o faz Sérgio Vieira. Todo o mundo sabe que antes da morte de
Mondlane Betty King vivia sozinha e não tinha marido nenhum que se
chamasse Willy Sunderland, como o afirma Vieira.
Contrariamente ao
Director da CID, que investigou o caso, Vieira nem sequer viu o estado
em que ficou o corpo de Eduardo Mondlane após a explosão, para hoje
afirmar que “ao abrir o pacote a armadilha funcionou, matando Mondlane
instantaneamente, a bomba dilacerou-lhe o torax”. Muito menos teve, o
coronel, acesso aos destroços do próprio engenho.
Pouco depois da
explosão, Sawaya deslocou-se na companhia de Aly Mafude e outros quadros
ligados as forças de defesa e segurança ao local para a primeira
peritagem. De seguida, mandou deter algumas pessoas que estão hoje vivas
e em convivência connosco nesta sociedade. Em nenhum momento fê-lo em
relação a Samuel Dhlakama, Silvério Nungu ou Uria Simango.
Contrariamente à Nungu e Simango que tiveram que prestar algumas
declarações de rotina, Dhlakama nem sequer foi interrogado pela polícia
tanzaniana. Viria apenas a ser interrogado 10 anos depois da morte de
Mondlane em Maputo por uma suposta Comissão de Inquérito que tinha à
testa Sérgio Vieira. E isso já é outra história.
Dhlakama foi preso pelo
SNASP – certamente a mando de Vieira – no dia 1 ou 2 de Fevereiro de
1979, numa tentativa de forjar um dossier sobre a morte de Mondlane,
passados 10 anos depois do seu assassinato. Permaneceu 12 dias numa casa
do SNASP algures por aqui, e 18 dias nas masmorras da Cadeia Central da
Machava, depois de ter feito parte da Comissão encarregue da construção
da Cripta dos heróis e da preparação da transladação dos seus restos
mortais para Maputo.
Chegado a hora do grande dia, tudo fez Vieira e sua
camarilha para evitar que Samuel Dhlakama estivesse presente na cripta
que ajudou a erguer, pois, 3 de Fevereiro de 1979, era o dia
estabelecido para que os chamados “herois”, entrassem, definitivamente,
na praça a eles destinado em Maputo. No seu regresso do exilio forçado
em Cairo e Argel, Vieira encontrou Samuel Dhlakama na Tanzania
desempenhando a função de Secretário de Manica e Sofala, coadjuvando
cumulativamente a chefia do Departamento de Organização Interna do
movimento, então sob chefia de Mariano Matsinhe.
Aquando do governo de
transição, em 1974-75, Dhlakama viria a ser nomeado Secretário de Estado
de Saúde. Findo esse período, desempenhou diversos cargos, entre os
quais, o de Director do Hospital de Mavalane. E contrariamente à
obras-feitas que se caracterizam por crimes contra a humanidade, como as
protagonizadas por Vieira e seus comparsas, Dhlakama deixou como legado
um grande pomar de mangueiras que circundam hoje aquele hospital, que
pode ser vistas por todos os que pela estrada passam ou vão aquele
hospital.
Segundo relataria o próprio Dhlakama, a primeira vez que ouviu
o seu nome associado à morte de Mondlane foi pela boca do coronel
Sérgio Vieira que, torturando-o psicologicamente, queria que confessasse
que transportou a bomba que matou Mondlane de Blantyre à Dar-es-Salaam,
aquando da sua detenção. Vieira afirma no seu artigo que imediatamente
após a sua chegada à Dar-es-Salaam “Samuel Rodrigues Dhlakama telefonou a
Nhungu, que lhe marcou um encontro num quarto de hotel que ficava junto
à representação do MPLA em Dar-es-Sallaam”. E que “Dhlakama entregou o
embrulho a Nhungu, que estava acompanhado por Simango”.
Ora, esta
afirmação, cheia de suposições de dificil negação pelos visados, porque
mortos, ilustra não só a falta de ética e “educação de berço” por parte
do seu autor, como, também, procura chamar os moçambicanos de
“invertebrados mentais”, capazes de acreditar em qualquer porcaria desde
que essa sáia de quem se assume como dirigente, pois, amigos que eram e
“exímíos conspiradores” contra o grande líder da linha correcta como a
Frelimo propala, nada impedia a Nungu, Simango e Dhlakama de se
encontrarem na casa de um deles para conspirarem à vontade como era
apanágio dum certo grupo numa famosa casa em Oyster Bay.
E a história de
encontro num quarto de hotel da autoria de Sérgio Vieira, não soa menos
ridícula do que aquela que um certo juiz nos nossos tempos mandou
passear, acabando por ilibar pessoas dum crime que, em tudo , aparenta
provir de mentes férteis como à do nosso Coronel. É preciso não ter
vergonha na cara para acusar pessoas que não se podem defender.
Vieira
fâ-lo para justificar a sanha assassina que ele próprio e seus camaradas
montaram. Não pode ser verdade que Simango tenha telefonado à Lázaro
Kavandame no dia 1 de Fevereiro. Kavandame havia sido expulso da Frelimo
a 10 de Janeiro e vivia praticamente em parte incerta pois receava ser
preso na sequência do assassinato de Paulo Samuel Kankhomba.
Não sabemos
se na época, na mentalidade tacanha de Vieira já existiam telefones
celulares, mas conhecida que era a dificuldade de conversasão telefónica
na época, a palavra de Sérgio Vieira será sempre contra a nossa, e
vice-versa, pois nem Simango, nem Kavandame e nem as testemunhas
arroladas pela suposta Comissão de Inquerito vivem para se defenderem da
fúria deste caudilho da maldição. Vieira mente quando afirma que a
bomba dilacerou o torax de Mondlane.
Na verdade, os ferimentos mais
demolidores que vitimaram Mondlane foram da região abdominal para baixo e
não para cima como o Coronel diz. A hipótese da policia tanzaniana é de
que Mondlane estaria sentado à mesa e com o embrulho sobre o colo. Ia
abrindo a encomenda quando se dá a explosão. Podemos até apostar que à
nenhuma Rosária a “Comissão de Inquerito” dirigida por Vieira alguma vez
ouviu.
Segundo informações existentes, essa senhora vive e pode ser
arrolada como testemunha em qualquer tribunal, se Vieira assim o
desejar. E nem precisamos de consultá-la para perceber que Vieira cita o
seu nome apenas por saber que ela e o marido são simpatizantes da
Frelimo e membros da primeira hora que escaparam da purga, portanto,
pessoas capazes de virem em socorro da sua teoria.
Não é a primeira vez
que Vieira sái à rua com suas babozeiras. Gorada a hipótese de conter a
inquirição em torno de seus crimes, Sérgio Vieira esforça-se agora por
tornar perenes as suas mentiras históricas, justificando assim os crimes
que, mesmo cometidos num determinado contexto histórico do país, jamais
deixaram de ser repugnantes.
Africanamente falando, a estar já no auge
de tormentos com os espíritos das suas vítimas, pensamos que é altura de
Vieira resolver seus problema com os sobrevivos de Nungu, Casal
Ribeiro, Simango e outros, pois de contrário, corre o risco de legar
seus problemas aos seus filhos e netos. Que consulte nhamussoros e
n’hangas lá em Moatize e Chifunde onde parece que o Coronel gosta de
passear à coberto dum suposto grande projecto de desenvolvimento do Vale
de Zambeze.
E que pergunte o preço a pagar pelas vidas roubadas, pois
em Machanga, Mambon e e outros locais aqui em África, há “nvukos” que
perseguem pessoas na “RDA”, China e américas. Que pergunte ao país real,
em Machanga, Maonga ou Maropanhe, quem foi Mutchotchotwa, quem nem
sequer o país de muitos de nós conheceram, mas que hoje, filhos, netos e
bisnetos, são obrigados a “pagar tributo”, pelo simples facto de
pertencerem a linhagem sanguínea de quem bebeu da água do poço onde,
inadvertidamente, foi, Mutchotchotwa, atirado, depois que seus
assassinos terminaram o ritual satânico.
Entre “pseudo-patriotas” e
“traidores”, Vieira é um caso de estudo Há coisas que evitamos dizer e
parece que é preciso dizé-lo agora, porque o tempo, para muitos,
escasseia, e é preciso que os homens saibam que estão de passagem pela
terra e podem deixar a imagem de cobardes para todo o sempre.
É estranho
que a “disciplina partidária” na Frelimo obrigue que pessoas que
conheceram outras e com elas traçaram estratégias de fuga para o exílio,
e para a luta, permaneçam mudos perante escárnios em torno de pessoas
que sabemos que respeitam e admiram às escondidas. Somos forçados a
dizê-lo: repugna-nos a confortável cobardia desses senhores, muitos
deles, então amigos de Nungu e Simango, que hoje assistem passivamente a
loucura de homens como o Vieira. Gwengere, Nungu e Simango foram presos
pela PIDE em Moçambique.
Os pais dos dois últimos sofreram perseguições
e represálias em Machanga aquando do motim que ditou a prisão de muitos
naquele distrito e o desterro para São Tomé de alguns. Das mesmas
perseguições não se pode lamentar Sérgio Vieira no Moçambique colonial
da era salarazista. Vieira, ou Sérgio Maria Castelo Branco da Silva
Vieira, era um produto da burguesia colonial.
A família tinha posses
para matriculá-lo no Colégio de Santo Tirso em Portugal, reservado à
fina-flor da sociedade portuguesa. Sérgio Vieira saiu de Tete para
Lisboa sem restrições e os país continuaram a pagar-lhe as mesadas,
algumas das quais em moeda estrangeira, obtidas pessoalmente pela mãe,
Nini Vieira da Silva, junto de Lucinda Serras Pires Feijão no consulado
da Rodésia na Beira.
Amiga da família Vieira desde os te mpos de Tete,
Lucinda Serras Pires Feijão, enquanto ao serviço do consulado rodesiano,
chegou a receber encomendas da mãe de Sérgio Vieira para que fossem
entregues por portador quando ele já se encontrava exilado em París
depois de ter saido, novamente sem restrições, de Portugal. É este
“patriota” oportunista, forjado às pressas, que destruiu familias e
lares em Moçambique, que somos obrigados a aceitar em nome da
concóncordia democrática. Mas tudo tem limites.
Assisti-lo passivamente a
atirar torpedos cheirosos contra pessoas indefesas é cobardia. Tendo
interiorizado a linha marxista ortodoxa, de “pequeno burguês” Vieira
passou a assumir-se como vanguardista de tudo e de todos, secundarizando
os que eram tidos por essa linha como “reaccionários”, designadamente
as pessoas de origem camponesa que tiveram a ousadia de discordar com
ele e sua linha politica.
É assim que se compreende o seu ódio natural e
o desprezo pelos valores sócio-culturais desta classe e dos que com ela
se identificam. Por isso, vêmo-lo depois da independência de
Moçambique, arrancada a fogo e ferro e à custa dos sacrifícios
consentidos fundamentalmente por essa mesma classe, entre os mais
fervorosos defensores do sistema totalitário preconizado pela
auto-intitulada “vanguarda revolucionária das classes
operário-camponesa”, embora nenhuma destas lhe tivesse passado
procuração.
É essa vanguarda que põe em prática o princípio estatutário
da eliminação daquilo a que pejorativamente rotulam de “sequelas da
sociedade tradicional feudal”. Daí ao abraçar da doutrina stalinista de
combate aos valores da própria classe que o gerou – sem abdicar
pessoalmente de nenhum deles, claro está – o “salto quantitativo” é
rápido, enérgico e contundente, e sempre em nome do povo.
Mas que não
pense, Vieira, que nós, os moçambicanos de origem camponesa, não o
cultivamos o suficiente, à medida do seu carácter. A história humana é
uma bola de neve, cheia de surpresas, Sr. Vieira. Em que ficamos,
Coronel Vieira? Lemos a peça de Sérgio Vieira na edição do semanário
Domingo de 8 do corrente (Sobre 40 Anos Depois de um Crime).
Comparámo-la a uma entrevista que o mesmo Sérgio Vieira em tempos
concedeu ao semanário Savana. Surgem algumas dúvidas: Afinal, a bomba
que matou Mondlane foi entregue em Mbeya ou em Songea? Se Mbeya não faz
fronteira com o Malawi, como é que o Padre Pollet poderia ter-se
deslocado de Blantyre para essa localidade? Consultado o mapa da
Tanzânia, verificámos que nem Mbeya nem Songea são postos fronteiriços
tanzanianos.
Afinal quem é que estava no consulado português em Blantyre
– Jardim ou Pombeiro de Sousa? Se Jardim era cônsul do Malawi na Beira,
como é que poderia ser simultaneamente cônsul português em Blantyre? Em
que ficamos, Coronel? Para refrescar a memória de Sérgio Vieira,
transcrevemos os seguintes excertos das suas declarações:
“O livro-bomba
é montado na Beira. É levado da Beira para o Consulado Geral de
Portugal, no Malawi, em que estava Jorge Jardim e um outro funcionário
que acompanhava sempre Jardim, que era o senhor Orlando Cristina.”–
Sérgio Vieira, in Savana, 18 de Fevereiro de 1994. “No Malawi, no
consulado português em Blantyre, dirigido por Jaime Pombeiro de Sousa,
um associado de Jorge Jardim, Orlando Cristina entregou um pacote a um
sacerdote belga, o Padre Pollet.”
– Sérgio Vieira, in Domingo, 8 de
Fevereiro de 2009. “O Padre Pollet recebe a bomba. […] A bomba é levada
para Mbeya. Em Mbeya, o Padre Pollet entrega a bomba a uma pessoa,
dizendo: “É para entregar em Dar-es-Salaam a fulano ou beltrano, mas
tenha cuidado porque disseram que é uma coisa frágil.” – Sérgio Vieira,
in Savana, 18 de Fevereiro de 1994.
“Orlando Cristina pediu ao Padre
Pollet, que ia para Songea, que levasse o embrulho para essa fronteira e
aí buscasse alguém da FRELIMO, para que o remetesse a Silvério Nhungu
ou a Urias Timóteo Simango em Dar-es-Salam. Assim fez o sacerdote e,
encontrando na fronteira Samuel Rodrigues Dhlakama, que já conhecia,
solicitou-lhe que entregasse o volume a Simango ou Nhungu.”– Sérgio
Vieira, in Domingo 08 Fevereiro 2009. Mais uma questão, Coronel.
Sendo o
Padre Pollet um conhecido oponente do regime colonial, será que a
PIDE/DGS poderia confiar nele para que levasse uma encomenda-bomba por
um itinerário tão extenso, com o perigo de ser acidentalmente accionada,
para já não falar da sua muito provável detecção pelas autoridades
tanzanianas ou até mesmo malawianas?
A afamada vigilância tanzaniana
estava de folga nesse dia? E as encomendas-bomba endereçadas a Marcelino
dos Santos e Uria Simango, detectadas pela polícia tanzaniana após a
explosão que vitimou Mondlane, quem foi o portador ou portadores, já que
ao Padre Pollet teria sido apenas entregue uma encomenda-bomba? As duas
outras encomendas-bomba saíram também do Consulado português em
Blantyre?
E, já agora, estando Silvério Nungu implicado na morte de
Mondlane, como se explica que a polícia tanzaniana não o tenha detido?
Então a Frelimo era um Estado dentro de outro Estado, com poderes para
desterrar uma testemunha-chave para Cabo Delgado sob o olhar sereno da
CID tanzaniana? e de uma postura indiferente da Interpol?
Mais um caso
de ocultação de testemunhas, Coronel? como a outra, que o senhor
despachou para Moscovo, bem longe de outras comissões de inquérito sobre
uma outra história mal contada? Barnabé Lucas Ncomo ZAMBEZE –
19.02.2009 Comentário: É estranho que a história de Moçambique é
DESCONHECIADA. Só a Frelimo é que conhece.
Podem mentir a vontade!
Afinal quantos Dhlakamas teve a Frelimo até à independência? Respeitando
o trabalho do Historiador moçambicano, Dr Barnabé Ncomo, falta o
esclarecimento dos Dhlakamas- *primeiro -director Geral de Saúde-pós
independência, *segundo Coronel dos Blindados-Jossias
Dhlakama-apresentado como "comandante da CIA"no estádio da Machava,
juntamente com Capitão Alcido Marcos Chivite, familiar do Presidente da
Renamo-tio Chibawawa. * terceiro-General Dhlakama-ex combatente da
Frelimo ,e posteriormente Comandante das forças da Renamo, e Presidente
da Renamo. Alguém poderá responder e esclarecer, QUEM ERA EFECTIVAMENTE O
SECRETÁRIO PROVINCIAL DA FRELIMO de Manica e Sofala em 1969(Coronel
Dhlakama dos Blindados ou o Dhlakama da Saúde?)