Tuesday, September 18, 2012

Já não é possível esconder a “mão externa” na comunicação social pública

Canal de Opinião
Por Noé Nhantumbo



Demissões, expulsões, transferências, premiações, nomeações maquiavelicamente elaborados e executados…

Maputo (Canalmoz) - Afinal não há nenhuma mão externa em Moçambique, conspirando e executando missões contra o regime de Maputo. Há é uma “mão interna” conspirando contra a democracia e desenvolvimento sustentável de Moçambique sediada na Pereira do Lago. Quando se convocam dirigentes de órgãos de informação públicos a fim de criticar e transmitir instruções, como se ainda prevalecesse o partido único, não só é grave como é perigoso. Pode parecer politicamente uma forma expedita de resolver um problema. Pode também significar uma forma de agir que ignora completamente a existência de um Estado de Direito duramente conquistado pelos moçambicanos. Em termos práticos é uma ilusão de “avestruz”. Significa mau aconselhamento de uma liderança que se encontra distraída com um número crescente de dossiers privados com que tem de lidar.
Os principais instigadores de uma prática contra a democracia estão se revelando à luz do dia. O promotor da tese de que é ”imperativo” que o partido Frelimo continue perpetuamente no poder, porque não consegue “engolir” com urbanidade e dignidade as derrotas eleitorais e após repetir-se a derrota em Quelimane, procura culpados na comunicação social. Outros derrotados já sofreram na carne o custo de derrota e já não farão parte do próximo CC da Frelimo a ser eleito no congresso de Pemba.
Compreende-se o nervosismo de certas pessoas e que isso transborde para a comunicação social. Não há inimigos na comunicação social e isso já deveria estar claro nas mentes dos que se pretendem liderança esclarecida de Moçambique. Mas é deveras inaceitável que alguém procure levar os moçambicanos de volta àquele passado de má memória, em que alguns que se julgavam eleitos e especiais, impunham a todos os outros moçambicanos toda uma série de coisas, inclusive como se deviam vestir e o que deviam comer, o que podiam falar ou dizer em público. O Departamento de Trabalho Ideológico auxiliado pelos órgãos de segurança governamentais, partidários e uma miríade de militantes sempre prontos a agradar a seus superiores hierárquicos havia criado um ambiente de desconfiança efectiva entre os moçambicanos, onde houvesse 3 ou 5 moçambicanos juntos quase certo que 1 era informador dos serviços de inteligência e segurança. Só quem não viveu aqueles tenebrosos dias pode duvidar.
Também parece que alguns dos defensores da actual política de controlo e censura informativa de hoje, não chegaram a sentir os efeitos de tudo o que significava ser manietado e sufocado ideologicamente. Hoje querem impor aquelas fórmulas que levaram à guerra civil. Ao mesmo tempo que querem enganar os moçambicanos sobre quem era o inimigo, não hesitam em deitar lenha na fogueira da exploração dos recursos naturais do país.
São rápidos a acusar os políticos das oposição ao mais pequeno deslize mas negam-se a denunciar uma autêntica indústria de conflitos de interesses e de tráfico de influência colocado em marcha por ministros-empresários.
De que vale a pena a Autoridade Tributária de Moçambique arrecadar receitas fiscais se estas volta e meia não vão ser direccionadas para a construção de infraestruturas públicas? Só uma parte ínfima é realmente utilizada para o bem público pois como os moçambicanos já aprenderam a ver seus governantes são ávidos de mordomias e luxos alimentados pelo erário público.
Quando os deputados da maioria parlamentar são domesticados e proibidos de manifestar com honestidade e hombridade seus pontos de vista em nome de uma disciplina partidária estamos perante uma situação de coacção efectiva.
Agora com a intromissão aberta nos assuntos editoriais da comunicação social pública há razoes fortes dos moçambicanos se mostrarem preocupados e ofendidos nos seus mais elementares direitos.
A democracia não se faz com jogos baixos e tropelias. Ninguém está contestando o direito do partido Frelimo se reunir com seus membros seja qual for a sua proveniência. Mas isso é diferente de ditar uma agenda para órgãos que funcionam com recursos que são a contribuição de todos os moçambicanos.
O peso descomunal que a comunicação social pública jogam no panorama político e social do país não podem ser negligenciados sob pena de a democracia sofrer revezes nos próximos pleitos eleitorais. É preciso ver a acção do porta-voz do partido Frelimo como parte de uma estratégia que visa assegurar ganhos através da manipulação da vontade popular. Estamos perante um afinar das armas para as batalhas que se avizinham. Pela rádio, jornais afectos e teleguiados, estações televisivas, vai se observar decerto um crescendo de manifestações visando influenciar os moçambicanos a terem os seus olhos e opiniões no partido governamental.
Já não se confia unicamente nos órgãos eleitorais pois mesmo sob um aparente controlo não tem garantido que não se registem derrotas.
Ao crescimento da democracia no país, da evolução da oposição política a resposta eleita tem sido a supressão sempre das vozes discordantes sempre que isso se mostre possível.
Há uma contradição fundamental que continua sendo exibida no panorama político nacional e isso resume-se a implementação do conceito de intolerância política activa pelos que se julgam poderosos e insubstituíveis na arena política nacional.
Continuará sendo cada vez mais difícil ver a democracia triunfando enquanto vestígios fossilizados dos tempos de partido único e da guerra civil permanecerem no activo e alistando novas forças para as suas alas.
Sem conspirar-se ou desenhar teorias da conspiração onde não existem fundamentos ou factos que o consubstanciem é interessante que se observem os sinais de emergência de um segmento político moçambicano que não admite compartilhar as potencialidades e potencialidades nacionais.
O “Eldorado”moçambicano que neste momento é o carvão e o gás estão deixando muita gente preocupada e com receios talvez não fundamentados.
Mais e melhor democracia, o fim da intromissão, da interferência, dos excessivos poderes do chefe do executivo, não vão colocar o país em perigo mas sim criar condições para que o desenvolvimento tenha impactos positivos na vida de um número cada vez maior de moçambicanos.
Está claro que a “mão interna” não comunga com a democracia nem se mostra disposta a contrariar os apetites de uma elite política e financeira parasita.
Os poucos jovens a quem um alinhamento com o núcleo duro da oligarquia em Moçambique tem favorecido jamais serão os milhões que vegetam na mais indigna miséria.
Controlar o que veiculam os órgãos de comunicação social pública pode adiar mas não impedir a emergência de contestação rigorosa e sustentada de uma governação lesa-pátria… (Noé Nhantumbo)