sábado, 15 de dezembro de 2012

Morte de Neto travou aproximação aos EUA

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AGOSTINHO NETO
(1922-1979)

"Este médico angolano (Agostinho Neto) formado em Lisboa, fez parte, com Amílcar Cabral e Mário Andrade, entre outros, da geração de estudantes africanos que, tendo ganho consciência nacionalista, viria a desempenhar papel decisivo na independência dos seus países. Preso pela PIDE e deportado para o Tarrafal, foi-lhe fixada residência em Portugal, de onde fugiu para o exílio, assumindo a direcção do MPLA, do qual já era o presidente honorário desde 1962.

O que caracteriza a acção política deste homem culto, intelectualmente respeitado e poeta de reconhecido mérito, é a dificuldade em afirmar a autoridade no interior do seu movimento e de se impor externamente. A sua história e a história do seu MPLA são uma sucessão de rupturas e dissenções internas: com Viriato da Cruz, com Mário de Andrade, e com os elementos da Revolta Activa, que impedem a congregação à sua volta do apoio inequívoco dos nacionalistas internacionais, de modo a transformar o MPLA em pólo unificador da luta anti colonial, atraindo outros movimentos e formações, como aconteceu, na Guiné, com o PAIGC de Amílcar Cabral, e com a Frelimo da Samora Machel, em Moçambique".



Dn 25 de Outubro de 2005. INTERNACIONAL

Morte de Neto travou aproximação aos EUA

Presidente de Angola admitia abandonar o cargo e remeter-se à liderança do MPLA

• ARMANDO RAFAEL

A morte prematura e, sobretudo, inesperada de Agostinho Neto, a 10 de Setembro de 1979, deitou por terra todos os esforços diplomáticos que estavam a ser desenvolvidos e que poderiam ter antecipado a reconciliação entre Angola e os Estados Unidos.

A revelação é feita por Maria Eugenia Neto, viúva do primeiro presidente de Angola, numa entrevista ao escritor e poeta Artur Queirós, que integra o livro Agostinho Neto - Uma Vida Sem Tréguas, um trabalho editado pelo antigo jornalista do DN Acácio Barradas e que amanhã será lançado em Lisboa.

"Antes de (Agostinho Neto) morrer, estava tudo preparado para se estabelecerem relações diplomáticas com os EUA", garante Maria Eugénia Neto, para quem o marido sempre tentou afirmar a sua independência ao longo da Guerra Fria que se estabeleceu entre os EUA e a URSS. "Passou o tempo todo a afirmar o MPLA como organização revolucionária independente dos blocos e a afirmar-se, ele próprio, como um não alinhado.

Isso custou-lhe muito esforço. Teve sempre que se consumir em labaredas para levar os seus princípios até ao fim. Viveu sempre em sobressalto, nunca lhe deram tréguas. Como estávamos no exílio, muitas vezes aceitou coisas com as quais não concordava, mas quando chegámos a Angola foi como uma flor que se abrisse. Contra tudo e contra todos, fez a paz com o Zairede Mobutu.(...) Naqueles quatro anos de independência, mostrou ao mundo o grande político e estratego que (ele) era."

Revelações surpreendentes, que poderão ajudar a explicar iniciativas de Neto junto de Lisboa nos meses que antecederam a sua morte, na sequência de uma intervenção cirúrgica em Moscovo. Uma tragédia que deixaria tudo em suspenso até Maio de 1993, altura em que Angola e os EUA estabeleceram relações diplomáticas entre si, rompendo um ciclo iniciado em 1975, quando Luanda ficou na órbi­ta da URSS e de Cuba e Washington se empenhou ao lado da UNJTA e de Jonas Savimbi, deixando cair a FNLA e Holden Roberto.

Iniciativas que ajudarão a perceber melhor alguns dos alinhamentos em torno da frustrada tentativa de golpe que, a 27 de Maio de 1977, colocou à URSS ao lado dos revoltosos, enquanto Cuba protegia o presidente.

"Agostinho Neto mandou Nito Alves representá-lo a Moscovo e, quando voltou, ele já se sentia igual ao Presidente e com direito a usurpar-lhe a presidência", recorda Maria Eugénia Neto, subindo o tom de uma acusação que poderá reacender a polémica em Angola.

"Que fique claro: os fraccionistas (apoiantes de Nito Alves) são os únicos responsáveis por todos os que morreram no golpe de 27 de Maio de 1977 (...). Os fraccionistas andam a fazer tudo para passarem à História como agredidos e não como agressores. Ora, eles desencadearam um golpe de Estado para matarem Agostinho Neto. O objectivo do Monstro Imortal (Jacob João Caetano) era matar o Presidente. Quando viram que tal era impossível, começaram a matar os que lhe eram próximos. (...) Eles não são as vitimas, são os carrascos."

Um desfecho, trágico, que terá levado Neto a adiar a hipótese de deixar o cargo de presidente, que acumulava com a chefia do Governo, deixando cair, assim, a ideia de um certo rejuvenescimento das estruturas de poder.

"Não tenho muitos pormenores, mas acho que ele estava a pensar entregar a Presidência e o Governo aos jovens quadros. O António apostou sempre na juventude (...). A ideia dele era ficar apenas no partido (MPLA). Mas os jovens em que apostou traíram-no e fizeram um golpe de Estado para o matar."

Associação 27 de Maio.

Bem vindos ao sítio da Associação 27 de Maio. Através deste moderno e poderoso instrumento de trabalho, a Internet, é vontade dos que constituem esta associação promover um espaço, onde o propósito seja trazer à luz do dia experiências que ajudem a clarear de uma forma terminante, quem, como, onde e porquê desapareceu uma imensidão de Angolanos, antes, durante e principalmente depois do dia 27 de Maio de 1977. Ainda é tempo de voltar a rever documentos, estudar processos, reler jornais da época, exercitar a memória e entender porque fomos nós os escolhidos. É preciso ter perseverança para reler discursos de todos os protagonistas, dar a conhecer o que se escreveu e que intencionalmente foi ocultado, desmontar as mentiras veiculadas, conhecer a verdadeira conclusão da chamada “ Comissão de Inquérito ao Fraccionismo ”, compreender e situar os incendiários e provocadores editoriais do Jornal de Angola, descobrir o porquê da participação de alguns intelectuais na chamada “ Comissão das Lágrimas ” , enfim é tempo de não deixar cair no esquecimento a memória de todos aqueles que já não completam o nosso convívio.

http://www.27maio.org/introducao.php

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Mausoléu de Agostinho Neto (foto Net)

Lara homenageado, Neto revisitado 12/11/2004.

"Uma sugestão de Luís de Almeida, embaixador de Angola em Marrocos, foi quanto bastou para que a cerimónia de homenagem a Lúcio Lara, um militante histórico do MPLA ficasse parcialmente estragada. Aparentemente preocupado com o estado do mausoléu de Agostinho Neto, onde falta de tudo um pouco, Luís de Almeida sugerira que o melhor seria transferir-se o corpo do antigo presidente para Kaxicane, Catete, Bengo, sua terra natal, e construir-se aí um monumento. Irene Neto, filha de Agostinho Neto não gostou do que ouviu, vai daí acusou Luís de Almeida de à semelhança de muitos outros, tentar diminuir a dimensão histórica da obra do seu pai, o primeiro presidente de Angola. A troca de palavras deixou meio mundo embaraçado sobretudo o Comité Provincial do MPLA, responsável pela cerimónia. Este não foi o primeiro incidente à volta do tratamento a dar ao mausoléu de Agostinho Neto. Na verdade perante o que chama de indiferença de sectores do MPLA que gostariam de ver Agostinho Neto confinado a Kaxicane, a família vem forçando uma resolução, tendo conseguido que a direcção do partido no poder em Angola agendasse um frente-a-frente para a última terça-feira. A Voz da América desconhece o resultado da reunião, mas fontes do MPLA sugeriram a mesma iria correr bem até porque o mausoléu é uma questão que também preocupa o partido no poder. Admitiram também a existência de lapsos no tratamento da questão, mas garantiram que a obra ainda não chegou ao seu termo porque Angola caiu numa crise financeira. A reacção de Irene Neto teria sido, segundo fonte familiar um esforço para evitar que a intervenção de Luís de Almeida esvaziasse a reunião, coisa que figuras próximas a este diplomata angolano, dizem que não lhe ocorreu. “Luís de Almeida estava tão somente a mostrar também o seu desagrado em relação ao estado em que se encontra o mausoléu”. O equívoco não chegou a ser desfeito, mas a cerimónia prosseguiu com a intervenção de várias figuras do nacionalismo angolano enaltecendo Lúcio Lara, pela sua dedicação a Angola."



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JONAS SAVIMBI
(1934-2002 )

"Político angolano, fundador da UNITA. Frequentou o sétimo ano do liceu em Lisboa, de onde saiu em 1961 apoiado por uma organização protestante americana, que dirigia jovens estudantes para o escritório da UPA em Paris. Foi funcionário da UPA, tendo sido representante de Holden Roberto na Europa no início dos acontecimentos desencadeados por aquele movimento no Norte de Angola, em Março de 1961, e secretário-geral e ministro dos Negócios Estrangeiros aquando da fundação da FNLA e da constituição do GRAE.

Desde o início da sua actividade política, Savimbi manteve contactos privilegiados com organizações políticas e religiosas conotadas com a CIA americana e promoveu repetidamente tendências fraccionantes de raiz étnica. Em 1964, demitiu-se de ministro do GRAE e de secretário-geral da FNLA e publicou um documento intitulado Amangola, propondo a luta armada como solução contra o colonialismo português. Aproximou-se do MPLA enquanto esteve em Brazzaville, de onde se deslocou para Lusaca, capital da Zâmbia, estabelecendo relações com as embaixadas da República Popular da China e dos EUA

Depois de uma visita aos Estados Unidos, em Janeiro de 1966, um pequeno grupo armado atacou a povoação de Teixeira de Sousa, em 6 de Fevereiro, naquela que é a primeira acção reivindicada pela UNITA, que contava com quadros militares formados na China e políticos ligados aos EUA, com Jeremias Chitunda. Desde 1969 são referenciados contactos seus com as autoridades coloniais portuguesas, nomeadamente com a DGS, os quais vieram a culminar na Operação Madeira.

Esta acção traduziu-se num protocolo de colaboração de Savimbi com as forças portuguesas, em que este se comprometeu combater o MPLA no Leste de Angola, em troca do apoio dos militares à acção da UNITA junto das populações controladas por este movimento".


"Luanda, Angola. The Government of the Republic of Angola would like to inform the national and international public of the death of Jonas Malheiro Savimbi, who was leading the armed groups responsible for the destruction of national property and the death of countless innocent civilians throughout the country.

The Government of the Republic of Angola appeals to those who voluntarily or involuntarily had associated themselves with these terrorist actions to reconsider their options and reintegrate themselves into Angolan society so as to contribute to the consolidation of democracy and national reconciliation.

In due time and according to the signals it receives from those who are still armed, the Government will issue a communiqué that will include a detailed program to ensure the final cessation of all hostilities in Angola.

The Government reiterates its intention to fully implement the Lusaka Protocol and considers also that all political parties are necessary for the democratization of Angola.

The Government of the Republic of Angola appeals to the population to maintain calm, preserve law and order and respect differences of opinion so that all Angolans may live peacefully.

The Government also praises the Armed Forces, the National Police, the Civil Defense Forces, and the intelligence community for their dedication in fulfilling their duty to ensure the security of the nation and protect public assets and those of its citizens.

Signed
The Government of the Republic of Angola
In Luanda
February 22, 2002


Luanda, Angola. O governo da república de Angola gostaria de informar o público nacional e internacional da morte de Jonas Malheiro Savimbi, que conduzia os grupos armados responsáveis para a destruição da propriedade nacional e a morte de incontáveis civis inocentes através do país.

O governo da república de Angola apela àqueles que voluntária ou involuntariamente se tinham associado com estas acções do terrorista para reconsidera as suas opções e se reintegrarem na sociedade angolana para contribuir para a consolidação da democracia e da reconciliação nacional.

No tempo devido e de acordo com os sinais que recebe daqueles que ainda estão armados, o governo emitirá um comunicado que inclua um programa detalhado para assegurar a cessação final de todas as hostilidades em Angola.

O governo reitera a sua intenção para executar inteiramente o protocolo de Lusaka e considera também que todos os partidos políticos são necessários para o democratização de Angola.

O governo da república de Angola apela à população para manter a calma, preservar a lei e a ordem e respeitar as diferenças de opinião de modo que todos os Angolanos possam viver pacificamente.

O governo elogia também as Forças Armadas, as Polícias Nacionais, as Forças da Defesa Civil, e a inteligência comunitária pela sua dedicação em cumprir seu dever para assegurar a segurança da nação e proteger recursos públicos dos seus cidadãos

Assinado,


O Governo da República de Angola
Em Luanda,
Fevereiro, 22, 2002 ".


http://www.angola.org/referenc/pressrel/prst022202E.html

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Savimbi morto.

JONAS SAVIMBI

"O Povo Angolano, Angola, África e todos os que pugnam pelos ideais de liberdade e democracia no Mundo, estão de luto. Luto por diversas razões. O Dr. Jonas Malheiro Savimbi, Presidente da UNITA, tombou heroicamente em combate! Tombou heroicamente em combate o meu Presidente.

Tão heroicamente que as Forças Armadas de Angola (ou pelo menos parte delas) tiveram necessidade de O humilhar... mesmo depois de morto. Trataram o meu Presidente como um cão raivoso, como um troféu de caça. Até na morte Jonas Savimbi atemorizou os militares de José Eduardo dos Santos. Estivesse João de Matos no comando e nada disso teria acontecido.

Os adversários, ou até mesmo os inimigos, merecem respeito. E isso não aconteceu. As FAA não humilharam Jonas Savimbi, humilharam uma grande parte do Povo Angolano.

A África perdeu um dos seus mais insignes filhos, cuja vida e obra O situam na senda dos arautos da História Africana como N'Krumahn, Nasser, Amílcar Cabral, Senghor, Boigny e Hassan II.

O Dr. Jonas Malheiro Savimbi, Presidente da UNITA, o meu Presidente, tombou em combate ao lado das suas tropas e do Povo mártir, apanágio só concedido aos Grandes da História. Deixou-nos como maior e derradeiro legado a sua coragem e o consentimento do sacrifício máximo que pode conceder um combatente da liberdade, a sua Vida.

Fiel aos princípios sagrados que nortearam a criação da UNITA, o Dr. Savimbi, rejeitando sempre e categoricamente os vários cenários de exílios dourados, foi o único dos líderes angolanos que sempre viveu e lutou na sua Pátria querida. A ela tudo deu e nada tirou, ao contrário de outros com contas, palácios e mansões no estrangeiro.

Fisicamente o meu Presidente morreu. Fisicamente o meu Presidente foi humilhado. Mas uma coisa é certa. Não há exército que derrote, mate ou humilhe uma cultura, um povo, uma forma eterna de ser e de estar. Jonas Savimbi, o meu Presidente, continuará a ter quem defenda essa cultura, esse povo, essa forma eterna de ser e de estar.

«Há coisas que não se definem - sentem-se». Foi isto que há 27 anos me disse, no Huambo, Jonas Malheiro Savimbi.

É isto que José Eduardo dos Santos nunca compreendeu. A UNITA não se define - sente-se. Jonas Malheiro Savimbi não se define - sente-se. Angola não se define - sente-se.

E porque se sente, e não há maneira de matar o que se sente, é que Jonas Malheiro Savimbi, o meu Presidente, continuará vivo. Vivo no esforço pela paz em Angola, vivo pela dignificação dos angolanos, vivo pela liberdade, vivo pela coerência... vivo porque os heróis não morrem nem são humilhados. Obrigado Presidente".


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Bunker de Savimbi (foto site net).

BUNKER DE JONAS SAVIMBI SERÁ REHABILITADO

"Localizado interior do Palácio Municipal do Andulo, o bunker que serviu de abrigo o ex-lider da UNITA Jonas Savimbi nos intensos confrontos do fim dos anos 90 e principio de 2000, poderá ser reabilitado. Segundos fontes do jornal O Independente, uma empresa ter-se-á deslocado até ao local para avaliar os custos da operação.

O bunker é hoje um lugar vazio. Entra-se por um quintal do palácio, seguindo-se a um extenso corredor, um quarto de banho, mais adiante uma sala enorme que funcionou de sala de reuniões do alto comando do exercito comandado por Savimbi.

Maria Lúcia Chicapa administradora do Andulo, defende a preservação do local. "Caso queiramos enquadra-lo na evolução da nossa história, além de atractivos é importante que os nossos netos e bisnetos possam visitar tal bunker", referiu, adiantando que isso ajudará os jovens a entender as coisas. "Esse conhecimento determinará a correcção de muitos erros cometidos nas relações humanas entre os angolanos de modo a não cometerem os mesmos erros", concluiu".

Angonotícias.

http://www.angonoticias.com/full_headlines.php?id=6169

ACORDOS DO ALVOR: UM FRACASSO ANUNCIADO

"A 15 de Janeiro de 1975, no Hotel da Penina, sob a chuva miudinha que caía no Algarve, representantes dos três movimentos de libertação assinavam no Alvor os acordos para a independência de Angola. Mas, do que foi assinado no Alvor, aos três só interessava a independência, o que significava, para cada um, e sozinho, o exercício do Poder. O que ainda hoje se revela impossível.

Na Guiné e em Moçambique, Portugal tinha sabido exactamente com quem iria negociar os acertos para a independência: do outro lado da mesa iriam estar só o PAIGC e a FRELIMO. Mas a existência de três movimentos de libertação no caso de Angola tornava impossível qualquer tentativa de uma rápida solução negociada.

Foram necessários meses de cuidadosas negociações. Primeiro, a Organização de Unidade Africana reconheceu a UNITA como parte tão legítima como o MPLA ou a FNLA. Depois, em Mombaça, no Quénia, os líderes dos três movimentos prepararam o terreno para as negociações com os representantes de Portugal. Finalmente, no Alvor, os três concertaram com o Governo português um acordo sobre a fórmula pela qual Angola se tornaria independente.

No Alvor, os três movimentos foram reconhecidos como únicos e legítimos representantes do povo angolano, e Angola como país indivisível, incluindo o enclave de Cabinda. Seria estabelecido um governo de transição, baseado numa fórmula de coligação. Um alto-comissário seria nomeado por Portugal, sob ordens directas do presidente da República, Costa Gomes, e o Governo de transição seria constituído por 12 ministros, três portugueses e os restantes nove distribuídos igualmente pelos movimentos de libertação.

Um conselho presidencial, constituído por um representante de cada movimento, presidiria ao Governo, rotativamente, até à data marcada para a independência, 11 de Novembro. O Governo devia tomar posse até ao fim de Janeiro, marcar eleições no prazo de nove meses, e deveria ser constituído um exército unificado. Na altura da independência, essas forças militares unificadas deveriam ter 48 mil homens - 24 mil efectivos portugueses e oito mil de cada um dos movimentos. Os militares portugueses em excesso seriam evacuados até 30 de Abril, e todas as tropas portuguesas deveriam deixar Angola até Fevereiro de 76.

Os interesses dos portugueses residentes eram assegurados, e os movimentos comprometiam-se a considerar angolanos todos os que tivessem nascido em Angola, ou os que ali vivessem e se declarassem angolanos por opção. Contudo, a concessão de cidadania aos não nascidos em Angola era remetida para o que fosse estabelecido na futura Constituição. Assinaram por baixo, por Portugal, o ministro sem pasta major Melo Antunes, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Mário Soares, o ministro da Coordenação Interterritorial, Almeida Santos, e, por Angola, os líderes do MPLA, da FNLA e da UNITA".

http://jn2.sapo.pt/secdiv/especial/angola4.htm

DEMOCRACIA ATORMENTADA

"Infelizmente, a maioria dos portugueses parece desconhecer que a guerra no ultramar foi despoletada, incentivada e patrocinada por estados estrangeiros que tinham interesses imperiais em Angola e Moçambique. É hoje público que a União Soviética, os Estados Unidos da América, a China, a Inglaterra e o Brasil foram os que mais contribuíram para uma degradação da presença portuguesa em África. Por isso, ao contrário do que se propagandeava em Portugal nas décadas de 60 e 70, e que ainda hoje muitos tomam como verdade, os movimentos terroristas não tinham na sua génese a autodeterminação, mas sim uma concepção imperialista que permitisse à União Soviética e aos Estados Unidos controlar importantes e ricos territórios africanos que pertenciam ao Império Português. Por conseguinte, a guerra do ultramar não era uma guerra entre Portugal e um conjunto de grupos guerrilheiros, mas entre Portugal e os países acima referidos.

É precisamente neste cenário que se dá o 25 de Abril de 1974. Se muitos acreditaram tratar-se de um movimento endógeno, de pessoas de boa-vontade, com o anseio de trazer a democracia, a liberdade e a igualdade para o povo, verificaram mais tarde ter sido completamente enganados. Em verdade, a revolução de Abril foi somente um acto provocado por interesses imperiais estrangeiros para conseguirem através da metrópole o que não conseguiram no teatro de guerra no ultramar: o abandono de Portugal de Angola e Moçambique.

É por este motivo, que a democracia em Portugal esteve por várias vezes ameaçada, quer pelo Partido Comunista Português, quer por grupos radicais de esquerda. Por pouco, Portugal não trocou um regime autoritário, mas nacionalista, por um outro regime igualmente autoritário, mas infinitamente mais repressivo e antidemocrático com sede em Moscovo.

Lamentavelmente, o Ultramar teve menos sorte. A forma como nós o abandonámos foi simplesmente indigna de um estado civilizado, mas obedecia a uma lógica soviética executada em Portugal nas pessoas de Cunhal, Soares e afins. O que muitos em Portugal clamaram como descolonização, ou descolonização possível, foi em verdade um processo que resultou na morte de milhões de civis, de guerras prolongadas, fome, miséria e devastação. Estou seguro que, com o distanciamento temporal adequado, este período da história de Portugal será meticulosamente estudado, e muitos que hoje são tidos como heróis deixarão de o ser no futuro".

24.Fev.02
Orlando Press Room.

http://www.ciari.org/opiniao/democracia_atormentada.htm

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