sábado, 20 de outubro de 2012

Carta ao povo irmao da LIBIA

 

by José Belmiro on Wednesday, 24 August 2011 at 15:01 ·
Carta ao povo irmão da Líbia

Queridos irmãos, é com elevada honra que a partir deste hemisfério sul, local onde transpiramos o calor da injustiça e da pobreza, me dirijo a vocês para que, através desta singela carta, saude a vossa longa marcha rumo à liberdade iniciada há sensivelmente seis meses.
Neste hemisfério sul, muitos procuram minimizar a vossa marcha associando-a a suposta manipulação de forças externas, mormente, a NATO, alegadamente por estar por detrás do petróleo que abunda na vossa heróica terra.
Sei que no plano internacional não existem almoços grátis e que os Estados movem-se por interesses. Mas este facto não me permite concluir que vocês estejam totalmente manipulados pelo “Ocidente”. Ou seja, acredito que a vossa determinação de romper com um ciclo de mais de 40 anos e, acima de tudo, fazer ressoar os ventos da liberdade, a democracia e o bem-estar para todos seja o principal móbil que vos faz acreditar nesta revolução.
Irmãos, quando assisti a vossa entrada triunfal em Tripoli, a festa do povo na praça dos mártires, ex-praça verde, fiquei arrepiado e nem quís acreditar no que estava assistir. Chorei de emoção quando vi pelas imagens a abertura dos portões de Bab al-Aziziya e a demolição dos seus enormes muros. Estava em curso a demolição de uma espécie de muro de Berlim numa marcha rumo à liberdade. Naquele momento não vi a NATO ai. Estavam apenas homens e mulheres líbios a marcharem rumo a sua libertação. Vocês construiram naquele momento um dos principais factos do sec.21.
Expulsaram o ditador e sua prole e o colocaram na condição de fugitivo.
Mas irmão, vocês venceram a batalha, não a guerra. Na verdade, pela frente se colocam grandes desafios. Um deles é, sem dúvidas, a transformação do Conselho Nacional de Transição num órgão de Estado com legitimidade e autoridade.
Este passo vai impedir que alguns elementos pró-Kadaffi ou islamitas promovam vinganças privadas, matanças e saques, manchando assim a vossa gloriosa epopeia libertadora.
Caberá ainda ao Conselho Nacional de Transição coordenar toda a acção política que permita a criação de verdadeiras instituições do Estado, coisa que Kadafi negou ao longo deste quase meio século do poder.
Só com instituições fortes é que será possível impedir a desintegração da nação líbia, unindo as tribos sob a mesma bandeira e desiderato comum: liberdade, justiça, democracia, bem estar social e espiritual.
Quero também me dirigir em especial aos jovens: vocês nasceram e cresceram sob a batuta de uma única pessoa que se apoderou do Estado, transformando-se na única instituição válida da Líbia.
Vocês têm hoje uma oportunidade de traçar um futuro comum num ambiente de paz e liberdade. E nisso vocês não devem falhar, sob pena de darem razão `aqueles que acham que vocês têm uma agenda ditada de Paris, Londres ou Washington. Provem a eles que vocês são uma geração determinada a criar uma Nova Libia de todos e para todos. Provem a eles que estão prontos para construir um legado que possa orgulhar as futuras gerações, coisa que Kadafi não conseguiu construir.
Para isso é necessário, que neste momento de transição, esqueçam a vingança que está nas vossas mentes. Dê a mão ao próximo, incluindo aqueles que durante anos militaram a favor de Kadafi. Promovam a reconciliação nacional.
Deixem para a justiça o julgamento de todos aqueles que subjugaram a vontade colectiva dos líbios.
Em suma, sejam realmente dignos desta revolução.
Quero também dirigir algumas palavras de apreço aos aliados nesta epopeia, que sem eles teria sido difícil celebrar este dia. Refiro-me aos países da NATO.
Foram vocês que impediram a Kadafi e sua máquina opressora dar seguimento a guerra que ele havia declarado ao seu povo. Achamos que o vosso papel deve ser recompensado mas numa base de vantagens mútuas. Ou seja, ao invés da ditadura, defendemos parceria. Uma genuína parceria que garanta a reconstrução da Líbia, a criação e fortalecimento de instituições e a construção de um verdadeiro Estado de Direito Democrático e o bem estar para todos.
Auguramos nós deste lado, que os vossos feitos sirvam de fonte de inspiração para que neste hemisfério sul, nos possamos LIBERTAR DOS NOSSOS LIBERTADORES.
Iluminado pelos ensinamentos de Mandela na sua famosa carta da liberdade, termino dizendo: A LUTA NÃO DEVE MORRER E A VITÓRIA QUE CRESÇA DEVAGAR.

Sempre, o vosso amigo, José Belmiro.

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