Friday, April 5, 2019

Segurança do Estado em falência!

Segurança do Estado em falência!
A corrupção tem um grande potencial de corroer a máquina do Estado e aniquilar, inapelavelmente, a eficácia da Administração Pública. Mas quando ela penetra o próprio sistema de segurança do Estado, carcomendo-o, como o cancro faz ao corpo humano…é a morte do próprio Estado que se anuncia!
Porque, a partir daí, ela, a corrupção, deixa de ser conduta desviante, para se assumir como norma do próprio Estado!
De que se fala, nos meandros da justiça moçambicana, nos locais de trabalho, nos cafés, hoje em dia?
Oh, não é apenas da saga das dívidas ocultas, não!
Fala-se de processos judiciais intentados contra oficiais superiores do próprio Serviço Nacional de Segurança do Estado (SISE); de funcionários superiores do Serviço Nacional de Migração (SENAMI) ; do Centro de Desenvolvimento de Sistemas de Informação de Finanças (CEDSIF) e…vejam só, ! do próprio Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC)!
E não se trata de um ou dois oficiais ou agentes “infiltrados no nosso seio” ou teleguiados por “mão externa”, não! Trata-se de DEZENAS de membros de cada um destes serviços estratégicos da segurança de uma nação, ora detidos, por condutas criminosas, atentatórias à própria missão por que são pagos: a segurança do Estado!
O que eles fazem ou de que são eles acusados?
São acusados de urdir conluios multimilionários contra a Pátria, com os gangues mais inescrupulosos deste mundo, fingindo que o estão fazendo em cumprimento, precisamente, da nobre missão de garantir a segurança nacional.
São acusados de soltar das prisões alguns dos mais ensanguentados e sanguinários prisioneiros da Nação, que seus colegas suaram para lhes seguir o rasto e os levar à barra do tribunal, aonde ficou provada a sua autoria moral em crimes de sangue e financeiros de alta-roda!
São acusados de vender a estrangeiros documentos de afirmação da soberania do Estado, como passaportes e Documentos de Identificação e Residência de Estrangeiros (DIRE) e de emitir autorizações oficiais de entrada no país (vistos), a soldo!
Ora, é todo o sistema de segurança do Estado escancarado, de ponta a ponta!
Carlos Cardoso já advertia, nos anos 1990, sobre o perigo de " gangsterização" do Estado!
Antigamente, os coelhos ouviam falar do SNASP (Serviço Nacional de Segurança Popular) e fugiam, escondendo-se no mato. Hoje ouvem falar do SISE e pensam que se trata de cenouras!
Antigamente, um jovem dizia que tem Passaporte e sabia-se que ia estudar no estrangeiro; hoje quando um jovem diz que tem passaporte pergunta-se quanto pagou por ele.
Antigamente, falava-se da PIC e pensava na Policia; hoje quando se fala de SERNIC pensa-se em…”boladas”!
Que ideia nos projectam estas imagens? A ideia de um Estado com os seus sistemas de segurança capturados e estuprados pelo crime.! A ideia, portanto, de um Estado com a sua segurança falida! Como consequência de várias décadas de acarinhamento à corrupção, a partir do topo da pirâmide!
“De muito gorda a porca já não anda. De muito usada a faca já não corta” – cantava, nos anos 70, Chico Buarque.
Decididamente: a tarefa que nos espera, à frente, enquanto Nação, é titânica: refundar o Estado Moçambicano! De raiz! Certamente, muito mais difícil do que quando fundamos este, em 1975!
Comentários
  • Hermes Sueia E como é que chegamos a esta situação, amigo Tomás Vieira Mário? Quem nos conduziu até atingirmos este ponto? A quem culpar por tamanho descalabro? Haverá ainda uma réstia de esperança de que voltaremos a ter um Estado Normal ou esta é a nossa forma de estar e ser? Volto a perguntar o paradeiro da Imaculada Conceição.............
    • Tomas Mario Perguntas difíceis, mas legitimas, caro Hermes Sueia!
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    • Jose Adriano Fernandes Hermes Sueia / Tomás V. M. : em 1975/76 destruímos o AE colonial; é 1987 destruímos o AE socialista substituído pelo AE "deixa andar" ou "deixa fazer" (conforme a perspectiva). Depois não sei como designar o que veio seguir, talvez seja o AE da auto-estima. Se algo sobrou destes AE todos vamos destruir o quê e construir o quê? E quem o vai fazer?
    • Adelino Branquinho Gostei do texto, com sabor a prosa; alguns, poderão dizer: mas tudo isso é sabido... Sim, principalmente, quem viveu uma parte do colonialismo, uma experiência de revolução, de ideologias de libertação, vivências socialistas, e por fim, vivi-se, a decadência da moral, do afogamento ideológico, e a morte por estrangulamento da ética. Por isso, entendi as analogias, as subtilezas do Tomas Mario. Claro que não se deve procurar culpados, como se procura cogumelos venenosos e comestíveis; o começo para reconstruir a nação que inventarmos, é sem dúvida, escrever textos contar estorias, para ir detampando o lençol que esconde os podres.
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  • Jorge Matine Refundar o estado significa montar um tecto novo ou uma nova fundacao?

    O estado está capturado faz tempo, não é possivel perseguir um animal tanto tempo. O estado esta sim feito uma presa, engaiolado, num zoológico.
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  • Fernando Capela Que tal separar o trigo do joio?
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    • Tomas Mario Assim, seria mais fácil se, desde logo, nos identificasse, neste assunto, qual e o trigo, qual e o joio, caro Fernando Capela.
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    • Fernando Capela Para bom entendedor meia palavra basta.
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  • Paulino Davanhane Lamentavelmente lamentavel
  • Evaristo Cumbane Esta captura do Estado pelo crime organizado foi de facto "profetizada" ha anos por muitos incluindo Teodado Hunguana. O proprio Estado nao quiz ouvir. Que pena. Todo o povo mocambicano tambem foi capturado pelas gangs infiltradas no proprio Estado.
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  • Filipe Mata Guardei este post Tomas para, em tempo mais oportuno, digo, calmo, voltar a ler e, certamente, meter a minha colherada. Assunto serio este Tomas. Prevejo que ou é agora, ou será tarde demais. Se nos mantemos calados os nossos netos vao nos atirar pedras e outras coisas moles mal cheirosas. Voltarei. Parabéns pela coragem de por o guizo na besta e liberta-lo pela pradaria afora...
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    • Tomas Mario Caro Filipe Mata, resumiu todos os meus medos! Fico esperando pelo prometido regresso! Abraço forte.
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    • Pedro Filipe Mafuiane Tomas Mario força.. no dia que perdermos o medo os assaltantes do estado fugiram desta pátria
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  • Rui Costa Belo tema e bem escrito...agora dramático è conseguirmos explicar isso aos nossos filhos.
    Como "nos adormecemos" voluntariamente em quimos, arrotos e confortos de aplausos mudos ?? uma casita, um jobezito, e o resto estava bem. Auto "fonixamos-nos."
    Vou partilhar .
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  • Mohomed Rafique Parabéns pelo texto
  • Oscar Faduco Sem comentários
  • Inácio Chongo Pura verdade, infelismente...
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  • Julião João Cumbane Caro Tomas Mario, eu subscrevo inteiramente esta vossa reflexão. 

    "Je suis Moçambique!"
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  • Angelina Neves subscrevo. <3 mas me rói e dói por dentro a pergunta de como vamos "refundar o Estado Moçambicano! De raiz!" e como diz o Rui Costa, é dramático explicar aos filhos e aos netos o que vivemos e no que acreditamos... :'( refundar o Estado é: "Certamente, muito mais difícil do que quando fundamos este, em 1975!"
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  • Carlos Mhula Obrigado mestre Tomas Veira Mario pela sabio texto de análise de exteriorização do nosso (POVO) sentimento de repúdio o quel em preto no braco não conceguimos sabiamente expor o que em apenas uma década o nosso Estado esteve a saque e totalmente capturado (golpeiada) pelos quais patrioticamente os confiamos guardiã em voto livre, secreto e transparente para nos servirem e nao para se servirem.
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  • Pascoal Vilanculos Tal filho tal Pai
  • António Muchanga Mano Tomas Mario na verdade estamos entregues. Seria melhor decretar-se falência desta grande empresa chamada Estado.
  • Guilherme Mussane Caro Tomás Mario, isto é resultante de uma culpa colectiva. O Estado corroeu-se porque a montante nós aceitamos um sofisma que indicava a pureza e patriotismo naturais e congénitos dos seus timoneiros e hipotecamos os nossos direitos de cidadania, como por exemplo, o direito de manifestação da indignação através das greves e manifestações de rua. O excesso de poder discricionário do chefe de estado plasmado na nossa constituição é, também, cartão verde para que muitas coisas que relata no seu poste tenham espaço para existir. O Estado e o estado que nós temos hoje, em Moçambique, reflectem o seu povo.
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  • Nádia Munguambe Lamentavelmente verdadeiro e profundo.
  • Augusto Fernandes Apoiado,nunca,mais,levantamos a cabeça
  • Guilherme Mussane Mesmo tendo o cenário que o Tomas Mario descreve acima, a maior preocupação dos partidos políticos da oposição, sobretudo a RENAMO é mexer, na constituição, aquilo que os vai alinhar no tacho em caso de vitória. A oposição não vê outra coisa senão ter mecanismos de distribuição de oportunidade de estar no poder, para tirar do magro erário público. Isso e somente isso, os preocupa na actual constituição. Em todo o mundo a parlamento tem a ver com decisões sobre órgãos de soberania, exército, segurança de estado, política externa. Por que é que em Moçambique essas fulcrais decisões são alinhadas no poder discricionário do chefe de estado, como se fazia no tempo de Luis XIV na França?
    • Costacorreia Correia Ninguem nasce violento,ela aparece por vários factores incluindo o ambiente (onde,com kem,. . .)
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  • Costacorreia Correia Concordo mas devo salientar k os maus momentos deram alarme a qndo da morte de Mondlane. Recue e pense até hoje ninguem sabe ao certo "poqué,como e onde" morreu o pai da un?
  • Nemane Selemane Eu, espero tantos outros tambem, tenho aberto meu esgoto e mexer minha propria merda para desintupir aquele tanque e continuar a usar melhor. Coragem. O que se quer aqui e coragem e tudo muda.
  • Antonio Muagerene Uma dor de Alma.
  • Dias Massitala O veredito final se aproxima! Os sanguinarios verão.
  • Albrto Custodio Namburete Caro TVM, não foi só o Carlos Cardoso que alertou sobre a derrapagem do Estado, tantos outros o fizeram e cada um teve a sorte que lhe coube. Uns foi bala, outros foram postos coixos, outros isolados e citiados. Enfim até temo por ti pela osadia de seres, antes de patriota, um humano que sente, vê, cheira e fala.
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  • Benigno Artur Sumburane Sem comentários
  • Caet Love Anotado
  • Rodrigues Cariala Cariala Sr Guilherme Mussane, o Dr Tomas Vieira Mario não apresenta o raciocínio igual o teu. Ele coloca todos nos a fazer algo para solução do problema. Se o sr não tem visão positivista que deixe outras pessoas comentar, que nos levar a resistência a mudança.

2 comments:

Anonimato said...

Concordo Tomás com o seu text

Anonimato said...

Mais do que colocar o que todos vê m e sabem o importante é termos uma instituição que possa promover um debate em relação a refundação do Estado. Porque deixarmos para que os de sempre estejam na a dianteira estarmos a cometer alguns erros. Com isso não quero dizer que eles não têm um papel importante mas não são todos talvez o Hunguana pode ser chamado a participar.