'Josina Machel era uma mulher como outras. Foi uma combatente comum. Tornou-se importante porque casou com Samora Machel"
'As matanças a que assistimos hoje são a continuação da cultura de assassinatos dos comunistas que tiraram a vida de pessoas como Uria Simango e Joana Simeão"
Por André Mulungo
Chama-se Artur Lambo Vilankulo, é moçambicano, e actualmente vive nos Estados Unidos da América. Artur Vilankulo foi locutor fundador do programa ”A Voz da Frelimo”, na Radio Tanzânia, durante a luta de libertação nacional.
Durante uma das suas visitas a Maputo falou ao “Canal de Moçambique", tendo dito que Marcelino dos Santos e "os donos da situação” são os responsáveis pela morte de Eduardo Mondlane. Artur Vilankulo diz que a História não pode ser branqueada. Afirma que Mondlane não é fundador da FRELIMO e que Josina Machel era uma mulher combatente comum que se tornou importante por ter casado como Samora
Descreve as matanças que acontecem na actualidade, incluindo os atentados contra Afonso Dhlakama, como a continuação da prática de assassinatos que caracterizou a Frelimo antes e depois da Independência Nacional.
Artur Vilankulo viveu na casa "Changombe”, na Tanzânia, juntamente com Samora Machel. Joaquim Chissano. Armando Guebuza, João Munguambe, Mariano Matsinhe, Lopes Tembe, Marcelino dos Santos, Jorge Rebelo, Óscar Monteiro, Artur Murupa, Gabriel Simbine e José Moiane.
Acompanhe; a seguir, a entrevista a Artur Lambo Vilankulo.
Canal de Moçambique (Canal) — Não pegou em armas mas através do seu programa na rádio contribuiu para o processo de libertação do pais. Depois de libertarem o país, viveram o que sonharam durante a luta contra o colonialismo?
Artur Vilankulo — Uma das minhas grandes tristeza é que quando estava na rádio, a minha missão era dizer que a FRELIMO era um movimento de libertação de Moçambique e que, depois da Independência, o povo é que vai decidir o que quer, se será democracia tradicional ou ocidental. Dizia também que, depois da Independência, o governador seria eleito na sua própria província.
Canal - O que falhou?
Artur Vilankulo — Não sei. O que posso dizer é que, depois, adoptou-se o comunismo. Há um grupo de pessoas que se diziam moçambicanos não africanos. São esses os principais responsáveis pela implantação do comunismo. Trata-se de Marcelino dos Santos, Jorge Rebelo, Óscar Monteiro, Sérgio Vieira e outros. A este grupo chamavam os "os donos da situação".
Canal — Samora Machel não fazia parte deste grupo? Até porque, em 1977, o Estado moçambicano foi declarado marxista-leninista.
Artur Vilankulo - Samora Machel nunca foi comunista. A prova disso é que, mais tarde, aceitou visitar os EUA. Visitou Inglaterra e acatou o convite do Papa. Até para ser presidente Samora foi forçado, para evitar que Marcelino assumisse a presidência. Samora nunca foi marxista, É preciso entender uma coisa, quando falam os da Frelimo. A Frelimo I é de Eduardo Mondlane e Uria Simango. A Frelimo II é composta por Marcelino dos Santos, os donos da situação e outros que vieram mais tarde. Estes senhores eram maus. Os soldados brancos, quando eram encontrados, no tempo da primeira Frelimo eram levados para a Argélia, mas com a Frelimo II, eram assassinados. As matanças são a marca dos comunistas. Não tenho nada contra o comunismo. Só acho que o comunismo foi mau para Moçambique. Os que implantaram este sistema destruíram as tradições, incluindo o sistema de líderes tradicionais.
Canal — Porque chamaram ao grupo de Marcelino dos Santos “os donos da situação"?
Artur Vilankulo - Depois da morte do presidente Mondlane, passaram a controlar tudo e assassinaram muita gente. Em I974? Pedro Mondlane sugeriu que os movimentos de liberação deviam unir-se para conversar com os portugueses, Joana Simeão apoiou, mas a proposta foi rejeitada pelos sectores radicais da Frelimo. Depois desta proposta, foram todos assassinados. Entre os fundadores, apenas escaparam Lopes Tembe e João Munguambe. Uria Simango, que dizem que era não revolucionário, foi reeleito vice-presidente da FRELIMO em 1968, em Niassa, quando o presidente Mondlane foi reeleito. Marcelino dos Santos não foi eleito nada, depois de ter sido afastado do cargo de chefe das Relações Exteriores, em 1967. E alguém tinha que ir.
Canal - O que é que quer dizer com “tinha que ir"? Pode explicar?
Artur Vilankulo — Quando morre o presidente Mondlane, Uria Simango faz uma carta com o título "Situação sombria na Frelimo”. Marcelino dos Santos é um dos responsáveis pela morte do presidente Mondlane. Depois foi preso. Em 1965, como chefe das Relações Exteriores, foi á Assembleia Geral das Nações Unidas, À margem desse encontro, reuniu com alguns moçambicanos mistos e brancos e disse: '"Nós podemos governar o país, mas os pretos não podem”. Eu levantei-me e disse: “Não sou misto, sou Vilankulo" De imediato, mandou-me sair da sala, depois de ter corrido com alguns negros que se encontravam na sala. Em Maio de 1967, foi afastado do posto de chefe das Relações Exteriores. E isto foi suficiente para os donos da situação matarem o presidente Mondlane. Na altura, havia duas bombas, uma para matar o reverendo Uria Simango e outra para matar o presidente Mondlane.
Canal — Qual é a sua versão sobre o local da morte de Mondlane?
Artur Vilankulo – A FRELIMO tinha um escritório em Dar es Salaam que se encontrava na Av. Kwane Nkrumah. Não morreu no escritório. Se fosse no escritório, muita gente teria morrido. O presidente Mondlane tinha um escritório privado em Orstbay. O escritório potencia a Betty King, secretária da Janet Mondlane. a esposa do Dr Mondlane. O Dr. Mondlane foi para esse escritório para ter privacidade porque, na altura, havia uma pequena confusão no escritório da FRELIMO. Os guerrilheiros andavam a procura do Dr. Mondlane para denunciar matanças de inocentes dentro da FRELIMO. Uma moça chamada Panela, namorada do Marcelino, é que levou a encomenda.
Canal - Que memórias lhe ocorrem da época da luta de libertação?
Artur Vilankulo — Sinto muito, porque a maior parte das pessoas que eu conheci foi assassinada. Lázaro Kavandame é de Cabo Delgado, fez muito para receber os moçambicanos que passaram de Cabo Delgado para a Tanzânia. Para a guerra começar, foi graças a ele, mas foi assassinado pelos donos da situação, as pessoas que destruíram a FRELIMO por dentro. Os donos da situação seguiram muito o método de Lenine e Estaline. As matanças a que assistimos hoje, as tentativas de matar Afonso Dhlakama. são a continuação da cultura de assassinatos do passado por parte daqueles que não aceitam o pensar diferente. O padre Mateus Gwengere encorajou muitos jovens a sair de Moçambique para Dar es Salaam para estudar. Houve ajuda aos estudantes moçambicanos no Mozambican Institute, que foi o que foi graças à dona Janet Mondlane. Ela fez um trabalho muito bom no Mozambican Institute e apoiou o marido, Mondlane, como presidente da FRELIMO.
Canal - Disse que quem fundou a OMM foi a mulher de Uria Simango. Quando falamos do Dia da Mulher Moçambicana, a figura principal é Josina Machel. Quem foi Josina Machel?
Artur Vilankulo — Josina Machel só passou a ser importante porque se casou com Samora Machel. Antes disso, era uma combatente como outras mulheres que participaram na luta de libertação. Foi combatente como outras senhoras. Eu respeito-a como mulher mas a História deve ser dita como ela é. Não podemos mudar a História para favorecer a quem quer que seja.
"A Frelimo apropriou-se do nome do movimento"
“A Frelimo de 1977 apropriou-se do nome do movimento de libertação- a FRELIMO. A Frelimo é um partido político e não deve ser confundida com a Frente de Libertação de Moçambique. Quando estávamos em Dar es Salaam, chamávamos um ao outro “irmão”, e não "camarada".
Na Frelimo I éramos nacionalistas, e não camaradas, O sistema do partidarismo é contra o nacionalismo e é mau para a família, porque, quando um individuo não é da Frelimo, afasta-se, porque as pessoas foram educadas que somos todos camaradas, camarada irmão, camarada avó. camarada esposa, camarada chefe, camarada presidente, camarada ministro, e isto afecta muito o sistema hoje."
Artur Vilankulo nasceu no distrito de Massinga, na província de Inhambane. Actualmente, vive nos Estados Unidos da América. É veterano da luta de libertação nacional. Foi membro da Assembleia Municipal de Maputo (2003-2004), foi deputado da Assembleia da República, de 2004 a 2009, pelo círculo eleitoral de Inhambane. É doutorado nas áreas de relações internacionais, organizações transnacionais, diplomacia e negociações internacionais na Universidade de Columbia e na Universidade de New York City.
Artur Vilankulo contou que foi vítima de sete tentativas de assassinato, sendo três em Moçambique e quatro em Dar es Salaam.
CANAL DE MOÇAMBIQUE – 23.05.2018
NOTA: Quem acompanha o MOÇAMBIQUE PARA TODOS sabe que a Frelimo mente. Onde estão os verdadeiros historiadores?
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE
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