Tive o privilégio de participar hoje, nas primeiras horas da manhã, num evento alusivo ao lançamento de uma “Análise de Questões Éticas na Imprensa Escrita em Moçambique”, levada a cabo pelo Centro de Estudos Interdisciplinares de Comunicação, Sindicato Nacional de Jornalistas e MISA Moçambique através de um Observatório de Questões Éticas instituído para o efeito. O que eu defendi – e defendo – é que este tipo de estudos sobre questões éticas na imprensa moçambicana pecam por não considerar os espaços de opinião, de comentário e de análise dos jornais como sendo parte integrante do exercício da liberdade de imprensa e que também devem zelar pela ética, pelo que os mesmos devem ser administrados editorialmente pelos responsáveis editoriais. A análise hoje lançada, por exemplo, analisa os géneros jornalísticos informativos, nomeadamente as breves, notícias, reportagem, trabalhos de fundo, entrevistas e fotolegendas, deixando desguarnecidos os espaços de opinião, comentário e análise, como se estes fossem incólumes ou menos susceptíveis de violar questões éticas. Dei o exemplo do jornalista e editor do Mediafax Fernando Mbanze que foi parar as barras dos tribunais por haver extraído do facebook e publicado no seu jornal um artigo de opinião da autoria do economista Carlos Nuno Castel-Branco, o qual uma certa magistrada do Ministério Público considerou que atentava contra o bom nome, honra, reputação e integridade moral do então Chefe de Estado Armando Guebuza dai acusá-los, aos dois, de haverem cometido crime contra a segurança do Estado porque sobre o nome do rei não se pode falar com ares zombeteiros. Ora, se um jornalista, por ser editor de um jornal, pode responder em tribunal por causa de uma opinião por si publicada, que não é sua mas de outrem, não há razões para duvidarmos que os espaços de opinião, comentário e análise dos jornais são espaços onde os jornalistas e, sobretudo, os editores, devem ser os primeiros guardiões da ética. Embora nesta análise aquelas instituições se tenham limitado a abordar a imprensa escrita, aventam para os próximos tempos analisar questões éticas nas rádios e televisões. É aqui onde espero não ver de fora que para além de se analisarem apenas os géneros jornalísticos informativos, se discutam as questões éticas também nos espaços de comentário e análise política. Mais sobretudo por causa do respeito pelo princípio do contraditório, sem o qual o jornalismo deixa de ser uma profissão nobre. Não é de longe a memória de uma lista de analistas e comentadores políticos haverem sido imposta nas nossas rádios e televisões públicas para serem os únicos e exclusivos analistas e comentadores dessas rádios e televisões, consubstanciando-se, aqui, a interferência política grosseira na gestão editorial desses órgãos bem como a violação da independência editorial dos mesmos. Quando isso acontece – de forma sistematizada nos serviços públicos de comunicação social e que vivem dos impostos pagos pelos cidadãos –, ante o vosso silêncio insurdecedor, quem são os ilustres para nos falarem de questões éticas. Não falam os senhores dos espaços de comentário e de análise política porque têm dificuldades de pegar o touro pelos chifres, ou seja, têm dificuldades de falar do G 40, que em matérias de violação da Lei de Imprensa, da Constituição da República e dos mais nobres princípios que enformam o Estado de Direito e Democrático fez escola. Por causa deste tipo de esquadrões, em cujas malhas muitos jornalistas caíram e muitos de nós acabamos por ser vítimas, ao sermos excluídos de participar no debate público de ideias por não fazermos parte dessas listas e até mesmo por sermos declarados alvos a abater. Esquecem-se que foi através da Rádio Milles Colines que mais três mil tutsis – acusados de serem “baratas” – foram assassinados no chamado genocídio do Ruanda de 1994. Não me venham falar de ética se não estão preparados para ouvir a verdade. O primeiro sinal da violação do princípio do contraditório é a negação do outro. Hoje o país se vê mergulhado na desgraça, mas não foi por falta de aviso, já muito cedo dizíamos que não se podem destacar grupos propagandísticos para inundarem a nossas rádios e televisões em defesa do rei e para espalharem o seu veneno tóxico contra a oposição e todo aquele que pensa diferente. Todos nós violamos a ética jornalística quando nos calamos perante G 40, deixando a esquadra fazer das suas. Hoje o rei vai nu. E com ele vai uma República!
Antonio Jorge Massuque Boa observação. Estas de parabéns amigo Armando Nenane
Gosto · Responder · 2 · Ontem às 16:17
Joanguete Celestino Editorial,
opinião e comentários não podem entrar nos critérios de avaliação da
ética por constituirem o pensamentos individual do opinador. Os
restantes géneros jornalísticos são os verdadeiros pontos de análises.
por conter matérias de impacto social, formador de consciência e de
opinião pública.
Armando Nenane Eh
sua opiniao Dr. Tenho a minha, nao com motivacoes nem metodologias
academicas tradicionais e ate mesmo retrogradas. Se o comentario, a
analise, o editorial e o comentario num jornal nao tem que estar
adstritos ao respeito pela etica jornalistica entao
esta aberto o espaco para o avacalhamento da comunicacao social.
Perceba a minha casmurice. Foi por falta de etica nas chefias editoriais
que se permitiu que os espacos de comentario e analise fossem tomados
pelo G 40. Um jornalista com etica promove o contraditorio nos espacos
de comentario e analise politica, nao se deixa levar por listas que lhe
sao impostas de fora.
Marta Pedro Admiro
bastante a sua escrita que d'alguma forma reflete a maneira com pensa,
é o que precisamos, ideias contraditórias que expressam o que pensam,
que não se deixam levar com as opiniões "tradicionais" dos outros ou do
que está escrito nalgum lugar...
Edwin Hounnou Então os opinadores são condenados em juízo. Em que ficamos?!
Kuyengany Produções
Traduzido do Espanhol
Até a vitória o comandanteVer Original
Edwin Hounnou Sim, está muito certo o meu amigo Armando Nenane,
pois, sempre avisamos que o barco da nossa liberdade de imprensa vai de
mal a pior. Uns são condenados por emitirem uma opinião enquanto se
recrutam uma matilha inteira para vociferar contra quem pensa
de modo diferente ou contrário. Aqui os moralistas se retiram da praça
para se refugiarem em conventos do regime. Eu dispenso as aulas desses
indivíduos porque eles não têm a estatura moral para ensinar nada a
ninguém. Quem cala, consente, diz um velho ditado e eles se calarem
perante o assassinato de carácter de quem discorda,
Rui Jose de Carvalho Valeu Armando Nenane.
De facto o suporte de uma opinião devia ou deve ser do trato editorial,
independentemente o facto de ser um pensamento individual e nao
necessidade contraditória. Quando se vai a julgamento por difamação
através da opinião o jornal tem responsabilidade criminal e é suposto a
repor danos causados.
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