No coração de África fica um país pequeno chamado Malawi. Este “coração quentinho” - tal se identificam os malawianos (the warm heart of Africa) - mantem relações difíceis com os seus mais chegados vizinhos: Tanzânia e Moçambique. Recentemente, com a descoberta do petróleo no lago Niassa/Lake Malawi/Lake Tanganyika, levantou-se a velha questão fronteiriça entre Malawi e Tanzânia, ao ponto de Kikwete afirmar que tinha forças militares bastantes e preparadas para uma eventual guerra. O Bingu mais velho lá teve que se virar com mediação da SADC. E cá entre nós as relações são azedas desde o tempo de Banda. Albergue para homens armados, desde 1966, Malawi foi tanto para o colonialismo português como para a Frelimo um vizinho “que fazer”. Recentemente, e de novo com Mutharika mais velho, o governo malawiano viu as suas intenções de tornar navegável o rio Chire e usar o porto de Nsanje gorar, depois de Moçambique ter simplesmente recusado em avançar. Os porquês, estes nunca foram acareados.
Mas o mais interessante não é Malawi: é mesmo Moçambique e Tanzânia, países megalómanos, cuja liderança ainda guarda mágoas dos tempos de Banda e da OUA.
Estranhamente é Malawi que se mostra mais acolhedor em tempos de crise. Tanzanianos e moçambicanos entram para aquele pequeno país para fazer negócios, viver e serem felizes. E, eles compram todo nosso milho e guardam para depois compra-lo de volta em tempos de fome. Agora que estamos em crise política e militar, é de novo Malawi que acolhe mais de 11 mil deslocados, nossos compatriotas, depois de por aproximadamente dez anos, ter acolhido mais de um milhão de moçambicanos em campos de refugiados em todo território nacional. Não existe maior expressão de solidariedade que esta. Para lá das justificações, sinto que é dos malawianos que devemos aprender a viver em sociedade. Da África do Sul recebemos semanalmente imigrantes ilegais de comboio, e ondas de violência contra estrangeiros, a cada sete anos. Não que não seja compreensível, mas em comparação, temos outros exemplos melhores.
Ainda tempos uns probleminhas de comunicação com a Swazilândia. Ela está a planear abrir um canal que os permite chegar ao mar. Mas grande parte da distância será em solo moçambicano. Lá, eles estão já na fase de mobilização de recursos. Connosco, nem uma palavra. O que se passa?
Zâmbia, outro país-irmão que acolheu o processo de independência. Assim que a UNIP de Kaunda caiu, as relações caíram também. De lá para cá, apenas Kaunda. Dos seis presidentes que a Zâmbia teve, apenas Kaunda (primeiro) e Lungu (o sexto, o actual) visitaram Moçambique. Nyusi foi ao enterro do Presidente Sata, numa demonstração de abertura para melhoria da cooperação entre os dois países.
Como país, estamos desde 1975 em guerra. Eles, que tiveram as suas independências mais cedo que nós, apesar dos seus desafios, nunca resolveram seus assuntos “à paulada”.
Veja desde quando os nossos vizinhos gozam a sua independência em paz
• 1961 (Tanzânia);
• 1964 (Malawi)
• 1964 (Zâmbia)
• 1968 (Swazilândia)
E nós? Quando é que iremos descobrir e acarinhar o valor da Paz?
Não admire que uns já começam a nos chamar de “loucos”.
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