Momade Assife Abdul Satar adicionou 4 fotos novas — em London City. Ontem às 10:49 · Londres, Reino Unido ·
Algumas pessoas podem julgar que o facto de eu ter ficado preso durante 13 anos e meio, eventualmente posso ter ficado parado no tempo. Não é verdade. Sempre acompanhei o que se passava no mundo exterior.
Algumas pessoas podem julgar que o facto de eu ter ficado preso durante 13 anos e meio, eventualmente posso ter ficado parado no tempo. Não é verdade. Sempre acompanhei o que se passava no mundo exterior.
Três anos depois de eu ter sido preso, consegui introduzir na BO uma parabólica. Arranjei um fim-de-semana desses em que havia pouco movimento e entreguei-me às obras sempre ajudado por alguns reclusos. Furamos o tecto da minha cela, introduzimos o cabo de forma que até os guardas não pudessem perceber, e a partir dai podia ver canais mundialmente famosos como o Sky News, BBC, CNN, Al Jazeera, entre outros. Introduzi o televisor na cadeia com anuência da direcção da BO. Era legal.
Paralelamente às notícias do mundo, lia vorazmente jornais e revistas conceituados. Andava muito informado. Desses tempos, recordo-me quando do funeral do então Presidente sul-africano, Nelson Mandela. Estavam lá vários estadistas importantes do mundo. Desses tenho a destacar Barack Obama, dos Estados Unidos da América, e Raul Castro, de Cuba.
O mundo, literalmente, parou para ver que atitude Barack Obama iria tomar quando desse de frente com Raul Castro. Eis que Obama, diplomata e, acima de tudo, humilde como sempre, apertou a mão à Raul Castro e todas as televisões e jornais do mundo noticiaram o facto. Era o princípio do fim de anos de discórdias entre América e Cuba.
Se hoje Obama está em Cuba para uma visita oficial e histórica, tudo começou naquele aperto de mão acontecido em terras sul-africanas aquando do falecimento do líder histórico daquele país. Venceu a diplomacia. Venceu o bom senso e mais do que nunca fica claro que as hostilidades nunca vão ter lugar no mundo actual. É dialogando que as pessoas ou nações se entendem. Foi bom ver Obama, acompanhado pela mulher e as filhas, a ser saudado por uma multidão cubana delirante. Depois desta visita, nada será como dantes.
É bom repisar que do lado americano, exactamente em Miami, existe uma forte comunidade cubana que por lá reside. Chegou lá por vias pouco claras. Mas, contudo, creio eu que muitos cubanos poderão, num futuro breve, ir a América legalmente assim como os americanos poderão deslocar-se à Cuba. Está lançada a semente da paz e acredito que vai germinar longe dos ódios anteriores.
Isto devia servir de lição para nós os moçambicanos. Devia servir de lição para os nossos dirigentes políticos. Sinceramente, até hoje ainda não percebi o que impede o Presidente Nyusi e Afonso Dhlakama de sentarem à mesma mesa de diálogo. As pré- condições e outro tipo de exigências feitas por ambos actores deste diálogo político são desculpas de mau pagador.
Querendo, o Presidente Nyusi pode, e muito bem, ir ao encontro de Dhlakama onde quer que esteja para sentarem e conversar. Podem ambos parar com esta guerra que dizima pessoas inocentes nas zonas norte e centro do país. São quantas pessoas que perderam o pouco que tinham por causa desta desestabilização? São quantos deslocados? São quantas viaturas de pessoas inocentes que foram queimadas? A intolerância política e a exclusão social nunca nos vão trazer benefícios. Moçambique não é dos políticos. É dos moçambicanos.
O povo quer viver em paz e isso não se alcança com a força das armas. É com diálogo franco e aberto. É com cedências mútuas porque ao fim dos dia ambos os “beligerantes” são moçambicanos. Abaixo a força das armas. Abaixo o cinismo. Abaixo a intolerância e todo o tipo de exclusão. Viva o diálogo. Viva a paz. Viva o entendimento e bem-estar de todos os moçambicanos. E ai vai um recado meu para os nossos políticos: os bons exemplos são para ser copiados. Nyusi e Dhlakama sejam como Obama e Raul Castro. Fumem o cachimbo da paz e enterrem duma vez por todas o machado da guerra.
Nini Satar
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