Há um milhão de pessoas em risco. A manutenção regular da estrutura foi interrompida quando o Estado Islâmico conquistou, temporariamente, a infra-estrutura.
O Governo iraquiano e a embaixada dos Estados Unidos em Bagdad emitiram um aviso urgente sobre a possibilidade de a barragem de Mosul ruir, o que faria com que a cidade ficasse debaixo de 20 metros de água, colocando mais de um milhão de pessoas em risco.
A embaixada norte-americana lançou mesmo um apelo na segunda-feira para evacuar a planície junto ao rio Tigre, considerando que “uma preparação adequada poderá salvar muitas vidas”. A ameaça de colapso foi descrita como “séria e sem precedentes”.
Por seu turno, o primeiro-ministro iraquiano, Haider Al-Abadi, emitiu um comunicado em que pedia aos habitantes de Mosul, a segunda maior cidade do Iraque, em poder dos jihadistas do Estado Islâmico, para que se afastassem pelo menos seis quilómetros do rio Tigre. Este aviso marca uma mudança no tom do Governo iraquiano, que nos últimos anos tem minimizado esta ameaça.
O perigo evidente do colapso da barragem de Mosul foi reforçado por engenheiros iraquianos que estiveram presentes no início da sua construção. Consideram que o risco é real e que as consequências são muito mais graves do que aquilo que anteriormente se pensava, uma vez que uma catástrofe repentina poderá levar a uma situação de pânico entre a população, existindo a possibilidade de uma onda de 20 metros inundar a cidade de Mosul e depois atravessar o rio Tigre até às cidades de Tikrit, Samarra e Bagdad.
“Se a barragem ruir, a água chegará a Mosul em quatro horas e a Bagdad em 45. Algumas pessoas afirmam que poderão morrer 500 mil pessoas, outras falam em um milhão. Eu imagino que, na ausência de um bom plano de evacuação, sejam ainda mais”, afirmou Nasrat Adamo, antigo engenheiro-chefe, ao The Guardian.
A barragem, que é a maior do país, tem problemas estruturais desde a sua construção nos anos 80, altura em que o regime de Saddam Hussein ignorou advertências de geólogos que alertaram para o perigo de a construção estar a ser feita com pedras fracas e solúveis em água, como gesso ou anidrita.
Desde então que a necessidade de manutenção é constante. Contudo, estes trabalhos foram interrompidos quando os jihadistas do autodesignado Estado Islâmico (EI) tomaram temporariamente posse da barragem em 2014. Desde então, a água continuou a infiltrar-se, enfraquecendo ainda mais a sua estrutura.
“Costumávamos ter 300 pessoas a trabalhar 24 horas por dia, em três turnos, mas poucos destes trabalhadores regressaram. Agora estão lá cerca de 30 pessoas”, afirmou Adamo. “As máquinas foram saqueadas. Não há fornecimento de cimento. Tudo o que podemos fazer é segurar os nossos corações.”
Estas preocupações são também partilhadas pelo engenheiro Nadhir al-Ansari: “Em Abril ou em Maio haverá muito mais neve derretida, o que irá aumentar a quantidade de água no reservatório. O nível da água está agora nos 308 metros, mas irá subir para mais de 330. E a barragem já não está como antes. As cavernas por baixo dela aumentaram. Acho que a barragem não vai suportar esta pressão”, declarou.
Em Fevereiro, o Governo iraquiano conseguiu um contrato com uma empresa italiana, a Trevi, para avançarem trabalhos de reparação e manutenção. Um porta-voz da empresa confirmou ao The Guardian que o contrato ainda não foi assinado e que não existe uma data prevista para que tal aconteça, o que aumenta os receios de que a barragem possa ceder antes de se iniciarem os trabalhos de reparação.
Uma outra solução passaria pela Barragem de Badush, situada a 20 quilómetros da de Mosul. Contudo, a construção desta infra-estrutura está interrompida desde a década de 1990, devido às sanções internacionais de que o Iraque foi alvo, o que deixou apenas 40% da sua estrutura concluída.
Uma conferência internacional foi anunciada para Abril, em Roma, para discutir formas de prevenir um desastre. Contudo, face ao iminente perigo de colapso, poderá ser tarde. “Ninguém sabe quando irá ceder”, afirma Adamo. “Poderá ser daqui a um ano. Poderá ser amanhã.”
Texto editado por Ana Gomes Ferreira
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