Segundo Aurélio Rocha:
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O historiador e docente da Universidade Eduardo Modlane, Aurélio Rocha, considera que a exclusão social em Moçambique é susceptível de levar à divisão do país. Rocha falava na terceira palestra de reflexão sobre as Independências em África, realizada na última quarta-feira, na Faculdade de Letras e Ciências Sociais em Maputo.
Na sua intervenção, Aurélio Rocha discutiu o tema Estado-Nação e estratégias de afirmação da identidade nacional moçambicana chamando a atenção à existência de conflitos regionais latentes na construção do estado moçambicano.
Observa que, quando o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, faz o chamamento ao povo, milhares de pessoas se fazem presentes nos comícios lamentando a governação do partido no poder, e estimulam a vontade pela concretização do projecto da Renamo, sobre as províncias autónomas.
“A exclusão é sempre factor de conflitos e de guerra que, num país multicultural como Moçambique, pode, naturalmente, levar à fractura da sociedade. E, como diz um grande sociólogo: «os países são como organismos humanos – nascem, crescem e podem morrer». Moçambique pode mesmo desaparecer”, disse Rocha, perante estudantes de diversos cursos ministrados na mais antiga instituição de ensino superior do país.
“Estes conflitos são de carácter regional...”
Para Rocha, nas zonas centro e norte do país é muito provável que exista um sentimento de descontentamento que leva as pessoas a afastarem-se do poder instituído para seguirem projectos com carácter regional.
“Não acredito que sejam sentimentos étnicos, há um descontentamento relativamente ao centro do poder”, disse o historiador.
“Muitas vezes pensamos que esse problema não nos toca, a questão de poder haver fracturas na construção nacional, de revoltas de carácter étnico ou regional. O discurso político diz que isto não existe, o que não constitui verdade. Devemos estar atentos ao que se passa no mundo inteiro. Estas situações estão a ocorrer em todos os continentes. A própria Europa está marcada pelo ressurgimento de nacionalismos que existiam em estado latente. Não é só nos países que estavam na órbita da antiga União Soviética, como também nos países ocidentais. São exemplos, a Catalunha, na Espanha, a Escócia que há pouco tempo fez o referendo, da Grã-Bretanha e outros. A Bélgica é um país em que a identidade particular existe entre Valões e os Flamengos”, afirmou Rocha, docente do curso de história na UEM.
Chama da unidade não resolve o problema
Na perspectiva de Rocha, o lançamento da “Chama da Unidade”, no quadro das comemorações dos 40 anos da Independência Nacional, ainda não é a solução do problema sobre a unicidade do Estado. No seu entender, é preciso definir políticas públicas tendo em vista o equilíbrio social e regional.
“Não chega ter uma língua comum, dizer ou fazer afirmações que dão conta que a unidade nacional está garantida, fazer digressão com a tocha da unidade, é preciso partir para acções concretas. A Jugoslávia era um grande país e desapareceu por causa das desigualdades sociais”, alertou Aurélio Rocha, acrescentado que este problema não diz respeito apenas a Moçambique.
“Os conflitos entre centro e periferias existem em todo o mundo. Não são só de Moçambique. Ora, em certas situações é mais agudo porque somos um país pobre, onde a exclusão social é cada vez maior, as pessoas perdem parte da sua vida para tentar sobreviver. Assim, há muitas situações que devem ser atendidas para garantir a unidade do Estado”, afirmou.
Refira-se que, para além de ser docente da Faculdade de Letras e Ciências Sociais na Universidade Eduardo Mondlane em Maputo, Rocha é Mestre em Economia e Sociologia Histórica pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Os seus interesses de pesquisa situam-se na História e Sociologia Histórica. Tem várias publicações em livro (autoria e coautoria) e em revistas científicas moçambicanas e estrangeiras.
João Chicote
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