domingo, 19 de abril de 2015

Os políticos deviam ser proibidos de fazer promessas


Vamos ter de nos habituar a viver com pouco crescimento económico, o que significa que não há espaço para fazer promessas ou alimentar expectativas. Com ou sem austeridade, o tempo não volta para trás
A campanha eleitoral ainda vem longe, mas começa a notar-se o nervosismo à esquerda e à direita. António Costa, apesar de ter a sua equipa a fazer contas e a testar cenários, já fez algumas promessas concretas (descer o IVA da restauração, por exemplo) e tem garantido que vai “inverter a política de austeridade”. Paulo Portas pediu no último fim de semana que dêem uma oportunidade à actual maioria para governar sem ser em período de aflição, o que é mais ou menos o mesmo que dizer que se deseja regressar aos “bons velhos tempos”. E até Passos Coelho, sempre mais comedido, permitiu uma fuga de informação onde se fala, de novo, de uma redução da TSU paga pelos empregadores, desta vez sem aumento da contribuição dos trabalhadores.
A pouco e pouco, como já aqui referi, vai-se instalando o ambiente de que se pode voltar atrás no tempo, a essas décadas descontraídas em que os políticos rivalizavam nas promessas que faziam, juravam que elas custariam pouco dinheiro e depois acabavam sempre a gastar mais do que previam e a cumprir menos do que o prometido.
A ladainha que está por trás desta inflexão é a convicção de que voltámos a tempos de crescimento económico, logo de alívio do cinto que tanto nos aperta a barriga. Lamento ser desmancha prazeres, mas não me parece que isso vá suceder. Ou mesmo que isso possa suceder.
É verdade: Portugal está de novo a crescer, e a Europa também. Nada de muito espectacular, mas mesmo assim algum crescimento e até o FMI se mostra um pouco mais optimista. No entanto, se olharmos para os números com frieza, é fácil perceber como tudo está preso por arames. Primeiro, porque o petróleo não pode baixar mais do que já baixou, nem se prevê que o euro possa desvalorizar muito mais do que já desvalorizou. Depois porque, mesmo vigorosa, a famosa política dequantative easing do Banco Central Europeu tem limites e subsistem dúvidas sobre a sua real eficácia a médio prazo. Por fim, goste-se ou não de o dizer, a verdade é que as reformas necessárias para tornar as economias do sul da Europa mais amigas do crescimento estão longe de estar todas realizadas em muitos países, a começar pela França.
Seja lá como for, quando analisamos este tipo problemas ou mesmo quando discutimos a falsa dicotomia “austeridade vs crescimento”, estamos a falar da conjuntura. Estamos a falar do tempero, não estamos a olhar para o conduto. É que o problema de fundo é bem mais complexo e anda a dar a volta à cabeça aos economistas. Podemos enunciá-lo assim: será que chegámos a um período de baixo crescimento, ou mesmo ausência de crescimento, que se prolongará por muitos anos? Haverá alguma coisa que possa ser feita contra isso?
Não parece haver doutrina segura sobre o que temos pela frente. Quem segue com alguma atenção o debate na imprensa internacional da especialidade já ouviu por certo falar da “secular stagnation”, como lhe chama o antigo secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Lawrence Summers. Já Ben Bernanke, que foi presidente da Reserva Federal (o equivalente ao nosso BCE), entende que o problema é um excesso de poupança por comparação com o investimento. Não sou economista e não vou, por isso, entrar neste debate, mas tendo a subscrever a conclusão de Wolfgang Münchau: a evolução recente da economia desafia as ferramentas de análise que, consensualmente, têm vindo a ser utilizadas pelos macroeconomistas. Em causa estarão os complexos modelos conhecidos na gíria da profissão como DSGE (dynamic stochastic general equilibrium), modelos que, de alguma forma, tinham conseguido superar as grandes discussões ideológicas do século XX.
Eu que, repito, não passo de um leigo nesta matéria, tiro mesmo assim três conclusões do que tenho lido sobre este debate. A primeira é que há uma boa explicação para os falhanços dos modelos de previsão da evolução das economias, falhanços que tanto nos surpreenderam a nós, portugueses, como às mais poderosas instâncias internacionais, e essa boa explicação é que esses modelos não estão a conseguir integrar uma parte da realidade económica. A segunda conclusão é que, face a uma evolução da realidade que se tornou muito menos previsível, é totalmente fútil, para não dizer enganadora, a discussão sobre os famosos “multiplicadores” que tanto entreteve alguns dos nossos economistas e boa parte da nossa classe política. E a terceira é que se Keynes fosse vivo estaria hoje provavelmente a mudar de ideias, seguindo a sua máxima de que “quando a realidade económica muda, as minhas convicções académicas também mudam.”
Em síntese: ninguém sabe bem por que é que a economia – portuguesa, europeia, mundial – se está a comportar de uma forma que desafia os modelos estabelecidos, pelo que ninguém pode, com honestidade, propor “soluções”. Estamos num tempo da tentativa e erro, e a minha inclinação é que, pelo menos no Ocidente desenvolvido, estamos também a entrar numa fase de prolongada estagnação económica.
A meu ver isso acontece por várias razões, sendo que a maior parte delas (para não dizer quase todas) não tem solução política ou mezinha financeira. Não há forma de reverter a demografia e de evitar sociedades cada vez mais envelhecidas. Não há forma de levar as pessoas a consumirem mais, ou as empresas a investirem mais, endividando-se, quando muitas delas já estão demasiado endividadas. Não há forma de reverter a pressão para o aumento constante dos gastos com o “estado social” (nos anos do pavoroso “neoliberalismo”, isto é, de 1990 para hoje, o aumento, em relação ao PIB, dos gastos sociais em praticamente todas as sociedades desenvolvidas foi de quatro a sete pontos percentuais, o que não está mal quando tanto de fala de “Estado mínimo”). E é muito difícil imaginar que os ganhos de produtividade no mundo desenvolvido sejam suficientes para conter as consequências dos ganhos de produtividade que estão a ocorrer no mundo em desenvolvimento.
Mais: temo que a descida do preço do petróleo possa constituir uma ilusão tão perigosa como a ilusão que a descida das taxas de juros teve sobre economias como a nossa. Sendo que, ao mesmo tempo, apesar de todas as inovações, a tendência de fundo é para os preços da energia subirem, não para descerem, e todo o nosso mundo se baseia num consumo crescente de energia.
Podia continuar por aqui adiante, mas acho que não é necessário. O crescimento que as nossas sociedades conseguirem gerar nos próximos anos, porventura nas próximas décadas, dificilmente dará para continuarmos a cumprir as obrigações (revistas em baixa) dos sistemas sociais de proteção na velhice, para pagar os custos crescentes da saúde, para contermos ou revertermos o crescimento da dívida ou para investir o suficiente para criar emprego e enfrentar a nossa maior chaga social – nossa e de quase toda a Europa, o desemprego estrutural e duradouro.
É por isso que os políticos não deviam criar expectativas e muito menos acreditar que será espalhando o optimismo entre os consumidores (e eleitores) que passaremos, num passe de mágica, da “austeridade” para a “prosperidade”, ou da depressão para o crescimento. É certo que não precisam de dizer aos seus eleitorados que só podem prometer “sangue, suor e lágrimas”, mas compete-lhes ser moderados e realistas para evitar que cheguemos um dia a esse extremo. E digo isto mesmo não subscrevendo o pessimismo de um Günter Grass sobre, por exemplo, a iminência de uma III Guerra Mundial.
Políticos que, mesmo que em doses diversas, não apenas acreditam, como exploram a ideia de que é necessário fazer subir, com promessas, as expectativas dos eleitorados, não são apenas desastrados ou irresponsáveis, podem também transformar-se em coveiros da democracia. O nosso tempo não é esse, é antes o da pedagogia tranquila e o dos pés bem assentes na terra. E o tempo, como se sabe, não volta para trás.

34 Comentários

  • batendo latas14 Abr 2015
    O artigo aborda algo que se tornou um costume na política portuguesa, infelizmente é verdade. Mas em relação ao título, discordo, não me parece que os político devam ser proibidos de fazer promessas. Os políticos devem é ser condenados pelas patifarias que fazem, muitas vezes em consequência das tais promessas. Devem ser enjaulados o mais possível pelo mal que fazem aos portugueses, isso sim, de forma dura e implacável. Só assim “aprenderiam” e quer me parecer que já não seria preciso proibir fosse o que fosse. Bandalhos
    • Francisco Pinto15 Abr 2015
      Caro Bento Guerra
      Discordo totalmente do seu argumento sobre a responsabilização de políticos com poder executivo, mas compreendo-o.
      Quem deve ser responsabilizado são os eleitores que mandatam esses sujeitos. Até que sejam responsabilizados pelas suas escolhas, os eleitores portugueses não “crescem” e continuarão a mandatá-los ad nauseam. Porém, não acredito que embarquem outra vez nos mesmos discursos políticos e nas promessas eleitorais simplórias e nefastas, porque desta vez doeu mesmo.

      • batendo latas15 Abr 2015
        Acredite, Francisco Pinto, que eu também o compreendo. No entanto, acho absolutamente irrealista o que sugere. Além disso, pedir a eleitores “responsáveis” para serem, mesmo assim, responsabilizados pelos que não o foram, parece me muito injusto. Como disse, entendo-o, mas qualquer que seja a solução (passará por uma responsabilização mútua com certeza) tem de passar por duras medidas contra os aldrabões, patifes e maus gestores, para mim é claro, sem justiça não há responsabilização nem “crescimento” democrático.
  • João Cardoso14 Abr 2015
    Nós, portugueses, estamos descansados com essa cena da “secular stagnation”, uma vez que temos os “cofres cheios” e vem aí muito investimento por conta da baixa da TSU dos empreendedores – depois da diminuição, já iniciada e ainda em movimento, do IRC.
    “Cofres cheios” que também vão servir para PPortas fazer as promessas habituais de baixar os impostos – nem que seja no último ano da próxima legislatura, ié, em 2019 a caminho de 2020!
    Quanto a ACosta, a ser o futuro 1º ministro, mudará de discurso assim que se reunir com Merkel e BCE e teremos, sem surpresas, mais do mesmo dos últimos governos onde o PS participou: governo de direita preocupadissimo com com o equilíbrio dinâmico do DSGE , seja lá isso o que for.

  • Jor Gab14 Abr 2015
    Acho engraçado que se alinhe agora nos sortilégios para estimar a evolução económica. Porquê a condenação ao crescimento anémico? Falou com o Medina Carreira ou com aquele gabinete de estudos da Católica que determinou estarem as exportações no seu limite de exaustão (mais uma doutrinação “aneritrócita”)?
    Pegar na estimativa de evolução Macro global e transpôr o seu efeito para uma evolução do produto nacional dela decalcada é desconsiderar a nossa realidade estrutural e específica, tanto mais distinta na medida que somos um somatório de pequenezes pouco elásticas, muitas das vezes, a esse economês global. Se existe muito por fazer quando se diagnostica o problema significa que existem ganhos estruturais potenciais à espera de concretização, ou não será que o JMF e os economistas têm andado a dizer isso mesmo? Como se conjugam as duas premissas? Depois podemos sem optimismos olhar para o potencial de qualificação e de outros recursos endógenos sub-aproveitados (outro dos useiros diagnósticos) e esses também encerram potencial de aceleração. Temos ainda os elevados custos de contexto (mais um problema declarado useiramente) e como tal mais um pólo de aceleração, etc,etc,etc
    A mim, não jornalista e não economista, faz um pouco de impressão ver como o mais requintado economista cria uma onda de lugares comuns e acaba arrastando outros congéneres e arrastam também o JMF (para não dar demasiada importância à boçalidade de hoje do Sr Salgueiro). A moda dita que se façam diagnósticos irrecorríveis e se citem terapêuticas mitigadoras, dita a tendência que os economistas passem a profetas em desânimo.
    Neste meu ponto, que estranha o JMF na conduta dos políticos? Que não chamem a si o papel que a economistas estaria reservado? Que tentem vender esperança com dissociações da realidade? Ao menos falam aos tolos convictos, ainda chamam a si quem acredite em alguma coisa, ainda que reais tretas, ao invés de passarem a acertar no euromilhões depois do sorteio. Se a política é também dizer que há um caminho porque hão-de esses muitos (ineptos)políticos resignar-se à resignação de analistas? Os grandes feitos económicos das economias foram obtidos por políticos e não por economistas que passam o tempo a tentar perceber e explicar o que já foi, logo entre o que mente um futuro e o um que não consegue entender o presente e passado, continuo a ter de eleger um dos mentirosos porque dos outros nada se espera.
    Deixe lá de descrer só porque dos economistas vêm vatícínios de ventos negros e dos políticos vem pouca verdade, ao fim do dia quem lida com a realidade e decide a economia é quem nos governa e convém decidir-mo-nos se queremos uma governação que acredita em economistas ou uma que tente contradizê-los, e bem recentemente se vem vendo isso mesmo.

  • bento guerra14 Abr 2015
    Não é precisa tanta análise.Não ouviu o Medina Carreira,ontem à noite?(há gravação no site).As economias ocidentais ,que tinham exportado capital depois da Thatcher-Regan,a partir do Acordo com a China,exportaram “know-how” e empregos.Resultado a Europa deixou de crescer,de modo aceitável,tem 25 milhões de desempregados na UE e 15 milhões na Eurozona.O desemprego jovem tem a taxa obscena de 40 porcento em Itália.Arranjam-se paliativos,subsídios e falsos empregos.O ,mundo deve olhar estupefacto para o bloqueamento português à redução da TSU- actualmente 24 porcento do salário por cada cabeça.”La musica è finita”.Empobrecer controladamente e esperar.Esta verdade nenhum politico e nenhum jornalista a dirá
    • Insana Assunta15 Abr 2015
      Ai ó senhor Bento, o senhor que me desculpe, mas estava aqui a lacrimejar por causa de uma cebola bem arretada, e lembrei-me do que me disse a prima Ironsina, que é metida e achada nessas coisa de economia em grande, ou macro, ou coisa parecida.
      Pois ela explicou-me que isso de mandar as coisas para os chinocas, evitou a hiperinflação que estava para acontecer. Além do petróleo alto, o apertar de regras ambientais, ia aumentar em muito os custos de produção. Claro que a gente não liga para o que não acontece. Só para o que acontece.
      Também ouço o dr Medina. Tal como a Ironsina. Mas ela aconselha a dar algum DESCONTO, tal como se deve fazer com os taxistas.
      A Ironsina pediu-me para pensar qual a indústria nacional que resistiria em mercado aberto. Pensei, pensei, e nenhuma. As que resistiram, mudaram, já não são as mesmas.
      E a Ironsina disse-me também que as economias industrialmente desenvolvidas, continuam industrialmente desenvolvidas, excepto o lixo que mandaram para os chinocas. Porque coitadinhos, eles é que ficaram com as águas a cheirar mal e as terras a dar alhos chochos.
      Para a Ironsina, nós choramos de barriga cheia. E falando em barriga cheia, vou aproveitar para pôr a
      cebola ao lume.

      Mais uma vez desculpe qualquer coisinha, senhor Bento.
      Xau
  • Tudoao Charco15 Abr 2015
    Há uns pequenos problemas nesta análise:
    a) Já ESTAMOS habituados ao anémico crescimento económico. Vejam-se as estatísticas do Crescimento Económico dos últimos anos…
    b) Campanha eleitoral não vem longe… já aí está, em plena a força. Ainda não repararam nas polémicas diárias sobre (quase) nada, nem sequem nos cartazes que nos invadem os olhos em todas as Rotundas??
    Enfim, há que estar atento aos “sinais”…

  • Fernando Santos15 Abr 2015
    Recomendo ouvir Medina Carreira.
    Ainda esta’ para aparecer alguem do governo ou da oposicao que confronte Medina Carreira para o desmascarar.
    MC sabe do que fala e esta’ documentado. Por outro lado nao esta’ nem e’ candidato a coisa alguma. Uma enormissima vantage.

    • José Mendes16 Abr 2015
      Caro Fernando Santos,
      Não deposite tanta confiança em Medina Carreira. Ele tem uma visão estática da economia e para além das continhas de aritmética, as de somar e subtrair, não alcança muito mais.

      Portugal já não é um país soberano desde que cedeu a política aduaneira, cambial,monetárias e financeira. Estas políticas que residem agora nas instituições europeias são decisivas para as nossas vidas. O nosso esforço devia deslocar-se para essas instituições influenciando-as com os nossos pontos de vista.
  • Francisco Pinto15 Abr 2015
    O assunto é muito vasto e de enorme complexidade. Por não ser simples tem muitas causas e múltiplas soluções. Desde logo porque é impossível crescer sempre, e para sempre, ao mesmo ritmo. Tudo nasce, cresce, decresce e morre, é assim com as pessoas, com as sociedades e com as economias.
    Mas enquanto não se inverte esta estagnação económica, é muito importante limitar os efeitos nefastos consequentes das medidas propostas por alucinados políticos que entopem as tv’s, os jornais e as rádios.

  • Insana Assunta15 Abr 2015
    Ai senhor José, mas qual é a graça de proibir os políticos de fazerem promessas? Quando eu era namoradeira, namorado que não fizesse promessas, mandava-o logo chatear outra freguesia. E proibir, proibir, o adultério também está proibido, mas olhe, nem lhe conto, que só na família, bom, cala-te boca que é melhor.
    ´
    Depois, como diz a prima Eldeviges, as promessas chamam-se promessas, porque não passam disso mesmo, promessas. Que para nossa sorte, não são cumpridas, segundo a Eldeviges. E o que seria da democracia se a oposição enquanto oposição fosse proibida de prometer? E o que seria de nós se o governo cumprisse as promessas de quando era oposição?

    Ai que a Eldeviges me deixou pulga atrás da orelha. Pensando bem, veja lá senhor José, o que seria o PS ir para o governo e cumprir no que prometeu pagar. Quanto é que iríamos ter de pagar, para o PS ter com que pagar?
    Felizmente, não vai cumprir. A nossa sorte.
    Por isso, senhor José, deixe-os lá prometer que a gente não liga, só finge.
    • Rogerio Sousa15 Abr 2015
      ai ai ai Insana, Insana, o teu bom humor deixa-me sempre bem humorado, mas podes assegurar à priminha Eldeviges, que não será necessário ela levantar a sainha, e baixar a… para o Costinha e o PS governarem sem ser necessário cometer “violência domestica” nem sequer “violentá-la”… prometo!!!
  • Carlos Martins15 Abr 2015
    Se a «Ciência Económica» (que eu duvido que seja Ciência) falha em toda a linha e a toda a hora e é ultrapassada pela Realidade, com falhanços seguidos dos modelos de previsão da evolução das economias, qual é o problema de de se prometer seja o que fôr? Tanto está «certo» prometer como não prometer. Mais. Num cenário de parâmetros estocásticos de altíssimo grau de imprevisibilidade, porque razão as «Organizações Internacionais» impõem sistemas dogmáticos aos países com base no argumento de certezas incontestáveis? As incerteza e a volatilidade na «Realidade» é tal que qualquer «promessa» política ou a falta dela é legítima precisamente porque qualquer das duas situações são incomprováveis. A vantagem da «promessa», do «panfleto» ou do «manifesto» (como agora em Inglaterra) é que, se não retratam a Realidade, podem ajudar a transformá-la. E não ficar à espera que a Realidade seja um Destino ou um «Fado» e uma Submissão que nos destrua, mas actuar nessa Realidade, domando-a. E não conheço ninguém que faça melhor isso do que os homens. De resto, a doutrina política da Submissão e do Destino é muito conhecida, partindo sempre de quem ocupa o Poder para auto-justificar o seu lugar, que geralmente designam como «não-político», mas missionário e transcendente, o Líder Político Prosélito que é «contra os políticos» e contra os quais luta, pois considera as promessas dos políticos «irreais e delirantes». Excepto as deles.
  • Joao MA15 Abr 2015
    No Reino Unido a discussao neste periodo pré-eleitoral tem se centrado em numeros. os jornalistas exigem saber onde por exemplo os trabalhistas de Ed Milliband vao buscar dinheiro para bancar algumas promessas e exigem saber onde os Tories vao conseguir poupancas para reduzir o defice que é uma promessa eleitoral. Tudo com numeros, ‘hard data’, factos , ninguem tolera palavreado inutil nem politicos vendedores da banha da cobra. Tudo com numeros para depois poderem ser confrontados com as promessas pré eleitorais.
    Discute-se as eleicoes como se fosse o Orcamento de Estado e assim é que devia ser. Em paises como Portugal ganha as eleicoes quem prometer medidas bonitas e populistas e ninguem se interessa em saber onde se vai buscar o dinheiro para estas promessas. Pensa-se a curto prazo e com pouca responsabilidade.

    Nisto a culpa é tambem em parte de muitos jornalistas que nao fazem as perguntas certas aos palavreadores (politicos).
  • Nuno Miguel15 Abr 2015
    Não concordo com o titulo! Concordo com a maioria das opiniões já aqui veiculas.
    Eles podem prometer o que entenderem, caberá à comunicação social tentar desvendar e colocar questões concretas de como essas promessas irão ser realizadas, a bem da informação e da clarificação dos comuns cidadãos.
    O discurso politico e as medidas apresentadas pelos partidos, deveriam ser alvo de uma desconstrução por parte dos média. Só assim poderemos aferir sobre o mérito das mesmas.
    Julgo que a comunicação social já tenta aprofundar muito mais os assuntos do que aqui à uns anos fazia, até porque os cidadãos estão mais atentos ás ditas promessas vãs!
  • António Joaquim Aragão Aires15 Abr 2015
    “Em síntese: ninguém sabe bem por que é que a economia – portuguesa, europeia, mundial – se está a comportar de uma forma que desafia os modelos estabelecidos, pelo que ninguém pode, com honestidade, propor “soluções”. Estamos num tempo da tentativa e erro, e a minha inclinação é que, pelo menos no Ocidente desenvolvido, estamos também a entrar numa fase de prolongada estagnação económica.”
    Não sabem????? ou fazem que não sabem e não querem dizer? Como é que a riqueza mundial, especialmente a dita ocidental, tem aumentado, o numero de milionários não para de subir, e as condições de trabalho e remunerações têm piorado e baixado, e dizem que não há alternativa??? homem, nos anos cinquenta, sessenta em que estabeleceu uma maior repartição da riqueza, por medo da má influencia comunista, foi o periodo de maior crescimento económico.

  • Nuno Calvet17 Abr 2015
    Sr. Fernandes: não venha atirar-nos com poeira aos olhos, porque não engana ninguém O que verdadeiramente ESTÁ EM CAUSA resume-se ao passado, ao currículo dos políticos em causa. Neste caso, António Costa e (o compulsivo mentirosos) Passos Coelho. Compare-se o percurso político, cívico, profissional, o que fizeram e disseram nos últimos 15 ou 20 anos. Seja honesto, sr, Fernandes. Poderá haver alguma dúvida sobre o que Costa realmente FEZ e DISSE e o que Coelho e as suas mentiras, habilidades e espertezas profissionais e políticas fez e disse desde sempre.
    Já todos sabemos que os próximos anos irão ser sempre duros e exigentes. Mas o que mais interessa é escolher entre o Homem Costa com um passado limpo e activo, sem mentiras e falsas promessas e o habilidoso Coelho, por mais palavrinhas doces e promessas vãs que este último possa fazer.

  • Francisco Tavares18 Abr 2015
    “Os políticos deviam ser proibidos de fazer promessas”. Eu não vou ler o texto deste artigo, nem sequer os comentários. Basta-me o título do artigo para tecer considerações que considero pertinentes.
    Entendo que os políticos devem fazer promessas, isto é, devem apresentar um programa ao eleitorado. Mas que seja credível. Político que não apresenta programa não pode estar de boa fé. O cumprimento do programa apresentado pode ser total, parcial ou não haver cumprimento algum. Compete ao eleitor avaliar o credibilidade do eleito pelas propostas apresentadas, pelo que cumpriu do programa, e pelas condições adversas que impediram o cumprimento do que foi prometido.
    O eleito não apresentar programa, exigir “cheques em branco” não é aceitável.

  • José Mota19 Abr 2015
    Nesse caso deixavam de ser políticos!
    A política é muito simples — distribuir promessas, benesses e favorecimentos em troca de apoio político. Mai nada.
    Por isso é que há mais de 30 anos que não voto: não acredito nem confio em nenhum deles.

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