Sexta, 03 Abril 2015
“Eu e minha mulher ficámos na dúvida entre gozar férias ou nos divociarmos. Optámos pela segunda hipótese. Duas semanas no Caribe podem ser divertidas, mas um divórcio dura para sempre”. Woody Allen.
Feliz ou infelizmente, nas empresas cujos trabalhadores, pela natureza do seu trabalho, têm isenção de horário de trabalho, tal como acontece com a nossa classe, os trabalhadores são levados a gozar férias por muito e, às vezes, exagerado tempo.
Isso se deve às folgas acumuladas e aos domingos que tiveram de trabalhar, sendo por isso necessário compensá-los.
Quanto às regras, nada tenho a comentar, pois estão plasmadas na Lei do Trabalho e, como sempre, a lei deve ser cumprida. O meu espanto é a expressão facial de alegria e festa quando um colega vai ao gabinete do seu chefe se despedir porque vai gozar 55 dias ou mais de férias. Tudo bem, ele merece um bom descanso.
Nas empresas de hoje, onde o que, na verdade, conta é a produtividade e criatividade de cada um para a avaliação do seu desempenho e a sua melhor progressão profissional é compreensível que um chefe de sector “desapareça” por 55 dias de férias e julgue que quando voltar irá encontrar o seu posto como deixou? Será isso razoável?
Os jovens, talvez por sê-lo, são mais flexíveis e criativos. Se for indicado um jovem para substituir o chefe do sector por 55 dias, já que este último está em gozo de férias, será o tempo suficiente para aquele (jovem) criar uma nova dinâmica no sector mobilizando novas ferramentas de trabalho mais sofisticadas e eficientes para o agrado dos seus gestores de topo que, perante essa situação, serão obrigados a mantê-lo mesmo depois do regresso do “dono” do lugar.
Os gestores não têm compromisso com pessoas, mas sim com a eficiência do seu trabalho porque deles os donos da empresa – a assembleia-geral – irão exigir resultados e quanto melhor forem melhor será o desempenho do conselho de gestão. Certamente que não irão comprometer a potencialidade de melhorar o desempenho do sector. O chefe pode voltar e sentar na mesma cadeira mas, de certeza, não vai tardar a sua exoneração e isso acontece quando ele menos espera.
As férias são muito importantes para o trabalhador. O descanso é mais importante ainda. Não é por acaso que o legislador introduziu na Lei do Trabalho o direito a férias indicando a obrigatoriedade ao descanso e mais, fixou horários de trabalho e ainda uma remuneração diferenciada para as horas extraordinárias. Tudo pela saúde do trabalhador.
O nosso corpo é como uma máquina que a cada dia está mais vulnerável, pois envelhece. O abuso desta máquina pode acarretar efeitos desastrosos no ambiente de trabalho, alguns irreversíveis e outros que, aparentemente insignificantes, no final de um longo período representam prejuízo ao empregador e ao seu negócio, assim como à saúde do trabalhador.
O maior e melhor bem de uma empresa é o seu capital humano e ele deve ser cuidado e assistido para que possa produzir mais e melhor. Profissional feliz é profissional que produz e atinge resultados. Quando o profissional consegue “recarregar a sua bateria” ele pode retornar ao trabalho mais disposto e com a sua capacidade de produção aumentada.
Todavia, a gestão deste processo de descanso em termos do momento e do ambiente de trabalho, assim como das oportunidades que podem ser perdidas durante a sua ausência cabe estrategicamente ao trabalhador. Não quero por esta via apoiar aqueles que ficam 5 anos sem sair de férias porque têm medo de “cair”. O mais importante é saber reescalonar os seus momentos de descanso porque o descanso deve ser efectivo.
A pessoa pode ficar 55 dias em casa e voltar mais cansada ainda porque não criou condições para que as férias lhe proporcionassem um merecido descanso. Pelo contrário, serviram para lhe carregar de actividades domésticas e sociais que as reservou para esse período. Isso pode cansar mais ainda. Na minha opinião, alguém que sai três vezes de férias descansa melhor que aquele que fica 55 dias e acaba se cansando de descansar.
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