OPINIÃO
VASCO PULIDO VALENTE
11/04/2015 - 06:46
António Costa continua no meio de uma desordem crescente, que tarde ou cedo dará cabo dele.
Na televisão, António Costa gesticula e grita em frente de quatro ou cinco microfones. Parece que está muito indignado e que diz coisas muito importantes para o país e, se calhar, para a Europa. Mas não se ouve. Ninguém lhe disse ainda que não se fala numa sala fechada para duas centenas de indivíduos como quem fala num comício de província para milhares de pessoas numa noite de Inverno.
Costa é conduzido exclusivamente pelas suas emoções: berra quando se irrita ou julga que vai impressionar o “povo”; explica numa voz normal o que não o comove. O resultado é que o cidadão comum não o leva a sério. O ar de improvisação e de amadorismo anula a importância e a pertinência de qualquer declaração. No fim, fica sensação de que o homem se esganiça e se agita por puro desespero.
E, de facto, desde que chegou a secretário-geral, Costa acumula erros sobre erros. A autoridade que ele tem hoje sobre o PS talvez seja muita e muito forte. Infelizmente, cá de fora, o que se vê é um barco aos bordos, com a tripulação em revolta. Para começar, a ideia de congeminar em segredo um “cenário macroeconómico” e um programa eleitoral, que sairão do chapéu miraculosamente em Maio, não lembra ao diabo. O eleitorado não percebe nada de macroeconomia (ou de outra qualquer) e, em quarenta anos, nunca leu um programa eleitoral. E, naturalmente, a consequência deste extraordinário exercício, que se destinava, e destina, a exibir responsabilidade e preparação, acabou por ser um vácuo, que a “esquerda” do partido e a extrema-esquerda fora do partido encheram com a sua costumada algazarra. António Costa não conseguiu até agora meter na cabeça de um único português a mais vaga ideia do que pode esperar dele.
Tanto mais quanto ele deixou que a questão das presidenciais se misturasse com a campanha das legislativas. De repente, apareceram candidatos como cogumelos. Uns claramente de direita, que Costa devia ter excluído em grosso, sem espécie de comentário. Outros do PS e arredores, que ele devia ter tratado com a mesma simpatia inócua – e solenemente avisado de que ele próprio escolheria o candidato dele, quando achasse oportuno. A força necessária para ganhar a maioria e o país não é mais do que a força acumulada pela demonstração pública de uma vontade que não se deixa desviar do essencial. Mas, no estado a que as coisas chegaram, António Costa continua no meio de uma desordem crescente, que tarde ou cedo dará cabo dele.
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