Talvez o termo se traduza melhor por „activismo“, só que este já tem um outro sentido. Refiro-me a um termo alemão “Aktivismus” que designa acções muitas vezes irreflectidas com o mero objectivo de dar a impressão de que se está a fazer alguma coisa. Este termo vem-me sempre à mente quando leio mais um relatório internacional a colocar o nosso País na cauda de estatísticas de alguma coisa importante. Fico, naturalmente, envergonhado como qualquer um devia ficar. Mas também fico perplexo quando vejo o tipo de ilações que tiramos. Foi divulgado um estudo que diz que os nossos professores se deram muito mal em testes de língua, matemática e pedagogia realizados no âmbito dum inquérito encomendado pelo Banco Mundial. Foi o pior desempenho comparado com o dos outros países também inquiridos, nomeadamente o Quénia, a Tanzânia, o Togo, o Uganda e a Nigéria. Os resultados deste estudo não são muito diferentes dos resultados dum outro realizado pela Universidade de Pretória para a região Austral. Um aspecto muito importante desse outro estudo é que indica que os níveis de escolaridade dos professores são diferentes e que os professores moçambicanos entram na docência com menos anos de escolarização em relação aos outros países.
Maus resultados são, apesar de tudo, maus resultados. Não há como tentar esconder isso. Pessoalmente, porém, incomoda-me muito que da simples divulgação dum estudo que mal lemos, mal analisamos e mal reflectimos passemos imediatamente à lamentação e exigência de acção. Dá-nos “tesão” o facto de alguém ter mostrado que há mais alguma coisa má connosco. E por força de nos excitarmos em relação a esta convergência ficamos reféns do viés de confirmação que nos lança na procura de exemplos negativos que, claro, dão ainda mais força aos nossos receios. De repente estamos todos a deplorar tudo, a pôr em causa o que já se fez e o que se tenciona fazer. Ficamos todos especialistas na matéria. Perdemos noção de que estamos a falar dum problema que mal conhecemos (porque exemplos anedóticos são sempre arriscados), de que a nossa abordagem do assunto não é diferenciada e, pior de tudo ainda, esquecemos que nós próprios nos consideramos excepção em relação à regra que criticamos sem, contudo, procurarmos saber o que fez de nós melhores do que o sistema. Curiosamente, a nossa reacção a todo o estudo que nos diz que somos maus é sempre uma espécie de prova dessa afirmação.
O problema disto é que não cria uma boa base para a abordagem séria dos problemas. Faz tocar sirenes que só podem levar os governantes aos excessos do “acionismo”, o qual, caracteristicamente, vai deixar os problemas intactos. Eu tenho muitas reticências em relação a estudos ditos internacionais. Não é porque não ache importante saber onde nos situamos em relação aos outros. Até porque gostaria muito de ver Moçambique no topo desses estudos todos. Mas um estudo que compara a Nigéria, o Quénia, a Tanzânia, (no estudo da Universidade de Pretória o desempenho de Moçambique é melhor do que o da Tanzânia), o Uganda e o Togo é tão heterogêneo que nunca pode servir de base para abordar o problema ao nível nacional. A melhor base será sempre a comparação interna (o desempenho das diferentes províncias, e nas províncias os diferentes distritos, etc.), mas uma comparação mais atenta a todo o contexto nacional (incluindo a nossa história) e ao que se fez em diferentes momentos e por diferentes pessoas.
Só que lá está: muitos de nós nunca lemos estas coisas com uma preocupação genuína com os problemas do País. Lemos estas coisas sempre à procura de motivos para fundamentarmos os nossos preconceitos em relação ao nosso próprio País. “Guebas” tinha razão quando falava da auto-estima. Precisa-se.
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