Alguma classe intelectual moçambicana sugere-nos, ao que me parece, um pacto de silêncio em relação a qualquer declaração e/ou acção do líder da Renamo. De facto, pelo curso dos acontecimentos Dhlakama é proposto como a única pessoa a quem lhe assistem apenas direitos e nunca obrigações.
Explico-me:
Há uma tendência de desculpar tudo o que o Presidente da Renamo diz ao mesmo tempo que se apela a todos os outros que o compreendam e colaborem com ele, que o acarinhem sem, como seria justo, pedir o mesmo a ele.
O Presidente da Renamo pode acordar e decidir insultar a todos, ameaçar e falar o que quiser e ninguém deverá responder porque estaremos segundo o novo pacto de silêncio a “perigar a paz” até porque se sabe que “ele precisa de ser acarinhado”.
Se queremos construir uma sociedade normal não podemos, de forma alguma, permitir que o anormal se normalize. O acarinhar (que não estou contra o seu sentido), não deve nunca significar que não devemos apontar os erros do Presidente da Renamo quando os comete; não pode significar que se comporte apenas como sujeito de direitos e não deveres, não pode significar o aceitar tudo que ele diz.
Baseamos, afinal, em que pressuposto para aceitarmos que o Presidente da Renamo proponha algo e exigir que seja aprovado, sem sequer passar pelo crivo da discussão da sua pertinência? E mesmo que seja discutido o fim único deve ser o de aprovar? Que conceito de democracia e de liberdade de escolha é este que pregamos para desculpar as vontades de alguém, mesmo quando essas podem colidir com outras? Se há esta obrigatoriedade de aprovar porque ainda submete o tal documento como proposta e não como lei? Porquê as mesmas vozes que se insurgiram quando a FRELIMO disse que não aprovaria antes de conhecer o conteúdo da proposta não usam o mesmo ímpeto para pedir calma ao Presidente da Renamo e deixar que a casa legitimada para o efeito discuta em consciência a sua proposta?
Ontem o Presidente da Renamo na continuidade da sua saga de desqualificação do outro (soldados da pátria e não da Frelimo como os chama) disse que eles não eram NADA, como as meninas e mulheres!
Talvez não se olhe para a gravidade desta afirmação porque a comparação convém a alguns, afinal, o líder da Renamo equiparou a mulher com algo que alguns combatem a todo o custo (a Frelimo). Mas acreditem, meus caros, um dia será cara esta factura porque se hoje desculpamos o Presidente da Renamo porque devemos o “acarinhar” e aceitar que desqualifique a mulher e a reduza a NADA amanhã não reclamemos quando o cenário for contrário à mulher e precisarmos de mudar e não encontrar resposta favorável a mudança porque teremos sido nós a permitimos que o anormal se normalize.
Numa altura que alguns grupos minoritários desprotegidos se querem afirmar, numa altura em que estamos a passar de emancipação para um estágio de verdadeiro empoderamento ainda temos quem compare a mulher a NADA e a sociedade se deve calar para “não perigarmos a Paz!?
Está a embrutecer-nos esta paz, esta paz está a regredir-nos, está a combater-nos e naquilo que mais acreditamos e nos torna mais humanos, esta paz está a amordaçar-nos, está a consumir-nos… e no entanto ela é Paz!
Como pode ser Paz, algo que nos amarra e nos remete ao silêncio mesmo quando somos agredidos?
Não respondam a isto, apenas reflitam até porque o risco de ser “amarrado e sovado” (método de resolução democrático de problemas segundo o Presidente da Renamo) é apenas de quem escreveu isto.
Deus nos salve!
Amosse Macamo
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