quinta-feira, 19 de março de 2015

O pacto do silêncio


Alguma classe intelectual moçambicana sugere-nos, ao que me parece, um pacto de silêncio em relação a qualquer declaração e/ou acção do líder da Renamo. De facto, pelo curso dos acontecimentos Dhlakama é proposto como a única pessoa a quem lhe assistem apenas direitos e nunca obrigações. 
Explico-me: 
Há uma tendência de desculpar tudo o que o Presidente da Renamo diz ao mesmo tempo que se apela a todos os outros que o compreendam e colaborem com ele, que o acarinhem sem, como seria justo, pedir o mesmo a ele. 
O Presidente da Renamo pode acordar e decidir insultar a todos, ameaçar e falar o que quiser e ninguém deverá responder porque estaremos segundo o novo pacto de silêncio a “perigar a paz” até porque se sabe que “ele precisa de ser acarinhado”. 
Se queremos construir uma sociedade normal não podemos, de forma alguma, permitir que o anormal se normalize. O acarinhar (que não estou contra o seu sentido), não deve nunca significar que não devemos apontar os erros do Presidente da Renamo quando os comete; não pode significar que se comporte apenas como sujeito de direitos e não deveres, não pode significar o aceitar tudo que ele diz. 
Baseamos, afinal, em que pressuposto para aceitarmos que o Presidente da Renamo proponha algo e exigir que seja aprovado, sem sequer passar pelo crivo da discussão da sua pertinência? E mesmo que seja discutido o fim único deve ser o de aprovar? Que conceito de democracia e de liberdade de escolha é este que pregamos para desculpar as vontades de alguém, mesmo quando essas podem colidir com outras? Se há esta obrigatoriedade de aprovar porque ainda submete o tal documento como proposta e não como lei? Porquê as mesmas vozes que se insurgiram quando a FRELIMO disse que não aprovaria antes de conhecer o conteúdo da proposta não usam o mesmo ímpeto para pedir calma ao Presidente da Renamo e deixar que a casa legitimada para o efeito discuta em consciência a sua proposta? 
Ontem o Presidente da Renamo na continuidade da sua saga de desqualificação do outro (soldados da pátria e não da Frelimo como os chama) disse que eles não eram NADA, como as meninas e mulheres!
Talvez não se olhe para a gravidade desta afirmação porque a comparação convém a alguns, afinal, o líder da Renamo equiparou a mulher com algo que alguns combatem a todo o custo (a Frelimo). Mas acreditem, meus caros, um dia será cara esta factura porque se hoje desculpamos o Presidente da Renamo porque devemos o “acarinhar” e aceitar que desqualifique a mulher e a reduza a NADA amanhã não reclamemos quando o cenário for contrário à mulher e precisarmos de mudar e não encontrar resposta favorável a mudança porque teremos sido nós a permitimos que o anormal se normalize. 
Numa altura que alguns grupos minoritários desprotegidos se querem afirmar, numa altura em que estamos a passar de emancipação para um estágio de verdadeiro empoderamento ainda temos quem compare a mulher a NADA e a sociedade se deve calar para “não perigarmos a Paz!?
Está a embrutecer-nos esta paz, esta paz está a regredir-nos, está a combater-nos e naquilo que mais acreditamos e nos torna mais humanos, esta paz está a amordaçar-nos, está a consumir-nos… e no entanto ela é Paz! 
Como pode ser Paz, algo que nos amarra e nos remete ao silêncio mesmo quando somos agredidos? 
Não respondam a isto, apenas reflitam até porque o risco de ser “amarrado e sovado” (método de resolução democrático de problemas segundo o Presidente da Renamo) é apenas de quem escreveu isto.
Deus nos salve! 
Amosse Macamo
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  • Danilo da Silva "Numa altura que alguns grupos minoritários desprotegidos se querem afirmar, numa altura em que estamos a passar de emancipação para um estágio de verdadeiro empoderamento ainda temos quem compare a mulher a NADA e a sociedade se deve calar para “não perigarmos a Paz!?"


    Amosse Macamo..neste país, há "pessoas próprias" para falar...estou a espera.
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  • Homer Wolf Tambem ja' houve (vale a pena conjugar no preterito?) tempos em que Marcelinos, Chpandes, Damioes e cia. diziam o que lhes dava na real gana!... E a gente "tumbem" assobiava para o lado...
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  • El Patriota Pois é mano Amosse. É que ainda esta-se a chorar a morte do Professor Cistac. Ainda está-se a tentar perceber como é que o porta-voz Damião foi capaz de odiar tanto assim o teacher, bem como está-se a matutar sobre quem é o Calado. O pessoal ainda chora Cistac, irmão e está indignada com a forma como o mataram. O que é uma afirmação do líder diante da barbaridade que fizeram contra o teacher???
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  • Jose Macuacua De facto os termos que DHL usa para desprezar as forças de defesa e segurança são inadequados. E ontem passou do limite. Desprezou a mulher moçambicana. Deve-se repudiar. Não podemos ouvir e aceitar tudo em nome da salvaguarda da paz. Depois de submeter o projecto de lei à AR ele devia ter um discurso comedido. Ate podia parar com os comícios. E porquê o silêncio dos acadêmicos perante isto? Dos analistas políticos? Acho que deviam fazer analises imparciais sobre o conteúdo dos discursos do líder. DHL está a abusar da tolerância do povo.
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  • Hélder Bata Será que tem mãe, tias, esposa, filhas, etc, para ter tamanho despreso pelo genero feminino? Quando (se) chegar a presidente da República como será, com este despreso pelas mais de 50% da população deste país.
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  • Renato Chaguala Parem de criticar o cota Dlhaka.

    Quando ele comparou a frelimo com mulheres ele usou uma figura de estilo nao estava a desprezar as mulheres ou meninas. Mas pra fazr entender q a fre é como mulher, isto é, sexo fraco.
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  • George Milton Cossa Para uma sociedade civil como a nossa, criticar o partido no poder ou as declarações de seus membros nem chega a ser um acto de coragem, já esta banalizado até porque a lei o permite e, o mesmo partido (entenda-se estado) tem o dever de proteger esta mesma sociedade civil. Mas quanto a criticar a Renamo ou o seu líder de forma directa sem que se seja membro da Frelimo ou conotado a este aí a cantiga é outra. Aí a sociedade civil estaria a sair da sua zona de conforto, estaria a correr o risco de levar uma tareia da Renamo e não ter para onde correr.
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  • Nelsoncarlos Tamele Vamos todos refletir, algo nao esta bem nesta minha patria do indico!
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  • Mwanemah Macoo Renato Chaguala preferíamos (nos as mulheres) que não tenta se explicar. Não existe hoje espaço para esse tipo de alusões. Meteu água sim! Infeliz exemplo! Género não determina fragilidade.
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  • Ney Andre Dauane Ai se fosse eu a pronunciar algumas barbaridades que tenho ouvido...
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  • Germano Milagre Nunca vi os militantes da Frelimo pouparem nas criticas ao Dhlakama ... Nunca vi os orgãos de informação controlados pela Frelimo pouparem nas criticas. Pelo contrario ... Subtraem certa informação positiva ( enquanto extrapolam a negativa ), tiram excertos que deixam os discursos fora de contexto ... Enfim não entendo como se diz que não se pode criticar o Dhlakama. Acontece quase diáriamente neste país e não tenho qualquer problema com isso ( embora tenho sim, e muito, contra a parcialidade do Notícias, TVM, e RM ). De resto qualquer político deve poder ser alvo de críticas... Faz parte do jogo político.
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  • Alfredo Macuácua Mano Amosse Macamo, gostei deste trecho "Se queremos construir uma sociedade normal não podemos, de forma alguma, permitir que o anormal se normalize." Que Deus te oiça!
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  • Joaquim Tobias Dai Vai se tentar agarrar a preciosismos, mas jamais irão achar mal, estranho, repudiar ou criticar os actos desconexos desse senhor. Isso será a tal sociedade civil ou há mais por detrás? Se me disserem que qualquer pode vir a terreiro e ameaçar, insultar, maldizer, usar frases discriminatórias, assassinar (16+2) e está tudo bem, que "é assim mesmo que se deve fazer democracia", então eu passarei a entender o porquê do estado das coisas. Não estarão a atacar as entrelinhas, intenções, palavras e os olhares de outros por mero exercício de democracia. Estão também a fazer política a coberto de de justificações macabras e usar vidas e mortes como arma de arremesso político. Basta assumir
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  • Carla Massunda Pene DEUS NOS SALVE. A DEMOCRACIA E A PAZ ESTAO A TER UM PRECO ALTO E PAGAREMOS POR MUITOS ANOS ESSE PRECO SE ASSIM CONTINUARMOS. Assim fomos reduzidas a NADA. Fazer o que? Queremos PAZ e DEMOCRACIA.
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  • Manuel Quinze É hora de agir. Deve haver pacto de igualdade social no uso da linguagem. O que atenta ao estado de direito deve se julgar tal como manda a nossa constituição.
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