quinta-feira, 19 de março de 2015

A guerra suja


18.03.2015
JOSÉ MANUEL DIOGO
Cavaco fez o anúncio a propósito do dossier "IRS" do primeiro-ministro Pedro Passos Coelho - isto são coisas de campanha eleitoral. Candidamente, inaugurava-se, em todas as salas perto de si, um filme de terror, muito-longa-metragem; com Cavaco Silva no papel de protagonista numa narrativa tipo guerra suja. Como cenário, uma inútil e perigosa fogueira de vaidades; como argumento, oscilando entre a translúcida senilidade e o mais puro oportunismo político, a paralisação do país.
O pântano está de volta e, preparem-se, porque a primavera ainda nem começou e as eleições são só no outono. Até lá, Portugal vai alimentar-se exclusivamente de incrível propaganda e da virulência que há nas feridas que a crise nos abriu na carne viva.
Ao não ter antecipado as eleições, como era necessário e patriótico, como lhe foi pedido e sugerido por comentadores e políticos - É preciso um tempo político novo, dizia o antigo presidente da República Ramalho Eanes, apontando o dedo, em entrevista à RTP, no final do ano passado - Cavaco Silva inaugurou um circo louco onde ninguém - nem ele - tem mão e, por isso, todos - até ele - têm de participar.
Presidenciais e Legislativas, as duas no mesmo saco, deixam o poder vazio. Sem que ninguém vele por nada. Tudo sem controlo.
O discurso vai radicalizar-se até ser maniqueísta. Governo e Oposição vão acusar-se mutuamente, vangloriar-se de quase tudo e do seu contrário. Vão abundar histórias da carochinha e de outros bichos contadas a este povo atordoado por estatísticas de papel que, sem conseguir distinguir entre o bem e o mal, vai perder sem saber como os "quase" ganhos dos sacrifícios por quepassou no reinado da troika.
Mas agora já é tarde de mais. Nos próximos tempos, a única coisa que vai mudar é a hora.

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