EDITORIAL
Conseguirá o líder do PS chegar às eleições sem dizer com quem se vai coligar? Passos pressiona e a esquerda também.
A campanha eleitoral já está na rua, ainda que o Presidente da República deva demorar alguns meses para marcar o dia exacto da ida dos portugueses às urnas. Mas como se percebe por estes dias, António Costa é o líder político que, nos próximos meses, mais decisões sensíveis terá de tomar. À esquerda exigem-lhe clarificação sobre política de alianças, Europa e crescimento, enquanto lhe criticam a ausência de bandeiras capazes de mobilizar as hostes dispersas para um projecto comum; à direita, já se viu que qualquer gaffeservirá de mote para solidificar o mantra que há-de sobrevoar todo o discurso dos partidos do Governo: o pior já passou, o país está melhor, é preciso evitar que o poder volte para as mãos do maior responsável pelo programa de ajustamento, ou seja, o PS.
Até agora, António Costa tem adiado grandes definições, mas ontem, o primeiro-ministro, em entrevista ao Expresso, tratou de colocar mais peso sobre os ombros do secretário-geral do PS ao admitir a reedição do Boco Central em nome da “estabilidade governativa”. É uma jogada arriscada de Passos Coelho em vésperas de formalizar a coligação com o CDS, tanto mais sabendo-se o quanto uma anterior referência do chefe do Governo a essa hipótese irritou Paulo Portas. Passos tem plena consciência que Costa jamais admitirá qualquer tipo de acordo com um PSD sob a sua direcção, mas quer também obrigá-lo a rejeitar uma coligação com o CDS. Desta forma, o líder do PS chegaria às eleições sem uma solução de governo credível dando-lhe margem para desfraldar a bandeira da instabilidade. Ora o eleitorado do centro, decisivo na atribuição do poder, detesta incertezas.
Colocar a política de alianças na ordem do dia também convém ao primeiro-ministro por outra razão: espicaça a esquerda. Os especialistas de sondagens são cada vez mais unânimes sobre a impossibilidade de se conseguirem maiorias absolutas no actual quadro político. O desencanto com os partidos do arco do poder, a fragmentação do sistema partidário e a abstenção contribuem para aproximar Portugal daquela que é já a realidade europeia: a de coligações de Governo com dois ou mais partidos. Ninguém ignora que o mais certo é ter que encontrar parceiros e estabelecer compromissos. E cada um vai fazendo valer as suas condições.
Rui Tavares, dirigente do Tempo de Avançar, traçou a sua linha vermelha na entrevista que hoje publicamos. Com os “partidos da austeridade”, não. Pode dizer-se que o Livre é, em termos de sondagens, ainda irrelevante, mas é fundamental para o PS agarrar o centro-esquerda. Ontem, João Oliveira, líder parlamentar do PCP também em entrevista ao PÚBLICO, lançava uma farpa à indefinição socialista: “O PS tenta esconder das pessoas os seus verdadeiros compromissos”. Passos e Costa continuam a falar de maioria absoluta como se não houvesse amanhã. Com uma pequena nuance: o primeiro, admite não a ter e passa ao ataque; o segundo; faz crer que é possível e joga à defesa. E isso pode vir a fazer toda a diferença.
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