MAHUNGU -
Quarta, 18 Março 2015
Quarta, 18 Março 2015
“AO amanhecer oiço o cantar maravilhoso das aves que fazem colorir as flores provocando a alegria incontida à pequenada. Ajoelho-me para agradecer a Deus Criador do Céu e da Terra e é tudo bonito existente no planeta, que infelizmente está sendo destruído pela força maléfica dos homens”. Estrofe de “lidhambo”, sol, um dos três bluzes do disco conjunto dos músicos, jornalista e fotojornalista, respectivamente Alexandre Chaúque e Domingos Elias, lançado nas celebrações dos 75 anos da empresa padroeira deste Jornal.
Não percebi na altura que o meu amigo Chaúque já vinha observando a acentuada degradação moral da sociedade já que as pessoas vão perdendo de vista os valores e hábitos culturais principalmente na província de Inhambane que desde o longínquo ano de 1498 foi apelidado “Terra de Boa Gente”.
O tempo foi passando e as coisas obviamente foram mudando. Algumas para o bom e outras não. Como não deixaria de ser, Inhambane que não obstante a perca dessas boas maneiras de receber os hóspedes ganhou outros títulos, “Boa Terra para investir”, “Gente Boa para confiar”, “Terra de Gente trabalhadora”, pequenas coisas que não passam de uma nódoa num pano branco estão a corroer o espírito do navegador Português, Vasco da Gama, ao achar que pela extraordinária hospitalidade, respeito e humildade da gente que foi encontrada em Inhambane na sua viagem à Índia , nada mais merecia aquela província do sul de Save, se não chamar “Terra de Boa Gente”.
Mas mais do que este valor inalienável daquela população, a sua cultura, Inhambane, está na boca do mundo pelas suas inesgotáveis potencialidades turísticas que nos dias que correm atraem gente de diversos cantos do mundo para delas se refastelarem ou tornarem se ricos, explorando esses recursos.
Vai daí que com o conservadorismo à mistura há oposição interna para a construção de uma ponte unindo as cidades da Maxixe e a capital provincial. Disse-se em todas esquinas que essa infra-estrutura vai tirar biscate aos proprietários das embarcações que operam no transporte de pessoas e bens na baia de Inhambane.
Esta tese ganha alguma consistência quando em algum momento se verifica alguma anarquia na fiscalização desta actividade, já que boa frota destas jangadinhas pertence aos funcionários seniores da Administração Marítima, entidade com responsabilidade para impor o cumprimento das normas da navegação. São os donos dos barquinhos que resmungavam nos seus sovacos quando se falava do projecto de aquisição de um “ferryboat” que levaria também viaturas.
“Para que isso tudo se Inhambane sempre esteve assim, o Governo que se preocupe em construir escolas, hospitais, reabilitar ou construir novas estradas e deixar a baia assim como está. O colonialismo português durante 500 anos não colocou ponte aqui, é porque achou melhor assim”, ouvia se isto em algumas esquinas desta “Terra de Boa Gente”.
Por incrível que pareça, já não se fala do mega projecto da construção da ponte que há cinco anos quase tinha pernas para andar, já que até havia uma avaliação dos custos de operação. Cerca de 60 milhões de dólares.
Para facilitar a circulação de pessoas e bens o Governo colocou há uma coisa de quatro anos duas embarcações com capacidade para 96 pessoas. Não foi fácil para os privados, eles que dizem que asseguraram o movimento depois da falência da empresa Transmarítima com as destruições completas dos barcos Mutamba, Moçambique, Inhambane e Pambara. Mais tarde funcionaram Nildo e outros dos privados.
Não foi fácil os dois barcos, Maguluti e Inhambane, operarem. Houve greves, ora porque levavam muito tempo nos terminais para carregar ou porque praticavam tarifas baixas o que significa uma concorrência desleal, outras reclamações.
O tempo foi passando e os barcos funcionam até hoje e já não há barulho, porque foi estabelecido tempo limite da permanência daqueles barcos nas duas pontes, trinta minutos, está cheio ou não quando chega a hora deve zarpar.
Numa altura em que o barulho em todas cidades do país gira em torno da necessidade de melhorar as condições de circulação de pessoas e bens, o município de Inhambane recebeu há duas semanas dois autocarros e foi motivo para agitação.
“Tirem os machimbombos porque estão a matar o nosso negócio”. Reclamam os transportadores privados que querem perpetuar o sofrimento das pessoas não só pelos maus tratos pelos cobradores, mas também pelas tarifas cobradas.
Perante estes acontecimentos Inhambane pouco a pouco está a deixar de ser de “Boa Gente”, pois, não se percebe por que os “chapeiros”ordenam o Estado para tirar os machimbombos que alocou ao município para oferecer mais opções aos utentes.
“Se não querem tirar os machimbombos, então que aumentem a tarifa, devem cobrar também 18 meticais e não 10 meticais!”
Afinal qual é a responsabilidade do Governo? Não faz uma coisa critica-se muito, faz alguma coisa também criticamos. Vale a pena dizer, morto por ter cão e morto por não ter cão.
VITORINO XAVIER
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