AMANHECEU e temos que nos preparar para ir ao serviço onde as primeiras horas são usadas inteiramente pela fofoca que está a ganhar cada vez maior campo no país e, por outras razões, aqui também, onde tradicionalmente não se dá ouvidos a ruídos de proveniência duvidosa.
As conversas começam no mesmo ponto: Imprensa – tentar separar o que é verdade do que é mentira, num país em que muito cedo decidiu-se que todos tivéssemos que dizer o que nos vem na alma. Muito cedo porque agora, mais do que nunca, me parece que a democracia, se de facto é esta, que admite que falemos tudo o que queremos na rua, em jornais, rádios, TV’s e comícios, ainda que não seja verdade ou socialmente útil e até nefasto, ofendendo as regras mais tradicionais de convivência humana, então chegou cedo demais ao nosso país.
Está-me a parecer que os que ofereceram ou impuseram a democracia, nos moldes em que a estamos a consumir, fariam bem se primeiro nivelassem o nosso nível de ignorância ou analfabetismo para que com o conhecimento de causa a usufruíssemos, tal como deve ter acontecido nos seus países. Está a ser difícil coabitar com o combate ao analfabetismo e o sistema democrático, se bem que Estado de direito democrático, me dizem, quer dizer funcionamento e convivência, conforme as leis e estas, por sua vez, vem escritas e o seu entendimento não se compadece com quem tem dificuldades de ler e escrever.
Hoje, em nome da democracia, qualquer um pode dizer e desdizer quanto quiser, sabendo embora que está a mentir e a mentira é condenada mesmo em sociedades tradicionais. Pode alguém vir a público gritar que determinada doença é obra de um partido, que a chuva e as calamidades naturais são, afinal, artificiais, porque trazidas por um partido… não se pode dizer nada contra, nem responsabilizá-lo, porque a democracia (à maneira moçambicana) não admite que alguém seja detido, pois, se se concluir tratar-se de um membro activo de um partido, principalmente da oposição, então é por o ser.
Há-de ser por isso que as nossas instituições democráticas e de soberania não funcionam; de cada vez que dão um passo em direcção à correcção de comportamentos erróneos devem ser interpretados conforme as partes (partidos). Ficamos com instituições que funcionam conforme a conveniência e no fim do dia concluímos ter-nos enganado ao adoptar um sistema de tamanha falta de responsabilização.
Este furo (falta de responsabilização) cria o caos social, a desconfiança interminável, criou jornais só para difundirem mentiras e insultarem a quem e como quiserem; o nosso partido-mor, o arqui-rival da Frelimo, usa-o e abusa-o como bem quer e apetece.
Agora para além das mentiras lançadas ao ar, com o uso de todos os meios, temos essa farsa, por enquanto, de autonomia de regiões ou províncias, conforme os resultados das últimas eleições. Logo, houve eleições! Quê eleições? O que é que elas disseram? Vimos tanta gente envolvida em campanhas eleitorais para que fossem eleitas para o Parlamento nacional, afinal enganaram-me? Senão também punha-me para lutar por dirigir o meu posto administrativo aonde, tenho a certeza, ganharia. Temos ocorrência de ferro e a terra dá tudo o que o Homem quiser e puder. O meu problema de umbigo ficaria resolvido.
Haverá uma maneira de operacionalizar essa contradição sem ir contra a democracia que diz que tudo é conforme a lei, aquela que disse que aquelas eleições eram gerais? Ah, só agora? (que jogo, cujas regras se definem a posterior!) … é isso que faz do senhor Dhlakama o homem mais ouvido pelas multidões ávidas de espectáculos, o mesmo que fez e faria, por boas razões e motivos socialmente úteis, Gabriel Júnior, quando andou pelo país a alegrar o seu povo, pois quem conhece Moçambique, jamais esquecerá.
O presidente da Renamo mereceria um subsídio pelos espectáculos que tem dado de forma gratuita, não estivesse a dizer ao povo de que em Moçambique não há democracia e não há leis; que paranoicamente dá três dias para se resolver um problema nacional e que tem poderes para restituir à liberdade qualquer que esteja em conflito com a lei e que as forças de defesa do seu país são constituídas por meninas (no sentido pejorativo, dando a entender que ainda o líder menospreza as mulheres, por cima, no seu mês).
Mas bem vistas as coisas, para lá dos intervalos de lucidez que podem estar a desenvolver-se, cada vez pior no líder, acredito que, sabendo da impossibilidade de fazer dentro da lei o que pretende, estará a urdir uma campanha eleitoral para as eleições de 2019. Pode estar a ensaiar, tendo fé no concurso aos seus comícios, uma moldagem de mentes para que nesse ano votemos nele com base no que defende.
É por isso que sou contra quem achou que a Frelimo não devia sair às províncias para contrariar o discurso divisionista e separatista do líder da Renamo, pois este partido, através do seu líder e numa de “passela” à campanha de Setembro/Outubro passado à qual abraçou tardiamente, está ganhando campo, mas para as próximas eleições. Só pode ser!...
PEDRO NACUO
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