“Ele trouxe ao mundo ideias de amor, perdão e misericórdia”
Igor Baranov, presidente da Associação João Paulo II na Rússia e diretor executivo da editora da Ordem dos Franciscanos em Moscou, falou sobre esse acontecimento em entrevista à Voz da Rússia.
Igor Baranov: Será a primeira vez na história que irá ocorrer uma canonização simultânea de dois Papas, e isso não é uma coincidência. Essa cerimônia sublinha mais uma vez a unidade espiritual de ambos os pontífices. Quando Karol Wojtyla, ao se tornar Papa, pensava sobre o nome que iria tomar antes de ascender ao trono pontifício, ele dirigiu seu pensamento para as personalidades de João XXIII e de Paulo VI, que lhe eram espiritualmente próximos. Para mim é também notável o fato de a sua canonização ser realizada precisamente na Festa da Divina Misericórdia que ele próprio instituiu em honra das visões da freira polonesa Maria Faustina Kowalska. Ele também morreu na véspera da Festa da Divina Misericórdia e nisso sentimos também um certo mistério, um milagre!
Para nós na Rússia João Paulo II é importante como um profundo filósofo, mestre da religião e um homem criativo brilhante, para quem a liberdade de pensamento era o fundamento da existência. Ele, tal como muitos outros representantes da sua geração, viveu nos tempos difíceis de guerras sangrentas, do mal, da violência e da desconfiança mútua. No entanto, Karol Wojtyla tinha a plena convicção que iriam ocorrer mudanças para melhor e ele próprio muito fez para que a “cortina de ferro” na Europa caísse finalmente. Os seus textos religiosos e filosóficos, as suas obras dramatúrgicas e poesia são editados traduzidos para língua russa, os nossos leitores procuram-nos.
Voz da Rússia: Teve ocasião de ver pessoalmente o Sumo Pontífice?
Igor Baranov: Sabe, eu vi-o pela primeira vez quando visitei, com um grupo de peregrinos russos, Czestochowa (cidade na Polônia, conhecida pela sua imagem milagrosa da Nossa Senhora de Czestochowa – NR) em 1991. Tudo isso aconteceu no Mosteiro de Jasna Góra (onde se encontra a imagem – NR) e, apesar de o Papa se encontrar a uma certa distância, nós ouvimos suas palavras sobre amor cristão e sobre o perdão mútuo, que nos atingiram a alma. Depois eu tive a sorte de ter estado numa audiência com João Paulo II no Vaticano, nós oferecemos-lhe o primeiro volume da enciclopédia católica editada em russo em Moscou. Diretamente de suas mãos nós recebemos medalhas do seu pontificado, isso aconteceu a 23 de abril de 2002. O breve toque da sua mão foi um dos momentos mais emocionantes da minha vida. Eu vi de perto a face do Sumo Pontífice, seus olhos e sorriso, senti uma elevação da alma e uma alegria no coração.
Na Rússia muitas pessoas, independentemente da sua confissão religiosa, tinham um grande respeito por João Paulo II, tinham a esperança que ele visitasse o nosso país, mas infelizmente isso não aconteceu. Quando ele morreu, a 2 de abril de 2005, muitos russos ficaram consternados e sentiram a dor provocada por essa perda. Nós recordávamos sua sabedoria, tolerância e magnanimidade, o seu bom sentido de humor.
A canonização de João Paulo II e de João XXIII, cujas ideias da supremacia moral na vida dos homens nos são tão próximas, será, na minha opinião, um acontecimento importante dos nossos tempos conturbados.
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