sexta-feira, 11 de outubro de 2013

A quem ofendeu Diamantino Miranda?


Coso de estado
Canal de Opinião

 

“E é por situações como estas, de Diamantino Miranda, que, enquanto este País não for sério, posicionar-me-ei contra a introdução de carteira profissional para jornalistas”...

Maputo (Canalmoz) – Vinha acompanhando, sem muito interesse, o caso do treinador do Costa do Sol, Diamantino Miranda, que teria proferido palavras como: “todos, aqui, são ladrões”; “num País sério, tu e a maior parte dos teus colegas deveriam estar presos”; “a maior parte dos jornalistas é comprado, vende-se por um prato de sopa”.
Nunca me interessei tanto com este assunto porquanto entendi e continuo a entender que essas palavras não eram dirigidas a mim nem a todos os moçambicanos honestos.
Apesar de ser moçambicano e até jornalista (Diamantino Miranda falava para jornalista), tenho absoluta certeza de que o técnico não se referia a mim nas suas palavras, pois nunca “fui comprado por um prato de sopa”, muito menos que “sou ladrão”.
Agora fiquei mais interessado e até preocupado com o caso quando ontem recebo e-mail do Ministério do Trabalho com título “Ministra do Trabalho cancela contrato de trabalho do treinador do Costa do Sol”.

No comunicado do Ministério do Trabalho lê-se que:

“A ministra do Trabalho, Maria Taipo (…) cancela a licença de trabalho ao cidadão português Diamantino Miranda. Maria Helena Taipo tomou conhecimento, por ofício número 232/MJD/GAB/200/2013, de 8 de Outubro de 2013 do Ministério da Juventude e Desportos, bem como através da comunicação social, dos insultos proferidos por Diamantino Miranda, no final do jogo entre o Vilanculos e a sua equipa, Costa do Sol, no dia 28 de Setembro de 2013, ao afirmar, nomeadamente, que “todos aqui são ladrões” (sic).

O que entendi é que, segundo Helena Taipo, Diamantino Miranda perde o direito de trabalhar em Moçambique por ter afirmado que “todos aqui são ladrões”.
Será que a sua excelência ministra do Trabalho sentiu-se tocada com estas palavras? Sentiu-se a senhora ministra inclusa no grupo de “todos” apontados pelo técnico português e acredita que o técnico ofendeu a maioria dos moçambicanos?
Defendem os auto-rotulados “patriotas” que Diamantino Miranda faltou respeito ao povo moçambicano porque chamou a “todos” de “ladrões”. Isto é deturpar, escamotear a verdade.
Eu sou moçambicano, mas não me sinto incluso nas palavras de Diamantino. Creio também que há muitos moçambicanos, todos os que não são ladrões, que não se sentem afectados por estas palavras.
É obvio que ao afirmar que “todos, aqui, são ladrões”, Diamantino não se referia literalmente a todo o cidadão moçambicano. Está claro que Diamantino não estava a chamar de ladrões aos seus atletas, que são moçambicanos.
O “todos aqui são ladrões” deve ser entendido naquele contexto em que o técnico falava. E é importante que se diga que o técnico não convocou conferência de Imprensa para proferir tais palavras. Tudo partiu de uma discussão com jornalistas após um jogo que a equipa por si orientada perdeu pontos e o treinador achou que houve má actuação da equipa de arbitragem.
E é importante que se diga aonde é que isto sucedeu: em Vilanculos, contra a equipa local, cujos proprietários são sobejamente conhecidos.
Voltando ao alcance das palavras de Diamantino Miranda, não creio que tenham ofendido a nação moçambicana.
Imaginemos alguém que afirma: “aquele homem vai à cama com toda a mulher”. Será que está a dizer que o homem referido está disposto a ir à cama até com a própria mãe?
Outro exemplo muito prático: o slogan do partido Frelimo diz “A Frelimo é que fez, a Frelimo é que faz”, o que pressupõe que a Frelimo é que fez TUDO.
Está a se dizer que a Frelimo é que fez a minha casa e a machamba da minha mãe? Está a se dizer que a Frelimo é que fez raptos? É óbvio que não!
Ao dizer que “todos aqui são ladrões”, o técnico fê-lo como simples força de expressão e sei que todos entendem isto. Até os dois ministros (da Juventude e Desportos e do Trabalho) que decidiram pelo cancelamento da licença de trabalho do técnico entenderam perfeitamente isto.
O problema de Diamantino foi de falar a verdade enquanto estrangeiro. E aqui sou forçado a concordar com o técnico, que “este País não é sério”. Se este País fosse sério, não se teria usado as palavras ditas num contexto de discussão informal com jornalistas, para se assinar sua sentença.
O que sucedeu é que, sentindo-se directamente identificado nas palavras do treinador – "todos aqui são ladrões" – e aproveitando a não seriedade do País, os dirigentes arrumaram a cama para o treinador.
Um dos que decidiram pelo cancelamento da licença de trabalho do técnico português já devia ter sido demitido do Governo - se a sua consciência não pesou para se demitir - quando o semanário Canal de Moçambique expôs seu SMS a "pedir" em segredo 17 mil dólares a um director financeiro de uma instituição tutelada.
Infelizmente, numa coisa devo concordar com o agora ex-técnico do Costa do Sol, “este País não é sério”.
E é por situações como estas, de Diamantino Miranda, que, enquanto este País não for sério, posicionar-me-ei contra a introdução de carteira profissional para jornalistas. Com a carteira profissional em vigor, basta escrever ou dizer verdades que tocam a quem tem o martelo na mão que este corre para assinar despacho de “cancelamento de carteira profissional”. (Borges Nhamirre)
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1 comentário:

Anónimo disse...

Muito interessante seu ponto de vista, Belito Inacio Porto. Penso que o caso do Diamantino Miranda tomou certa proporção, que o governo se sentiu obrigado a reagir. O problema, do meu ponto de vista, é que não se pode (como você ressaltou) excluir o contexto. Talvez o governo tenha aproveitado a oportunidade para posar de defensor do país e do povo, diante do ataque de um estrangeiro. Apenar da proximidade das eleições, espero que não seja esse o caso. De qualquer forma, acredito que as pessoas devem procurar ser comedidas em suas atitudes, para não ofender quem quer que seja.