Um
confronto entre homens da RENAMO e a polícia moçambicana teve lugar na última
madrugada (04.04) na região centro de Moçambique. Quatro pessoas morreram e
outras 13 estão feridas. E a tensão continua na região.
A DW
África entrevistou o diretor e jornalista do jornal moçambicano Canal de
Moçambique, Fernando Veloso, que esteve em Muchungué, palco dos confrontos
desta quinta-feira (04.04) entre os homens do maior partido da oposição,
RENAMO, e a Força de Intervenção Rápida (FIR). A testemunha relatou-nos o que
viu
DW África: O que aconteceu nas últimas horas em Muxungué?
Fernando Veloso (FV): Esta madrugada, quando eram 20 para as 4, o quartel da polícia foi atacado
durante cerca de 45 minutos. Houve forte tiroteio, inclusive quatro fortes
disparos de armas pesadas. Esta manhã no hospital, cerca das 7 horas,
confirmamos que havia quatro mortos e 13 feridos.
DW África: Isso confirmado pelas autoridades sanitárias?
FV: As
autoridades sanitárias estavam proibidas de falar, mas várias fontes do hospital
rural do Muxungué nos confirmaram esses números.
Nós inclusivamente entramos no hospital um pouco de rompante, contrariando a
ordem, e logo à partida vimos nove feridos. O administrador de Chibabava,
Arnaldo Major, acabou por nos confirmar que havia quatro mortos, mas nós temos
a certeza que são quatro óbitos e treze feridos, todos polícias, mais uma
senhora civil atingida por uma bala perdida.
DW África: Mas confirma-se que os confrontos foram entre os homens da
RENAMO e a polícia moçambicana?
FV: De manhã
suspeitava-se que eram confrontos entre unidades diferentes da polícia, porque
era isso que a populaçãoo andava a suspeitar, mas fomos investigar melhor e
comprovamos que a RENAMO atacou a Força de Intervenção Rápida (FIR).
DW África: Ou seja, não foi a Força de Intervenção Rápida que atacou a
RENAMO?
FV: Ontem
(quarta-feira, 03.04), foi a FIR que atacou a RENAMO na sua própria sede,
impedindo-a de reunir e violando desta maneira um preceito constitucional.
DW África: Então esta foi uma resposta da RENAMO ao ataque desta
quarta-feira?
FV: Só pode. E o
objetivo, como conseguimos confirmar dentro do quartel há poucas horas, o
objetivo era libertar os membros da RENAMO que estão lá detidos. Nesse ataque
fotografamos o brigadeiro Rasta Mazembe morto. O comandante da RENAMO que
atacou morreu no terreno a cerca de 30 metros da entrada do quartel/cadeia.
Vimos rastos de um corpo que terá sido levado pelos homens da RENAMO, e de onde
se pode preconizar que, para além do morto confirmado da RENAMO, ainda tenha
havido um homem que não sabemos se morreu ou se está vivo.
DW África: A população continua no local ou fugiu?
FV: Ontem quando
eu cheguei ao local às seis horas da tarde, Muxungué, contra o que é habitual,
estava vazia, todo o comércio estava fechado. A polícia andava nas poucas
barracas abertas a beber cerveja com armas de reposição, Kalashnikov,
AK 47, e portadora de gás lacrimogêneo, e mesmo assim andavam em bares a beber
cerveja. A população fugiu para o mato, para o Chimoio, para Beira, para onde
pôde. E os que não fugiram ontem estão a fugir hoje a pé com trouxas à cabeça.
E hoje quando anoitecer deve haver pouca gente em Muxungué.
DW África: Há movimentação na estrada nacional Número Um (a estrada mais
importante do país e que liga o sul ao norte de Moçambique)?
FV: Eu fiz agora
a percurso Muxungué-Inchope [da Estrada Nacional 1] é há pouquíssimo movimento,
praticamente nenhum.
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