Monday, April 1, 2013

ARREPENDO-ME DA DECISÃO QUE TOMEI SOBRE O CAJU COM O FMI


www.canalmoz.co.mz
30 Meticais
Maputo,Quarta-Feira, 27 de Março de 2013
Director:Fernando Veloso | Ano 8 - N.º 868 | Nº 193 Semanário
de Moçambique de Moçambique
Dois meses após a soltura
publicidade

… sem que o povo a conheça”
“ARREPENDO-ME DA DECISÃO QUE TOMEI SOBRE O CAJU COM O FMI”
Governo
rejeita
ajuda de
Taiwan
Para agradar à China
Página 09
“Não se pode
mexer na
Constituição…
Augusto Paulino
manda prender Ramaya Página 03
Canal de Moçambique| Quarta-Feira, 27 de Março de 2013 4
Grande Entrevista
Tenho colegas, compatriotas, que estão desde o primeiro congresso e nunca saíram do Comité Central
(Continua na página seguinte)
– Pascoal Mocumbi, ex-primeiro-ministro
Matias Guente e Bernardo
Álvaro
Foi um dos fundadores da
Frente de Libertação de Moçam-bique (FRELIMO), mesmo an-tes de Samora Machel se alistar.
Contrariando ordens do primeiro
presidente da República “Popu-lar” de Moçambique, recusou-se
a interromper o curso de Medici-na na Suíça (Confederação Hel-vética) para tomar parte activa na
luta armada, ainda na Tanzania.
Alegou que só voltaria depois
de concluída a sua formação em
Medicina, tendo-se especializa-do em Obstetrícia e Ginecologia.
Cumpriu com o que disse. Voltou
depois da Independência e foi co-locado como médico no Hospital
Geral José Macamo, em Maputo.
É depois transferido para a Beira
como médico a exercer no Hos-pital Central da capital de Sofala.
Passou depois a director dessa
unidade de saúde, acumulando
com o cargo de director provin-cial de Saúde em Sofala. O pró-prio Samora acaba por nomeá-lo
seu ministro da Saúde. Quando
Samora morre e Joaquim Chissa-no é nomeado pelo Bureau Polí-tico da Frelimo como presidente
do partido e sobe automaticamen-te ao cargo de Presidente da Re-pública, o nosso entrevistado de
hoje é nomeado ministro dos Ne-gócios Estrangeiros do primeiro
Governo presidido por Chissano.
Exerce este cargo entre 1987 e
1994, tendo tido como primeiro--ministro Mário da Graça Ma-chungo. Ascende ao cargo de
primeiro-ministro do Governo de
Joaquim Chissano depois das pri-meiras eleições multipartidárias
realizadas em 1994. Deixa de ser
primeiro-ministro em Fevereiro
de 2004 para se dedicar a orga-nismos internacionais de pesqui-sa em saúde. Vai para a OMS e
passa a viver na Europa. Conti-nua um homem de trato simples.
Aceitou conceder-nos uma longa
entrevista para falar dos Projec-tos da Fundação Manhiça por si
liderados, que incluem investi-gação para a descoberta da vaci-na contra a malária. Mas aceitou
também abordar a actual situação
sociopolítica do País. E por falar
da situação do País comentou
para o Canal de Moçambique os
últimos relatórios de Desenvol-vimento Humano (IDH) que co-locam o País como um dos mais
pobres do mundo em contra cor-rente ao discurso oficial insisten-temente repetido pelo presidente
da República e chefe do Governo,
Armando Guebuza. Mais do que
diabolizar o PNUD, diz Pasco-al Mocumbi, é preciso aceitar
que o País tem muitos desafios.
Tal como não poderia deixar
de ser, aproveitámos a ocasião
para falar do ainda misterioso
candidato da Frelimo às próxi-mas eleições presidenciais de
2014. Pascoal Mocumbi, que
não vê problemas no atraso da
sua apresentação pública, diz
que o futuro candidato deve ter
experiência de Moçambique e
da Frelimo e mais do que isso
deve estar a par do que está a
acontecer nos países africanos.
Mocumbi não apontou nomes
de prováveis candidatos. Tam-bém disse que não está dispo-nível para ser candidato, “para
não ser combatido”. Frisa ainda
que nem sequer foi sondado para
tal. Entre risos e longas pausas
de reflexão em cada resposta, o
Dr. Pascoal Mocumbi acabou
por dizer-nos, em clara alusão
às lutas internas, que no Parti-do Frelimo “há camaradas com
vocação para subir escadas”.
Para não esgotarmos a entre-vista nesta introdução, convida-mos o estimado leitor a investir
o seu precioso tempo a acom-panhar a entrevista na íntegra
e em discurso directo, reser-vando-lhe desde já a soberania
para tirar conclusões pessoais:
Canal de Moçambique (Ca-nal): Dr. Pascoal Mocumbi,
como surgiu a ideia da criação
da Fundação Manhiça e quais
são os objectivos que nortea-ram a criação da fundação?
Pascoal Mocumbi (Mocum-bi): A fundação foi estabelecida
para melhor garantir que o Cen-tro de Investigação em Saúde da
Manhiça, criado em 1996, pudes-se realizar a sua missão que é de
contribuir para resolver proble-mas de saúde de moçambicanos
e não só. A experiência do Centro
de Investigação em Saúde da Ma-nhiça (em Maputo), mostrou-nos
que era útil encontrarmos uma
situação legal que desse maior
estabilidade. Depois de termos
estudado vários modelos, opta-mos pelo modelo de Fundação.
Os interessados organizaram-se
e criaram a Fundação Manhiça.
Canal: E quem foram esses
interessados?
Mocumbi:Os interessados
são os fundadores. São eles: o
Governo moçambicano, o Reino
da Espanha, e instituições acadé-micas tanto da Espanha como de
Moçambique. Da Espanha está
a Universidade de Barcelona.
De Moçambique temos a Uni-versidade Eduardo Mondlane e
o Fundo de Desenvolvimento
da Comunidade (FDC) que é da
sociedade civil. Eu sou membro
fundador honorário que os funda-dores colocaram porque acharam
que era útil ter alguém que não ti-nha nada a oferecer como capital
financeiro, mas, sim, alguma ex-periência que acham que tenho.
Canal: E qual é a articulação
em termos de direcção e res-ponsabilidades?
Mocumbi:A articulação é sim-ples. Temos um Conselho de Pa-tronos, um Conselho de Directo-res e temos a Direcção do Centro.
Canal: E quais são as res-ponsabilidades, por exemplo,
de entidades como a UEM, da
própria universidade de Barce-lona ou do FDC? Qual é a arti-culação entre elas?
Mocumbi: A responsabilidade
que cada entidade tem é de parti-lhar com a Fundação Manhiça as
suas experiências e investigações,
em matéria de ciência de desco-berta. Porque as universidades
são conhecidas como institui-ções que estão em permanente
produção de conhecimento. E
porque o Centro da Manhiça
(NR: Centro de Investigação em
Saúde da Manhiça – CISM) está
preparado para dar seguimento
a qualquer descoberta que pre-cisa de ser testada no terreno.
Canal: E há capacidade por
parte do CISM em fazer esse
trabalho?
Mocumbi: O CISM é capaz
de fazer esse trabalho e já con-firmou isso quando testou um
candidato da vacina da malá-ria. O trabalho está em curso…
Canal: Íamos exactamente
para este ponto. Por aquilo que
são os resultados que alcança-ram até agora, conjugado com
os objectivos que nortearam a
organização, estão satisfeitos
com o trabalho?
Mocumbi:Estou claramente
satisfeito. Eu estou seguro que já
consultaram a direcção do centro
sobre os resultados, porque esses
são os que produzem resultados.
Nosso papel como Fundação é
promover a capacidade humana e
institucional, promover parcerias
com outras instituições do mundo
inteiro. Portanto, como já disse,
o CISM contribuiu e está a con-tribuir para testar medicamentos,
testar vacinas, e estamos neste mo-mento a trabalhar nesse sentido.
Vacina contra a malária daqui
a dois anos
Canal: E sobre a famosa va-cina contra a malária, em que
pé está?
Mocumbi:A vacina contra
a malária, neste momento está
em fase muito avançada por-que há já um candidato de va-cina que é considerado como o
mais próximo de ser registado.
Neste momento o trabalho de
campo, de base, terminou, mas
continuamos a seguir porque
uma vacina tem que dar pro-vas de qualidade técnica válida.
Canal: Pode avançar uma
data prevista para anúncio dos
resultados finais e em que o
Canal de Moçambique e outra
Imprensa poderá ser mobiliza-da para cobrir o “lançamento
“Há camaradas com vocação para
subir escadas”
Foto:Sérgio Ribé
5 Canal de Moçambique| Quarta-Feira, 27 de Março de 2013
Grande Entrevista
(Continuação da página anterior)
(Continua na página seguinte)
da vacina”?
Mocumbi:(risos) …Não…
Isso eu deixo para os técnicos...O
que sei é que anda à volta dos
próximos dois anos.
Canal: Dr. Pascoal Mocum-bi, por falar da vacina: a Ma-lária continua a ser a princi-pal causa de morte aqui no
país. Mas há avultados inves-timentos que estão a ser fei-tos, quer pelo Governo, assim
como pelos parceiros. Na sua
opinião, o que está a falhar?
Mocumbi: Para mim, não há
falha que noto, mas há insufici-ência de contribuição do nosso
próprio país, capacidade de man-termos ou garantirmos a sustenta-bilidade. Porque a sustentabilida-de exige recursos sustentáveis. E
por falar de recursos, em primeiro
lugar falo de recursos humanos e,
em segundo, de recursos financei-ros, porque o ser humano precisa
de meios para viver, assim como
a instituição precisa de ser man-tida, tanto a infra-estrutura como
no seu fortalecimento em termos
de instrumentos que capacitem
os cientistas em realizar e evoluir
na sua capacidade de competir
com outros cientistas nessa luta
de descoberta de utensílios para
eliminar aquelas doenças que
mais nos fazem sofrer e que im-pedem o nosso desenvolvimento,
empobrecendo a nossa popula-ção, como por exemplo a malá-ria, o HIV/SIDA, a tuberculose.
Hoje em dia falamos de do-enças infecciosas não trans-missíveis que atacam muitos
moçambicanos, matam muitos
não só em Moçambique como
em África. Falo, por exemplo,
da tensão, a diabete e outras
que não ocorriam em África.
Canal: Pelo que é anunciado,
é muito dinheiro que está em
jogo, Dr. Pascoal Mocumbi…
mas as mortes também sobem
proporcionalmente…
Mocumbi: A razão principal
da subida dos casos de Malária é
que o parasita da malária é mes-mo endémico e o seu reservató-rio são os humanos. Segundo: o
vector desse parasita que passa
de um ser humano para outro é
o mosquito. Até agora, não tenho
conhecimento de ter-se consegui-do fazer desaparecer o mosquito
do mundo. Mesmo nos países
desenvolvidos que não têm a ma-lária como problema de saúde,
o mosquito se calhar existe lá.
Portanto, se conseguirmos uma
vacina, será muito útil, não só
para os africanos, mas para todo
o mundo. A outra razão é porque
as pessoas não estão a seguir ri-gorosamente aquilo que lhes é
recomendado para fazerem. É re-comendado, por exemplo, que é
preciso evitar que o mosquito se
aproxime e pique, usando o meio
apropriado que é o uso da rede
mosquiteira impregnada. Alguns
até ouvi dizer que pegam a rede
mosquiteira e vão pescar com
ela. Outro aspecto é que muitos,
mesmo sabendo que esses são os
sintomas da Malária, não vão ao
centro ou às unidades sanitárias
para tratarem a doença. Outros,
mesmo sabendo qual é a dose a
tomar, não a tomam para assegu-rar que não morram de malária.
Portanto, essa ignorância e a re-sistência derivada do facto de não
se protegerem, pode ser uma das
causas. Isso ocorre na minha pró-pria família. Mesmo tendo redes
mosquiteira, repelentes, deixam
os pequenos buracos por onde os
mosquitos podem entrar. Portanto
esses aspectos, bem como a ma-neira de se vestir quando anoitece,
que é o momento em que os mos-quitos se preparam para tomar a
refeição da noite, são os desafios
que continuamos a ter. Durante o
dia os mosquitos se escondem em
lugares escuros a descansarem.
Canal: Quando fala na ma-neira de vestir, como é que de-vemos nos vestir para evitar a
malária?
Mocumbi:É que quando o
sol se põe os mosquitos tam-bém se preparam para tomar
a sua refeição da noite e os
que não estiverem com o cor-po devidamente coberto são o
potencial prato do mosquito.
Canal: Dr. Pascoal, quan-do se fala de malária temos as
componentes de prevenção e de
tratamento. Qual é a vossa área
de intervenção como CISM?
Mocumbi: Para além da vaci-na em que estamos a trabalhar,
estamos igualmente a trabalhar
no sentido de irmos melhorando
a vigilância, acompanhamento
dos medicamentos através da
pesquisa. A Fundação actua na
área de procurar um meio pre-ventivo, mas antes disso procura
também que os meios de trata-mento sejam adequados. Estou a
falar da malária, mas também de
outras doenças como tuberculose.
Neste momento a Fundação,
através do CISM, está a trabalhar
no desenvolvimento da capaci-dade humana e institucional para
testar o tratamento contra a tuber-culose e também está a preparar--se para o HIV, à procura da vacina
que esteja pronta para ser testada.
Canal: Qual é a articulação
que existe entre o Centro de
Investigação em Saúde da Ma-nhiça (CISM) enquanto entida-de de pesquisa e o Ministério da
Saúde?
Mocumbi:É muito simples.
Basta olhar para os órgãos da
Fundação Manhiça, para notar
que o Instituto Nacional de Saúde
(INS) é quem representa o Minis-tério da Saúde na parte do acom-panhamento científico. É através
do INS que ficamos a saber quais
são as necessidades e prioridades
que o Estado ou o Ministério da
Saúde tem em matéria de saúde. A
Fundação inclui na sua estratégia
de longo prazo o CISM, que in-clui nos seus programas, que são
anuais ou plurianuais. Isso levan-do-nos a melhor organizar o tra-balho do centro de investigação.
Canal: O Dr. Pascoal conti-nua a praticar a medicina em
termos efectivos?
Mocumbi: Não. Eu já não
pratico a medicina porque sinto
que com a minha idade estaria a
pôr em causa a vida dos doentes.
Canal: Quando é que deixou
de praticar?
Mocumbi:Deixei de praticar
quando comecei a minha missão
como primeiro-ministro. Porque
quando era ministro da Saúde
ia ao Hospital para não perder
a minha mão de profissional.
Canal: Já agora qual é a sua
especialidade?
PM:Obstetrícia e Ginecolo-gia. Agora me dedico à busca de
meios para fortalecer as institui-ções de saúde.
Sempre estive do lado dos
médicos
Canal: O Dr. Pascoal Mocum-bi é médico. Como viu a recente
greve dos médicos? Analisando
as motivações, de que lado a
sua consciência, como médi-co, o obrigou a estar. Do lado
do Governo ou da sua classe?
Mocumbi:Olha!.. eu sou mé-dico e sou membro da Associa-ção dos Médicos Moçambicanos.
Portanto eu compreendo quando
eles enfrentam problemas que
afectam a sua própria vida e pro-curam defender a classe médica.
Canal: Pergunto-lhe se é, por-tanto, solidário com os médicos?
Mocumbi: Sim, sim, sou
solidário. Eu sigo aquilo que
a Associação dos Médicos de
Moçambique (AMM) segue.
Canal: E sobre a actuação
da Faculdade de Medicina
da UEM, contra os médicos
estagiários, ao atribuir um
chumbo colectivo? Mais do
que rigor regimental da uni-versidade, não acha que foi
um expediente político de inti-midação dos futuros médicos?
Mocumbi:Sobre a actuação
da Faculdade de Medicina, devo
dizer que as universidades têm
as suas regras e têm seus proce-dimentos internos, têm seus regu-lamentos e como devem agir para
quem viola esses regulamentos
eu não posso julgar como fize-ram, sem conhecer na base quais
são os instrumentos que eles têm
em matéria de estágio. Compre-endo as duas partes que reagi-ram da maneira como reagiram.
Falando agora de política!....
Canal: Dr. Pascoal Mocum-bi, sabemos que de medicina
falaríamos todo o dia, mas per-mita-nos que saíamos da medi-cina e entremos na política…
Disse certa vez, quando ainda
era primeiro-ministro, que era
um treinador de uma equipa
que não tinha sido escolhida
por si, em referência ao facto de
ser um primeiro-ministro sem
a possibilidade de escolher os
restantes membros do Governo
e ainda mais, um PM não exe-cutivo. O cenário é o mesmo,
agora. Qual é o impacto que
isso tem a nível do funciona-mento do próprio Governo?
Mocumbi:(Risos e uma lon-ga pausa) …Isso era uma in-terpretação. Talvez tenha dito
isso num momento de emoção.
Canal: Mas como é que olha
para as funções não executivas
do primeiro-ministro. Acha que
o actual modelo é exequível?
Mocumbi:Bom!.. Eu fui no-meado primeiro-ministro, num
contexto em que o modelo de
governação era esse, e em que
eu não sabia o que o primeiro--ministro devia fazer. Tive que
enfrentar um desafio porque eu
havia aceite a responsabilida-de. Para levar melhor a minha
missão como primeiro-ministro,
tive que me meter na Faculda-de de Economia da Universi-dade Eduardo Mondlane, para
conhecer melhor a linguagem
de economia que eu não tinha
como médico. Entendi que para
se exercer bem a função, tem-se
que conhecer a linguagem, co-nhecer os princípios básicos, para
melhor desempenhar o papel de
primeiro-ministro que é de orga-nizar, facilitar e coordenar o fun-cionamento de toda uma equipa.
Canal: Está a dizer-nos que
se sentiu obrigado a ir estudar
na Faculdade de Economia?
Mocumbi: Sim. Portanto fui a
um curso na Faculdade de Eco-nomia, da Universidade Eduardo
Mondlane, que era organizado
por uma instituição económica
de uma universidade inglesa que
colaborava com a UEM, apoiado
pelo Governo que estava inte-ressado em formar quadros, fun-Foto:Sérgio Ribé
Canal de Moçambique| Quarta-Feira, 27 de Março de 2013 6
(Continuação da página anterior)
(Continua na página seguinte)
cionários que dominam a área.
Em relação ao meu objectivo
era compreender pelo menos o
suficiente para realizar a minha
missão de primeiro-ministro.
Canal: E conseguiu entender
os fundamentos da economia?
Mocumbi:(risos) …Acho que
sim.
“A Constituição não é um
documento para se andar a
mexer nele todos os dias”
Canal: Doutor!... Voltando
à questão das competências
do primeiro-ministro: na nos-sa disposição constitucional,
e já que estamos no processo
de revisão, acha que deveria
merecer atenção dar-se mais
campo de acção a essa figura?
Mocumbi: Entendo que essa
parte tem a ver com a política.
Política no sentido de “policy”.
Política de educação, saúde,
economia e por aí. Isso depende
muito daquilo que é o programa
de governação de cada Gover-no e de cada momento. O mais
importante para mim é cumprir
com o programa de governação.
Canal: Mas o que quer dizer
com isso, Doutor?
Mocumbi: Quero dizer que a
Constituição não é um documento
para se andar a mexer nela todos
os dias. É como a bíblia. (risos)-…É a bíblia do nosso Estado.
Canal: A sua resposta, Dou-tor, obriga-nos a fazer a se-guinte pergunta: qual é a sua
opinião em relação ao actual
processo de revisão em curso?
Mocumbi:Sou da opinião que
não se pode mexer na Consti-tuição sem que o povo a conhe-ça. Entendem? Como disse, são
desses documentos que não são
para mexer de ano em ano ou de
qualquer maneira. Os programas
de governação podem mudar,
mesmo as regras e princípios
que guiam o Estado, o funcio-nalismo do Estado, mas também
não estão para mudar constante-mente. Só aquilo que está ultra-passado é que deve ser mudado.
Canal: Há aspectos que o
Dr. Mocumbi, na qualidade de
cidadão, político e profissional,
gostaria de ver merecer algu-ma revisão na Constituição?
Mocumbi:Com certeza
deve ser a opção pública, as-segurar que o poder do Estado
esteja claramente estabeleci-do, clarificar o que é o poder
a nível do poder local, o que
cada um pode e não pode fazer.
Canal: E qual é o modelo que
gostaria de ver no país na pró-xima Constituição?
Mocumbi:Penso que a Repú-blica é o melhor. Sobre presiden-cialista ou semi-presidencialista,
isso eu não sei, porque até aqui
eu ainda não vi qual é o melhor,
ao comparar com os franceses,
com os espanhóis (alguns já es-tão a gritar que o rei tem que
saltar), com os portugueses tam-bém (risos). Isso poderia criar
uma certa instabilidade, porque
as pessoas já estavam habitua-das a uma realidade e de repen-te vem-se com uma outra coisa.
Canal: O senhor já foi minis-tro e primeiro-ministro deste
país. Gostaria de voltar ao Go-verno?
Mocumbi:Isso não sou eu
que vou escolher... (risos). Como
médico sei que se o doente disser
que sente isto eu posso fazer isto
(risos), mas eu nunca trabalho
numa condicionalidade para uma
função que eu já realizei quase 20
anos. Quem conhece bem e agora
quer voltar para lá é preciso ver
que talvez esteja muito cansado.
Canal: O que o levou a aban-donar o Governo, antes do fim
do seu mandato?
Mocumbi:Concretamente eu
já tinha, praticamente, feito dois
mandatos e faltavam apenas nove
meses, na altura que eu deixei o
Governo. E este foi um assun-to que foi tratado com quem me
escolheu para primeiro-ministro
(Joaquim Chissano). Certamen-te que tanto eu como quem me
nomeou levamos depois o as-sunto ao partido. E eu estava in-teressado em deixar as funções
de membro do Governo, para
realizar outra actividade. Claro,
uma pessoa não sai sem saber o
que vai fazer (risos). E era uma
oportunidade que eu tive de con-tinuar a trabalhar no domínio da
saúde promovendo a pesquisa.
“Arrependo-me da decisão que
tomei sobre o caju com o FMI”
Canal: O Doutor deixa o Go-verno e também deixa o país
por um tempo. A que se deveu
tal decisão?
Mocumbi:Eu tinha necessida-de de ir juntar-me a uma equipa
que estava interessada no mesmo
objectvo que era de desenvolver
uma parceria capaz de contribuir
para que África possa participar
na pesquisa em matéria de saú-de que tenha capacidade huma-na e capacidade institucional. E
isso está a acontecer e eu estou
satisfeito com o trabalho que
faço agora como voluntário que
é da Fundação Manhiça, que é
a continuidade do trabalho, que
comecei primeiro como médi-co, segundo como ministro da
Saúde, terceiro como primeiro--ministro, de lutar para que a ci-ência possa ser acessível aos mo-çambicanos e em África. Porque
entendo que sem a pesquisa não
há desenvolvimento. A minha
escolha foi no domínio da saúde
e a pesquisa em geral. Quando
exerço a função médica, estou
a fazer pesquisa. Quando estive
no Governo, estive a fazer uma
pesquisa para tomar uma decisão
sobre a política de governação. E
isso exige constante investigação.
Canal: Quer-nos parecer,
Dr. Pascoal Mocumbi, que tem
muito amor pela ciência. Tendo
esse lado científico, alguma vez
no Governo teria tomado uma
decisão de cientificidade duvi-dosa?
Mocumbi: Quando alguém
está no Governo e há um proble-ma para resolver a bem do povo,
discutimos em grupo e depois to-mamos uma decisão. Mais tarde
podemos ver que quando toma-mos esta medida, nos faltou co-nhecimento sobre isto ou aquilo.
Mas tal como o médico e este
médico Pascoal que está a lidar
com uma parturiente, sabe muito
bem que o parto é algo natural.
Mas como médico encarregue de
assistir, deve tomar decisões mui-to precisas de como intervir para
ajudar. E isso exige investigação,
conjugada com aquilo que apren-di como profissional. Alguém
toma uma decisão que pode ser
errada. Felizmente, terminei essa
parte sem ter tido graves erros.
Mas há decisões urgentes que não
permitem tempo para ir buscar um
livro para consultar. Mas como
primeiro-ministro, lembro-me de
ter tomado decisões, por exem-plo, que deviam ser melhores se
eu tivesse conhecimento de como
é que o Banco Mundial funciona.
Canal: Que decisão tomou
em relação ao Banco Mundial e
que se arrepende?
Mocumbi:Por exemplo, o
BM, o FMI e todas instituições
do Breton Wood, quando Mo-çambique estava para resolver o
problema da operacionalização
da castanha de caju. Tivemos
que tomar uma decisão que sa-bíamos que era errada, mas não
tínhamos outro caminho. E era
uma decisão que tinha que tomar.
É como se fosse para operar um
doente. Você tem um prazo útil
para negociação com essas insti-tuições. Mas aí está, quanto tem-po posso sobreviver sem dinhei-ro, porque é o dinheiro que eu
preciso para realizar programas.
Canal: Estaria disponível
para voltar ao Governo?
Mocumbi:(Risos) …Isso não
sou eu quem vai escolher… (Risos)
Canal: Raciocine connosco,
Doutor. Vamos supor que o
partido Frelimo reúna e deci-da que deve voltar a chamá-lo,
para – vamos lá – ministro de
qualquer pelouro. Qual seria a
sua resposta?
Mocumbi:(Risos e longa
pausa) …Como médico posso
dizer que se o doente tal tiver
isto posso fazer isso. Para dizer
que não trabalho na base de “se”,
ou na base de condicionalidade.
Eu já estive lá quase 20 anos.
Canal: Olhando para o con-texto anterior e actual, manten-do como é óbvio e por questões
metodológicas, os desafios de
cada época, gostaria de ser pri-meiro-ministro antes ou agora?
Mocumbi:(risos) …Eu nunca
escolhi o que gostaria de ser no
Governo. O que eu escolhi foi
ser profissional de saúde, médico
competente realizando a minha
missão com segurança. Mas o
partido chamou-me para aquele
lugar, e entendi que podia fazer
aquele trabalho. E para isso, uma
vez assumidas as funções, tinha
que assumir os desafios, porque
quem se lança nessas actividades
assim a brincar é capaz de cor-rer riscos ou faz correr riscos a
eficiência da sua própria equipa.
“Não é preciso você andar aí à
procura de escadas”
Canal: Dr. Pascoal Mocum-bi, durante o Governo de que
foi primeiro-ministro ia pes-soalmente às conferências de
Imprensa semanais depois da
sessão do Conselho de Minis-tros, uma situação que hoje não
ocorre. O que o levava a esse
procedimento?
Mocumbi:Eu precisava de
transmitir para aqueles que esta-vam interessados em saber o que
é que o Governo estava a fazer,
exactamente porque é que tomá-vamos tal decisão. E isso aconte-cia regularmente depois do Con-selho de Ministros, para informar
a todos os cidadãos, mas sobre-tudo os funcionários do Estado,
para saberem e compreenderem
as decisões tomadas e terem no-ções gerais do que está a ser pu-blicado nos jornais. Aquilo era
mesmo para os jornalistas. Devo
lembrar que foi num período em
que o Ministério da Informação
foi banido e a minha função era
Grande Entrevista
Foto:Sérgio Ribé
7 Canal de Moçambique| Quarta-Feira, 27 de Março de 2013
(Continuação da página anterior)
Grande Entrevista
de facilitar o acesso à informação
dos media, não só moçambicanos
como estrangeiros, com muita
regularidade. E sendo primeiro--ministro e sabendo quão é difícil
fazer a síntese de tudo quanto se
discutiu e se decidiu, transmitir
a letra e o espírito, não era fácil.
Portanto, corri o risco de ao invés
de nomear alguém como meu
porta-voz, porta-voz do Governo,
decidi apresentar o meu pesco-ço… (risos e um copo de água).
Canal: No X Congresso o
senhor andou muito longe dos
processos. Não integrou nenhu-ma comissão nem se candida-tou a nenhum órgão do partido.
O que se passou sendo o senhor
membro sénior da Frelimo?
Mocumbi: Eu era um dos
membros do Comité Central para
preparação do congresso. Portan-to estive numa comissão, e não sei
porque devia sair de uma comis-são maior para uma comissão pe-quena. Isso para dizer que eu não
vou concorrer para uma comissão
enquanto sou membro do Comité
Central que é a comissão gran-de. Portanto estava no congresso
como membro do Comité Central
que estava a terminar o seu man-dato, e durante o Congresso seria
eleito um novo Comité Central o
qual devia eleger os outros órgãos
incluindo a própria Comissão Po-lítica. É muito lógica a minha po-sição de eu estar apagado. Porquê
iria eu atrás de protagonismo?
Mas o documento que foi ao con-gresso, passou pelo Comité Cen-tral de que eu faço parte. Depois
do congresso, continuo membro
do Comité Central. Portanto, só
para entender que não é minha
intenção andar-me a bater para
subir escadas (risos). Para as es-cadas…, não é preciso você an-dar aí à procura de escadas, a não
ser que a sua vocação seja essa.
E eu não tenho essa vocação.
Canal: Está a dizer que há
no partido camaradas com ex-clusiva vocação para subir tais
escadas?
Mocumbi:(Risos) Há, sim!
No partido há...(Risos). Em qual-quer partido, em qualquer Es-tado ou Governo, há quem diz
que eu gostaria de ser isto, e até
dão curso de ciências políticas.
Sobre o Relatório do
Desenvolvimento Humano
Canal: Doutor Mocumbi, re-centemente as Nações Unidas
publicaram o relatório sobre o
Índice de Desenvolvimento Hu-mano e colocaram o país numa
situação não muito cómoda, ou
seja, como o quarto país pior
do mundo, no Índice de Desen-volvimento Humano. Pergunto
agora ao médico, cidadão, ex--primeiro-ministro, Pascoal
Mocumbi, em que tipo de país
se sente a viver? (NR: a entre-vista aconteceu antes do mais
recente relatório ter sido publi-cado. Neste último Moçambi-que passou do quarto pior para
o terceiro pior em termos de de-senvolvimento humano. À nos-sa frente a Guiné-Bissau ficou.
O discurso do combate à po-breza, do Presidente Armando
Guebuza faliu completamente.)
Mocumbi:(Risos e pausa) …
Sinto-me a viver no meu país.
Quer que eu fuja do meu país
quando há problemas? Quan-do há dificuldades comparadas
com os outros? (Risos). Não, eu
continuo no meu país, continuo
contribuindo sempre que pos-sível, fazendo com que mante-nhamos a linha que nos leva ao
desenvolvimento sustentável.
Canal: Perguntamos-lhe isso
porque o relatório não foi bem
visto nos círculos do Governo.
Houve até quem ridiculari-zou os métodos do PNUD…
Mocumbi:– Bom, que res-pondam eles e não eu (Risos).
Eu estou no meu país. É um
país que tem muitos desafios...
Crise de liderança na Frelimo
“É bom fazer especulações,
pois é a melhor forma de procu-rar a verdade e talvez amanhã
possamos ter a verdade (Risos)”
Canal: Fala-se da crise de
liderança na Frelimo e no Go-verno. Como é que o Dr. Pasco-al Mocumbi vê ou se sente? Se
bem que há os que minimizam
isso alegando mera conversa
de presumíveis detractores do
partido, como é que o Doutor
vê isso?
Mocumbi:Eu não sinto isso,
nem como membro do Comité
Central. Agora, como cidadãos
podemos fazer especulações. Até
porque é bom fazer especulações,
pois é a melhor forma de procurar
a verdade e talvez amanhã possa-mos ter a verdade (Risos). Eu não
sou da profissão de sociólogo,
nem da profissão de jornalista.
Agora o que eu gostaria de ver em
Moçambique é a implementação,
com sucesso, do programa que
aprovámos, mobilizando os nos-sos membros para a implemen-tação e para garantir que aqueles
que ainda não provaram o que é
a Frelimo, possam entrar e por
dentro ajudar-nos a termos no-vas visões, a meter sangue novo.
Canal: Doutor, ainda nesse
mesmo âmbito da especulação,
fala-se de um partido Frelimo
onde existem pessoas ou figuras
que se beneficiam do partido
para fins pessoais. Sente isso?
E como é que interpretaria a
saída, dos principais órgãos de
decisão, de figuras históricas do
partido?
Mocumbi: A prática da Fre-limo foi sempre rotação na con-tinuidade. Ou seja, você está no
órgão porque rodou e entrou. E
depois essa mesma pessoa sai e
entra o outro depois de ter fica-do anos e anos. Tenho colegas,
compatriotas, que estão desde o
primeiro congresso e nunca sa-íram do Comité Central. Outros
colegas que não sabiam o que é
a Frelimo, porque nessa altura
não existia a Frelimo. Por exem-plo, o presidente Chissano desde
que entrou no Comité Central
nunca saiu. Agora atende as reu-niões como presidente honorário.
Canal: Falemos das pessoas
que usam o partido para o seu
benefício, Doutor…
Mocumbi:Eu não vejo es-ses que se beneficiam do partido
para fins pessoais, já que para se
entender que este está-se a bene-ficiar tem que se saber o que este
está a tirar da Frelimo. Quando
estamos a preparar o congres-so, nós próprios é que temos de
contribuir. O que é que ele con-segue ganhar que eu não ganho?
Eu não gosto de especular que
está lá no lugar do partido Fre-limo por estar a ganhar alguma
coisa. Talvez amizades, pessoas
com quem se relacione para obter
ideias novas. Isto está bem. E se
você não está na Frelimo, é di-fícil aprender o que é a Frelimo.
Canal: Fala-se que em re-lação aos períodos anteriores,
reduziu o espaço de debate e
de intervenção dos membros
no Comité Central, em troca
de cultos de personalidade...
Mocumbi:Eu gosto de reu-niões produtivas. Não gosto de
estar a discutir, discutir, sem
tomar nenhuma decisão. Estes
que prestam culto de persona-lidade parece que estão lá e não
estão a entender bem o que eles
querem, porque quando se pega
num programa, a questão é cum-prir o que lá está. Se é activida-de cultural, sabe-se que está lá e
tem que ser cumprido. Eu, pelo
menos, quando sento numa reu-nião tenho que respeitar o tempo.
O candidato deve ter
experiência do que se está
a passar em África
Canal: Dr. Pascoal Mocum-bi. O Partido Frelimo vive ago-ra uma espécie de dilema para
encontrar o candidato para as
próximas eleições presiden-ciais. E até agora não foi apre-sentado, para ser conhecido. A
que se deve tamanho mistério?
Não acha que poderão entrar
em problemas de “timing”?
Mocumbi:Não! O partido em
si já tem experiência de transição,
por exemplo a que permitiu a
passagem do poder do presidente
Chissano para o presidente Gue-buza. Foi tomada uma decisão
pelo Comité Central, dois anos
antes das eleições, e isso fun-cionou. Agora é preciso saber se
há algum atraso!!!?? (Risos)…
Canal: Se for uma pergunta
para nós, responderíamos que
comparado com a transição
Chissano-Guebuza, há clara-mente um grande atraso e é
isso que está a deixar perplexa
a opinião pública…
Mocumbi:Será que se vai
cumprir exactamente, mas exac-tamente como foi como naquele
tempo? E qual era a situação da
altura? E qual é a situação actu-al? O Comité Central já decidiu
quem é o presidente da Frelimo,
antes mesmo da Comissão Po-lítica. Portanto já há avanços na
Frelimo de prever como asse-gurar a estabilidade do partido.
Portanto eu não devo ficar assus-tado porque ainda não sei quem
vai ser eleito no próximo Comité
Central. (NR: Esta entrevista foi
antes da Segunda Sessão Ordi-nária do Comité Central realiza-da no último fim-de-semana, na
Matola. O assunto não foi sequer
discutido. A Frelimo continua
a não ter candidato anunciado).
Canal: Como cidadão, como
militante do seu partido, qual é
o perfil da pessoa que gostaria
que o futuro candidato da Fre-limo tivesse?
Mocumbi: Alguém com ex-periência suficiente. Com toda a
experiência com o partido Fre-limo, com o País, toda a expe-riência com os outros partidos
do País, experiência do que se
está a passar em África. Tem
que ser um quadro moçambi-cano, membro do partido Freli-mo, que tenha essas qualidades.
Jovem ou velho o que quere-mos são as suas capacidades.
Canal: Gostaria de indicar
nomes?
Mocumbi:(risos) …Nada....
nada…nada!
Canal: O Dr. Pascoal Mo-(Continua na página seguinte)
Foto:Sérgio Ribé
Canal de Moçambique| Quarta-Feira, 27 de Março de 2013 8
André Mulungo
Na semana passada destacámos
neste jornal a imagem e a história
da senhora Maria Emília, esposa
de Cupido Rodrigues, funcioná-rio reformado da empresa Linhas
Aéreas de Moçambique (LAM)
a quem a empresa retirou assis-tência médica quando a doente
estava internada numa clínica a
recuperar de um transplante de
fígado. Uma semana depois, co-locámos a última homenagem à
senhora Maria Emília. Ela já não
está entre nós, não resistiu à doen-ça e à falta de tratamento médico.
A senhora, de 61 anos, dei-xou de pertencer ao mundo dos
vivos na passada sexta-feira, no
apartamento em que estava hos-pedada em Maputo. Segunda--feira, amigos e familiares se
despediram do seu corpo em
Maputo, antes de ser translada-do para Nampula, sua terra natal.
Maria Emília esteve doente
desde 2008. Pouco depois foi-lhe
transplantado o fígado, numa clí-nica sul-africana, com assistência
médica paga parcialmente pela
empresa LAM onde o seu marido
trabalhou até se reformar. Mas a
dado momento a empresa alterou
as normas de assistência médica,
não respeitou o princípio de não
retroactividade e deixou abrup-tamente de custear a assistência
médica à paciente, obrigando-a a
abandonar imediatamente o trata-mento na clínica onde estava in-ternada na África do Sul. A LAM
alegou “gastos excessivos com a
saúde” da esposa do seu trabalha-dor reformado. E assim encami-nhou-a para o corredor da morte.
“A LAM assinou a sentença
da morte da minha esposa”, dis-se Cupido Rodrigues, marido da
senhora Maria Emília, na grande
Reportagem publicada em man-chete na última edição passada
deste semanário. A Reportagem
foi publicada na quarta-feira e
dois dias depois a “sentença de
morte” foi executada. Maria Emí-lia não resistiu à falta de cuidados
médicos e acabou morrendo.
“Boa vontade da LAM”
Apesar de ter desistido de
continuar a pagar tratamento
de Maria Emília, a empresa Li-nhas Aéreas de Moçambique
prontificou-se a comprar a urna
para transladar o corpo da fina-da de Maputo para Nampula.
“Nós pagamos a urna e va-mos pagar a transladação do
corpo da mulher de Cupido
para Nampula”, disse Domin-gos Pene, director dos Serviços
de Assistência Social da LAM,
ao Canal de Moçambique.
Ao Canal de Moçambique,
Cupido confirmou o “gesto” da
LAM. “Quando perdi a Maria in-formei à empresa sobre o sucedido
e os Serviços Sociais disponibili-zaram-se a pagar a urna e a custe-ar as despesas da transladação do
corpo. “É a única coisa que lhes
restava, o que mais haviam de
fazer?”, comentou. O tratamen-to dado a este caso pela direcção
da LAM causou grande indigna-ção aos funcionários da compa-nhia. (Canal de Moçambique)
Morreu a esposa de Cupido Rodrigues
“Sentença de morte executada”
(Continuação da página anterior)
cumbi aceitaria ser candidato
presidencial, caso o seu partido
assim decidisse?
Mocumbi: A minha respos-ta seria: já viram a minha ida-de? Será que me acham ainda
com força suficiente... Não vale
a pena! Daquilo que sabem de
mim obviamente sabem o que
já fiz…Agora uma coisa é vir
com “se” para brincar comigo
e vir-me sondar para ver o que
eu acho para depois dizer cui-dado com aquele, quer ser can-didato… (Longas gargalhadas).
Não constituo perigo para os
presidenciáveis
Canal: Como assim, Doutor?
Mocumbi:Daquilo que sabem
de mim já sabem que este já não
constitui perigo para se candida-tar à presidente (Risos) …. Mas
se acontecer o impossível o que
você vai escrever??? (Risos)
Canal: Vamos escrever que o
impossível aconteceu…
Mocumbi:(Longas gargalha-das)
Canal: O perfil que traçou a
um bocado é aquele que gos-taria que fosse o do candidato,
mas olhando para as dinâmicas
internas do partido que pessoa
terá esse perfil?
Mocumbi:(Risos) Não vou
partilhar com jornalistas as
dinâmicas do partido …(Ri-sos). Isso nunca vou fazer…
Frelimo:
Dirigentes-empresários
Canal: Dr. Pascoal Mocumbi,
há um fenómeno que se está a
tornar marca quase que regis-tada dos membros do Governo
da Frelimo. A maior parte dos
dirigentes são empresários nas
áreas que dirigem. Que inter-pretação faz sobre essa atitude?
Mocumbi:Bom!.. Nisso,
por lei há incompatibilidade.
Há incompatibilidades. A res-posta é simples. Portanto, aí
já há violação da lei. É coisa
simples. Que se aplique a lei.
Canal: Doutor, vários estu-dos de reputadas organizações
apontam que não está a haver
uma distribuição equitativa
dos rendimentos dos recursos
naturais com destaque para
os minerais. Qual é a sua per-ceção em relação a isso e qual
é a sua visão em relação à ges-tão sustentável dos recursos?
Mocumbi:Está a começar a
exploração dos recursos naturais.
A não ser que como jornalistas
já tenham alguma estatística da-quilo que está a ser colocado no
mercado… Portanto, é difícil
para mim, nesta fase avaliar se
já há boas medidas de distribui-ção daquilo que não existe ain-da. Para mim, é preciso esperar
para ver o que acontece. Para já,
é garantir que haja de facto uma
capacidade para explorar, já que
a descoberta foi feita e está-se a
procurar valorizar qual é a quan-tidade daquilo que se encontra
em cash, em minérios. Portanto,
não temos nem sequer um ano
completo desde que se começou
a exportar o carvão. Os próprios
exportadores ainda não anun-ciaram aquilo que conseguiram
obter como dinheiro, para pagar
as dívidas contraídas para po-der fazer o trabalho que estão a
realizar. Portanto, eu acho que
é preciso dar tempo ao tempo.
Canal: Foi o Governo de
que o senhor era ministro dos
Negócios Estrangeiros e Coo-peração que negociou o Acor-do Geral de Paz (AGP) com a
Renamo. Acha que a sua im-plementação está esgotada?
Mocumbi:Eu... como bem dis-se, a manutenção da Paz é uma ta-refa permanente. Portanto, foi es-gotada aquela fase. Alcançou-se a
paz e foi estabelecido para ambas
as partes continuarem a trabalhar.
E estamos em paz. Portanto, a
pergunta que me coloca eu res-pondo claramente que a Paz exige
manutenção constante por todos.
Canal: Qual é o exercício que
deve ser feito para a manuten-ção dessa paz?
Mocumbi: Está a correr neste
momento. Todos em Moçambi-que procuram o diálogo, falando
com os seus aderentes para expli-car o que devem fazer para que não
tenhamos de novo uma bomba.
Canal: E como ficou, Doutor,
o diferendo que o opõe à famí-lia Zibia, tendo como pomo da
discórdia um terreno na cidade
da Matola?
Mocumbi:Isso está no se-gredo da justiça. Primeiro,
na primeira instância eu ga-nhei a razão e de certeza já
tinham que me indemnizar.
O resto é segredo da justi-ça. Isso eles sabem porque a
pronúncia do tribunal foi fei-ta na presença de todos nós.
(Canal de Moçambique)
Grande Entrevista
Foto:Sérgio Ribé

No comments: