Os últimos serão os primeiros: Voz da Rússia

Tags:finanças, União Europeia, dificuldades financeiras, Fundo Monetário Internacional (FMI), dívida, Irlanda, Chipre, Comentários, dinheiro, crise

Anastassia Pershkina

18.03.2013, 18:51, hora de Moscou

© Colagem: Voz da Rússia

A União Europeia e o Fundo Monetário Internacional concederão ao Chipre um crédito de10 bilhões de euros. Apesar de, segundo avaliações dos especialistas, Nicósia necessitar de uma soma entre 16 e 17 bilhões.

As autoridades do Chipre pretendem obter o valor restante à custa de depósitos bancários, cobrando impostos sobre depósitos. O presidente da Rússia, Vladimir Pútin, já qualificou este imposto de “injusto e perigoso”.

Mas a Irlanda – único Estado que cumpriu rigorosamente as condições dos credores, praticamente comemora a vitória sobre a crise. O rendimento das obrigações irlandesas de dez anos, segundo as últimas avaliações, foi de 4,15%. Os especialistas da Voz da Rússia tecem considerações sobre: por que toda a Europa restante não pode repetir a história de êxito irlandesa.

Em quatro anos e meio de combate à crise a Irlanda teve de sacrificar muita coisa. A redução atingiu todas as esferas, inclusive os salários dos funcionários públicos, pensões e subsídios. Foram fechados vários bancos deficitários. Desde 2011 a economia voltou a crescer. Em certo sentido o país teve sorte de ser o primeiro a enfrentar a crise, considera o catedrático de política da Universidade Nacional de Pesquisa da Escola Superior de Economia, Maxim Bratersky.

“Os irlandeses enfrentaram seus problemas antes dos outros – na época em que a América e a Europa ainda não tinham sido cobertas pela onda da crise financeira global. Foi mais fácil para os irlandeses encontrar dinheiro em condições sensatas para certos procedimentos de recuperação. Então, quando eles cuidavam de seus problemas, puderam atrair capital estrangeiro, investimentos estrangeiros, porque ainda existia tudo isso. Agora não há nada.”

A Irlanda também teve sorte em como se desenvolveu sua economia nos últimos anos antes da crise. Foi modificada a agropecuária. Além disso no território do país foram abertas fábricas da IBM, Intel, Deli, Microsoft, Hewlett Packard (agora elas asseguram cerca de 8% do PIB do país). O Chipre teve muito menos sorte, assinalou o economista Dmitri Tratas.

“Diferentemente da Irlanda, que combate com êxito a crise. O Chipre, por si só, não pode sair desta situação. Porque todo o sistema financeiro cipriota está fortemente ligado ao sistema financeiro grego. Muitos bancos cipriotas mantinham seus ativos em bancos gregos. Aqui Chipre vai a reboque da carga grega, que arrasta todo o sistema financeiro para o fundo.”

Favoreceu também o caráter nortista, sua tenacidade em alcançar o objetivo, considera Maxim Bratersky.

“A economia é apenas parte da questão, é a tarefa de gastar menos. A segunda parte da questão é trabalhar mais. Para isto é necessário aumentar a própria energia, aumentar os investimentos, é preciso atrair capitais, abrir novos negócios, produções. Há também, é claro, momentos relacionados com a organização da sociedade. Com a forma diferente como esses povos encaram a vida, o trabalho e o dinheiro, como gastam de modo diferente seus orçamentos.”

Por outro lado, apesar de ser ímpar a vitória irlandesa sobre a crise, nenhum outro país se decidiu a repetir exatamente seu caminho: apertar os cintos e começar a trabalhar. Os países problemáticos da zona do euro, como antes, esperam ajuda, e as locomotivas da economia europeia, como antes, dão dinheiro.